Luna e Karin se encontravam sozinhas no quarto da estalagem onde conversaram com os dois membros da Rosa Branca. Ambas já estavam preparadas para dormir e, após uma rápida oração recitada pela sacerdotisa, sua companheira resolveu sanar as dúvidas que a preocupavam.
-Karin: O que faremos amanhã, Luna?
-Luna: Eu estive pensando nisso e acho melhor eu perguntar sua opinião antes de decidir.
-Karin: Como assim?
-Luna: Talvez nunca mais vejamos Yasmin novamente. Você prefere seguir seu caminho como fazia antes de nos encontrar ou prefere continuar com a missão de impedir que os outros pilares caiam?
-Karin: Não quero voltar a perambular sozinha pelo reino. Vocês me deram apoio, amizade e um propósito pelo qual viver. Não me agrada abrir mão de tudo isso.
Luna sorriu, feliz por ouvir a sincera declaração de Karin.
-Luna: Muito bem então, mesmo que sejamos apenas nós duas, vamos proteger os pilares que ainda restam!
-Karin: Isso!
-Luna: Mas não se preocupe com isso hoje, Karin. O dia foi longo e precisamos descansar.
-Karin: E quanto ao senhor Electron e a senhora Aurora?
-Luna: Parece que eles vão passar a noite aqui, mas cada um em um quarto diferente, e partirão logo pela manhã.

William abriu os olhos lentamente enquanto tentava relembrar os últimos acontecimentos que presenciara. Seu corpo ainda estava dolorido, mas não tanto quanto antes. Notou que estava deitado ao lado de uma grande árvore e que a grama abaixo de si não estava coberta de neve. Em seguida, percebeu a presença de Yasmin, esta sentada diante de uma fogueira, sem armadura e tremendo.
-William: Pensei que iria me matar.
-Yasmin: Tente não se mexer muito, senão suas feridas não melhorarão.
A capitã virou-se para encarar William. O rapaz notou a expressão de cansaço no rosto dela, assim como o fato de que a roupa sem mangas não a protegia do frio.
-William: Onde está sua armadura?
-Yasmin: Eu joguei em algum canto. Acredite, é pior com ela, o metal esfria muito rápido.
Concluindo que a garota tinha razão, William resolveu permanecer calado. Yasmin, porém, ainda tinha mais coisas a dizer.
-Yasmin: Na verdade, naquela hora eu realmente estava correndo perigo, pois não conseguia me mover direito. Por que me ajudou?
-William: Neste momento você me é muito mais útil viva do que morta.
-Yasmin: Ainda julgando as pessoas pela utilidade, hã? Mesmo assim eu agradeço por me ajudar.
-William: Acho que estamos quites, já que você não me largou sozinho na neve.
Yasmin esboçou um leve sorriso.
-William: Faz idéia de onde estamos?
-Yasmin: Não sei ao certo, mas creio que estamos no extremo norte de Chesord. É o único lugar que eu conheço onde neva durante o final do outono e o começo da primavera.
-William: Isso explica algumas coisas. Eu sugiro que até alcançarmos alguma cidade ou vila continuemos juntos, já que assim correremos menos riscos.
-Yasmin: Está propondo uma trégua?
-William: Pode considerar isso, se quiser. Como não tenho a menor idéia de onde devo ir e este lugar pode ser ainda mais perigoso do que parece, certamente é mais vantajoso para mim me aliar a você temporariamente.
-Yasmin: Tudo bem, eu concordo com você e aceito a proposta.
O sorriso da capitã aumentou, desta vez cobrindo todo o rosto.
-William: Descanse agora, pode deixar que eu fico acordado como sentinela.
-Yasmin: Você não está em condições de lutar.
-William: Mas posso acordá-la se for preciso. E, além disso, está estampado na sua cara que você precisa dormir.
O argumento do manipulador do vento era convincente e, sem ter nenhuma resposta, Yasmin resolveu aceitar a sugestão. Enquanto a capitã deitava ao lado da árvore, mantendo-se próxima à fogueira, William retirou sua capa e entregou à garota.
-William: Use isso pra se aquecer.
-Yasmin: Obrigada.
Apesar da atitude amigável do manipulador do vento, Yasmin ainda tinha dúvidas quanto às reais intenções dele. Porém, o cansaço logo tomou conta da capitã e esta dormiu, ignorando quaisquer precauções.

Quando Yasmin acordou o sol já brilhava, ainda que fracamente, no céu. Logo constatou que estava perfeitamente bem e que William ainda estava por lá, perto do que restava da fogueira.
-Yasmin: Bom dia.
-William: Se não se incomodar, vamos seguir imediatamente para o sul. Já me sinto melhor.
-Yasmin: “Acho que vou precisar de bastante paciência para lidar com ele...”
A capitã se levantou e então estendeu a William a capa que usara como cobertor. O rapaz, sempre com um olhar indiferente, não a pegou.
-William: Fique com ela. Vai precisar mais do que eu.

William e Yasmin seguiam por entre as árvores, a garota permanecendo alguns passos à frente e guiando o caminho. O rapaz mostrava sinais de que seu corpo não estava totalmente recuperado, mas seu orgulho não o permitia diminuir o ritmo de caminhada.
-Yasmin: Se eu estiver correta, assim que sairmos desta floresta conseguiremos ver uma enorme torre se erguendo ao longe. Então só precisamos usá-la como ponto de referência.
-William: Quem construiria uma torre num lugar tão inóspito?
-Yasmin: Como você não sabe disso? A notícia de que um dos sábios da corte do Rei Follet foi expulso, seis anos atrás, percorreu todo o reino. Até eu, que era apenas uma criança na época, soube que depois disso o tal sábio se mudou para o norte e criou uma torre onde vive até hoje.
-William: Lamento, mas meu conhecimento sobre Chesord é mínimo.
-Yasmin: Como assim? Onde você esteve durante toda a sua vida?
-William: Se eu lhe dissesse você não acreditaria.
Yasmin deteve seus passos, interessada em saber mais a respeito do rapaz. Porém, este continuou a andar e não demonstrou a menor vontade de prosseguir com o assunto.
-William: Ainda é cedo para fazer uma pausa, vamos continuar em frente.
-Yasmin:  “Definitivamente vou precisar de MUITA paciência para lidar com ele.”