A caminhada de William, Samantha e Fernand prosseguiu por cerca de vinte minutos, até que a bruxa finalmente encontrou algo que chamou sua atenção. Era um buraco no chão, com cerca de dois metros de diâmetro. Quando Samantha se aproximou dele, pequenas esferas azuladas começaram a brilhar no interior da abertura.
-William: O que são essas luzes?
-Samantha: Lembram dos amuletos que vocês dois receberam da minha mestra?
-William: Sim.
-Samantha: Eles não são meros objetos de metal. Na verdade são feitos de forma que reajam a certos efeitos mágicos, como este que estão vendo.
-Fernand: E pra que servem essas bolinhas azuis flutuantes?
-Samantha: Elas servem para indicar o caminho até outras bruxas. Geralmente um grupo de bruxas, para garantir que outras sejam capazes de encontrá-las, realiza um ritual para criar uma trilha mágica. Quando alguém com um amuleto como os nossos se aproxima da trilha, a magia presente no local reage e gera essas esferas.
-William: Então elas vão nos guiar até onde mora a mulher de quem nos falou?
-Samantha: Exatamente.
Samantha saltou para dentro do buraco e alcançou o chão logo em seguida, sem se ferir. O caminho adiante estava repleto das mesmas esferas azuis que, embora bruxuleantes, iluminavam o suficiente para que o trio seguisse pelo túnel.

Aurora estava sentada sobre uma cadeira e diante de uma pequena mesa retangular, ambas feitas de madeira. Do lado oposto da mesa havia outra cadeira, porém desocupada. A garota estava absorta na leitura de um livro, mas o colocou de lado assim que ouviu passos se aproximando.
-Electron: Desculpe a demora, Aurora.
Reconhecer a voz do colega acalmou Aurora. Logo ela o viu adentrar no mesmo recinto em que estava: um local amplo e circular com o pilar no centro e vários pequenos cristais flutuando perto do teto, os quais proviam iluminação.
-Electron: Eu trouxe alguns alimentos.
O loiro colocou o pequeno saco que trazia consigo sobre a mesa e então se sentou na cadeira livre.
-Electron: Foi uma ótima idéia pedir às pessoas da vila estes objetos emprestados.
-Aurora: Encontrou mais algum monstro nos arredores?
-Electron: Não. Felizmente parece que eles se mudaram definitivamente para algum outro lugar.
-Aurora: Do jeito que você os tratava não me admira que tenham ido todos embora. Você é muito cruel, Electron!
-Electron: Eu não acredito que vai me passar sermão por eu ter enxotado monstros daqui...

Depois de seguir pelo túnel por um longo tempo, Samantha e seus aliados finalmente chegaram ao final. Diante deles havia uma escada de ferro e acima um alçapão de madeira.
-Fernand: Eu vou primeiro.
Sem esperar por uma resposta de seus companheiros, o guerreiro da terra começou a subir a escada e então tentou empurrar o alçapão para cima com uma das mãos, conseguindo fazê-lo sem dificuldade alguma. Porém, ainda havia algum tipo de tecido tampando a saída, o qual Fernand removeu com um pouco de dificuldade antes de subir.
-Fernand: Ah, era só um tapete.
O rapaz percebeu que estava num local mal-iluminado e de paredes rochosas. Armários, mesas e estantes proliferavam lá, repletos de todo tipo de objeto e livros de vários tamanhos. Porém, não havia nenhuma pessoa lá além dele e de seus colegas.
-William: Não há mais esferas azuis aqui. Suponho que chegamos ao nosso destino.
William e Samantha agora também estavam fora do túnel, esta última fechando o alçapão e cobrindo-o novamente com o tapete. Porém, antes que os três pudessem sequer pensar em explorar o local, o som de uma porta se abrindo direcionou os olhares dos três para uma mulher.
-???: Visitas a essa hora do dia?
A mulher que havia adentrado no porão era extremamente bela, aparentando uma idade próxima aos trinta anos. Vestia robes luxuosos e dourados, com os braços à mostra, e possuía cabelos vívidos e ruivos.
-Samantha: Perdoe nossa intromissão, irmã. Eu me chamo Samantha Datch e preciso da sua ajuda.
-???: Samantha, é? Prazer em conhecê-la, sou Milla Witred. Conte-me sua história e direi se posso ajudar ou não.

Samantha terminou de contar a seqüência de acontecimentos que levou ela e seus aliados até a Cidade dos Mineradores. A jovem bruxa, William, Fernand e Milla estavam ao redor de uma mesa, na sala de estar da bela e enfeitada casa de Witred, apreciando um delicioso chá.
-Milla: Vejo que a situação exige mesmo minha colaboração.
-Samantha: Eu agradeço sua compreensão.
-Milla: E quanto a vocês dois, por que permaneceram calados esse tempo todo?
-William: Peço desculpas se lhe pareceu impertinência, eu evitei comentários para não atrapalhar Samantha.
-Milla: Posso ao menos saber seus nomes?
-William: Certamente. É um prazer conhecê-la, Lady Witred. Sou William Storde.
-Milla: Quanta educação. Fico feliz em saber que ainda existem homens assim hoje em dia.
Milla sorriu para William, mas o rapaz não foi capaz de deduzir o que a mulher queria dizer com aquilo. Fernand, um tanto desconcertado com a situação, tratou de se apresentar também.
-Fernand: E eu... sou Fernand Astrock...
-Milla: Ótimo. Agora que sei o nome de todos vocês, vou lhes explicar uma coisa muito importante. Eu sei onde se encontra o pilar, mas ele é protegido por dois membros da Ordem da Rosa Branca.
-Fernand: Dois? Quase morremos enfrentando um só...
-Samantha: Maldição...
-Milla: Eu sinto muito, mas em combate não sou capaz de ajudá-los.
O silêncio reinou na sala de estar por algum tempo até que William, o qual esteve de olhos fechados, finalmente os abriu, evidenciando em sua expressão que tinha uma idéia.
-William: Os onis! São tantos que seria necessário um membro da Rosa Branca para detê-los se eles atacassem a cidade! Desta forma somente um inimigo estaria guardando o pilar.
-Milla: Onis? Então há uma vila deles aqui perto?
-Samantha: Sim, nós os vimos enquanto procurávamos a entrada secreta para o seu porão.
-Milla: Além de educado é inteligente. Você me surpreende, Storde.
-Fernand: Não quero ser estraga-prazeres, mas como vamos convencer um bando de monstros a atacar a cidade?
-Milla: Não precisamos convencê-los, menino. Basta forçá-los.
-Fernand: Isso é possível?
-Milla: Para pessoas comuns obviamente não. Mas para bruxas poderosas é algo muito simples. Daremos aos seus amigos uma demonstração do que nós somos capazes, Samantha.