Capítulo O5

Sakura sentia a pequena apertar seus finos braços em seu pescoço, enquanto tentava aconchegar-se em seu colo. Com certo receio, a rosada tentou não se manter tão rígida e aos poucos enlaçou seus braços na menina que aparentemente seria sua filha.

- Saky! – Uma voz estranha aos ouvidos da rosada. Seus olhos encontraram uma moça de cabelos curtos e escuros na porta que dividia a sala com o outro cômodo. A mulher não parecia nem um pouco feliz. – Por qu- ela parou bruscamente de falar quando encontrou o casal na sala. – Vocês já chegaram! Graças a Kami! – sorriu.

Aproximando-se mais da família, Shizune sorriu mais abertamente por ver Sakura ali junto deles.

- Como voce está, Sakura-chan?

- B-bem... – resmungou acanhada.

- Sou Shizune. – apresentou-se à rosada que sorriu em resposta. Não lembrava-se dela, mas algo na mulher lhe inspirava confiança.

Percebendo  dois grandes olhos verdes lhe observando curiosa, Sakura corou.  A pequena tinha uma expressão curiosa no rosto que ela não sabia decifrar.

- Saky, deixe sua mãe descansar. – a ordem de Sasuke quebrou o contato visual entre as duas.

Encarando-o, Sakura notou a expressão séria do marido. Sasuke parecia irritado com algo que ela não sabia ao certo. Desviando o olhar para a menina, notou o bico emburrado que esboçara e riu baixo.

- Venha, Saky... – Shizune estendeu a mão para que a menina a seguisse.

- Eu queria ficar com você... – resmungou a menina. A frase saiu tão baixa que apenas Sakura escutou.

Involuntariamente, a Uchiha levou uma das mãos aos cabelos da filha e acariciou-os para depois dar-lhe um beijo carinhoso na testa. Surpreendeu-se com sua própria atitude, porém ao ver o sorriso fraco da menina, sentiu seu coração se aquecer.

- Depois conversamos, está bem? – Sakura sorriu e recebeu um sorriso ainda mais largo da filha. – Agora vá com Shizune.

De forma rápida, Saky seguiu Shizune e logo  desapareceu  para algum cômodo da casa.

- Você está bem? – Sasuke resmungou atrás dela.

- Acho que sim... – suspirou massageando a cabeça e fazendo uma expressão de dor. – Minha cabeça está doendo um pouco.

Um silêncio incomodo parou entre os dois. Sasuke permanecia em pé e com as mãos nos bolsos enquanto olhava para a janela da casa e Sakura permanecia fitando o caminho que Shizune e a pequena haviam feito poucos instantes atrás.

Sasuke suspirou baixo.

- Saky é uma menina muito doce. – Sakura murmurou para si mesma e percebendo o desconforto do Uchiha, completou: -  ela é sempre carinhosa assim?

- Sim. – respondeu rápido. – Acho melhor você descansar um pouco antes do jantar.

Sakura notou a mudança rápida de assunto, mas preferiu não questionar. Ela estava realmente exausta por tantas descobertas e ao mesmo tempo curiosa para ver o restante da casa.

Sasuke percebeu a dificuldade que a esposa teve em se levantar, mas contolou-se. Sakura era cabeça-dura o bastante para negar sua ajuda, assim como naquela manhã.

- Acha que consegue subir as escadas? – ele perguntou já ao seu lado.

Desviando o olhar para as escadas, sentiu seu estomago embrulhar e sem perceber seus olhos se arregalaram. Medo? Talvez...

- S-sim.

Ele estendeu a mão para a rosada que hesitou a princípio. Dando passos cambaleantes, Sakura segurou firme no corrimão, porém o pé virou no primeiro degrau. Ela resmungou baixo e sem saída, segurou no braço de Sasuke.

- Obrigada. – agradeceu sem jeito. Por algum motivo, sentia-se abobalhada ao lado dele.

Ele não respondeu nada e aquilo incomodou-a de certa forma. Não sabia nada sobre sua vida, sobre sua família. Mal sabia que já era casada e o pior... nem mesmo sabia que era mãe! Precisava que Sasuke a ajudasse a descobrir os mistérios que rondavam sua vida, mas parecia queele não era a pessoa mais disposta a fazer isso.

Mal percebeu quando chegou no topo da escada. O corredor à sua frente não era tão grande, nem tão largo, mas ela podia ver algumas portas.

Sem delongas, Sasuke a guiou com um pouco mais de facilidade para o quarto que eles dividiam desde que se casaram. Era cômico vê-la deslumbrada com tudo que via pela frente. Percebeu que seus olhos brilhavam a cada nova descoberta. Ele se lembrava que foi Sakura que tinha escolhido a decoração da casa, assim como a alegria dela em mostrar-lhe como tudo tinha ficado tão bom.

- É aqui?! – Sakura murmurou.

- Sim. – ele resmungou quase inaudível.

Sakura o olhou pelo canto dos olhos. A expressão dele era tensa e rígida, como se algo o incomodasse. Por um minuto ela pensou que talvez fosse a sua presença que estivesse causando tanto estresse à ele, mas o receio de perguntar e confirmar suas suspeitas foram maiores.

- Pode ir se quiser. – Sakura disse meio aborrecida. – Ficarei bem...

Os olhos antes estreitados deram lugar à dois orbes surpresos. E sua expressão tornou-se ainda mais surpresa quando percebeu Sakura entrando no aposento e sentando-se na beira da cama para retirar os sapatos. Ela nem sequer importou-se de ficar de costas para o marido.

- Se precisa-

- Ficarei bem. – Sakura cortou-o ríspida.

Meio relutante, Sasuke bufou alto e retirou-se do lugar para deixá-la mais confortável. Por algum motivo, a atitude dela tinha o incomodado e por um instante, deixado-o um tanto quanto triste.

Descendo as escadas, Sasuke dirigiu-se para a sala onde sabia que seu notebook o esperava para terminar as notícias do dia seguinte.

*

Quando sentiu que Sasuke já não estava mais por perto, Sakura começou a analisar o quarto. Era aconchegante e confortável. Paredes claras, cortinas em um tom lilás e a cama de casal era macia como uma nuvem.

Olhando mais atentamente, Sakura viu uma foto que chamou sua atenção. A moldura envidraçada de dourado mostrava sua provável família. Saky permanecia no meio dos dois com um sorriso tão contagiante que a fez sorrir e Sasuke mostrava um sorriso de canto que por algum motivo fez seu coração palpitar. Talvez fosse essa umas das suas fraquezas pelo marido: o sorriso.

- Mamãe?

A voz de Saky tirou Sakura de seus pensamentos. Voltando-se para porta, encontrou a menina olhando-a atentamente.

- Posso entrar? – a pergunta saiu tão doce que não havia como dizer não.

Fazendo um discreto sim com a cabeça, a Uchiha observou sua pequena réplica correr em passos curtos em sua direção até ficar frente a frente.

- Queria ficar aqui com você... – murmurou triste.

- Pode ficar. – sorriu.

Aconchegando-se melhor na cama, Sakura deixou um espaço para que a pequena também pudesse ajeitar-se. Apressada, Saky não fez delongas em pular em cima da cama e abraçar a mãe pela cintura.

- Você demorou... – Saky resmungou meio irritada,fazendo a mãe rir.

- Eu estava no hospital, Saky... – Sakura acariciou os cabelos róseos da pequena. – Mas já estou de volta.

Saky desvencilhou-se da mãe para fitá-la.

- É verdade que você não se lembra de nada?

A pergunta saiu tão melancólica que Sakura surpreendeu-se. Não sabia o que responder, afinal ela era só uma criança.

Sem esperar resposta, Saky novamente a questionou.

- É verdade que você se esqueceu de mim também?

Aninhando-a próxima de si, Sakura lhe beijou o topo da cabeça tentando ganhar tempo. Já devia ter imaginado que ela seria questionada sobre isso.

- Algumas coisas sobre você eu realmente não me lembro, mas jamais me esqueci de você, meu anjo. – Foi tudo o que ela conseguiu responder. – Por isso, preciso que você me ajude, ok?

- Uhum. – a pequena respondeu um pouco mais tranqüila.

E assim, Saky rendeu-se aos carinhos da mãe até ser invadida pelo mundo dos sonhos.Sakura demorou um pouco mais,mas acabou por adormecer ali mesmo.

*

Sasuke tentava manter a concentração nas suas colunas do jornal, mas escrever naquele momento parecia uma missão impossível. Seus pensamentos mantinham-se no andar de cima, onde sabe-se Deus o que Sakura estaria fazendo.

Cansado de tentar escrever, Sasuke resolveu subir. A passos rápidos, entrou sorrateiro no quarto e deparou-se com a cena de mãe e filha dormindo juntas. As feições tranqüilas e o sorriso discreto no rosto da esposa de alguma forma o acalmaram.

Estava na hora de reconquistá-la e tentar esquecer as dúvidas do passado. Sasuke sabia que seria difícil, mesmo com a dúvida tão presente e tão próxima de si.

“ Eu não consigo entender o que nos aconteceu, mas farei de tudo para voltar a ser o que éramos...”