Eternal Flame escrita por bandolinz


Capítulo 40
3x13 - Entre Dois Mundos


Notas iniciais do capítulo

Nyah está de volta e a EF também! o/

Vídeo do capítulo: https://www.youtube.com/watch?v=kKfLpC-5GkA



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A caçada com o lobo Jacob foi revigorante, quase terapêutica. O silêncio entre nós necessário e tranquilizante. Já era noite e fazíamos nosso caminho de volta para casa. Jacob estava na forma humana, mas continuava calado; o único som entre nós eram os barulhos da floresta, com seus mistérios e encantos ressaltados pela luz do luar.

Nós não tínhamos pressa.

– Então, o que exatamente é esse imprinting? – perguntei.

Jacob me olhou por cima, ligeiramente surpreso com minha pergunta, as mãos nos bolsos enquanto caminhávamos.

– Imprinting é... – ele suspirou como quem se preparava para contar uma velha lenda – o laço mais forte que pode haver entre um lobo e sua parceira. É involuntário, inquebrável e é para sempre. A partir do momento que você a vê, nada mais importa, vocês estarão ligados até o fim dos dias. Você fará o que ela precisar, será o que ela precisar... Tudo que for preciso para que o objeto do imprinting seja feliz.

– Algum dos garotos já...?

– Sam, Paul, Jared, Quil... – a voz de Jacob ficou mais grave – Eu.

– Comigo. – minha pergunta soou quase como uma afirmação.

Jacob fez que sim.

– Como pode ter tanta certeza?

– Não dá para confundir algo tão grande assim. Eu já tinha ideia de como era sofrer o imprinting através dos pensamentos de Sam e dos outros... Quando aconteceu, não tive dúvidas. Basicamente nossos genes nos dizem quem é a nossa alma gêmea, ou, como Billy acreditava, quem seria a parceira capaz de passar adiante nossos genes de lobo para uma geração mais forte.

– Eu nem sequer sei se posso ter filhos. – balbuciei.

– Se a teoria de Billy estiver certa, você pode.

Pensei sobre isso por um instante.

– Quando você sofreu imprinting comigo?

– No momento em que te vi pela primeira vez.

– Ou seja... – comecei desconfiada.

– Momentos depois de você nascer? Sim. – ele esclareceu.

– Isso... – engasguei – Não parece certo.

– Não é como você está pensando, Nessie. No começo eu era como um guardião, um protetor. Tudo o que me importava era o seu bem estar, então você foi crescendo, eu me tornei seu amigo, – ele se corrigiu – seu melhor amigo, até que você estava pronta e nos apaixonamos.

Toda a história soava para mim como uma lenda que alguém contaria para crianças na hora de dormir. Surreal e mágico demais para ser verdade, como na peça de Shakespeare “Sonho de uma noite de verão”.

Ainda assim, a existência da minha espécie, de meus pais e da de Jacob em si não são personificações de lendas humanas? Além do mais, isso sem dúvidas explicava porque tem sido tão impossivelmente difícil me desligar de Jacob, mesmo com o passar dos anos.

Não gostei nenhum pouco da noção de que, não importa o quanto eu tente, nunca vou conseguir esquecê-lo.

– E meus pais sabiam disso tudo desde o começo? Que eventualmente, eu e você nos apaixonaríamos e ficaríamos juntos? – indaguei sem conseguir esconder minha perplexidade.

– Yep.

Você sabia desde o começo que eu não teria outra escolha a não ser me apaixonar por você assim que atingisse a fase adulta. – acusei.

– Não é bem assim. – Jacob falou na defensiva, temendo o rumo que a conversa estava tomando.

– Então como é? – a raiva crescia dentro de mim.

– Você tem direito de escolha. Sempre teve. Apenas... É muito mais provável que você me escolha no fim das contas, pois eu sempre serei aquilo que você precisa.

Sacudi a cabeça incapaz de acreditar no que eu estava ouvindo.

– E se eu não te escolher?

– Isso nunca aconteceu antes. – ele respondeu sem se abalar. – Um lobo e seu imprinting são destinados a estar um com o outro até o fim de seus dias.

– E se eu não te escolher? – repeti, mais incisiva dessa vez – Até onde eu sei nenhum outro lobo sofreu imprinting com uma vampira. Emily, Rachel, Kim, Claire... Todas humanas. – apontei.

– Você também é humana.

– Meio humana.

– Não importa.

– Meio imprinting então.

Jacob riu sem humor.

– Não seja ridícula. Tal coisa não existe.

– Quem sabe. Talvez estejamos prestes a descobrir. – provoquei.

Ele revirou os olhos.

– Nem sei por que você está tão irritada com isso em primeiro lugar. Não é como se fosse minha culpa. É involuntário, já aconteceu. Não há nada que possa ser feito quanto a isso.

Ajeitei uma mecha do meu cabelo, encarando o caminho a nossa frente já podendo avistar a mansão Cullen.

– Eu gostava de pensar que o que nós tínhamos era amor. – falei baixinho, quase que comigo mesma.

– Mas é amor. Só que vem acompanhado por algo mais forte do que isso, algo que você jamais teria com um humano qualquer.

– Uma obrigação. – apontei fúnebre.

– Claro que não.

– Você me amaria pelo que sou? Se não fosse esse imprinting?

– Sim, é óbvio.

Lancei lhe um olhar de desconfiança.

– Quero dizer, talvez eu não tivesse ficado por perto tempo o suficiente, mas, se eu te conhecesse, com certeza te amaria de todo jeito.

Cruzei os braços abraçando a mim mesma.

– Então eu acho que devo ser grata a esse imprinting.

Suspirei, levantando meu olhar para o céu nebuloso em busca de alguma estrela. Jacob me observava sem entender.

– Porque até onde entendi se não fosse por ele você provavelmente ainda estaria apaixonado pela minha mãe e teria me matado no momento em que nasci.

– Nessie...

– Não se preocupe, não estou te acusando. É apenas o jeito que as coisas são, não é mesmo? Já aconteceu, não há nada que possa ser feito quanto a isso. – repeti as palavras dele com certa melancolia.

Chegamos em casa e logo fui para o meu quarto, pois tinha muito no que pensar e precisava ficar sozinha. Apesar de intenso, esse dia também foi muito libertador. Eu sentia que finalmente eu e Jacob estávamos voltando a conversar ao invés de apenas trocar acusações e palavras sem valor. Isso me tranquilizava. Parte de mim temia que a muralha entre nós nunca mais fosse cair, mas os primeiros estilhaços dela já começavam a desabar. Será um processo lento, não tenho dúvidas, ainda assim estou contente por finalmente ter começado.

Outra semana se passou com dias entediantes no colégio, caçadas com Jacob e algumas visitas a Gabriel. Bem ou mal, minha família já havia se adaptado a presença de Jacob, com exceção de Rosalie que ainda reclama sem parar, contudo estou certa de que é pura implicância e ela não deve estar tão incomodada quanto faz parecer.

Alice por fim revelou a identidade de seu admirador secreto, que acabou por ser ninguém mais ou menos do que Peter Rivers, o exótico garoto do clube de eventos, que havia convidado Lefroy para cantar no baile de Halloween. De alguma forma, Jasper já suspeitava, pois ganhou uma aposta que havia feito com Emmett sobre quem seria o suposto admirador.

Meus tios às vezes parecem tão bobos que me fascinam.

O dia do festival de balé de Catherine havia chegado e eu me encontrava pronta para sair quando um muito desconfiado Jacob cruzou meu caminho.

– Aonde você vai?

– A um festival de balé.

Ele pareceu ficar ainda mais confuso.

– Hoje é a apresentação de Catherine, lembra? – expliquei.

– Ah. Então aquele mauricinho vai estar lá. Edward está sabendo disso?

– Primeiro, já disse para você parar de chamar Gabriel assim. Segundo, claro que ele vai estar lá, é a apresentação da irmã dele. E sim, Edward está sabendo. Satisfeito, general?

O descontentamento de Jacob era quase palpável, contudo preferi ignorar isso.

– Boa noite, Jake. Preciso ir.

– Divirta-se querida. – Esme apareceu com um sorriso doce no rosto.

Retribuí o sorriso.

– Pode deixar.

Saí de casa e, no caminho para o colégio de Cat, enquanto eu estava parada no semáforo, um anúncio na entrada de uma lanchonete me chamou a atenção. Assim que o sinal ficou verde, dei a volta e parei no acostamento.

Uma fina chuva caía, mas a mesma poderia ser facilmente ignorada e, apesar de ainda ser cedo, o céu já era composto pelas nuvens escuras do começo de noite.

Saí do carro indo em direção ao anúncio que dizia:

PROCURA-SE VOCALISTA PARA BANDA INDIE/POP ROCK

Sorri comigo mesma lembrando Gabriel. Imediatamente tirei uma foto do anúncio para mostrar a ele.

Voltei ao carro e segui meu caminho até o festival me sentindo tão animada que poderia cantar. De certa forma eu estava ansiosa para rever Lefroy, pois, apesar de tê-lo visto algumas vezes nas últimas semanas, há muito não saíamos juntos. Não passamos nenhum momento sem a presença de Catherine desde então e, apesar de adorar a pequena, eu sentia falta do tempo que tínhamos a sós no colégio.

Cheguei ao local combinado e foi muito fácil localizar Gabriel no salão de espera que, apesar de estar consideravelmente cheio, era preenchido em sua grande maioria por mães, alguns pais, fotógrafos e outras crianças. Lefroy era basicamente o único rapaz de dezessete anos naquele recinto.

Ele estava escorado em uma das paredes, distraído com algo no celular e não viu quando me aproximei.

– Com licença, moço, você poderia ligar para o 911, porque eu acho que acabei de ter meu coração roubado. – brinquei.

Gabriel sorriu ao me ver, estendendo os braços para me envolver em um enlace que terminou com um beijo terno. Ele cheirava a limpeza e a um gostoso perfume que se fundia com seu aroma natural, tão convidativo. Vestia uma camiseta vermelha, calça jeans, tênis e um blazer preto.

Ele estava absurdamente lindo.

– Que cantada péssima. – ele disse segurando minha mão.

– Eu sei, foi horrível. – sorri embaraçada – Onde está Cat?

– Está na concentração com as outras crianças da turma dela. Eles devem começar em alguns minutos.

– Sua mãe está aqui? – olhei em volta rapidamente, procurando pela Dra. Miranda, uma vez que ela prometeu a Catherine tentar ao máximo comparecer ao festival da filha.

– Hum... Não. Tenho mandado mensagens durante os últimos trinta minutos, mas ela não responde. O que significa que ela não virá. – ele não parecia surpreso.

– Sinto muito pela Cathy.

– Está tudo bem, eu já a havia preparado para essa possibilidade. Além do mais, você está aqui, tenho certeza que a Cat ficará mais do que contente com isso.

Algo dentro de mim ascendeu para a genuinidade daquela afirmação e isso me doeu por algum motivo desconhecido. Ainda não havia atingido minha consciência que eles viviam uma vida tão solitária.

No fim das contas Gabriel e Catherine tinham apenas um ao outro.

– Como vão as coisas no colégio? – ele mudou de assunto.

– Bem, o mesmo de sempre. Meio entediante, para ser sincera.

Ele riu de leve com minha resposta.

– Confesso que mal vejo a hora de voltar para o tédio de sempre. Não aguento mais ficar em casa sem fazer nada. – desabafou.

– Uau. Isso faz de você o primeiro a sentir falta das tarefas de casa. – tentei amenizar o clima.

Era a primeira vez que Gabriel reclamava abertamente sobre sua suspensão.

– Não sinto falta das tarefas de casa. Sinto falta de estar com meus amigos, das atividades malucas às sextas, da vida no campus, dos treinos de roquei. Sinto sua falta.

– Estou bem aqui. – apertei a mão dele.

– Eu sei. – falou reflexivo.

Esse lado misterioso e calado de Lefroy estava me assustando. Passamos um minuto em silêncio enquanto eu procurava algo para dizer.

– Vamos entrar? Acho que está prestes a começar. – sugeri.

Ele acenou concordando.

Entramos e fomos para nossos assentos. Pouco tempo depois a primeira apresentação começou, sendo a de Catherine a terceira. Quando chegou sua vez, a caçula da família Lefroy brilhou como nunca, talentosa e extremamente concentrada enquanto desempenhava o papel central na peça de sua turma.

Apesar de jovem, ela tinha graça e leveza. Pensei comigo mesma que Cat poderia ser uma dançarina muito bem sucedida caso escolhesse seguir a carreira de bailarina no futuro.

Gabriel não poderia estar mais orgulhoso, os olhos dele brilhavam acompanhando cada movimento da irmã com absoluto encanto e devoção. Eu queria poder capturar a expressão em seu rosto com uma fotografia ou pintura, assim eu poderia admirá-la para sempre.

Após o festival, fomos jogar boliche para comemorar a bela apresentação de Catherine. Eu estava me divertindo bastante e Cat era a mais falante do grupo, para meu alívio, Gabriel não estava tão retraído quanto antes e cada vez mais soava como ele mesmo. Estávamos nas vésperas do Halloween e o local estava massivamente decorado de acordo com o tema, o que me fez pensar no baile de Halloween do colégio, acontecendo nesse exato momento, e que talvez Gabriel ainda estivesse lamentando a oportunidade perdida de voltar a cantar.

Quando Catherine foi brincar em uma das máquinas que estavam espalhadas pela lanchonete deixando eu e Gabriel a sós, ele recebeu uma foto de Nick bêbado e sorridente fantasiado de Drácula no baile do Kayhi.

Lefroy sorriu, mas seus olhos eram tristes.

Os bailes do colégio não me faziam a menor falta, mas eu podia ver que para Gabriel o mesmo não se aplicava. Ele de fato gostava de estar envolvido em todas as atividades que o Kayhi proporcionava e servir de referência para os demais alunos.

– Você realmente queria estar lá, não é? – perguntei.

– Sim, – ele admitiu sem rodeios – mas não seria prático de qualquer forma, com o festival da Cat. Se eu tivesse de escolher, preferiria estar aqui.

Ficamos em silêncio, terminando nossos milk-shakes.

– Como vão as coisas com o seu ex? – ele perguntou sem olhar para mim.

Fui pega de surpresa quase engasgando. Era a primeira vez que Gabriel perguntava sobre Jacob desde a suspensão.

– Bem. Quero dizer, pelo menos paramos de brigar o tempo todo.

– E por que foi isso? – indagou quase sem curiosidade, sua atenção no canudo que mexia o resto do milk-shake em seu copo.

– Acho que passamos a conversar ao invés de discutir. Parece que Jacob finalmente entendeu que não podemos ser outra coisa se não amigos. – as últimas palavras foram proferidas quase que dolorosamente.

Gabriel assentiu lentamente, sem parecer muito convencido.

– Aconteceu alguma coisa? – questionei.

Lefroy piscou rápido, me encarando com seus olhos azuis alarmados, como se acabasse de despertar de um transe.

– Não. Por quê?

– Você tem agido estranho a noite toda.

– Desculpe, é só... – suspiro – Tem sido uma semana difícil para mim.

Gabriel hesitou por um instante como se estivesse decidindo entre se abrir comigo ou não e eu cheguei a pensar que ele não fosse dizer mais nada. Seus olhos vagaram para um ponto distante, onde Catherine brincava distraída.

– Hoje completam três anos desde que meu pai morreu. – falou.

– Desculpe, eu não fazia ideia.

– Eu achei que, uma vez que você havia me encorajado a aceitar o convite de Peter para cantar no baile de hoje, seria uma boa maneira de homenageá-lo, sei lá, me convenci de que em algum lugar ele ficaria orgulhoso de mim. – ele passou a mão pelos cabelos frustrado – Ao invés disso, estou aqui, me sentindo tão perdido e culpado quanto eu estava três anos atrás.

Alcancei a mão dele.

– Você não tem culpa de nada do que aconteceu.

Lefroy acenou hesitante, olhos fixos no chão.

– Gabriel, olha pra mim. Você não tem culpa do que aconteceu com seu pai. – repeti. – Foi uma fatalidade. Olha só pra Cat, como ela está feliz... E isso é porque você tem cuidado muito bem dela. Eu tenho certeza de que isso já é razão suficiente para seu pai se orgulhar.

Ele pareceu pensar no assunto.

– Talvez você esteja certa.

– Tenho cem por cento de certeza que estou.

Lefroy voltou-se para mim, os olhos cintilantes, os cantos dos lábios curvados em um sorriso. Ele parecia tão belo e frágil que me fazia querer estar sempre por perto para impedir que qualquer coisa ruim o quebrasse novamente. Me partia o coração saber que não havia outra pessoa com quem ele pudesse compartilhar esse fardo, essa culpa que não pertencia a ele. Me enchia de frustração o duplo abandono pelo qual ele passou, primeiro com a morte do pai, depois com a indiferença da mãe.

– Obrigado. Você é a melhor coisa que já me aconteceu, bailarina. Nem sei o que seria de...

Pus o indicador sobre os lábios dele impedindo que continuasse a falar e em seguida eliminei a distância entre nós, o beijando com urgência. Logo uma de suas mãos estava firme em minha cintura enquanto a outra se enroscava na raiz de meus cabelos e nossas línguas dançavam em uma batalha ardorosa. Eu precisava beijá-lo, precisava esvaziar minha mente e distrair meus lábios antes que os mesmos me traíssem, pois, de repente fui tomada por uma súbita clareza. Uma súbita convicção.

Eu o amo.

Eu o amo, mas jamais direi essas palavras em voz alta.

Eu o deixei entrar demais na minha vida, eu me importo demais com ele e não entendo como pude deixar isso acontecer, mas eu o amo. Não da forma como amo meus pais, Alice, Emmett, Rosalie, Jasper... Não da forma como amo Zafrina e os quileutes. Não da forma arrebatadora como amo Jacob. Todas essas pessoas sempre estiveram em minha vida e eu sempre soube que as amaria até minha morte.

Eu o amo da forma mais traiçoeira, pois, quando reencontrei Lefroy pela primeira vez nos corredores do Kayhi, não fazia a menor ideia de que um dia seria tão dolorosa a certeza de que vou deixa-lo para trás. De que essa vida humana não é minha verdadeira vida e, apesar de eu e minha família vivermos em um eterno “faz de conta” nas cidades por onde passamos, o sentimento que cresceu em mim é real. O carinho que nutro por ele e por Catherine já está enraizado em mim e eu não posso evitar pensar que seria melhor para todos que não fosse assim.

Quando terminamos o beijo, contei para Gabriel sobre o anúncio que vi no meu caminho para cá.

– Você não espera que eu...?

– Sim! Acho que você deveria fazer uma audição.

– Renesmee, eu não acho que estou pronto.

– Claro que está. Eu irei com você.

– Sério?

– Seríssimo.

– Quando?

– Quanto antes melhor. – dei de ombros.

– Amanhã? – ele sugeriu incerto.

– Perfeito pra mim.

Ele sorriu me abraçando.

– Você é a melhor.

Peguei meu celular para mostrar a ele o número e me deparei com meia dúzia de chamadas não atendidas de Jacob e mais meia dúzia de mensagens perguntando onde eu estava e a que horas voltaria para casa.

Suspirei sentindo meu coração apertar.

Nesse momento Catherine se aproximou correndo risonha, carregando uma pelúcia gigante.

– Olha só o que eu ganhei! – mostrou orgulhosa.

– Uau! Tem certeza de que no seu quarto vai ter espaço para isso? – Gabriel provocou.

– Se não tiver eu coloco no seu, bobinho. – ela respondeu sem vacilar e Gabriel por meio segundo pareceu preocupado com a ideia.

– Não sabia que você era tão boa nesses jogos. – falei, guardando meu celular após enviar a foto do cartaz para Gabriel, sem responder Jacob.

– Nem eu! – ela riu sapeca. – Quer que eu tente pegar um para você, Nessie?

– Obrigada, querida, não precisa.

– Não é sobre conseguir o urso para você, é sobre conseguir mais moedas para jogar. – Gabriel sussurrou para mim, com ares de conspiração.

– Ei! – Catherine gritou em protesto batendo em Gabriel com o boneco de pelúcia.

Ele riu puxando-a para o colo, dando um abraço apertado na pequena, depois a colocou de volta no chão e lhe deu uma nota de cinco dólares.

– Vê se não se vicia ein?

Ela revirou os olhos e deu a pelúcia para que eu segurasse.

– Cuida pra mim, Nessie?

– Claro.

– Obrigada! – ela sorriu ensolarada e saiu balançando seus cachos dourados enquanto corria.

Segurei o boneco na minha frente e comecei a falar com uma voz grave.

– Mal posso esperar pra ir pra minha nova casa, no quarto do senhor Lefroy, porque não vai ter espaço pra mim no quarto da pequena Cat.

Gabriel revirou os olhos, contendo um sorriso.

– Não mesmo.

– Ah, você me ama, não me ama? – continuei imitando o boneco entre risos.

Gabriel lançou-se sobre mim, tirando o boneco de minhas mãos e começando a me fazer cócegas.

Afundei-me no sofá em meio a gargalhadas, tentando me esquivar dele.

– Eu me rendo, eu me rendo – falei entre risadas.

– Onde está seu amigo urso pra te defender agora ein? – falou se divertindo com a situação.

– Para – consegui dizer ofegante – Para, para Jake!

Nós dois congelamos ao mesmo tempo. Era como se um iceberg tivesse se colocado entre nós.

Gabriel rapidamente tirou as mãos de mim e eu me sentia tão estúpida, tão culpada. Eu queria poder desaparecer, poder engolir as palavras de volta e enterrá-las em minha garganta para me certificar de que jamais eu cometeria esse erro novamente. Mas já era tarde, o estrago estava feito.

– Me desculpa, eu não sei... – tentei tocar sua mão, mas ele a tirou do meu alcance. – Realmente não sei o que deu em mim.

– Eu não sou Jacob e não tenho a menor pretensão de ser. – Lefroy disse em um tom calmo, porém duro. – Eu não sou um substituto do seu ex, Renesmee.

– Sei que não. Sinto muito...

– Acho melhor irmos embora. – falou se levantando e pegando a pelúcia, seus olhos evitando os meus.

– Gabriel, por favor.

Ele virou-se para mim, seu rosto contorcido como se estivesse exausto.

– O que realmente há entre você e ele, Renesmee? – ele abriu os braços em frente a mim como se estivesse se rendendo. – Apenas me diga de uma vez.

– Nada, nós somos amigos.

– Amigos como eu e você?

– Você e eu somos mais do que amigos. – afirmei ressentida.

– Vocês dois também. – acusou. – Não se esqueça de que eu era o cara para o qual você lamentava a falta dele.

Pisquei rápido como se tivesse sido estapeada.

– Ele volta pra te reconquistar e agora vocês estão morando sob o mesmo teto quando nós dois mal temos tempo de nos ver...

– Não está sendo justo. – murmurei.

– E o que seria justo, Renesmee? – ele sustentou meu olhar, sinceramente esperando uma resposta. – Me diga que não sente mais nada por ele ou admita de uma vez seus sentimentos.

Eu queria poder escolher uma das alternativas, mas não era tão simples assim. Levei mais tempo do que deveria para encontrar as palavras certas, então apenas assisti enquanto o maxilar dele enrijecia e seu olhar mudava de expectativa para indiferença.

– Foi o que eu pensei. – balbuciou me dando as costas.

Levantei-me para ir atrás dele, mas eu sabia que seria inútil, pelo menos enquanto eu não encontrasse as palavras certas para dizer e nesse momento eu não fazia a menor ideia de quais essas palavras seriam.

Gabriel pegou Catherine e trocou apenas um olhar comigo enquanto se dirigia ao estacionamento. Eu os segui a tempo de encontrar Lefroy ainda entrando no carro.

– Nos vemos amanhã na audição? – perguntei.

Ele mordeu o lábio encarando um ponto fixo, em seguida moveu a cabeça lentamente em negativa.

– Não sei, bailarina. Eu preciso de um tempo pra pensar.

Cat me olhou confusa e eu engoli minha frustração sorrindo e acenando um tchau para ela, que balançou a mão em resposta.

Os dois foram embora e fui para meu carro, me sentindo impotente e transtornada. Enquanto eu dirigia, o telefone tocou, era Jacob.

Por que tudo tinha sempre que voltar para ele? Por que eu não conseguia seguir minha vida? Por que eu não poderia apagar Jacob dos meus pensamentos e do meu coração? Eu pensava e pensava procurando justificativas para eu sempre acabar fraquejando quando se travava de Jacob e a única coisa que vinha à minha mente era o imprinting. Pisei no acelerador abominando essa tal magia de lobo.

Cheguei em casa e me deparei com Jacob me esperando na garagem escura. O corpo encostado em sua nova moto, calça de moletom escura e camiseta preta, os braços cruzados sobre o peito e uma expressão sombria em seu rosto.

Eu realmente não estava no humor para encontrar com ele agora.

Decidi ir direto para meu quarto.

– Renesmee. – ele chamou.

Fechei os olhos suspirando pesado.

– Jacob, não é uma boa hora.

– E quando vai ser?

– Se for o assunto que eu estou pensando, nunca haverá uma boa hora.

Jacob deu um meio sorriso irônico aproximando-se de mim.

– Então é melhor resolvermos isso agora.

– Jacob, estou cansada. Não é um bom momento.

Ele parou em frente a mim.

– Renesmee, você vai mesmo continuar saindo com aquele cara? Agora que eu estou de volta? Depois de tudo o que nós conversamos? – Jacob perguntou, uma nota de mágoa em sua voz.

Mordi o lábio pensando comigo mesma que a pergunta certa seria se Gabriel ainda iria querer sair comigo depois do fiasco dessa noite.

– Sei que parece difícil de acreditar, mas me importo com Gabriel, Jacob. Não posso simplesmente terminar tudo com ele apenas porque você resolveu reaparecer depois de nove anos de silêncio. Além do mais, você sabe muito bem que não podemos ficar juntos. Pelo menos não agora. Então, não é como se fizesse diferença.

– Faz toda a diferença. Imaginei que você fosse pensar no que eu te disse.

– Na verdade estou pensando nas coisas que você me disse bem mais do que eu queria. – desabafei.

– Não tem feito muito efeito pelo visto.

– O que você espera de mim, Jake?

– Pensei que já estivesse bem claro. Que você aceite seus sentimentos por mim e lute pela gente. – ele se inclinou e segurou meu rosto entre suas mãos me fazendo olhar diretamente para seus olhos. – Nós dois somos apenas um pretexto, Nessie. Aro quer destruir sua família e cedo ou tarde, mesmo que não estejamos juntos, ele encontrará outro motivo para atacar vocês. Esse motivo pode acabar sendo até mesmo aquele humano idiota.

– Para de falar assim do Lefroy. Você sabe que eu detesto isso.

Ele revirou os olhos e eu me desviei de suas mãos, andando pela garagem com uma sensação ruim crescendo em meu peito.

– É impossível, Jake. – externei meus pensamentos olhando para um ponto fixo.

– O que é impossível?

– É impossível continuar assim. Eu estou dividida, estou perdendo meu sono, estou enlouquecendo. Parece que todos estão esperando que eu tome decisões, que eu seja aquela que vai salvar minha família ou arruinar tudo de uma vez. E parece que para você é impossível parar de complicar as coisas.

– Não sou eu quem está complicando as coisas por aqui. O que você espera? Que eu me sente de braços cruzados e assista você caindo cada vez mais na conversa daquele playboy?

– Eu poderia continuar saindo com o Gabriel, se foi isso o que você perguntou. – ignorei as últimas declarações de Jacob, voltando à pergunta inicial. – Ele é bonito, inteligente, divertido, se importa comigo...

Jacob soltou um riso incrédulo.

– Não preciso ficar aqui ouvindo você elogiar aquele babaca...

– Eu me sinto bem com ele, entende? Eu quase posso acreditar que a vida é assim... Simples e leve. Problemas humanos, soluções humanas. Enfim, sem lidar com toda essa loucura que eu tive de enfrentar quando nós... – minha voz foi sumindo e eu tive de limpar a garganta para continuar. – Queria que fosse o suficiente.

– Essa vida que você está tentando viver não passa de uma farsa, Renesmee. Você acha que esse garoto gostaria tanto de você se soubesse de toda a verdade? Se soubesse quem você realmente é?

– Eu não sei. – gritei exasperada.

– E você morre de medo de descobrir. – Jacob aproximou-se de mim mais uma vez, ironia transbordando em sua voz. – Acho que deveríamos apenas contar pra ele tudo de uma vez e torcer para que os Volturi estejam OK com isso, assim vocês podem ser felizes para sempre.

Eu me sentia tão irada com a sugestão absurda que poderia estapeá-lo. Trinquei os dentes encarando Jacob com toda a ira do meu ser.

Ele me olhou de cima a baixo parecendo de algum modo decepcionado com minha falta de reação.

– Desculpe se eu continuo atrapalhando sua vida perfeita. – falou por fim.

– Você acabou com a minha vida perfeita nove anos atrás! – explodi.

– Está livre agora, não está? Saio do seu caminho se você realmente acreditar que pode ser feliz ao lado daquele cara. A decisão é sua.

– A decisão é minha? – falei lutando contra o nó em minha garganta. – Ouviu o que você disse? Eu nunca tive escolha Jacob! Você se infiltrou na minha família e me fez feliz com todo esse maldito amor por cada segundo da minha vida! Como eu poderia me defender? Como eu poderia saber? Se nunca houvesse Jacob Black na minha vida, eu estaria saindo com o Lefroy agora e me consideraria a mais apaixonada das criaturas sobre Terra. Mas sabe por que eu não me sinto assim, Jacob? Porque eu estou condenada para sempre e não importa o quanto eu procure, não importa o que eu faça, não importa o quanto eu tente, nem mesmo importa quão bom o cara seja! Ele nunca será você. – afundei o rosto nas mãos tentando inutilmente esconder as lágrimas – Você disse que faria qualquer coisa pra me ver feliz outra vez... E agora? Pode tirar esse sentimento de dentro de mim, Jake? Pode?

Senti os braços quentes de Jacob lentamente me envolverem em um abraço protetor, contudo eu me sentia ridiculamente exposta e queria apenas desaparecer dali.

– Ness... Ness... Shii. Está tudo bem. Vai ficar tudo bem, você vai ver.

Desvencilhei-me do abraço dele enxugando as lágrimas.

– Preciso de ar, Jake. Preciso pensar.

Ele assentiu pela primeira vez sem protestar, me lançando um olhar de compreensão.

Saí em meio à noite fria, grata pelo céu nublado sem chuva. Caminhei sem pressa pela floresta, permitindo que as lágrimas caíssem silenciosas pelas minhas bochechas de encontro ao chão, até que eu me acalmasse de vez.

Meus relacionamentos – tanto com Jacob quanto com Gabriel – estavam por um fio e eu precisava tomar uma decisão antes que fosse tarde demais e eu acabasse perdendo ambos para sempre.

Parei ao chegar às margens do pequeno riacho que corria próximo à nossa mansão e me sentei em uma das pedras, contemplando a água.

– Tendo um dia difícil, querida? – uma voz polida e desagradavelmente familiar chamou do outro lado do córrego, em meio à escuridão da noite.

Levantei-me depressa, instintivamente na defensiva.

Joham me sorriu diabólico do outro lado do rio e, no segundo seguinte, pousava silenciosa e habilidosamente ao meu lado.

– Enfim sós. – ele soprou.

Tentei recuar, mas logo sua mão agarrou meu braço em um aperto pétreo, me prendendo junto a ele.

– Para que a pressa, doce Renesmee? Acho que nós precisamos conversar.


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