Momentos de Percy J. e Annabeth C. [Em Revisão] escrita por Nicolle Bittencourt


Capítulo 46
Capítulo 46: Afrodite me dá um conselho


Notas iniciais do capítulo

Oi! Tudo bem com vocês, meus leitores lindos?
Gostaria de avisar que nesse capítulo há um ponto de vista especial!
Boa leitura para todos vocês!
PS: Leitores fantasmas, pelo amor de Deus, apareçam!



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Annabeth’s POV

Eu não sabia o que falaria com Afrodite e não tinha certeza sobre o que ela queria falar comigo, mas sabia que precisava vê-la, afinal, se Afrodite havia mesmo me feito ter um sonho daqueles (o que eu considerava bem provável), eu não duvidava de nada mais que ela pudesse fazer. Quero dizer, eu sabia que ela era uma deusa e tinha poderes inimagináveis, mas se ela houvesse mesmo feito aquilo, eu teria que deixar bem claro para Afrodite que eu não era sua marionete para ela fazer comigo o que bem entender. Fora que, pelo que eu me lembre, os deuses não deviam se meter nas vidas de semideuses diretamente.

Após passar pela porta da CornerCafe, dei uma olhada ao redor, procurando por Afrodite. O local não estava tão cheio quanto se esperava de uma segunda-feira no horário de almoço e isso deveria facilitar achar qualquer um. O grande problema é que Afrodite poderia assumir a forma que quisesse, ser quem bem entendesse, então, isso poderia tornar as coisas mais difíceis, não fosse pelo fato de eu saber que o seu charme e beleza irradiavam e chamavam a atenção de qualquer um. Ah, e claro, as boas sensações que costumam surgir quando se estava perto dela (se ela estivesse de bom humor, obviamente). 

— Senhorita Chase? – perguntou um jovem atendente para mim, ao que eu assenti meio desconfiada.

— A Senhora Millo está esperando a senhorita. –disse ele me mostrando um espaço reservado ao fim do café.

Franzi a testa quando ele disse Millo, mas no mesmo instante me lembrei da Vênus de Millo. Claro que Afrodite usaria esse sobrenome falso quando existia uma escultura com esse nome em homenagem à ela!

O atendente me guiou até uma pequena cabine reservada onde se encontrava uma bela mulher de cabelos castanhos; olhos que mudavam do azul para o verde, e então do marrom para o mel; pele bronzeada e roupas de marca que provavelmente estariam na capa do mês de alguma revista de moda.  

Me sentei na cadeira que ficava de frente para Afrodite, e mesmo achando aquela situação estranha: estar sentada num café com uma deusa, prestes a conversar (sobre o que quer que fosse), não podia negar que ela era linda e que estar próxima dela dava uma certa inveja. Fiz questão de expulsar esse sentimento da minha mente o mais rápido possível, pois tinha certeza de que a deusa poderia detectá-lo.

— Vão querer alguma coisa? – perguntou o jovem garçom o qual eu já havia esquecido que estava ali.

Eu estava prestes a negar, num ato automático, quando Afrodite me interrompeu.

— Traga um cappuccino expresso e um pedaço de torta de maçã para a mocinha e um chá gelado para mim. – disse ela delicadamente, lançando um belo sorriso para o atendente, que ficou meio desnorteado ao ver de perto algo que só devia estar acostumado a ver em ensaios fotográficos de modelos e celebridade. Ok, confesso que nem eu fui indiferente ao sorriso da deusa, vê-lo me dava quase vontade de fazer o que ela quisesse, quase.

 Afrodite pareceu nem reparar na forma como o jovem ficou afetado, ela na verdade o ignorou e ficou lendo o cardápio que estava em suas mãos.

Olhei-a de forma curiosa. 

— Como sabia? – perguntei assim que o atendente saiu.

— Sabia o quê? – perguntou Afrodite deixando de olhar o menu e se concentrando em mim pela primeira vez. A intensidade do seu olhar me pegou desprevenida.

— Que eu gosto de torta de maçã. - era minha torta favorita, na verdade.

Ela deu de ombros e sorriu.

— Todos gostam de torta de maçã! – ela me lançou uma piscadela.

O engraçado é que eu não sabia se ela dizia a verdade ou se estava me enganado. Ela era muito convincente e parecia honesta quando dizia algo, mas eu sabia muito bem que ela podia fazer de bobo até o mais sábio, afinal, era isso que o amor (seu principal poder) fazia.

— O que a senhora quer comigo? – perguntei após alguns segundos de silêncio.

Ela me avaliou antes de responder. 

Eu não sabia o que era mais intrigante: o peso de seu olhar sobre mim, observando cada detalhe do que eu fazia; ou a forma como seus olhos mudavam de cor de forma extremamente rápida.

— Annabeth, você é uma garota adorável, inteligente, bonita, educada, muito parecida com sua mãe, eu diria. Mas, querida, eu vim aqui para, entre outros, te perguntar uma coisa: você realmente acha que eu te fiz sonhar com aquilo? – perguntou Afrodite de forma tão delicada e  sincera que quase me fez crer que eu era maluca.

Sacudi a cabeça tentando tirar seu encanto de mim.

— Bem, é muito estranho eu sonhar com algo assim e logo depois a senhora querer falar comigo, fora que, como a senhora saberia do sonho se não tivesse a ver com ele? – perguntei erguendo a sobrancelha.

Afrodite teve que esperar para dar sua resposta pois o garçom chegou naquele exato momento carregando uma bandeja com chá gelado, cappuccino expresso e um pedaço de torta de maçã. Eu até pensei em recusar, mas estava com tanta fome que minha barriga se remexeu ao ver a torta sendo colocada diante de mim.

Considerando isso e o fato de que  hoje começaríamos nossa missão pra valer, era melhor comer de uma vez. Enquanto dava uma garfada na torta e o atendente deixava nosso espaço reservado, lancei um olhar para a deusa do amor, pedindo explicações.

— Então... Eu realmente não tive nada a ver com o sonho, não tenho culpa se você está sonhando com... – Afrodite olhou para mim como se esperasse que eu lembrasse de algo. No entanto, eu não iria lembrar, pois começava a sentir as maçãs de meu rosto fervendo de vergonha, por causa do rumo da conversa — Como diz Atena? “Seus impulsos adolescentes”. Impulsos esses que nem você nem o Percy seguem! Francamente, como vocês dois são complicados!

Ao dizer isso, Afrodite pegou seu chá e bebeu um gole.

Eu sabia que suas palavras eram verdade, e elas estavam me fazendo cair na real. Analisando os fatos, sempre que ia acontecer algo entre Percy e eu aparecia alguém para atrapalhar, fosse na vida real ou em meus sonhos. Outra coisa que parecia verdade: o fato de ela ter dito que não era culpada do meu sonho, afinal, Afrodite era Afrodite, eu sabia que se tivesse sido ela a culpada, a esse momento já estaria se gabando de tal fato. Mas ainda sim, por algum motivo, eu não conseguia acreditar completamente em suas palavras, acreditar que ela era inocente naquilo tudo.

— Ok! Aquele sonho foi realmente meu, sem intromissão de ninguém. Certo? – perguntei ao que Afrodite assentiu, eu ainda não tinha certeza se ela falava a verdade – Mas isso não justifica o fato de eu estar aqui conversando com a senhora e também não explica o porquê de a senhora saber sobre meu sonho.

Afrodite me olhou calmamente, para depois cruzar as mãos sobre a mesa.

— Querida Annabeth, eu tenho um carinho muito grande por você e também por Percy. Vocês são um casal que eu adoro e pelo qual eu tenho um interesse especial, isso é algo que não acontece há algumas décadas, por isso, eu preciso dificultar certas coisas e facilitar outras. – ela deu uma piscadela como se aquele fosse nosso segredinho – Vocês merecem uma linda e trágica história de amor, daquelas que ficam marcadas na mente e no coração de todos. E como eu ando assistindo um pouco de comédia... Bem, também tem de acontecer situações cômicas. 

Eu havia acabado de comer o pedaço de torta, e admito, eu posso até ser uma filha de Atena, mas chegava à conclusão de que Afrodite não fazia sentido! Ela adora Percy e eu, e por isso queria dificultar nossas vidas? Me pergunto o que ela fazia com casais que ela não gostava. Será que faz com que seus romances sejam fáceis e felizes? Não é atoa que as pessoas dizem que o amor é confuso, com uma deusa como ela no comando desse sentimento, só podia dar nisso.

— Você gosta da gente mesmo? Porque da forma como você fala parece até querer que algum de nós morra só para ter uma história como a de Helena e Páris.

— Helena e Páris! – Afrodite suspirou melancolicamente – Linda história de amor! Trágica e linda! O tipo de história que eu amo!

— Espera! A senhora disse que também queria uma história trágica e linda para nós, não foi? O que está planejando? – perguntei começando a me assustar. Se tinha uma coisa que todos sabiam era que Afrodite quando se empenha em algo, nunca dá errado, para ela ao menos.

— Espere e verá minha jovem. Mas voltando... – disse ela antes que eu pudesse protestar – Você me perguntou como eu sabia do seu sonho, pois bem, a noite anterior foi de puro tédio no Olimpo, tivemos uma reunião com Zeus, discussões não faltaram. E depois todos os deuses tinham suas obrigações, Ares foi ajudar a provocar alguma batalha qualquer e eu fiquei sem fazer nada, afinal era meu dia de folga. Para você ver quanto era meu tédio: eu até tentara ler um livro de arquitetura!

— Não vejo nenhum tédio nisso. – disse eu quando ela revirou os olhos.

— Desculpe, me esqueci que estou falando com a arquiteta oficial do Olimpo. O que me lembra: parabéns pelo ótimo trabalho! Aquilo está ficando perfeito! – disse ela sorrindo quando eu também sorri – Pois então, eu não tinha muito o que fazer e como Hipnos estava ali por perto e é um grande amigo meu...

Não sei se tinha ouvido direito, ela disse que era amiga de Hipnos?

— O deus do sono é seu amigo? – perguntei intrigada, pois pelo que eu me lembrava, Hipnos quase não falava com ninguém, já que passava a maior parte do tempo dormindo.

— Ok, amigo é uma palavra muito forte, mas ele me deve uns favores. De qualquer forma, aproveitei que ele estava acordado, que era o único deus que parecia desocupado, e começamos a conversar. Você deve imaginar o que aconteceu, não é? Em menos de dois minutos de conversa e aquele deus menor já estava dormindo. Francamente, uma falta de respeito tremenda, foi um grande insulto à minha pessoa!

Eu tive que rir, afinal, aquilo era algo que eu já imaginava, Hipnos dormindo no meio de uma conversa com Afrodite. Só não entendia o que ele tinha a ver com o fato de ela saber sobre o meu sonho. 

— E onde – perguntei sussurrando – meu sonho se encaixa nisso?

Afrodite sorriu.

— Então, é claro que eu já estava pronta para acordá-lo e amaldiçoá-lo, mas acontece que acabei por descobrir que o que diziam era verdade. – foi a vez dela cochichar — Sabe, dizem que quando Hipnos dorme e você encosta nele, você é capaz de ver o que as pessoas sonham. Acontece que como eu fui acordá-lo, acabei por tocar nele, e vi muitos sonhos que eu nem queria ver. – Afrodite fez uma careta – E num instante vi o seu sonho, bem, eu não sabia que era seu, afinal poderia ser de Percy também, mas o que importa é que eu vi e me concentrei nele para poder apreciar melhor. Ai, ai, foi algo tão lindo e tão intenso para um sonho.

Afrodite suspirou.

Aquela história estava muito estranha, eu nunca ouvira falar sobre quando alguém toca em Hipnos é capaz de ver os sonhos das pessoas. E nunca vira Afrodite conversando com ele, mas até aí, eu nunca havia visto ninguém conversando com ele, sempre que eu o via o deus estava encostado em algum canto dormindo. Entretanto, não fiz perguntas, porque Afrodite continuou a dizer:

— Depois disso resolvi ver vocês, não só por causa do sonho, mas também por conta da missão. Na verdade, eu já queria falar com você, este sonho só acelerou as coisas. Eu estava no seu quarto, hoje mais cedo, enquanto você tomava banho. Eu iria falar com você lá mesmo, mas após ouvir você falando sozinha, o que eu acho um péssimo hábito, eu descobri que fora você que havia sonhado, e decidi que ali não era o local mais apropriado para conversarmos.

— E um café é? – perguntei cinicamente olhando ao redor, mesmo que estivéssemos um pouco afastadas do resto das pessoas.

— Melhor do que num hotel onde tanto Percy e Bryan poderiam aparecer e ouvir nossa conversa.

Em um sinal de insatisfação, comecei a bater os pés no chão.

— Aliás, que sonho, Annabeth! Eu fiquei surpresa, de verdade! – ela sorriu como se eu fosse seu orgulho e eu voltei a ficar vermelha feito um tomate – Mas ora, vamos, não quero te deixar mais constrangida, vim aqui falar com você sobre algo mais importante que um sonho, embora eu o tenha achado muito fofo e tenha ficado curiosa sobre quem havia sonhado com ele! Como eu ia dizendo... Annabeth, eu sei que meu filho Phobos tem desavenças com Percy, e com todos em maioria, e também sei das ameaças dele. Por mais que eu seja mãe dele, não posso fazer muito. Ele é um deus, pode fazer o que estiver ao alcance dele e isso inclui matar, amaldiçoar, despedaçar, entre outros. – engoli em seco – Porém, posso te dar um conselho: tome cuidado com o que as pessoas dizem, nem sempre o que elas dizem é a verdade, nem sempre o que elas demonstram é o que sentem. Palavras podem ser falsas, assim como sorrisos, isso que disse serve para tudo, para todos, até para os que você mais ama e confia.

Confusa olhei para Afrodite, nossa conversa havia mudado bruscamente o rumo. Eu descobrira que ela não estava ali para me deixar envergonhada sobre o sonho, estava ali apenas para me aconselhar sobre o que estava por vir. E ali estava ela, me dizendo para não confiar em tudo o que as pessoas que eu amo e acredito dizem.

— O que a senhora quer dizer com isso? Alguém próximo irá me enganar? – comecei a perguntar apenas para ver Afrodite olhando pela janela para a rua lá fora.

— Você deve ir, Annabeth. Percy e Bryan estão ficando preocupados com sua demora, além do que, a missão de vocês começa hoje, é melhor se apressarem. Fora que Atena não vira até vocês, vocês é que terão que ir atrás dela.

Em dúvida, olhei de Afrodite para a rua, eu precisava perguntar mais coisas para ela, coisas essas que eu não entendia. E ainda tinha aquilo dentro de mim que me dizia que ela estava mentindo sobre o sonho. Mas olhando de novo para a rua, me lembrei de que aquele dia seria o começo de uma nova missão, novos desafios, e eu não tinha mais tempo para conversar com a deusa do amor sobre sonhos. Isso poderia ficar para depois. Tinha coisas mais importantes do momento. 

— A senhora tem razão. E mesmo não esclarecendo muita coisa e me deixando mais confusa, obrigada por tudo!

Nisso me levantei e me dirigi para saída do café, atrás de mim ainda pude ouvir a deusa dizendo:

— Até logo, Annabeth! Tenha sempre bons sonhos!

E eu ri com essa pequena provocação, mas atravessei a rua sem olhar para trás.

 

Afrodite’s POV

Devo admitir: mentir é um péssimo hábito! Agora, mentir para uma filha de Atena... É um milhão de vezes pior! Ela fica te encarando com aqueles olhos cinzas iguais da mãe, desconfia de tudo e a cada momento se tem a sensação de que ela vai levantar, te apontar o dedo e dizer: “Aha! Você está mentindo!”. Sorte a minha que Annabeth estava tão confusa (confusão essa que eu causei) e pensativa que nem me fez muitas perguntas, ainda bem, pois não sabia se teria respostas para todas.

Sentada naquele café como se fosse uma mera mortal, fiquei pensando em como aquela história de Hipnos fora boa. Eu não havia mentido totalmente sobre isso, afinal, rolavam boatos no Olimpo sobre o fato de se conseguir ver o sonho dos outros ao se tocar aquele deus, mas ninguém nunca tivera coragem de fazê-lo, pois diziam também que se Hipnos acordasse e te pegasse no flagra... Ele ficava perverso, descontrolado e feroz. Não seria eu aquela a descobrir se isso era verdade ou não.

Estava tão pensativa, bebericando meu chá, que nem notara a entrada de outro ser  mitológico no café, nem que o mesmo se sentara ao meu lado.

— Senhora Afrodite? – perguntou ele.

Eu me virei em direção àquela voz que já me era muito conhecida – Eros, também conhecido como cupido e também como o deus do amor. Mas, obviamente, eu que sou a deusa do amor mais importante!

Eros, que naquele momento parecia uma criança de nove anos, me olhava intensamente com os olhos azuis mais claros que já tinha visto em minha existência. Ele parecia preocupado ao me analisar, talvez se perguntando o que eu pensava. Num impulso maternal, passei minha mão pelo seu cabelo cacheado e loiro; então acariciei suas bochechas rosadas, que só realçavam sua pele cor de porcelana. 

Eros era o cupido, o que segundo mitologias flechava os corações das pessoas para que as mesmas se apaixonassem. Antigamente ele só fazia isso eventualmente, após muito pesquisar sobre cada par; mas no mundo moderno, do jeito que as coisas andavam, ele vivia por ai atirando suas flechas desenfreadamente. Como consequência se formavam vários casais com relacionamentos pouco duradouros, o que me deixava muito triste. Claro que não era culpa de Eros, ele cumpria seu trabalho, sempre pensando em quem combina com quem, no entanto, ele não tinha mais tempo de realmente pesquisar muito sobre cada par como fazia antigamente, já que tinha que cumprir metas de formação de casais todo mês. 

— Olá, Eros! – disse eu feliz por rever meu filho – O que faz aqui? Pensei que tinha ficado no Olimpo.

O deus que mais parecia com o que os humanos consideram anjos, me olhou carinhosamente, como quem se desculpava.

— Me desculpe, sei que pode parecer intromissão, Afrodite, mas é que, como me disse mais cedo o que havia feito, sobre o sonho no caso, fiquei curioso para saber se a menina acreditaria em sua versão da história.

Nisso me lembrei que mais cedo havia encontrado com ele, que ficáramos conversando um bom tempo e que eu acabara por falar sobre meu plano. Claro que Eros ouviu detalhadamente, ainda mais por se tratar de Annabeth e Percy, que eram um casal raro, do tipo que não precisou de suas flechas para se apaixonar um pelo outro.

— Não precisa se desculpar, Eros, você é meu filho e tem o direito de saber sobre o que te contei mais cedo. Enfim, ela acreditou sim, não tenho mais com o que me preocupar.

— Que bom! – disse ele aliviado – Fiquei receoso que ela descobrisse que a senhora a fez pensar que havia sonhado com aquilo tudo. Mas afinal, por que a senhora fez isso? Pensei que queria que a relação deles evoluísse.

Eu sorri.

— Eros, eu adoraria que a relação deles evoluísse, mas tudo ao seu tempo. Se isso acontecesse hoje, acarretaria um milhão de fatores que fariam o curso da história mudar. Afinal, se Atena descobrisse, Percy seria morto. Como haveria uma história de amor épica se ele morresse já tão cedo? Por isso, é melhor Annabeth pensar que tudo aquilo foi um sonho. Talvez um dia eu conte a ela que tudo aconteceu realmente, que ela não imaginou aquilo tudo.

Olhei afetuosamente para Eros, tanto tempo trabalhando comigo e mais tempo ainda desde que havia nascido, e ele ainda conseguia ser ingênuo de vez em quando.

Ele deveria saber do que eu era capaz naquele momento. Quero dizer, eu não havia feito nada muito complicado. 

Basicamente, eu só havia atrapalhado Percy e Annabeth durante sua sessão de amassos, que, na verdade, ocorrera por volta das oito da manhã. Depois, os coloquei de volta em um sono profundo e causei uma pequena confusão mental, ao ponto de que Percy e Annabeth esquecessem grande parte do eventos.

Meu plano original era que ambos esquecessem, mas no meio tempo Bryan havia aparecido, então, não consegui resisti e mantive Annabeth ocupada num sono profundo enquanto Percy cuidava do jovem. Okay, eu meio que me aproveitei para fazer Annabeth sonhar com o que acontecera, mascarando um pouco a realidade (por isso ela estava com uma lingerie e não com seus shorts durante o sonho; e por isso o relógio marcava uma hora a frente). Eu fiz com que o sonho se sobrepusesse aos fatos reais. Novamente, nada muito difícil para uma deusa. Alguns estalos, alguns pensamentos e voilà! Tudo estava feito. 

— Mas, senhora, eu ainda não entendo o motivo de ter feito Percy se esquecer de tudo.

— Ele não esqueceu de tudo, Eros. Ele também acha que foi um sonho, o que acontece é que fiz ele lembrar poucos detalhes, pois não queria correr o risco de ele estragar tudo quando estivesse perto de Atena. Do jeito que ele é, acabaria dizendo tudo sem querer. Para você ver que nem os semideuses são imunes a névoa.

Eros parou para pensar um pouco e depois me olhou desconfiado.

— Acho que entendi. A senhora fez tudo isso para protegê-los e proteger o que deseja para eles e também fez isso para provocar ainda mais os desejos deles. Por isso, achou melhor fazê-los pensar que sonharam com aquilo, quando na verdade aquilo fora a realidade. Achou melhor também inventar essa história de Hipnos e de ter visto sem querer o sonho, ao invés de dizer que os estava espionando.

— Correto! – disse eu batendo palmas - Eu sou uma ótima atriz, não acha, Eros? De camareira que atrapalha o romance, até mentir para a filha de Atena e manipular pensamentos e ações de semideuses poderosos. Tudo para proteger meus queridos! E principalmente, para proteger o próximo grande romance, maior até que o de Helena e Páris, e quem sabe, mais trágico. Na verdade, estou ansiosa por tudo o que acontecerá, será épico! Algo um milhão de vezes melhor do que Romeu e Julieta!

— O que a senhora planeja para eles? – perguntou Eros curioso.

— Eu? Não muito, mas o que os outros planejam para eles e o que o futuro os aguarda... Isso sim é que mudara tudo! – sorri, olhando pela janela eu conseguia ver os três conversando na parte do restaurante do hotel, do outro lado da rua. Com a cena meu sorriso se ampliou, aquilo parecia tão bom para eles, o fato estarem juntos. Pena que não seria sempre assim.

Meu pensamento fora interrompido por um estrondo muito próximo de onde eu estava, próximo demais para dizer a verdade. Eu sabia que aquilo era um aviso.

Revirei os olhos.

— Já vou, já vou! – disse pegando minhas coisas e olhando para o céu que começava a ficar negro – Vamos Eros, temos que ir ao Olimpo, parece que Zeus descobriu minha pequena saída e não está nada feliz com isso.

 


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