Mudando o destino

7h50

- E então, os pais do Sam mandaram alguma resposta à carta? – Lily perguntou enquanto caminhava ao lado do primo, sexta-feira de manhã, ambos se dirigiam ás estufas para a aula de Herbologia.

- Ainda não. – Ele mentiu.

Hugo não havia mandado a carta com as informações de uma possível boa recuperação se Sam Wade passasse por um médico Trouxa. Ele havia destruído tudo outro dia jogando na lareira do Salão Comunal com raiva da prima, agora não sabia se escrevia uma nova carta, ele não queria que Sam acordasse. Não agora que Lily tinha voltado a andar com ele por Hogwarts.

- Talvez seja o destino. – Ela falou conformada.

- Destino? – indagou sem entender.

- É, o destino. Sabe? Fazer com que o Sam acorde na hora que deve acordar.

O ruivo queria dizer para a prima que mesmo que Sam passasse por médicos Trouxas com seus equipamentos para cirurgia, dificilmente acordaria. Mas não disse. Parecia que manter esse fio de esperança nela era importante.

            - É, talvez seja o destino – ele exclamou sonhadoramente pensando que talvez o destino quisesse juntar os dois em Hogwarts depois de tanto tempo.

            - Sério que a gente precisa ir pra aula de Herbologia agora? – ela perguntou cansada.

            - Incrível, acha que no futuro vai estar no meu currículo que lutei bravamente com uma Mimbulus Mimbletonia ganhando de recompensa uma seiva verde escura bem na cara?

            Lily riu e disse:

            - Coisas absurdas que aprendemos sem fundamento algum.

            Hugo parou de chofre e olhou para a prima pensativo. Passou seus braços por cima do ombro dela e disse:

            - Tem duas coisas que podemos fazer aqui – Lily olhava-o intrigada – Podemos virar a direita e adentrar ás estufas para uma aula entediante que não vai acrescentar nada nas nossas vidas, um mundo de conformismos. Ou! – ele a olhou apontando para o lado esquerdo – Ou eu posso virar para a esquerda.

            - O que tem na esquerda? – ela perguntou vendo que na onde o primo apontava só havia o jardim do colégio.

            - Esquerda é liberdade, é oportunidade. Esquerda é uma chance para eu e você gastarmos as próximas muitas horas fazendo o que quisermos, como quisermos, onde quisermos.

            - Você está dizendo que devíamos matar aula? – ela perguntou quase rindo do jeito filosófico que o primo dizia.

            - Se quer ver desta maneira – ele deu de ombros.

            - Interessante – ela colocou sua mão no queixo pensativa – Vai ter muita neve envolvida? Você sabe que eu amo curtir um dia de neve.

            - Muita e da melhor, se liga Potter, estamos no inverno, neve por todos os lados. E então?

            Ela suspirou e olhou sorrindo para ele:

            - Vamos para a esquerda.

            E então foram para a direção escolhida. Em busca de um dia de aventuras, prazer, diversão e porque não romance?

            xx

            8h30

- Sabe a sua paixão por neve? – Hugo perguntou tremendo de frio – Eu não a aprecio.

            - Vem patinar comigo! – ela gritou na beira do lago congelado, onde tentava patinar sem patins.

            Eles haviam adentrado a floresta e encontraram partes do lago congelado naquele fim de novembro. Já que Lily queria curtir um dia de neve, ela prontamente foi à beira, onde o gelo era mais firme, e começou a patinar sem patins.

            - O calor é tão melhor... – Hugo repetia para si mesmo esfregando suas mãos – Frio é psicológico.

            Lily ria do primo sentado numa árvore tombada tremendo de frio.

            - Venha – ela tentava puxa-lo para o lago – Esse negócio de patinar é fácil. Você aprende sem patins antes. É o momento perfeito.

            - Talvez aprenda se minha professora não rir de mim.

            - Não posso prometer nada, mas vamos lá – eles andavam a passos curtos prontos para entrar na pista de patinação improvisada – Só não caia e você ficará bem.

            Hugo tentava se equilibrar segurando nas mãos da prima enquanto ela dava voltas livres em volta dele.

            - Isso não é perfeito? Somos fora da lei, vivendo no limite, sem nos restringirmos ás regras. Pelo menos por um dia – ela dizia empolgada.

            - Preferia um lugar quente, onde não corria o risco de cair em um lugar molhado e frio.

            - Mais rápido Hugo – ela segurou os braços dele fortemente fazendo-o rodar, e no mesmo instante ele caiu no gelo levando a prima consigo.

            Assim que se recuperaram das gargalhadas devido ao tombo, com ambos ainda deitados no gelo, Lily exclamou:

            - O que vamos fazer agora?

            - Não sei.  Estamos em fuga.

            - Devíamos programar um dia especifico para matar aula não acha? Onde diversão esteja incluída.

            - Ok, obrigado pelo “fiz meu primo cair no gelo de propósito para me divertir”.

            Ela começou a dar gargalhadas e respondeu:

            - A idéia de matar aula foi sua querido, deve me proporcionar diversão.

            - Você acabou de me chamar de querido?

            Lily concordou com a cabeça meio abalada.

            - Isso definitivamente não combina com a gente. Combina?

            Hugo apenas negou com a cabeça.

            - Bem, nós poderíamos... Não. Muito chato – ela pensava em voz alta – Ou... Ou... – ela sorriu imaginando sua idéia – Não. Isso é ilegal.

            - Diga-me suas formas malucas de nos divertirmos – Hugo implorou.

            Lily levantou-se do gelo decidida e esticou a mão para o primo.

            - Vamos querido, precisamos de reforços.

            xx

            10h50

            - Lily! – gritou Rose assim que deu de cara com a prima dentro de um dos boxes do banheiro feminino entre um intervalo e outro das aulas.

            - Shiiii – a prima exclamou fechando a porta e se trancando com Rose num boxe.

            - Não virá coisa boa daqui – disse Rose para si mesma.

            - Certo, lembra quando você disse que nunca consegue se divertir? – Lily falava ofegante.

            - Não.

            - Que sua vida é apenas uma série cheia de eventos enfatizados? Cheia de leitura de livros, sem viver a vida realmente?

- Eu não te disse isso – Rose exclamou surpresa, pois a prima havia acertado tudo.

            - Bom, tudo isso está para mudar Rose. Estou sequestrando você – disse da forma mais natural que conseguiu.

            - Você o quê?

            - É isso mesmo, nós vamos matar aula. Explorar o castelo sem professores falando assuntos chatos, sem preocupação com trabalhos. Vamos nos divertir.

            - Mas eu tenho aula de Aritmancia agora, sabe quanto é difícil se eu perder uma aula sequer?

            - Você vai perdê-la.

            - Sabe o que é perder uma aula desse porte estatisticamente? Significa perder explicações de pelo menos 20 símbolos, o que significa 5 por cento da minha nota no final do...

            Lily fingia que escutava os resmungos de Rose enquanto a puxava para fora do banheiro para curtirem o dia.

            xx

            12h20

            - Podemos ir para a biblioteca – dizia Rose enquanto caminhava debaixo de uma capa da invisibilidade com Hugo e a prima.

            - Passo – respondeu o garoto.

            - Que tal a cozinha? – voltou a dizer a morena.

            - Gostei da idéia – aprovou o irmão.

            - Não! – Lily gritou.

            - Shiiiiiii – fizeram Hugo e Rose ao mesmo tempo com medo de descobrirem eles no meio dos corredores do castelo matando aula.

            - Não. Sério gente, vocês são uns gulosos não são? Ir à cozinha está fora de cogitação.

            Hugo parou de andar fazendo a irmã e a prima olharem confusas para ele. O garoto não disse nada apenas tirou a capa de invisibilidade de cima dos três.

            - Hugo, o que pensa que está fazendo? – Rose pegou a capa da mão do irmão apressada e se cobriu.

            - A gente conversou tanto nesse corredor que se tivessem que descobrir que estamos matando aula, já teriam descoberto... – ele suspirou cansado – Isso é uma droga, se estivéssemos em casa poderíamos ir ver um filme no cinema, ou jogar boliche no Shopping.

            - Você e essa sua mania por tradições Trouxas – exclamou a irmã ainda coberta pela capa – Podemos simplesmente voltar para as aulas?

            - Não! – responderam Lily e Hugo ao mesmo tempo.

            - Sabe, eu sou monitora e mais velha que vocês, minha palavra é superior aqui.

            - Prima, somos dois, ganhamos – respondeu a ruiva sorrindo.

            - Estou tão feliz por ser sequestrada pelas duas pessoas mais divertidas dessa escola – a morena não parava de reclamar – Espere! – de repente gritou tirando a capa debaixo e si – Conheço alguém que sabe se divertir.

            xx

           

            13h34

            Scorpius coçava a cabeça batendo a pena repetitivamente no pedaço de pergaminho. Prova surpresa de Poções em pela sexta-feira era tudo o que ele desejava.

            - Senhor Malfoy, o que pensa que fez? – exclamou o professor raivoso chegando perto dele.

            Scorpius, que até então tentava achar um jeito de enrolar em sua resposta numa determinada pergunta para ganhar pelo menos um Aceitável em sua prova, olhou para o professor amedrontado.

            - O que eu fiz?

            - Ótimo, se finge de bobo agora? Vamos ver o que a nossa diretora irá dizer sobre isso.

            O professor pegou um pedaço de pergaminho e escreveu poucas palavras, levantou seu braço e entregou á uma garota que estava parada na porta chorando.

            - Rose?! – o loiro exclamou sem entender levantando-se da sua cadeira e chegando perto da amiga – Porque está chorando? Aconteceu alguma coisa?

            - Estúpido! – ela lhe deu um tapa na cara visivelmente sem motivo aparente.

            Scorpius olhava boquiaberto para ela.

            - Desculpe professor, é que ainda não posso acreditar no que ele fez.

            - Tudo bem Senhorita Weasley, imagino como foi terrível para você acordar trancada em um armário de vassouras, depois que o Senhor Malfoy colocou poção para dormir em seu suco no café da manhã.

            - Eu só não pude acreditar professor, alguém que se diz meu amigo? Que rouba minhas anotações simplesmente para colar em uma prova? – ela chorava soluçando na frente do professor.

            - Tudo bem, querida – o professor abraçou a aluna pelo ombro dando tapinhas carinhos nas suas costas. – Tire o resto do dia de folga para se recuperar, poderá fazer a prova depois, só leve o bilhete á diretora que ela tomará as providências.

            - Ok – ela saiu dos braços do professor.

            Rose começou a andar pelo corredor fazendo um gesto com a cabeça para que Scorpius a seguisse, ainda confuso pelos últimos acontecimentos, ele andou em seu encalço.

            - E não tente fazer nada com ela ouviu Malfoy? As coisas podem piorar para você!

            O Sonserino pôde ouvir o professor ameaçá-lo antes de virar no corredor e ambos ficarem fora da visualização dele.

            - Qual o problema com você?! – ele gritou raivoso.

             Rose, não aguentando mais, começou a rir descontroladamente a ponto de ter que se sentar no chão para se acalmar.

            - Não Rose, você se finge de santa e eu que levo a fama de mal? O que foi aquilo?!

            - Oh descul-pe – ela tentava dizer em meio aos risos enxugando as lágrimas que caíram de seus olhos pelas gargalhadas – É que a sua cara quando lhe dei o tapa foi “A Melhor”.

             Ele olhou chateado para ela acariciando seu rosto que ainda estava vermelho.

            - Acho que devia repetir mais vezes – ela sorriu levantando do chão – Bater em você relaxa entende?

            Ele ergueu as sobrancelhas e sorriu segurando os ombros dela na parede, fazendo a garota ser incapaz de fugir dali.

            - Não devia me provocar Weasley, não sabe o que seria capaz de fazer com você...

            - Se acalme Malfoy – Disse Hugo saindo de baixo da capa com Lily – A Rose fez aquilo por um motivo.

             - Alguém da pra me dizer que diabos está acontecendo?! – ele gritou nervoso saindo de perto de Rose.

            - Shiiiiiii! – os três disseram ao mesmo tempo.

            xx

            15h30

            - Eu queria ter 17 anos, aí poderíamos fazer algo de divertido de verdade – reclamou Hugo.

            Os quatro andavam na neve pelo povoado de Hogsmeade, a melhor ideia de Scorpius foi fazê-los sair do castelo. Entraram num bar, beberam cerveja amanteigada, e só.  Agora esperavam pela diversão que tanto buscavam finalmente vir naquele dia.

            - Como aparatar pra qualquer lugar, ir para bem longe daqui sem que ninguém soubesse – o ruivo continuou.

            - Ah, a falsa liberdade dos 17 anos – Rose olhou cúmplice para Scorpius.

            - Espere chegar aos 17, Hugo você vai querer voltar correndo para os 15 – continuou o loiro.

            - Ai, vocês dizem como se fosse ruim – exclamou Lily – Vocês tem 17 não é? Poderíamos aparatar acompanhados, aí sim iríamos para onde quisermos.

            - Verdade! – Hugo concordou empolgado.

            - Eu posso matar aula, mas aparatar com vocês para longe daqui está fora de cogitação – Rose cortou a alegria deles.

            - Eu não confiaria em mim para aparatar acompanhado – disse Scorpius – Ei Hugo, não me leve a mal, eu adoro loucura cara, só que seu problema é que você não tem controle da sua, ok? – Hugo olhava surpreso para ele – Cabular aula é um negócio sério, não é para amadores.

            - Desculpe, mas não vejo você tendo grandes ideias.

            - Eu disse pra gente ir nadar no Lago Negro. Boa parte dele não está congelada.

            - Eu não vou entrar em um lago quando a temperatura é menos de 0°C Scorpius – disse Rose.

            - Tá vendo, estragam minha diversão – o loiro apontou para Rose inconformado.

            - E nem diga que sofrer de hipotermia é uma boa diversão – Hugo apontou para Lily assim que viu a boca dela aberta pronta para dizer alguma coisa.

            - Estou entediada – Rose reclamou.

            Scorpius olhou para seu lado e viu um velho tronco de árvore oco tombado, virou seu rosto para cima e viu um campo totalmente descoberto, e ele teve uma leve inclinação.

            - Já ouviram falar de Snowboard?

            xxx

            19h00

            Os quatro ficaram o dia todo descendo o pequeno monte com o velho galho de árvore, às vezes paravam e faziam uma guerra de neve. Nem viram o tempo passar, apenas apreciavam o resto do dia e a diversão que afinal tinha chegado.

            - Oh Droga! Eu tinha combinado de conversar com Sally do sexto ano às seis horas – reclamou Scorpius quando os quatro desceram do morro arfando depois de uma guerra de bola de neve.

            - Mais uma para os “três encontros e nada mais”? – perguntou Rose tentando parecer desinteressada.

            - É, por quê? Você se incomoda? – o sorriso surgiu em seus lábios.

- É claro que não. – ela negou imediatamente.

            - De qualquer forma não importa – ele deu de ombros – Posso sair com ela quando quiser – o loiro esticou sua mão em frente a Rose – Uma descida comigo no morro?

            - Eu?

            A morena ficou meio receosa em aceitar o convite.

            - Ao menos que tenha medo Weasley.

            - Sua psicologia reversa não funciona comigo Malfoy – ela disse tentando reprimir um sorriso. – Corrida até o topo!

            Ambos correram juntos se distanciando de Hugo e Lily.

            - Não foi de todo ruim – o ruivo disse encarando a prima.

            - Eu sei – ela sorriu.

            - Quem poderia imaginar que um morro lotado de neve poderia ser tão divertido?

            - Ainda preciso defender o por quê de amar neve?

            Hugo suspirou e aproximou-se dela.

            - Andei pensando sobre o destino – a garota começou – Eu te disse que devíamos aceitar o destino nessa manhã, mas agora discordo.

            - Onde quer chegar? – ele perguntou não entendendo a prima.

            - É como hoje Hugo – Lily continuou – Estávamos destinados a assistirmos aulas entediantes e em vez disso mudamos o destino e curtimos um dia com os amigos, entende? – ele apenas confirmou com a cabeça – Eu sei que, mesmo que o Sam nunca mais acorde, eu pelo menos usei todas as armas para mudar o que o destino o reservou. Pelo menos lutei contra o destino. Mesmo que os pais dele não aceitem o médico Trouxa, eu tentei.

            Hugo foi incapaz de dizer alguma coisa. E se sua prima descobrisse que ele jamais mandou a carta?

            xx

            22h30

            “Sr e Sra Wade.

            Os senhores não me conhecem, mas meu nome é Hugo Weasley, estou escrevendo para falar sobre o seu filho e a sua importância. Eu não o conheço e sinceramente não gosto dele, mas amo uma pessoa que não vive sem ele e está sofrendo.  Imploro por meio desta que os senhores utilizem todas as armas necessárias para que Sam acorde novamente. Pode parecer loucura, mas os médicos do mundo Trouxa podem mudar esse cenário em que o Sam está. Mandei em anexo matérias de jornais e artigos em livros explicando o assunto. Espero que considerem esta carta daquele que mesmo involuntariamente deseja que Sam acorde e seja ele mesmo de novo.

            Afetuosamente

            Hugo Weasley”