Last Sacrifice por Dimitri Belikov escrita por shadowangel


Capítulo 14
Capítulo 14




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Nós andamos pela cidade, que estava calma. Poucas pessoas passavam pelas ruas. Era uma cidade pacata. Eu levantava meu rosto em direção ao sol, sentindo ele queimar a minha pele. O que para muitas pessoas era um incomodo, para mim havia se tornado um prazer. Sair ao sol era uma coisa simples, mas era como se aquilo reforçasse que eu não era mais um monstro. Rose caminhava silenciosamente ao meu lado, até que ela soltou um pensamento.

“Ou em qualquer lugar"

"Hmm?"

“Eu estava pensando que se os guardiões nos encontrarem. Nunca percebi o quanto que eu queria fazer e ver. De repente, tudo está em jogo, não é? Ok, vamos supor que meu nome não seja limpo e nunca encontremos o verdadeiro assassino. Qual é o próximo melhor cenário? Sempre correndo, sempre se escondendo dos guardiões. Essa será minha vida. Por tudo que eu sei, eu vou ter que ir viver com os Keepers”.

“Não vai chegar a esse ponto. Abe e Sydney vão lhe ajudar a encontrar algum lugar seguro." Falei, tentando animá-la. O tom dela era melancólico, algo difícil de vir de Rose. 

“Existe algum lugar seguro? De verdade? Adrian disse que os guardiões ​​estão aumentando seus esforços para nos encontrar. Eles provavelmente têm os alquimistas e autoridades humanas nos procurando também. Não importa onde formos, nós vamos correr o risco de sermos achados. Então vamos ter que seguir em frente. Vai ser assim para sempre." Percebi que eu estava certo. Ontem à noite ela estava realmente sonhando com Adrian.

“Você vai estar viva. Isso é o que importa. Aproveite o que você tem, cada pequeno detalhe de onde você estiver. Não se foque onde você não está."

Eu falei isso soltando um desejo meu de que ela se focasse em nós dois e naqueles momentos que estávamos passando juntos e não em Adrian e na Corte, mas felizmente, ela não entendeu dessa forma. Lá estava eu com aquele sentimento novamente. Não sei como eu ainda conseguia pensar nisso, enquanto estávamos correndo tanto perigo de sermos capturados. Eu não podia admitir para ela, mas ela poderia estar certa. Tinha uma possibilidade de nunca encontrarmos o verdadeiro assassino e ela ter que passar a vida se escondendo, mas mesmo assim, o importante seria que ela estaria viva. Em todo caso, em qualquer situação em que você estiver, não é bom pensar no que não se pode fazer ou onde não se pode estar. Eu lhe dei o conselho que eu mesmo estava tentando seguir. Deixar para trás o passado e viver plenamente a vida. Ela olhou para o céu, pensativa.

“É. Suponho que não deveria me lamentar sobre os lugares que eu sonho conhecer mas nunca vou conseguir ver. Eu deveria ficar agradecida por conseguir ver qualquer coisa. E por não estar vivendo em uma caverna."

Minhas palavras de ânimo não estavam surtindo muito efeito, então, tive uma idéia. Olhei para ela com um sorriso, apesar da tristeza de Rose, eu estava me sentindo bem leve, como há muito tempo eu não me sentia.

“Onde você quer ir?" Eu perguntei.

"O que, agora?" Ela falou olhando para soverteria.

"Não. No mundo"

"Sydney vai ficar muito brava se a levarmos para Istambul ou algo assim." Eu ri. Istambul era a terra natal de Abe. Achei curioso por ela pensar em ir justamente para lá.

"Não era o que eu tinha em mente. Vamos." Fomos em direção a uma pequena biblioteca que eu havia notado, quando chegamos a cidade. 

"Ei, ei. Uma das poucas vantagens de se formar é evitar lugares como este."

"Provavelmente tem ar condicionado" eu apelei para o conforto, olhando para os seus braços ligeiramente queimados do sol e sua roupa molhada de suor.

"Vamos" ela ordenou.

Eu era bem familiarizado com bibliotecas, eu gostava bastante de ler e sempre que podia, freqüentava uma. Caminhamos até a seção de viagens, esperando por algo interessante. Havia uns dez livros, a maioria sobre West Virginia. Franzi a testa. Eu procurei um livro, com muitas figuras e poucos textos, assim Rose não acharia monótono.

“Não era bem o que eu esperava.” Passei os olhos pela prateleira e retirei o livro 100 melhores lugares para visitar no mundo. Parecia razoável para o que eu queria. Sentamos no chão e eu lhe entreguei o livro. Ela levantou uma sobrancelha, com um olhar intrigado.

“De jeito nenhum, camarada. Eu sei que os livros são uma viagem para imaginação, mas eu não acho que eu estou disposta para isso hoje."

"Basta pegar. Feche os olhos e abra uma página de forma aleatória". Eu falei num tom sério. Ela fez o que eu disse e abriu a uma página.

"Mitchell, Dakota do Sul? De todos os lugares do mundo, que faz ela no top 100?" Eu sorri novamente. Rose sempre era divertida e eu gostava muito de estar com ela. Isso era um momento raro de tranqüilidade, algo que eu pensei que não fosse ter nunca mais.

"Leia"

"Localizado a 90 minutos de Sioux Falls, Mitchell é o lar do ‘Corn Palace’. Palácio do milho?" Ela olhou para mim, incrédula. Eu olhei para a foto do Palácio de Milho.

"Eu imagino que deve ser feito de palha de milho." Falei.

"Eu também. Eu visitar um dia. Aposto que eles têm grandes cúpulas."

"E eu aposto que os guardiões não nos procurariam por lá."

Eu falei imaginado se haveria um lugar para vivermos sem sermos incomodados. Ela riu com a idéia louca de viver no Palácio de Milho e foi a minha vez. Nós nos alternamos, lendo sobre os lugares e olhando para as belas fotos. Estávamos muito descontraídos, era como se o mundo lá fora e todos os nossos problemas não existissem mais. Rimos tanto, que a bibliotecária veio nos chamar a atenção. Olhei rapidamente para o lado e os nossos braços e pernas estavam se tocando. Eu estava tão ciente do contato físico que doeu dentro de mim. Eu queria que aquela paz durasse para sempre e aquele momento não acabasse nunca.

"Florença, na Itália" ela leu. "Sydney queria ir para lá. Ela queria estudar lá, na verdade. Se Abe conseguisse isso, eu acho que ela lhe serviria por toda a vida."

"Ela é muito obediente. Eu não a conheço bem, mas tenho certeza que Abe sabe algo sobre ela."

"Ele a trouxe da Rússia, de volta para os EUA"

"Tem que ser mais do que isso. Alquimistas são leais à sua ordem. Eles não gostam de nós. Eles se escondem, eles são treinados para isso, cada minuto que ela passa com os Keepres é uma agonia. Para ela nos ajudar e trair seus superiores deve ser por algum motivo sério. Mas é irrelevante agora. Ela está nos ajudando, e é que o que importa... e provavelmente agora devemos voltar até ela." Falei percebendo que havíamos passado muito tempo ali e já estava ficando tarde.

“Mais um"  falou Rose. Justo ela que não gostava de ler. Nossa, que progresso! Parecia que ela tinha gostado da brincadeira com os livros. Ela entregou o livro para mim e eu abri em uma página aleatória.

"São Petersburgo" admirei as torres e cúpulas hipnotizantes, as cores contrastantes. Eu amava São Petersburgo. Era quase como estar em casa. Algo doeu no meu peito. Era um lugar para onde eu não poderia mais voltar.

“Ei" disse Rose, me acotovelando "Você deve aproveitar o local onde estiver, lembra? Não o local onde você não pode ir."

"Como você ficou tão sábia?" Eu a provoquei, disfarçando a meus sentimentos.

"Tive um bom professor." Ela sorriu para mim e eu não pude deixar de sorrir de volta. "É por isso que você fugiu comigo? Para conhecer o mundo?"

Fiquei surpreso. A mesma pergunta de sempre.

Ela fez essa pergunta várias vezes para mim desde que saímos da Corte, e parecia adivinhar a hora de fazer. Sempre quando eu sentia as coisas mudando dentro de mim ela perguntava ‘porque você fugiu comigo?’. Era como se ela pudesse ver a mudança ocorrendo. Era como se, dentro dela, ela soubesse a resposta e quisesse ouvir de mim mesmo. Como eu poderia responder com sinceridade a esta pergunta?    

"Você não precisa de mim para ser sábia, Rose. Você está se saindo bem sozinha. Sim, este foi um dos motivos. Talvez eu tivesse sido recebido de volta, mas havia o risco de não ser. Depois... depois de ter sido um Strigoi" eu me esforcei para que as palavras saíssem de forma firme e não ficassem presas na língua "eu ganhei uma nova apreciação pela vida. Demorou um pouco. Eu ainda não estou lá. Estamos conversamos sobre focar o presente, não o futuro, mas é o meu passado que me assombra. Existem rostos. Mas quanto mais eu vejo o mundo da morte, mais eu quero abraçar a vida. O cheiro dos livros, o perfume que você usa. A forma como o sol entra pela janela. Mesmo o gosto do café da manhã com os Keepers. " Eu senti que estava me abrindo para Rose. Mas, naquele momento, não quis me conter. Era bom estar com ela assim, mesmo que fosse só amizade. Eu percebi isso também. Ela não era só a mulher que eu amava, mas era uma amiga, uma companheira, uma pessoa a quem eu podia confiar meus medos, meus traumas. Uma pessoa que me entendia.

"Você é um poeta, agora."

"Não, só estou começando a perceber a verdade. Eu respeito a lei e a forma como nossa sociedade funciona, mas não havia nenhuma maneira de perder a minha vida em uma prisão, depois de encontrá-la novamente. Eu queria fugir também. É por isso que eu lhe ajudei. Isso e -" eu me dei um freio. Lembrei que ela estava tocando sua vida com Adrian e achei que ela estava ficando bem sem mim. Ela também não estava mais demonstrando que ainda gostava de mim, durante toda essa fuga ela sequer tocou nesse assunto, e eu assumi que era melhor assim. Tinha sido rápido, ela tinha superado o que sentia por mim. Eu não tinha o direito de continuar com essa conversa.

“O quê?" Rose me olhou daquela forma que ela sempre fazia quando tentava me desvendar.

Eu sentei, sem olhar para ela e mantendo meu rosto vazio. "Isso não importa. Vamos voltar até Sydney e ver se ela descobriu algo... apesar de, eu odeio dizer isso, mas eu acho improvável."

"Eu sei. Provavelmente ela desistiu e começou a jogar Campo Minado." Rose soltou uma piada, tentando manter o tom casual.

Na volta para a cafeteria, paramos para comprar um soverte. Rose parecia uma criança lutando contra o soverte de chocolate que derretia. Quando chegamos, Sydney estava lá, no mesmo lugar,com a comida intocada.

“Como é que-" Rose começou. "Ei, você está jogando Campo Minado! Você deveria estar procurando uma conexão com a amante de Eric". Sydney virou a tela na direção oposta a Rose, sem deixar ela ver o que tinha ali.

“Eu já encontrei" respondeu ela com um ar de eficiente. Eu e Rose nos olhamos com ar de surpresa. Nós estávamos no caminho certo. "Mas eu não sei será útil."

"Qualquer coisa é útil. O que você achou?"

“Depois de rastrear os registros e operações bancárias, e me deixe dizer que não foi nada divertido, finalmente encontrei uma pequena informação. A conta bancária agora é nova. Ela foi transferida de outra conta bancária, há cerca de cinco anos. A conta antiga é secreta, está em nome de Jane Doe, mas tinha referências de um parente próximo, no caso algo acontecer com o titular da conta."

"Algum nome de verdade?" Rose perguntou de forma ofegante.

Sydney assentiu "Sonya Karp”.


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