William arrastava-se na direção de Samantha, tão cansado que já nem conseguia mais caminhar. Ainda assim, havia algo que ele precisava fazer antes de permitir que sua consciência se esvaísse. Apoiando uma das mãos sobre o ombro da bruxa, o manipulador a balançou, tentando despertá-la.
–William: Samantha!
O rapaz notou que seu esforço não seria em vão quando Samantha forçou os olhos e então os abriu. Com dificuldade, ela tentou se erguer.
–Samantha: Ainda estamos vivos?
–William: Sim, Yasmin conseguiu derrotar Scythe.
–Samantha: Nada mal, mas se é assim por que veio me incomodar?
–William: Preciso que você use sua magia para criar uma barreira de proteção que nos isole. Uma que impeça outras criaturas vivas de passar por aqui.
–Samantha: Você está louco? Isso exige energia espiritual demais, acha mesmo que nessa situação terei forças para usar um feitiço desses?
–William: Se esse é o problema então use as minhas, se for possível. Caso contrário vamos virar refeição!
–Samantha: Pior é que você tem razão. Não há outra forma, vou ter mesmo que utilizar parte da sua energia para isso. Segure a minha mão.
A bruxa estendeu a mão direita na direção de William, que a segurou com sua própria sem questionar.
–Samantha: Graças aos deuses os outros estão inconscientes...

Quando Scythe abriu os olhos, percebeu o quão nublado estava o céu daquela manhã acima das copas das árvores de Sinelth. Em poucos segundos lembrou-se do último acontecimento de que tinha ciência: o golpe que havia recebido de Yasmin. Instintivamente levou a mão à ferida e averiguou que esta estava repleta de sangue seco e ardia como se estivesse queimada.
–Scythe: Ugh... parece que não corro risco imediato de morrer...
Quando a ceifadora desviou o olhar para o lado viu uma figura vermelha e escamosa caída no chão. Os olhos da garota se arregalaram e ela imediatamente se dirigiu até a criatura, percebendo que em vários pontos ela estava apodrecida.
–Scythe: Bog... então foi você...
Pasma, Scythe concluiu que havia sido resgatada pelo ser agora morto. O destino dele havia sido selado devido ao contato prolongado com a pele e o sangue da mulher.
–Scythe: Para minha ferida ter ficado desse jeito, Bog certamente a lambeu e secou o sangue com sua saliva de dracolagarto, mas fazer algo assim é morte certa...
A guerreira da rosa branca sentou-se no chão e abraçou as próprias pernas, recostando a cabeça sobre os joelhos. Estava verdadeiramente triste.
–Scythe: Eu sinto muito por ter matado você também, Bog. E obrigada por me salvar...

Luna tocou a substância translúcida e prateada que fazia parte de uma cúpula ao redor dela e de seus companheiros. A mão da sacerdotisa não atravessou a barreira, que se mostrava muito sólida e resistente.
–Luna: Impressionante, do que se trata isto aqui?
–Fernand: Isso tem cara de ser uma barreira feita pela Samantha, imagino que este seja o motivo de não termos virado comida de monstro.
–Luna: Mesmo? Então por que ela não usou isto na noite anterior?
–Fernand: Se lembro bem da explicação que ela deu, é porque esse tipo de magia consome muita energia. É o tipo de feitiço que só vale a pena usar em emergências.
–Yasmin: Muito interessante isso, mas alguém pode me explicar porque Samantha e William estão dormindo de mãos dadas?
–Fernand: Olha, Yasmin, eu não faço a menor ideia...
–Karin: Eu também gostaria de saber, vou perguntar pra ele.
–Fernand: Menina, não faça isso! Você vai morrer!
Tarde demais, Karin já estava chacoalhando William para que este despertasse. O manipulador de fato acordou.
–Karin: Bom dia, Will! A Yasmin queria saber por que você está dormindo de mãos dadas com a Samantha!
–Yasmin: Karin!
Fernand surpreendeu-se, pois era Yasmin, não William, que parecia estar prestes a atacar a pequena Karin.
–William: Se ela usasse a energia espiritual necessária para ativar o feitiço sozinha correria riscos graves. Por isso eu permiti que ela usasse parte da minha.
–Karin: Então você segurou a mão dela para que ela pudesse utilizar sua energia também?
–William: Exatamente.
No rosto de William não havia nenhum traço de vergonha ou surpresa. Falava com uma expressão tão séria que era impossível alguém concluir que pudesse estar mentindo.
–Fernand: Falando desse jeito tira toda a graça da situação...

Sobre uma das muralhas do castelo Releav, Vortex observava o céu. Logo surgiu em seu campo de visão algo azul e veloz. Em poucos segundos o guerreiro da Rosa Branca reconheceu um pássaro mensageiro, o mesmo tempo que a ave mágica levou para alcançá-lo e sumir no ar, deixando cair um pequeno papel enrolado.
–Vortex: Vejamos quais são as notícias que ele trouxe.

Sentado sobre uma das criptas do cemitério próximo ao castelo, Quartzo estava mortalmente entediado. Quando viu que Vortex se aproximava, animou-se um pouco, pensando que talvez ela o dispensasse do dever de vigiar o pilar.
–Vortex: Acabo de descobrir algo que é do seu interesse, Quartzo.
–Quartzo: É mesmo? Do que se trata?
–Vortex: Veja você mesmo esta mensagem que um pássaro arcano me trouxe há pouco.
A homem estendeu o papel que trazia consigo para o colega. Após alguns momentos de leitura, Quartzo abriu um enorme sorriso.
–Quartzo: Yasmin Pyrath se rebelou contra Chesord? Isso significa que ela virá nos enfrentar também?
–Vortex: Sim, provavelmente.
–Quartzo: Você tinha razão, Vortex, isso é muito, muito interessante. Acha que ela suspeita de alguma coisa?
–Vortex: Depois de tudo que aquele homem fez, é impossível não levantar suspeitas entre algumas pessoas. Ela pode se tornar nossa aliada no futuro.
–Quartzo: Aliada ou não, pra mim tanto faz. Não posso perder a chance de lutar contra Yasmin Pyrath! Aguardarei ansiosamente a chegada dela...