Walk on...

            Uma leve brisa soprava os loiros, longos e lisos cabelos dela, seus brilhantes olhos azuis estavam fechados, e ela dormia tranquila. Seu violão estava de um lado da cama, e o livro ainda aberto em seu colo, havia pegado no sono com a leitura.

            Aisling Walker, dormia, sonhando com terras de fantasia, onde a sua vida era mais feliz, onde as pessoas não poderiam a incomodar, e nem a ignorar como todos faziam. Onde ela não teria que voltar para o internato onde ela era ignorada, espancada e humilhada.

            As férias tinham sido maravilhosas, três meses tocando, e cantando. Correndo, e lendo no lago. Sorrindo, sem ter medo de ser julgada, e simplesmente sendo uma adolescente normal. Mas agora ela ia voltar para o colégio, onde todos os seus cinco irmãos, e o resto do mundo a ignoravam e a odiavam.

            Aisling, tinha um coração ferido, cheio de sofrimento, ela não sabia que alguém podia ter uma vida tão infeliz em apenas um ano, mas a vida dela se transformou quando ela foi para aquele lugar. Fazia dois anos que ela tinha que se esconder na biblioteca, se esgueirar pelos cantos, tentar ser invisível, e aguentar as provocações que vinham principalmente do idiota do Miguel  Santore.

            A garota que havia chegado no internato inocente, delicada, e um pouco desajeitada, já era quase uma mulher, com peitos fartos, e coxas grosas, um lábio carnudo cor de mel, pele branca, e sedosa, cabelos loiros, lisos e longos, olhos azuis brilhantes.

            Era irmã de Jane, Ryan, Bryan, Alice e Rafael, eles eram do grupo mais popular do colégio, e ignoravam a irmã. Apenas nas férias conversavam, um pouco, e ainda com desdém.

            Aisling era forte, mas tinha medo, não tinha amigos, e a solidão era sufocante, por isso, ela se escondia deles, e vivia sonhando, querendo fugir. Tocava música, e isso era o seu único conforto.

            Ela dormia calmamente e em paz, quem a olhasse de longe acharia que era uma garota feliz, e que tinha milhares de amigos. Apesar de que essa não era a realidade.

            Do outro lado da janela, apesar de Aisling não saber, um garoto lhe observava, do lado de outro que ela bem conhecia, Miguel  Santore, o último parecia rir da garota, enquanto o outro escutava as histórias que o outro lhe contava.

            -E você acha certo fazer isso com a garota? – ele perguntou olhando sério para o irmão, Tiago Santore, era um ano mais novo que Miguel , e tinha uma outra visão das coisas. Ele sabia que a garota sofria, e ela era linda. E também sabia que seu irmão era um idiota.

            -Bem Tiago, é divertido, vamos, amanhã você vai ver quando chegarmos na escola – ele falou rindo, seu irmão tinha acabado de voltar de um internato estrangeiro, e voltaria a estudar no internato de seu irmão.

            Aisling tinha a mesma idade de Tiago, 15 anos, já Miguel tinha 16 anos, a mesma idade do que as irmãs gêmeas de Aisling, e os trigêmeos tinham 17. Miguel saiu do quarto que seria de Tiago, e deixou o irmão pensando. Tiago logo adormeceu. Ele teria um primeiro dia de aula corrido, e sabia disso.

♫♫♫♫♫♫

            Aisling acordou cedo, e terminou de arrumar as coisas, levando inclusive seu violão novo, que tinha ganhado de natal de sua madrinha. A única da família que ainda falava com Aisling, desde que ela fora para o internato, até seus pais começaram a ignorar.

            Ela desceu suas coisas, sozinha, e esperou o motorista vir lhe buscar, sua família era rica, e ela não estava a fim de ir com os irmãos, e nem se despedir dos pais. Era culpa deles, se tudo aquilo estava acontecendo. O coração da garota começou a ficar apertado, e ela só queria saltar daquele maldito carro, e fugir.

            Quando chegou nos altos prédios do colégio interno, ela entrou, e já fez tudo o que tinha que fazer, queria ficar longe dos olhares, até a hora da recepção da diretora e então, ela daria um jeito de ir em algum lugar calmo pelo resto do dia.

            A loira arrumou tudo em seu quarto, e depois de tudo pronto, desceu com seu violão velho, que havia deixado no colégio, para arranjar um canto onde pudesse tocar músicas de esperança sem ser incomodada.

             Ela sentou-se na sombra de um carvalho e começou a tocar Walk on, do U2. Ela não queria ser ouvida, mas assim que começou a tocar, liberou seu sentimento através da música.

            "And love is not the easy thing

Is the only baggage that you can bring

Love is not the easy thing

The only baggage you can bring

Is all that you can't leave behind"

            Tiago Santore, já estava com tudo pronto, havia chegado cedo na escola, onde moraria, até o fim do ano. Resolveu dar uma volta, quando escutou uma voz ao longe, tocando violão, ele teve que se aproximar, e viu Aisling Walker tocando. Ela era linda, e estava ainda mais ainda tocando o violão.

            Sua voz estava em um tom perfeito, e a emoção em sua voz, fez com que Tiago permanecesse ali escutando, e lembrando de tudo o que seu irmão contou que fazia com a garota, e de como ela era ridícula.

            Ela não parecia ser nada do que ele havia falado, ele conseguia ver uma garota incrível ali.

(Chorus)

Walk on! Walk on!

What you got, they can't steal it

No, they can't even feel it

Walk on! Walk on!

Stay safe tonight

You're packing a suitcase for a place

None of us has been

A place that has to be believed to be seen

You could have flown away

A singing bird in an open cage

Who will only fly, only fly for freedom

(Chorus)

Walk on! Walk on!

What you got, they can't deny it

Can't sell it, or buy it

Walk on! Walk on!

You stay safe tonight

And I know it aches

How your heart it breaks

You can only take so much

Walk on! Walk on!

            Ele não aguentou e cantou o refrão junto com Aisling, que não percebeu ninguém ali, apesar de ter escutado a voz, que era afinada, e maravilhosa, ela continuou cantando e tocando, colocando mais emoção no que cantava.

            Apesar de tudo o que sofria, e iria sofrer, ela queria continuar sempre em frente, e era por isso que ela ainda estava ali, viva e tentando achar felicidade na música.

            Home!

Hard to know what it is

If you never had one

Home!

I can't say where it is

But I know I'm going

Home!

That's where the hurt is

And I know it aches

And your heart, it breaks

And you can only take so much

Walk on!

            Nessa parte o coração dela parecia querer explodir, e o dele, parecia pensar em tudo o que havia feito. Tiago não se sentia em casa, onde seus pais moravam, e não se sentia em casa em nenhum colégio, ele ainda não tinha se achado, ele era bonito, e por isso, popular, mas ele não era feliz, ele ainda precisava descobrir o que ele realmente era, se ele tinha algo pelo que valesse a pena continuar seguindo em frente.

You've got to leave it behind:

All that you fashion

All that you make

All that you build

All that you break

All that you measure

All that you feel

All this you can leave behind

All that you reason, it's only time

And I'll never fill up all I find

All that you sense

All that you scheme

All you dress-up

All that you've seen

All you create

All that you wreck

All that you hate

            Ela terminou a música, com um sorriso, e algumas lágrimas no rosto, e quando se levantou e viu o garoto, se encolheu de medo. Ela não podia evitar a semelhança, entre Miguel e Tiago era muito, mas Tiago era mais bonito. Ele tinha traços bem desenhados, mais delicados e angelicais do que os de Miguel que eram mais grossos. Os cabelos de Tiago eram um pouco mais cacheados do que os de Miguel, e eram castanhos não negros. E os olhos, os olhos verdes, quase castanhos de Tiago, eram lindos, e gentis, enquanto os de Miguel muitas vezes eram cruéis.

            -O-o que você está fazendo aqui? – perguntou Aisling abraçando o violão, e olhando para os lados com medo – Quem é você?

            -Eu sou aluno novo, e desculpa, eu escutei você cantando e achei sua voz linda, eu sou Tiago Santore – ao escutar Santore Aisling engoliu em seco e olhou para o chão, tentando conter o medo que havia dominado todo o seu corpo.

            -Eu sou Aisling Walker, seja bem vindo – ela falou sussurrando e tremendo. Tiago, suspirou e a olhou. Seu irmão era realmente um mostro idiota. O que ele havia feito para a garota?

            -Não tenha medo, eu não vou te fazer mal, eu não sou meu irmão – ele sussurrou para ela que o olhou nos olhos e deu um sorriso tímido. Ela viu algo nos olhos de Tiago que fazia muito tempo não via nos de ninguém, sinceridade. Ela quase se perdeu nas profundidades dos olhos de Tiago, e seu coração batia forte, mas não era de medo.

            -Seja bem vindo... Eu tenho que ir... – ela falou rapidamente, e começou a andar rápido até o dormitório, Tiago a segurou pelo pulso antes que ela fosse, e sentiu a garota, tentar puxar a mão. Um choque elétrico havia percorrido o corpo de Aisling, ela olhou para Tiago, novamente nos olhos dele.

            -Eu te acompanho – ele disse e sorriu – Eu sei o que meu irmão fez com você, e sei que não é fácil aqui para você, eu sinto muito, mas me deixa ajudar, ok? Eu quero ser seu amigo, você parece ser legal – Aisling ficou vermelha, mas sorriu, fazia tanto tempo que não conversava com alguém de um jeito decente que não se lembrava do que deveria ou não falar.

            -Certo – ela falou um pouco mais alto – Só acho que vai se meter em encrencas por minha causa – ela disse, e ele revirou os olhos.

            -É só o primeiro dia, e eu me viro com o meu irmão – ele falou sorrindo, e ela sorriu. Ele não pode evitar de piscar para ela, o sorriso de Aisling era perfeito, e seus olhos azuis brilhavam ainda mais quando ela o fazia.

            -Se você diz, não duvido – ela disse fingindo desdém e os dois riram. A risada de ambos era melodiosa, para o ouvido tanto de um, quanto do outro.

            Tiago acompanhou Aisling até a frente do dormitório, onde ela entrou, e ele seguiu seu caminho. Ela estava feliz, de algum modo, ela se sentia bem perto de Tiago, e segura. Talvez esse ano fosse diferente. Aisling precisava de esperança, e mesmo que nada mudasse, ela tinha a força para seguir em frente.