Sentado de frente para uma mesa no meio de dezenas de estantes repletas de livros e com uma xícara de chá nas mãos, um homem de aparentemente trinta anos, com cabelos curtos e bem arrumados divagava, pensando em voz alta.
-???: Já foram dois pilares. Apesar de terem demorado bastante para agir, eles enviaram guerreiros de qualidade, pelo visto.
O homem pousou a xícara no pires sobre a mesa, abrindo os olhos e observando o líquido fumegante.
-???: Mas será que conseguirão mesmo derrubar todos os dez? Se bem em lembro, alguns dos sábios que ergueram os pilares tomaram o cuidado de preparar defesas complementares.

O interior da caverna era iluminado por pedaços de madeira em chamas, presos em pequenos buracos nas paredes rochosas. O trio não demorou a notar que havia algumas barracas espalhadas no interior da ampla entrada do túnel montanhoso. As únicas pessoas lá presentes eram dois soldados sentados.
-Soldado: Aquela tocha está quase toda queimada. Melhor você trocá-la.
O outro soldado, um tanto a contragosto, pegou um toco de lenha no chão, retirou o que estava quase gasto da parede, usou-o para acender o novo e colocou este último no devido lugar.
-Fernand: Não vejo a tal Yasmin nem a outra pessoa que deveria estar aqui.
-William: Devem estar mais adiante. Vamos analisar com cuidado o local e então preparar um ataque adeq-
-Samantha: Perda de tempo.
A bruxa saltou para dentro da caverna e correu na direção dos soldados, os quais se levantaram, surpresos, e tentaram sacar suas armas. Porém, antes mesmo que pudessem retirar completamente as espadas das bainhas, seus corpos já haviam sido perfurados por estacas escuras que surgiram das palmas das mãos de Samantha.
-William: Bom, isso também serve. Ao menos você os matou silenciosamente.
-Soldado: Ca... CAPITÃ...!
Um dos soldados soltou um último grito e, momentos depois, dezenas de pequenas estacas negras saltaram de diversos pontos de seu corpo, tornando-o algo parecido com um cacto.
-William: Ou não.
As estacas negras sumiram, tornando-se poeira, e os corpos dos soldados foram ao chão. Segundos depois, o som de passos preencheu a caverna. Yasmin e Luna, respondendo ao chamado do soldado morto, haviam aparecido.
-Samantha: Sinto muito por estragar nossa entrada furtiva.
-William: Cumpra com sua parte e não haverá problema. Eu e Fernand vamos manter as duas damas ocupadas.
-Fernand: Isso mesmo!
Os dois rapazes sacaram suas armas, um gesto imitado por Yasmin e Luna. A capitã, já preparada para uma ocasião destas, sussurrou para a sacerdotisa.
-Yasmin: Deixe a garota de cabelos negros passar.
-Luna: Por quê?
-Yasmin: Ela também manipula um elemento e parece ser a única que pode derrubar os pilares. Podemos perder mais um, mas se vencermos aqueles dois e depois acabarmos com ela, estará tudo bem.
As duas avançaram, ignorando Samantha, que seguia para o interior da caverna. Agora as duplas estavam a poucos metros de distância.
-Yasmin: William, antes de começar, eu gostaria de lhe fazer uma pergunta.
-William: Que pergunta?
-Yasmin: Por que está tentando destruir os pilares? O que espera conseguir com isso?
-William: Se eu dissesse você não entenderia, muito menos acreditaria.
-Yasmin: Que pena.
Sem hesitação, a capitã empunhou sua espada e avançou contra William, o qual bloqueou o golpe com as suas e, em seguida, chutou as pernas de Yasmin, derrubando-a. O manipulador de vento preparou-se para cravar suas lâminas nela, mas teve de afastar-se ao ser atacado por uma rajada de chamas.
-Fernand: Então você é uma arqueira, menina? Para o seu azar, não gosto de lutar à distância!
Com um sorriso confiante no rosto, Fernand avançou de machado em punho, pronto para dividir Luna ao meio. Esta, sem se abalar, ergueu o braço ao alto e atingiu o adversário com um turbilhão de água, fazendo-o rolar para trás e, gerando em seguida uma flecha de água em seu arco.
-Luna: Só porque sou arqueira não significa que sou indefesa em lutas corpo a corpo!
A sacerdotisa disparou a flecha e Fernand gerou uma barreira de rochas para se defender. Porém, o projétil atravessou o escudo e empurrou o rapaz pelo chão.
-Fernand: Desgraçada!
Enquanto isso, Yasmin trocava golpes de espada com William, golpeando com uma lâmina em chamas. As armas do guerreiro do vento aumentavam rapidamente de temperatura, até o ponto em que ele não era mais capaz de segurá-las. Julgando-o um alvo fácil, Yasmin tentou eliminá-lo com um corte em diagonal.
-William: Sua defesa está toda aberta.
Com um simples movimento de mão, William gerou uma poderosa rajada de vento que deteve os braços de Yasmin e, em seguida, ele a golpeou com um soco no abdômen e a lançou para trás com outra rajada. Fernand, por sua vez, lançou uma rajada de rochas para o alto, a qual passou longe de Luna.
-Luna: O que você está faz-?
O som de rochas se desprendendo estampou raiva e susto no rosto de Luna, a qual correu para não ser soterrada pelas pedras que caíam do teto. Conseguindo evitar o ataque, a sacerdotisa rapidamente preparou outra flecha, mirando em Fernand.
-Fernand: Dessa vez não vou tentar defender, não vai me acertar duas vezes com isso!
-Luna: Eu sei.
William, novamente com suas espadas em mãos, avançava rapidamente na direção de Yasmin, a qual não tinha condições de se defender. Luna, com um movimento rápido, mudou a direção de seu arco e atirou a flecha contra o manipulador do vento.
-Luna: Meu alvo dessa vez não é você, menino da terra.
Notando o ataque, William imediatamente interrompeu seu ataque e desviou o corpo para o lado, milagrosamente evitando a flecha. Porém, Yasmin aproveitou a brecha para atingi-lo com uma poderosa bola de fogo, fazendo-o colidir contra a parede de caverna e, em seguida, ir de encontro ao chão.
-Yasmin: Belo golpe, Luna.
-Luna: O seu também, Yasmin!
Fernand observava seu amigo enquanto ele levantava devagar. Havia algo diferente nos olhos dele, um brilho avermelhado.
-Fernand: “Maldição. Essas duas não fazem idéia da encrenca em que se meteram. Do jeito que as coisas vão, talvez nem eu saia vivo desta caverna...”