Pela manhã, o grupo estava reunido ao ar livre. Todos pareciam mais dispostos do que o normal, à exceção de William. Sua expressão cansada demonstrava que não havia dormido muito bem, o que despertou preocupação em alguns de seus aliados.
–Yasmin: Algum problema, William? Você está com uma cara horrível...
–William: Insônia. Lamentável, porém não devemos perder tempo com isso, pois falta muito pouco para alcançar o pilar.
–Karin: O penúltimo pilar. Quem diria que realmente chegaríamos tão longe?
–Fernand: Qual a surpresa? Com o Fernand aqui não há com o que preocupar!
–Luna: Eu espero que esteja certo, porque mesmo que o pilar que estamos buscando agora seja derrubado, o último será extremamente difícil de alcançar.
–William: Vamos nos concentrar na missão que temos adiante, traçarei um plano de ação depois.
–Samantha: William tem razão. Se lutarmos com a mente dispersa, perderemos o foco e seremos derrotados.
–Fernand: Pelos deuses, vocês levam tudo tão a sério! Tentem se divertir de vez em quando!
–Samantha: Posso me divertir jogando estacas de trevas em você?
–Fernand: Não, mas eu tenho algo muito melhor em mente para nós dois. Venha falar comigo hoje à noite e eu lhe conto mais detal-
–William: Vocês vão ficar tagarelando até quando?!
O manipulador do vento já estava a vários metros de distância, sendo seguido de perto por Karin. Os outros quatro estavam tão entretidos na conversa que não se deram conta disso antes.
–Luna: Esse menino é a paciência em pessoa...

O grupo podia observar ao longe uma grande construção de madeira, que tinha dois andares, a despeito da fina neve que caía. A noite se aproximava e o frio estava cada vez mais intenso, deixando todos propensos a tomar alguns riscos e se expor. Contudo.
–William: Você tem certeza disso, Yasmin?
–Yasmin: Absoluta. O pilar fica a cerca de um dia e meio de caminhada daqui, é longe demais para servir como base temporária para a Rosa Branca.
–Samantha: Mesmo assim podemos ser reconhecidos.
–Luna: Realmente, trata-se de um risco. Porém, creio que somos mais do que capazes de lidar com quaisquer oponentes que não sejam manipuladores.
–Karin: E eu quero dormir numa cama quentinha...
Ainda que receoso que passar a noite na estalagem indicada por Yasmin fosse lhes causar problemas, William estava muito disposto a aceitar a proposta.
–William: Tudo bem, mas ao menor sinal de que fomos reconhecidos, fugiremos.
–Yasmin: De acordo.
–Fernand: A propósito, que diabos faz esse lugar no meio do nada?
–Yasmin: É um ponto de parada para viajantes que passam pelo norte. Há uma vila a menos de um dia de viagem daqui, então creio que o dono deve conseguir um bom rendimento.

O quarto de Yasmin era pequeno, mas aconchegante. Contendo duas camas, um armário de duas portas, uma mesa, duas cadeiras e uma lareira, fazia com que a garota se sentisse confortável, especialmente depois de tantas noites ao relento.
–Yasmin: E agora, dormir!
Quando a porta se abriu, Yasmin pensou que se tratava de Luna, com quem dividiria o quarto. Porém, a menina estava enganada. Quem adentrou foi um homem de cabelos negros e curtos, vestido com trajes da Rosa Branca cujos caules eram das cores roxa e vermelha.
–Carbon: Quanto tempo, capitã.
A voz familiar espantou a garota, pois ela sabia exatamente de quem se tratava. Estendeu a mão à espada que deixara sobre a cama e virou-se no instante seguinte, pronta para lutar.
–Yasmin: Estava me esperando, Carbon?
–Carbon: Eu lhe disse meu nome, esqueceu? Não precisa me chamar de Carbon, afinal de contas eu uso esse título apenas em meu trabalho.
–Yasmin: Significa que não veio me enfrentar, Vincent Blacdow?
–Carbon: Exato. E sim, eu estava lhe esperando. Assim que recebi notícias de que oito pilares já estavam derrubados, sabia que viriam aqui primeiro. Desde então tenho passado os dias neste local, aguardando.
A conversa amistosa convenceu a ex-capitã de que o manipulador não estava lá para batalhar. Devido a isso, ela abaixou sua arma, ainda que a segurasse firme com a mão direita.
–Yasmin: Como soube que estávamos aqui?
–Carbon: Toda noite peço ao dono do estabelecimento informações sobre os hóspedes. Como sou da Rosa Branca, é fácil conseguir a cooperação dele.
–Yasmin: E o pilar, como fica?
–Carbon: Viper está cuidando dele. Alguns lenhadores foram gentis o bastante para construir uma cabana nas proximidades, o que torna nosso trabalho muito mais cômodo. Claro que eu tive de mentir para ela a respeito do que vim fazer aqui, mas corro este risco por um bom motivo.
–Yasmin: E qual seria?
–Carbon: Você certamente lembra que nos tornamos amigos na época em que você servia o exército no oeste de Chesord. E eu, como um bom amigo, fiquei preocupado quando soube que você se aliou aos nossos inimigos. Eu gostaria de saber o que a fez tomar essa decisão, Yasmin.
Vincent era sincero em suas palavras e Yasmin sabia muito bem disso. Assim sendo, a manipuladora das chamas decidiu que contaria a verdade para seu amigo.
–Yasmin: É uma longa história, Vincent, mas resumindo tudo posso dizer que eu comecei a desconfiar do governo da nação.
–Carbon: Como assim?
–Yasmin: Eu tenho a sensação de que existe alguma figura misteriosa controlando acontecimentos por trás dos panos, e que para agir desta forma tal pessoa deve ter um propósito sinistro. Se ocorrer uma crise em Chesord uma hora ou outra ela terá de se revelar!
–Carbon: Então você traiu sua nação sem sequer ter uma prova conclusiva?
–Yasmin: Eu não traí Chesord, quando chegar a hora eu lutarei novamente pelo reino. Além disso, eu decidi que vou agir de acordo com o que eu acredito, não como outros desejam que eu aja.
–Carbon: Estou impressionado, você é mesmo mais inteligente do que eu pensei.
–Yasmin: O quê?
–Carbon: Você está absolutamente correta, minha querida Yasmin!