Memórias de Narcisa Malfoy escrita por Shanda Cavich


Capítulo 2
Capítulo 1 - Beleza




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O dia de meu aniversário sempre foi um infortúnio. A cada ano que decorria, minha mente angustiava. Odeio o tempo. Odeio o simples corpo humano que adoece em velhice. Se fosse possível, congelaria minha essência em um frasco de perfume. Frialdade para isso jamais me faltou. Beleza sempre foi um privilégio da Família Black. Um privilégio que protejo até hoje, com muito gosto. "Quem dera se todos possuíssem a sua graça, Narcisa.", tia Walburga me disse, quando completei doze anos.

De todos os meus parentes, a mãe de Sirius era quem eu mais admirava. Tão severa e tão íntegra em suas atitudes. Certa vez me disse que adoraria ter uma menina como filha. E em troca, teve Sirius, para a sua vergonha. Para a vergonha dos Black.

Meus dias eram passados em frente ao espelho. Meus cabelos extremamente louros, sempre muito bem penteados, meus vestidos comumente impecáveis. Papai fazia questão em me alertar todos os dias que o poder de uma bruxa não vinha apenas da varinha, mas também de seu sangue e de sua alma.

Cygnos Black era absurdamente sério. Não me lembro de uma única vez em que o vi sorrir de felicidade. Seu sorriso só era visto quando algo ruim acontecia. Era severo com minhas duas irmãs mais velhas, porém comigo, ele tentava ser paciente. "Narcisa, minha pequena... Não me envergonhe. Enxugue essas lágrimas e tenha compostura. Uma Black jamais demonstra fraqueza.", disse ele, erguendo-me a varinha feita de Nogueira e couro de Basilisco, no dia em que nosso Elfo doméstico, Gollie, fora degolado por ser velho demais.

Na Mui Nobre e Antiga Família dos Black pertenciam prestigiosos bruxos e mais três irmãs. Todas especiais, todas diferentes.

Bellatrix era a mais forte. Conseguia tudo o que queria. Era bonita, sem esforço. E não só isso, era indomável. Sofreu mais, batalhou mais e sonhou mais que do que as outras irmãs. Ela ao menos, podia sonhar. Tornou-se seguidora do bruxo mais poderoso de todos os tempos. Esta irmã eu respeitava e adorava. E acreditava com toda a minha fé, que ela seria a minha inspiração.

''É tão ingênua, Ciça. Sabe, você precisa aprender a diferença entre ser respeitado e ser temido. Quando você conseguir ser as duas coisas, será invencível. Então um dia você será como eu. Pois talento você tem. Só precisa de um pouco mais de engenhosidade e malícia." – disse Bella, quando reclamei do modo como tratava as pessoas. Era tudo tão fácil para ela, tão destrutível. Simplesmente devastava qualquer coisa que a incomodasse, ou sequer ousasse cruzar seu caminho.

Bellatrix era a devastadora.

Andrômeda era astuciosa e falsa moralista. Talvez até fosse bonita. Pois acima de tudo, era uma Black. Insultava-me por minha vaidade e frieza. Brigava com Bella todos os dias. Achava que o nosso modo de pensar em relação aos trouxas era digno de pena.

"Não adianta olhar tanto nesse espelho, minha irmã. Ainda que pareça uma princesa com todas essas jóias e adereços, continua sendo apenas uma serva. Serva de nossos pais, de nosso nome.", ela dizia. Tão tola, era a Andie. Jamais atingiria o poder, ou o respeito que hoje eu possuo. Jamais teria minhas virtudes. Afinal, casou-se ainda jovem com um sangue-ruim caipira e detestável, com a desculpa de que o amava. Traiu a todos os Black com a mais crua inconsideração.

Andrômeda era a traidora.

Realmente, eu era vaidosa. Criada apenas para os olhos e não para o coração. Mas ainda assim minha mãe me adorava, era minha melhor amiga. Contei com ela nos momentos em que precisei de carinho. Eu deitava minha cabeça sobre seu colo todas as vezes em que tive vontade de chorar, e ela cantava com meiguice as mais belas cantigas, acariciando meus cachos dourados. Era o modo que nós duas encontramos para nos mascarar das mágoas, como no dia em que Andie quebrou minha caixinha de música ou quando vovó morreu. Mamãe não se importava com meus defeitos, na verdade os defendia. Dizia que a beleza era essencial, e que eu havia herdado isso não apenas dos Black, mas também dos Rosier. Meus cabelos muito claros e olhos azuis eram exatamente iguais aos do meu tio Astaroth.

Naquela época, eu não conhecia a força que eu precisava ter. Era inocente. Atendia aos pedidos dos outros como se fosse uma obrigação. Foi então que eu percebi que podia tirar proveito de mim mesma. Poderia ser algo mais do que uma simples graça. Poderia ter tudo o que eu ansiasse, e ainda não havia percebido. Papai que tanto me ensinou o orgulho, e mamãe que me ensinou a vaidade, mal puderam notar que plantaram em mim a mais perversa e soberba flor do jardim negro que é a nossa família.

Bonita, isso bastava. O resto teria que ser por minha conta. Ninguém ousaria me condenar. Ninguém ousaria sequer suspeitar de algum male escondido dentro de mim. Lágrimas falsas por cima de minhas pálpebras chamejantes e um delicado sorriso são o suficiente para enganar os fracos. E então passo a conseguir tudo o que quero, assim como Bella. A diferença está no olhar. Sempre no olhar.

"Que olhos são esses que me envenenam dia após dia? Que fez comigo, Ciça?"

"Encanto natural." – respondi a ele.

Afinal, sou Narcisa.

Narcisa é a encantadora.


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Notas finais do capítulo

O que estão achando?

Em breve o segundo capítulo =D