Após deixar a sobrinha em casa, Tales vai para seu apartamento e se joga na cama. Esse será mais um fim de semana igual a todos os outros. Se não fosse pela irmã e os sobrinhos seriam piores.

Ele se lembra do comentário inocente de Bianca, dizendo que gostaria de ter uma tia. Mal sabia ela que ela quase teve uma. Mas ela ainda era um bebe não se lembraria.

Na época Tales tinha 23 anos e era noivo de uma bela moça chamada Júlia. Estava tudo pronto para eles se casarem, até os móveis já estavam comprados. Ele estava empolgado, até mais do que a própria noiva.

Júlia nunca foi uma moça muito calorosa com seus sentimentos, por isso Tales achou que ela estava sendo apenas ela mesma. Só com o passar dos dias ele veria que estava errado. Quanto mais a data do casamento, que já estava marcada há um bom tempo se aproximava mais distante Júlia ficava. Tales chegou até a pensar que fosse por ele estar meio que tomando a frente das coisas, mas se ele não fizesse ela não mostrava o menor interesse em fazer.

Ela parecia o evitar, mas Tales não entendia o porquê. A cada dia ela inventava uma desculpa. Dor de cabeça, menstruação, cólica, até gripe. Ele começou a desconfiar, mas ainda preferiu acreditar que era tudo ansiedade pelo casamento.

Após esses acontecimentos, ele foi deixando rolar, achando que tudo era uma fase que logo passaria.

Um dia em seu serviço, uma colega de trabalho grávida de sete meses pediu que ele a levasse a uma consulta médica na hora de seu almoço, pois aquele dia o carro dela estava com o esposo. Após a consulta ele a buscaria.

Fazia muito calor e Tales não ia deixar uma mulher naquele estado pegar um ônibus ou um táxi sendo que ele podia fazer o favor.

O médico era em um bairro onde Tales não tinha o costume de freqüentar. Ele deixou a amiga e foi almoçar em um dos vários restaurantes que haviam por lá.

Ele estava almoçando vendo televisão em um restaurante quando reparou que havia um casal se beijando, poucas mesas da sua. Pareciam bem felizes, uma felicidade que ele não tinha com Júlia há um tempo.

Continuou seu almoço tranquilamente. Ao terminar e se preparar para ir ao caixa pagar, leva um choque. O casal que estava a sua frente também ia pagar a conta para ir embora. O cara ele nunca havia visto antes, mas a garota ele conhecia bem. Ao menos era o que achava até aquele momento. Era Júlia.

Ele ficou sem ação. Sentou novamente e ficou os observando de longe.

Como ela podia fazer aquilo com ele, estavam prestes a se casar, ele a amava, era louco por ela, queria ter filhos com aquela mulher.

Várias coisas começaram a fazer sentido na cabeça de Tales. A frieza, não mostrar o menor interesse em coisas sobre o casamento que certamente qualquer mulher ficaria eufórica só de pensar, não querer mais passar as noites com ele. Ela já tinha planos.

Ele ainda os observava quando saíram abraçados do restaurante, como se não devessem nada a ninguém.

Tales deu um tempo, pagou sua conta e voltou para o carro. Ele tinha que voltar para o trabalho, mas estava com a cabeça muito cheia pra isso. Ligou o carro e saiu a toda velocidade. Foi um milagre ele ter chego em casa vivo. Ligou para o serviço e disse que havia passado mal na rua e que ia ficar o restante do dia em casa.

Mal entrou em casa começou a jogar longe tudo o que via pela frente. Logo ele que sempre foi um cara tão calmo. Lágrimas escorriam por seu rosto, nem ele sabia distinguir se eram de raiva ou de dor. Pegou um porta retrato onde tinha uma foto dos dois abraçados e olhou pra ela por uns instantes. Ele sorria Júlia não. Não demorou muito para jogá-lo no chão e pisoteá-lo.

Pegou todas as fotos que tinha dela e com ela e jogou fora, não queria mais nenhuma lembrança daquela garota falsa e mentirosa.

Mas Júlia teria uma surpresa, com certeza pra nunca mais esquecer em toda sua vida.