Percy’s POV

Estávamos na sala da Casa Grande, Quíron estava com sua parte garanhão acoplada dentro da cadeira de rodas, o que lhe fazia parecer um homem de meia-idade normal. Bem, por sorte ele estava assim, considerando que Bryan nunca vira um centauro pessoalmente e que eu sabia, por experiência própria, o quão assustador e chocante poderia ser se deparar com um sem aviso prévio. Claro que pra mim foi pior, considerando que Quíron era meu professor antes, então, foi bem mais traumático saber que ele tinha um traseiro peludo. 

Falando em Bryan, eu tinha que admitir que o garoto tinha me surpreendido. Ele realmente era um excelente esgrimista. Mas, sinceramente, eu não conseguia gostar muito dele, em parte (okay, principalmente) por causa daquela cena dele segurando a Annie pela cintura.

Bem, Quíron nos mandou sentar e nos ofereceu néctar e ambrosia, já que achava que estávamos exaustos pela luta e, de fato, estávamos.

— Então, este é o Acampamento sobre o qual minha mãe falou? – perguntou Bryan

— Acho que sim, meu jovem. - disse Quíron – Mas quem é você? Quem é sua mãe? E por que não possui um sátiro lhe ajudando?

Bryan estreitou os olhos.

— Eu sou Bryan Harpper, tenho 17 anos, minha mãe era Kate Harpper. – nesse momento percebi que tanto o olhar de Quíron quanto o de Bryan vacilou, e Annie também pareceu perceber. – E eu não sei porque não possuo nenhum sátiro me auxiliando. Deveria haver algum?

Quíron parecia meio... Estranho, olhando para Bryan. Como se soubesse de algo, Annabeth também, porém, não parecia ser pelo mesmo motivo que o do centauro.

— Deveria. – disse Annabeth – Mas nem sempre temos sátiros o suficiente para todos os semideuses. Ainda mais depois da guerra.

— Guerra? Tipo, depois da 2ª Guerra Mundial? – perguntou Bryan

— Não. –eu disse- Depois da nossa batalha com os titãs.

Bryan arregalou os olhos. Como se quisesse saber se os titãs aos quais eu me referia eram os mesmo da mitologia.

— Talvez seja informação demais para ele. –disse Quíron – Argos, poderia levar nosso novo campista para assistir o filme sobre o Acampamento?

Argos assentiu com a cabeça.

— Que filme? – perguntou o Harpper.

— Você verá! É sobre o Acampamento e sobre os deuses. Pode levá-lo, Argos.

Assim que Quíron terminou de falar, Argos já conduzia Bryan para fora da sala.

— Quíron por que você preferiu deixá-lo vendo o filme em vez de contar a ele?- perguntei

— Porque ele parece já saber bastante sobre o assunto. – sua expressão séria se suavizou um pouco – Então? Podem me contar o que houve?

— Lá vamos nós de novo!- disse Annabeth, definitivamente cansada de repetir a história.

Annabeth’s POV

Após contar Quíron a história do ciclope, de Sarah, do Javali de Erimanto... Enfim, de tudo o que tinha acontecido naquele dia, pude perceber que ele estava... Nervoso. Mas com o quê?

Assim que terminei de contar minha “aventura”, Argos voltava com Bryan para a sala.

— Tudo bem? – perguntei a Bryan que parecia diferente.

— Sim, Annie, está tudo bem! – disse ficando ao meu lado.

Pelo canto de olho pude ver que Percy não gostou dele ter me chamado de Annie. O que, na verdade, era meio fofo, mas ridículo também, considerando que era um apelido bem comum e pelo o qual a maioria das pessoas me chamava. 

— Bem, acho que agora tenho que me apresentar formalmente. Sou Quíron, diretor de atividades do Acampamento. E aquele é Argos, nosso segurança. – ele apontou para Argos.

Bryan parecia meio confuso, exausto. Sabia que ele precisava de um descanso.

— Temos também o Senhor D., diretor do Acampamento. Mas acho melhor que o conheça depois, seu humor está ruim após a pequena troca de farpas, digo, conversa com Ártemis.

— Senhor D.? Quer disser, o deus Dioní...

— Não fale o nome! Evite ficar falando os nomes dos deuses – eu disse

— Ok! - ele parecia cansado demais até para perguntar porque não deveria fazer aquilo.

— Meus jovens, vocês poderiam mostrar o Acampamento ao jovem Bryan? – perguntou Quíron

— Claro! Vamos Annabeth!- disse Percy enquanto se levantava do sofá.

Continuei parada onde estava.

— Não, não. Você mostra o Acampamento a Bryan. Eu preciso falar sobre algo com Quíron.

Percy me olhou e olhou para Quíron, apertou minha mão e disse:

— Tudo bem, te vejo depois!

Assenti com a cabeça. Por fim, ele e Bryan saíram da sala.

— O que gostaria de falar comigo, Annabeth?

Analisei-o.

— Quíron, você ficou muito estranho quando o Bryan disse o nome da mãe dele e eu reparei isso. Era como se você... Soubesse quem ela foi, como se tivesse a conhecido. –o olhar de Quíron vacilou – Você a conheceu! – afirmei.

Parecia estranho Quíron ter conhecido a mãe de Bryan, mas seus olhos não me enganavam, conhecia-o o suficiente para saber disso.

— Annabeth, querida, vamos conversar depois...

— Quíron, você está escondendo algo importante, me diga, por favor!

— Querida, algumas coisas merecem ficar em segredo.

— Quíron, você nunca me esconde nada e eu sei de quem Bryan é filho e desconfio que você também saiba, já que conheceu a mãe dele.

Quíron abaixou os olhos.

— Não tenho certeza absoluta, mas tenho uma forte suspeita de quem seja seu pai, só acho melhor não falarmos sobre por aqui.

Olhei para os lados. Não havia ninguém a vista, mas isso não significava que ninguém nos ouvia. Sendo assim, Quíron fez um sinal para que eu o seguisse até onde era seu escritório, um lugar bem reservado e calmo. Lá, de porta fechada, ele se ajeitou com sua cadeira perto do enorme sofá de couro no qual eu sentei. 

— Quíron, por favor, pode me dizer algo sobre a mãe de Bryan? Eu ainda não entendo o quê ela fez para que nenhum monstro o capturasse, nem como ele aprendeu tão bem a esgrimir...

Os detalhes se misturavam na minha mente, Bryan sabia de tanto para um garoto de sua idade que nunca havia tido contato com o acampamento, era bem óbvio que tivera alguma instrução.

— Querida, você tem razão, eu conheci Kate Harpper. – Quíron olhou nos meus olhos – E você também deve se lembrar dela.

O quê? Como assim?

— Eu? Me lembrar? Como vou me lembra de alguém que eu não conheço?

Não entendia onde Quíron queria chegar e isso me enlouquecia.

— Annabeth, você pode não tê-la conhecido pessoalmente, mas com certeza se lembra dela.

Comecei a balançar minha perna boa enquanto tentava entender onde Quíron queria chegar.

— Definitivamente não me lembro de nenhuma Kate Harpper.

— Talvez o primeiro nome não seja o que você conheça. Querida, se lembra da líder do chalé de Atena de 1990?

O que Quíron queria com isso?

— Claro que me lembro, era Mel Harpper... – a ficha caiu – Não! Não! Quíron você está me dizendo que...

— Sim, que Mel Harpper e Kate Harpper são a mesma pessoa. Ela é a mãe de Bryan e era uma campista, filha de Atena, e foi líder do seu chalé por 3 anos.

Eu não podia crer, não podia ser.

— Não, não pode ser, Quíron. Isso é loucura!

— Na verdade, não. E ele é bem parecido com a mãe, a propósito. Mas, você se lembra o porquê dela ter deixado o acampamento? Lembra-se dessa história?

Assenti.

— Sim! A versão oficial é que ela havia decidido sair do acampamento e seguir uma vida normal, mas o que poucos sabem é que, na verdade, ela decidiu isso porque havia ficado grávida. 

Agora tudo fazia sentido!

— Ela estava grávida! Grávida de Zeus! Quíron, uma campista grávida em seus 19 anos, sendo filha de Atena, já estranho. Agora, o filho dela era... O namorado dela era Zeus! Quíron isso é...

— Confuso?

Assenti.

— Bem, eu desconfiava disso há algum tempo.

Agora entendia como Bryan teve tanto treinamento. A mãe dele havia sido uma das melhores líderes do chalé.

— Faz sentido, Bryan sabe de muitas coisas para alguém da idade dele que nunca foi treinado pelo acampamento. Ele sabe lutar muito bem também, mas é claro que sabe, né? A mãe dele sendo quem foi, só poderia ser assim.

— Sim, ela era incrível. - disse Quíron tristonho - Sabia que ela preferia que a chamassem de Mel ao invés de Kate porque o pai a chamava assim?

Fiz sinal negativo com cabeça.

— Quíron, temos que falar com Bryan, ele precisa saber!

— Você tem razão, querida, mas vamos falar depois com ele, deixe que Zeus o nomeie primeiro. 

— Mas por quê?

— Porque, ele já descobriu coisa demais em pouco tempo, e já passou por muitas coisas. Deixei que ele se acostume com a ideia de ser um semideus, se acostume com o acampamento. E então, quando Zeus o nomear, nós contamos o que sabemos.

— Certo!

Quíron me abraçou fortemente.

Tanto eu quanto ele sabíamos que Bryan precisaria de mais treinamento, não só por ser filho de Zeus, mas também por sua mãe ter sido filha de Atena.

Bryan não era só mais um meio-sangue, era um meio-sangue filho de Zeus. Não fosse o bastante, sua mãe era filha de Atena. O que, tecnicamente, o tornava neto da deusa da sabedoria e meu... Hum... Sobrinho. Se bem que, seguindo pela mesma linha de raciocínio, Zeus seria seu pai e bisavô. Argh! Árvores genealógicas não faziam sentido algum quando o assunto era deuses gregos. Enfim, Bryan tinha mais parte divina do que humana correndo em seu corpo. Ele só era 1/3 humano, era mais poderoso do que os outros, no entanto, nem disso ele sabia.

Como um estalo, algo que vinha me incomodando desde mais cedo, havia se resolvido em minha mente. Agora a última frase que Mel Harpper disse antes de morrer se revelou para mim, eu sabia exatamente o que ela queria ter dito ao filho. 

“Bryan tome cuidado, nem tudo é o que parece. E não se preocupe, você não é o único, eu também sou semideusa, sou uma meio-sangue.”