Eternal Flame escrita por bandolinz


Capítulo 39
3x12 - Ponto Fraco


Notas iniciais do capítulo

Obrigada a todos vocês pelos comentários, mensagens e PRINCIPALMENTE, por não desistirem da EF.

Espero que gostem do capítulo!

Música: The Weakness In Me - Joan Armatrading
https://www.youtube.com/watch?v=dUjyOfDGAhQ



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Há uma semana tenho me equilibrado entre um muito ausente Gabriel Lefroy e um absurdamente presente Jacob Black. Desde que Gabriel foi suspenso, nos vimos apenas três vezes, e para isso tive de ir visita-lo, pois ao saber do ocorrido no colégio, sua mãe o deixou de castigo. Nos falamos sempre por telefone, mas não é a mesma coisa.

Eu acho tão injusto o que Dra. Miranda tem feito com ele, o modo hostil com o qual ela o trata – especialmente agora. Por mais que eu tenha tentado intervir a fim de contar o que realmente aconteceu, Lefroy não deixou. Ele diz que não vale a pena discutir, tendo em vista que a senhora Lefroy sempre presumiria o pior dele.

Eu apenas não consigo entender como uma mãe pode julgar um filho tão mal.

Especialmente se tratando dele.

Gabriel diz que, apesar de tudo, está contente por poder passar mais tempo com Catherine e essa parte deve ser verdade, contudo ele parece mais fechado para mim; mais sério... Mais pensativo. Estou certa de que essa mudança se deve a chegada de Jacob, mas nunca tive coragem de trazer o assunto novamente. Nós apenas fingimos que tudo está como antes, mas não está.

Enquanto isso, Jacob está espalhado por toda parte. Ele parece já se sentir em casa e uma parte de mim fica contente com isso. Uma parte de mim se sente finalmente em casa pelo simples fato de ele estar aqui. Ainda assim, desde que Jacob chegou não consigo ter uma boa noite de sono, estou sempre apreensiva, perdida até tarde em meus próprios pensamentos; com medo de cair no sono, de ser envolvida por meus mais antigos pesadelos; e, acima de tudo, estou sempre esperando.

Esperando que Jacob bata em minha porta para falar a coisa mais insignificante que seja. Esperando que ele faça alguma piada boba quando Rosalie está por perto, pois por mais bobas que elas sejam sempre me farão sorrir. Dentre tantas coisas, sempre estou esperando - e temendo - pelo momento em que ficaremos sozinhos e Jacob tentará alguma aproximação.

A cada noite que passa sem que o corpo dele chegue a menos de meio metro do meu, eu vou para a cama aliviada e, confesso, um pouco decepcionada.

Eu o adverti sobre o quão errada foi a atitude dele com Gabriel e também comigo, fazendo o meu melhor para deixar bem claro o quanto me perturbou o fato de ele tentar tão subitamente uma aproximação física comigo no dia em que Lefroy foi suspenso do colégio. De todo modo, tem me custado muito esforço tirar as lembranças daquele dia da minha mente.

Agora mesmo nós estamos dividindo o sofá, assistindo a um filme que o professor de história recomendou na última aula. Estou noventa e nove por cento convicta de que Jacob não está prestando atenção a uma cena sequer, ao invés disso, ele está inquieto no sofá e a cada movimento, discretamente aproxima-se um pouco mais de mim. Nesse momento nossos braços não estão se tocando por questão de milímetros e eu estou contando cada respiração hiperconsciente disso.

Até que, do nada, Jacob tira a camisa.

– O que você está fazendo? – perguntei incrédula.

– O que? – ele ergueu as sobrancelhas com a maior cara de inocente. – Estou com calor.

Eu nem sequer conseguia encontrar palavras para dizer o quão inapropriado aquilo era, especialmente uma vez que meus olhos caíram para seu torso nu e eu me peguei encarando seu peitoral e abdômen tão perfeitamente esculpidos... De repente eu mesma me sentia quente o suficiente para começar a tirar minhas roupas.

A risada de Rosalie preencheu a sala.

Jacob se virou incomodado.

– O que foi, loura? Finalmente entendeu a piada que eu contei ontem?

– Não, cachorro. – ela cortou ainda com ares de deboche. – Desculpe, Renesmee, eu não pude resistir. É simplesmente patético o quão desesperado ele está para chamar a sua atenção.

Jacob bufou.

– Você realmente se incomoda? – ele tomou distância, se apoiando sofá para me observar.

Com certa dificuldade, desviei do olhar dele e me concentrei no filme.

– Não. – minha voz não passava de um sussurro, minhas bochechas pegando fogo. Eu contava cada respiração dele, enquanto meus olhos focavam a tela sem nada ver.

– Está vendo? Não é como se ela nunca tivesse me visto sem camisa antes, então fica na sua, loura psicopata.

Jacob passou um braço em volta do meu corpo e me puxou para perto dele. Petrifiquei dentro de seu abraço caloroso, corando, subitamente tímida como uma garotinha; relutante em permitir que meu rosto repousasse de encontro ao seu peito nu. Ele afagou meu braço até que eu relaxasse a tensão concentrada em meus músculos e, por fim, consenti a mim mesma o luxo de me aconchegar no abraço de Jacob.

Tudo parecia certo, natural e assustadoramente familiar.

A batida firme e constante do coração dele foi tudo o que ouvi até o filme chegar ao fim.

– Eu poderia passar o resto da noite aqui. – Jacob disse, sem se mover enquanto os créditos rolavam na tela.

– Eu também. – respondi sem pensar.

Jacob me olhou interessado em minha reação e eu imediatamente percebi o terreno perigoso no qual estava pisando.

– De todo modo, temos aula amanhã cedo. – falei do modo mais casual, ficando de pé. Senti cada célula do meu corpo protestar contra o fim do contato entre nossas peles.

– Nessie... – Jacob começou em um tom baixo e afetuoso. – Não precisa ficar fugindo de mim, jamais farei alguma coisa que você não queira.

– Eu sei. – murmurei encarando meus pés.

Mas o que eu queria? Certamente não era me afastar dele agora.

– Não é de você que tenho medo. É de mim mesma.

Ele esboçou um sorriso. Meu coração perdeu o compasso por um segundo.

Ainda parecia tão surreal falar com Jacob, ouvi-lo, vê-lo diante de mim, poder tocá-lo. Eu estava longe de me acostumar a tê-lo por perto novamente.

– Eu te acompanho até seu quarto. – ele disse.

Revirei os olhos, mas deixei que ele me seguisse, afinal, o quarto dele era em frente ao meu. Subimos as escadas em silêncio e, ao chegarmos ao nosso destino, Jacob foi o primeiro a falar.

– Eu sinto a sua falta, Ness.

– Estamos morando sob o mesmo teto há duas semanas. – pontuei categórica.

– Não é isso que eu quero dizer. – cruzou os braços se apoiando ao lado da porta do quarto dele – Sinto falta das nossas conversas, do contato entre nossos corpos, da sua entrega... Da confiança cega que você tinha em mim. Agora sinto como se sempre tivesse algo que você deixa de fora, como se estivesse sempre moderando as palavras, censurando os movimentos... Escondendo seus verdadeiros sentimentos de mim. – ele fez uma pausa, passando a mão na nuca com um suspiro – Droga, eu sinto falta de ser seu namorado, mas no exato momento eu sinto falta até mesmo de ser seu amigo.

– Eu também sinto sua falta, Jake, só não quero piorar as coisas. Você já provou não ser capaz de ser meu amigo. Você nem sequer está tentando!

– O que você quer dizer? – ele franziu o cenho.

Respirei fundo me apoiando na parede oposta a dele com as mãos para trás.

– Você sabe, todas as vezes que tento expor o que eu sinto ou saber o que está passando pela sua cabeça, você acaba confundindo as coisas, cruzando os limites e, em noventa por cento dos casos, nós acabamos discutindo. É desgastante. Não quero passar o resto da minha vida brigando. Especialmente com você.

– E por mim? – ele ergueu uma sobrancelha, sugestivo.

– Está vendo? – apontei incrédula. – Você sempre dá um jeito de arrastar o assunto nessa direção.

Ele riu.

– Desculpe, é mais forte do que eu.

– Eu já tomei minha decisão, Jacob.

– Isso porque ainda não considerou o que eu tenho a oferecer. – falou provocativo.

– Você é tão teimoso que mal dá pra acreditar.

– Quase tanto quanto você.

Balancei a cabeça reprimindo um sorriso e nossos olhares se sustentaram por um segundo infinito. E de repente erámos apenas nós dois. Sem barreiras, sem máscaras. Nós dois, e um poço de palavras não ditas, abraços partidos e promessas desfeitas.

Nossas íris se prenderam uma a outra, cúmplices. Como se estivéssemos a soprar segredos na direção um do outro, como se compartilhássemos da visão de um final feliz esquecido no fundo da gaveta. Final feliz esse, que conhecíamos bem, porém jamais ousaríamos tentar resgatá-lo no frágil pedaço de papel que o continha, pois o mesmo não poderia sair ileso por debaixo da excessiva bagunça que o soterrava.

Concordamos silenciosamente em deixar pra lá.

– Caça comigo amanhã? – Jacob convidou.

Parece que duas vidas se passaram desde que eu e o lobo castanho avermelhado caçamos juntos pela última vez.

– Eu adoraria. – respondi sincera. – Mas não sei se é uma boa ideia...

– Claro que é. Prometo me comportar.

Estreitei os olhos na direção dele.

– Além do mais é a única maneira de passarmos algum tempo juntos sem que você fique perturbada pela imensa atração que sente por mim.

Eu ri.

Queria poder discordar, contudo ele não estava de todo errado.

– Depois da aula, então? – Jacob insistiu.

Considerei por um instante antes de assentir.

– Combinado.

Â

Na manhã seguinte, ao entrar na garagem onde boa parte da minha família se concentrava antes de sairmos para o colégio, um par deles me chamou atenção.

Jacob e Bella.

Os dois conversavam casualmente, ainda assim, era a primeira vez que eu os via tão próximos... Bom, pelo menos desde que eu descobri sobre o romance que houve entre os dois no passado.

Quis sacudir a consciência dessa memória para fora dos meus ossos.

Não bastavam todas as dificuldades que eu e Jacob temos tido em nos reaproximar, eu acabara de relembrar mais essa página mal resolvida em nossas vidas. Ainda que todos jurem não haver mais nada romântico entre os dois, a simples noção de que os lábios dele já tocaram os dela – e então os meus – é extremamente constrangedora. Jacob certa vez disse que há uma magia de lobo que nos predestina a ficar juntos e explica porque ele não mais enxerga minha mãe dessa maneira, mas eu e ele nunca tivemos uma chance digna de conversar a respeito e não estou muito certa se posso comprar essa história.

– Bom dia Nessie. – Jacob sorriu ao me ver.

– Bom dia, todo mundo.

– Dormiu bem, querida? – minha mãe quis saber.

Fiz que sim me dirigindo ao meu carro, mas fui interrompida por Bella.

– Seu pai e eu gostaríamos que você viesse conosco hoje, tudo bem? Precisamos conversar um pouco.

– Claro. – dei de ombros, ligeiramente curiosa.

Olhei para Jacob procurando alguma dica, contudo ele parecia também não ter a menor ideia do que se tratava.

Entramos no carro, Edward dirigindo, Bella ao seu lado e eu posicionada bem no centro do banco de trás.

– Então... Como vão as coisas com Jacob? – minha mãe perguntou.

– Bem. Quero dizer, ainda estamos tentando voltar ao normal, vocês sabem... Tentando voltar a ser do jeito que éramos antes.

– Antes de..? – Edward inquiriu e eu logo soube que Bella estava bloqueando meus pensamentos.

– Antes de toda essa loucura começar. – suspirei – Eu só acho que não sabemos mais como ser amigos sem ser um casal.

Meu pai lançou-me um olhar estreito pelo retrovisor avaliando minha expressão.

– Jacob é muito impulsivo – continuei – e não ajudou em nada o fato de o único quarto que puderam conseguir para ele ficar bem em frente ao meu.

– Eu escolhi aquele quarto de propósito. – meu pai falou calmamente.

O encarei boquiaberta.

– Eu precisava saber se você estava pronta para lidar com a presença de Jacob, estivesse ele do outro lado da mansão ou literalmente no quarto ao seu lado. E o mais importante de tudo, eu precisava saber se poderia confiar nele. – Edward ponderou.

– E você concordou com isso? – perguntei à Bella, sentindo nossa privacidade invadida.

Eu havia me esquecido do quanto odiava sentir como se meus pais estivessem manipulando minha vida.

– Não se preocupe, estou bloqueando os pensamentos de você dois. – Bella se apressou em dizer ao ver o ultraje estampado em meu rosto.

– Especialmente porque sua mãe bloqueou seus pensamentos, tem sido muito difícil te ler desde que Jacob chegou. Jasper tem percebido que você está mais inquieta, mais vibrante... Entretanto não consigo dizer se isso é algo bom ou ruim. E é por esta razão que te chamei para ter essa conversa. Me diga, Renesmee, o que você pretende fazer com Jacob?

– Nada! Eu apenas... Eu não sei. – admiti derrotada – Como vocês podem esperar alguma resposta de mim? A chegada dele foi uma surpresa tão grande para mim quanto foi para qualquer um de vocês. E tem Gabriel...

– Sim. – Edward endossou. – Lefroy não admitirá, mas ele está inseguro quanto o relacionamento de vocês, agora que Jacob chegou.

Meu rosto se franziu em uma careta de confusão.

– Espera aí, quer dizer que você está bem comigo e Gabriel juntos, mas não pode sequer considerar a ideia de eu e Jacob como amigos, sem antes fazer testes absurdos?

– São casos completamente diferentes...

– Não diga. – ironizei.

– Você precisava do Lefroy. – Edward falou categoricamente – Por que você acha que durante todo esse tempo eu não interferi no relacionamento de vocês? Não tentei impedir uma aproximação mais perigosa? Porque desde que esse garoto entrou na sua vida você reascendeu aos poucos. Dia após dia eu via a minha garotinha voltando à vida e isso me deixou tão contente que eu não fui capaz de te privar disso. Em resumo passou cada vez menos tempo lamentando a ausência de Jacob e voltou a viver. Mesmo sem nunca ter trocado uma palavra com esse garoto, tenho uma imensurável dívida de gratidão com ele, pois, deliberadamente permiti que você o trouxesse para perto demais da nossa família. Isso sabendo que, mesmo gostando do Lefroy, você não tem nenhuma intenção de se prender a ele. De todo modo, permiti que ele inconscientemente arriscasse a vida dele apenas para vê-la mais feliz.

Engoli em seco.

Eu sempre soube da importância de Lefroy nessa nova fase da minha vida, mas nunca imaginei que toda a minha família também estivesse consciente disso.

– Você estava indo bem antes de Jacob aparecer. Agora já não sei. – Edward suspirou frustrado.

Observei em silêncio o estacionamento cinzento do colégio, grata por termos chegado.

– Ainda estou indo bem. – falei apressando-me em sair do carro. – Vocês não têm com o que se preocupar.

O dia correu de modo lento e entediante, frequentar o colégio não parecia ter a menor graça sem Gabriel por perto para contar quantas vezes o professor Campbell citaria Shakespeare ou reparar como o professor Jackson ajeitava o colarinho nervosamente cada vez que um aluno o interrompia para fazer uma pergunta inadequada.

Tive apenas uma aula com Jacob, duas com Jennifer.

No fim do dia Gabriel me ligou perguntando se eu queria ir assistir a um filme em sua casa, uma vez que a mãe dele passaria a noite de plantão. Tive de recusar, por já ter combinado caçar com Jake, mas pensando no que Edward me disse mais cedo, fiquei me questionando se eu não estava traindo a confiança de Lefroy de alguma forma.

Eu queria, mais do que qualquer coisa, me acertar com Jacob e conseguir mantê-lo por perto como meu amigo, uma vez que ele já estava aqui. Ainda assim, mesmo sabendo que era um desejo puramente egoísta, esse de insistir em me reaproximar de Jacob, fazendo-o me ver com outro cara, eu não poderia me desfazer de Gabriel. Não quando meu corpo ansiava pelo contato físico que, nesse momento, só ele poderia me dar. Não quando meus momentos ao lado dele e de Catherine eram os únicos nos quais eu poderia esquecer qualquer preocupação. Não quando, estando apenas uma semana afastado, ele já me fazia tanta falta.

– Pronta para caçar? – Jacob me encontrou no estacionamento.

Dei um sorriso fraco, ainda presa em meus pensamentos, enquanto escaneava seu rosto sem a menor pressa. Guardei meu celular no bolso, me torturando por ter escondido meus planos para essa noite de Gabriel.

A verdade é que eu não merecia ter nenhum dos dois, tão pouco tinha escolha. Revelar meu verdadeiro mundo a Gabriel destruiria a família dele, ter uma recaída com Jacob destruiria a minha. Eu apenas estava apavorada com a ideia de voltar à vida solitária que vivi durante os últimos nove anos e o medo me tornava egoísta o suficiente para insistir em ter ambos por perto.

– Nessie? – Jacob me chamou novamente, uma nota de preocupação em sua voz – O que houve?

– Você acha que eu sou uma pessoa muito ruim? – a pergunta escapou diretamente da minha mente para meus lábios.

A confusão faiscou nos olhos dele por um décimo de segundo antes da resposta.

– Claro que não. De onde tirou essa ideia? – ele indagou com uma revolta de quem tinha sido pessoalmente ofendido.

– Não sei, por mais que eu me esforce, pareço continuar fazendo as escolhas erradas. Controlo cada movimento meu com medo de machucar as pessoas que amo, mesmo assim parece inútil...

– Você está se referindo a mim? – ele interrompeu curioso – Sou eu essa pessoa que você está machucando?

Desviei do olhar dele, encarando o chão, constrangida.

Jacob respirou fundo, sua mão envolvendo a minha.

– Vamos, temos o caminho inteiro para conversar sobre isso.

– Você não veio de moto?

– Não. Percebi que seria melhor caminharmos, então peguei uma carona com Emmett e a loura psicopata pela manhã.

– Minha tia deve ter amado isso.

– Segundo ela, o carro ficará fedendo a cachorro molhado pelos próximos seis meses. – ele riu e eu quase sorri também.

Caminhamos alguns minutos em silêncio, indo em direção às montanhas.

– Renesmee Cullen uma má pessoa, uh? – ele falou em tom de brincadeira. – Você não é, Ness.

Revirei os olhos.

– Deixa pra lá, Jake. Nem sei por que comecei esse assunto com você.

– Você acha que eu estou infeliz? – ele perguntou ao perceber que meus questionamentos eram sérios.

Hesitei antes de responder.

– Não sei. – suspirei.

– Olhe nos meus olhos, Nessie. – ele parou, ficando diante de mim – Você acha que eu estou infeliz?

Estudei os olhos de Jacob a contragosto. Estavam claros, ainda que o céu sobre nós fosse cinzento. Estavam animados e um brilho travesso os iluminava. Ele continha um sorriso até piscar para mim, deixando seus dentes brancos perfeitos formarem um sorriso ensolarado.

– Não, você não parece infeliz. – respondi por fim, rindo comigo mesma.

Voltamos a caminhar.

– Está vendo? Não tem por que se preocupar. Claro, eu fui para o inferno e voltei nos últimos dez anos e você foi a responsável. Mas eu sei que você sofreu tanto quanto eu.

Me encolhi, sendo abraçada pela culpa mais uma vez.

– Sei disso porque estamos conectados um ao outro Nessie, não importa o tempo que passe, não importa a distância. É bem verdade que não tem sido fácil ver você decidida a arriscar tudo por outro cara que não passa de um...

– Não começa Jake.

– Já comecei.

– Você não quer falar sobre meu relacionamento com Lefroy. – adverti.

– E se eu quiser? Porque sinceramente, não entendo como se envolver com um mauricinho humano, completamente vulnerável, é permitido, mas você não pode sequer dar uma nova chance para nós dois.

– Não misture as coisas, Jake. Enquanto Lefroy não souber da minha imortalidade, não estamos quebrando nenhuma regra. – expliquei – Meus pais namoraram por anos, apenas sob a promessa de que um dia Edward transformaria minha mãe. Eles até se casaram, Bella foi capaz de engravidar antes que os Volturi intervissem. Ou seja, eu posso basicamente fazer o que quiser com Gabriel, desde que ele não desconfie que sou uma vamp...

– Você tinha razão, eu não quero saber. – Jacob cortou enojado.

Fiz uma cara de “eu avisei” para ele, que revirou os olhos.

– Não concordo com o caminho que você escolheu, mas isso não faz de você uma má pessoa. – ele voltou ao assunto principal – Sim, eu não quero te ter apenas como minha amiga. Sim, é uma tortura imensa cada vez que você me olha, me toca, ou sorri perto de mim, mas eu prefiro sofrer a tortura de resistir a você do que condenar a minha vida a sua ausência. Eu não ia aguentar continuar sem te ver. Recebendo notícias suas apenas por cartas, sem que meus dias fossem iluminados por esse seu sorriso, sem ouvir sua voz... Essa voz que com apenas uma palavra silencia qualquer outro som ao meu redor.

Senti o sangue se concentrar fortemente em minhas bochechas.

– Prefiro essa tortura toda a desistir de você.

– Isso não é saudável. – balbuciei embaraçada.

– Pra falar a verdade – continuou – Eu acho que você gosta de colocar o meu amor à prova e eu acho que a cada dia a prova fica mais difícil.

– Claro que não, Jake. – arfei incrédula.

Ele me ignorou.

– Mas é por isso que eu estou aqui, porque você merece que eu continue lutando. Porque no dia em que eu finalmente derrubar todas essas barreiras e ficar do seu lado novamente, acredite isso vai acontecer, eu sei que vou ser o homem mais feliz do mundo. Não sofri minha vida inteira para me contentar com migalhas. Eu quero o melhor e não há nada, nem ninguém que se compare a você. Seu cabelo, seu cheiro, sua voz, seus olhos, seus lábios, seus beijos, seu corpo, sua inteligência, sua pureza, sua bondade, seu toque, sua força... Tudo me encanta. Tudo em você é perfeito. Não falo isso como um idiota iludido, falo como um homem que te deseja e te conhece melhor do que ninguém. Você é o que eu quero para mim Renesmee, é com você que eu vou terminar os meus dias.

As palavras dele me acertaram tão em cheio que eu poderia cair morta ali mesmo. Esse foi o Jacob pelo qual me apaixonei, meu melhor amigo, a pessoa que me conhecia melhor do que eu mesma, o único capaz de dizer as verdades mais amargas e declarações mais belas fazendo-as soar como uma só. Eu estava encantada e aterrorizada. Eu buscava as letras em minha boca, mas continuava sem palavras, porque esse Jacob era o meu ponto fraco. Esse Jacob me fazia acreditar que eu poderia dominar as estrelas e o mar, contanto que ele estivesse ao meu lado.

Esse Jacob seria minha ruína e minha salvação.

– Eu sei que tenho te pressionado muito e isso não é justo. Sua família sanguessuga já te pressiona todos os dias sem perceber. Â Eles esperam que você seja a filha perfeita, esperam que você seja comedida, que não sinta, que não erre, que não viva. – paramos ao entrar em um bosque e Jacob voltou-se para mim – Pelo que eu vejo você está louca para fugir dessa vida. Para sair daquele colégio ridículo, para finalmente mostrar para eles que você não é mais uma menina que precisa de proteção. Essa não é a vida que você quer, Nessie. Você sequer alguma vez questionou o que queria pra si? Sem considerar sua família, sem considerar os Volturi, sem medo de me magoar ou magoar aquele humano... Sem considerar nada nem ninguém além de você mesma? – as palavras de Jacob vibravam e seus olhos ardiam de convicção – Porque eu tenho certeza que se algum dia você já perguntou a si mesma o que seu coração quer de verdade, a resposta foi isso – ele colocou a minha mão sobre peito dele – esse homem apaixonado parado na sua frente.

Meu coração é um tambor ecoando sua canção para toda a floresta ouvir. Parecia haver um feitiço prendendo minhas íris às dele, amarrando minha mão junto ao seu peito. Eu não podia piscar, eu não conseguia me mover.

– Sei que ninguém acredita que nós dois podemos ficar juntos, viver juntos de novo – Jacob sussurrou em sua voz rouca – posso ver que até mesmo você perdeu a fé nisso. Mas há um jeito, Renesmee. Sempre há. Eu só preciso que você deixe de ser covarde, preciso que você perca o medo de machucar os outros e lute pela gente. Lute comigo. Até quando você vai me deixar lutar sozinho, meu amor?

– Jake... – engoli em seco, a emoção quase travando minhas palavras – Por mais que você esteja certo, não posso simplesmente dar as costas para minha família...

Por favor, Nessie, – sua voz se contorceu na mais comovida súplica – todos eles já viveram suas vidas humanas e décadas e mais décadas de vida imortal. Todos eles já cometeram erros e, o mais importante de tudo, todos eles encontraram o amor. Não é justo que você abra mão da sua felicidade pela deles. É a sua vez de viver, Nessie, é a nossa vez.

A pele de Jacob ardia sob a camiseta, onde minha mão ainda pairava envolvida pelas mãos dele. Seu coração batendo frenético ao passo que ele inclinava o rosto na direção do meu e eu me flagrei me ensinando a respirar.

Inspira. Expira. Inspira. Expira. Inspira. Expira.

O lábios dele vieram diretamente de encontro aos meus, parando apenas a milímetros de distância.

– Eu não vou fazer isso. – Jacob falou lentamente.

Pisquei várias vezes atordoada, o cheiro dele dominando meus sentidos, me deixando tonta. A recusa de seus lábios em terminarem o caminho até os meus me enchendo de frustração.

– Você disse que eu não estava tentando o suficiente, – ele falou ofegante, dando o melhor para não se mover, o hálito quente soprando em meus lábios – então aqui estou eu, sendo apenas seu amigo e pedindo para você começar a viver sua vida.

Dizendo isso, ele me soltou afastando-se rapidamente de mim, para depois seguir a passos lentos em direção à parte mais densa da floresta.

– Vou precisar apenas de um minuto de vantagem para me transformar, ok? – ele avisou, subitamente casual.

Eu continuava paralisada e trêmula, no meio do bosque.

Jacob hesitou antes de me dar as costas.

– Não estou pedindo que me dê uma resposta agora. Você tem tempo para pensar a respeito, apenas... Pense. – ele deu de ombros sumindo na floresta.

E eu não poderia estar mais grata pelo fato de o Jacob que eu encontraria logo em seguida não passar de um silencioso lobo gigante castanho avermelhado.


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