Eternal Flame escrita por bandolinz


Capítulo 30
3x03 - Ketchikan High School


Notas iniciais do capítulo

Sei que todos estão ansiosos para a volta do Jacob, entretanto isso pode levar mais algum tempo.
Enquanto isso, vamos acompanhar a dinâmica dos Cullen na nova cidade e como pode ser a vida de Renesmee sem Jacob.
Não se preocupem, pois mais cedo ou mais tarde haverá o reencontro do casal, trazendo grandes emoções e reviravoltas.
Mas também garanto que não faltarão emoções na Eternal Flame até lá ;D



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Respirei fundo e girei a maçaneta do meu quarto me preparando para unir-me à fúnebre comitiva que me aguardava no andar de baixo. Todos ansiosos para mais um bizarro primeiro dia de aula, certamente. Excetuando Bella que, assim como eu, não era a maior entusiasta da ideia de repetir o ensino médio quantas vezes fosse preciso. Edward diz que logo iremos nos acostumar e, especialmente no meu caso, é um bom meio de ter uma experiência humana e manter a mente ocupada. Nesse ponto sou obrigada a concordar.


Eu preciso de distrações. Qualquer tipo. Tudo para manter minha cabeça longe de Forks, para ser mais específica, La Push.


Contudo, nossa estadia no colégio anterior chegou a ser depressiva. Uma família de vampiros ricos e estonteantes. Eu não conseguiria pensar em algo mais indiscreto. Não era como se eu fosse ter a experiência de um colegial normal de qualquer forma.


– E essa é a razão para você ser a única cursando o terceiro ano dessa vez. – Edward falou antes mesmo que eu colocasse os pés na sala.


Assenti forçando um meio sorriso. Nós já tivemos essa mesma discussão dezenas de vezes nas últimas semanas e com algum tipo de magia, minha família havia me convencido a ser a única no terceiro ano dessa vez. Eu ficaria sozinha em sala, mas por um lado apreciava essa liberdade extra. E meus pais e tios não estariam longe de mim. Ficaríamos juntos no intervalo e essas coisas.


– Será muito divertido. Posso ver. – adiantou Alice com um sorriso otimista.


– Foi o que você disse da última vez. – Bella murmurou.


– É. – Alice fez um muxoxo com os lábios – Mas dessa vez será bem mais divertido.


Carlisle já estava no hospital. Esme nos desejou boa sorte e seguimos para a garagem escolhendo os dois carros mais simples para irmos à escola.


Fui com Edward e Bella no volvo preto.


O tempo estava generoso, as nuvens cinza cobriam o céu, mas não chovia.


Encostei minha testa no vidro da janela repassando mentalmente a nova história da família Cullen.


Jasper e Rosalie são irmãos gêmeos e têm dezessete anos. Ambos foram criados por Esme desde os oito anos. Emmett tem dezoito anos e os pais dele concordaram que ele se mudasse conosco, uma vez que ele e Rosalie namoram há muito tempo. Os três se matricularam no quarto ano.


Eu e Edward somos irmãos. Na cidade anterior éramos gêmeos, agora ele é um ano mais novo que eu. Se continuar nesse ritmo, na próxima cidade serei a mãe dele.


Meu pai deu um suspiro fraco rindo dos meus pensamentos.


O quê? É a verdade. Pensei retribuindo o sorriso.


Carlisle é nosso tio e tutor. Quando você pensa que a situação não pode ficar mais estranha, tem Bella como nossa prima de segundo grau – essa foi a única maneira de explicar a ligeira semelhança entre nós duas – e Alice que foi adotada por Carlisle e Esme assim que eles se casaram.


Edward e Alice têm dezesseis anos, Bella completará a mesma idade em setembro e os três estão matriculados no segundo ano.


Sem calouros na família Cullen dessa vez, o que implica um ano a menos morando na cidade do Salmão*. Uhul.


Chegamos ao colégio, uma estrutura ampla em tons de branco gelo e cinza, cercada por algumas árvores. As montanhas e grandes pinheiros sendo vistos ao fundo da paisagem.


Paramos no estacionamento lateral. O movimento era fraco, pois estávamos adiantados. Rosalie, Emmett e Jasper saíram na frente atraindo os olhares das poucas pessoas que ali estavam. Alice esperou no carro e nós fizemos o mesmo.


Afinal, era um pouco demais para o primeiro dia de aula chegarmos todos juntos.


Alguns minutos depois, nos dirigimos à entrada da frente, onde o nome da instituição estava majestosamente cravado em mármore. Respiro profundamente. A umidade fria das árvores encheu meus pulmões e entramos, nos dirigindo imediatamente para a secretaria.


Duas meninas e um garoto aguardavam na sala de espera. Todos nos olharam curiosos. Uma das meninas cochichou perguntando quem nós éramos e a outra garota sussurrou dizendo que não sabia. Bom, não era de se espantar tendo em vista que mal saímos de casa desde que chegamos a Ketchikan.


Aguardamos nossa vez. Edward, Alice e Bella pegaram seus horários, em seguida peguei o meu. A senhora na secretaria foi muito simpática ao nos receber, se dispondo a esclarecer qualquer dúvida e nos dando as boas vindas repetidas vezes.


Quando saímos, outros alunos circulavam nos corredores e eu decidi parar de notar que todos nos encaravam.


Para a minha surpresa eu e Alice tínhamos uma matéria no mesmo horário. Saúde. Aparentemente uma aula obrigatória que eu assistiria junto aos alunos do segundo ano.


Alice e meus pais rapidamente checaram as aulas que teriam em comum enquanto eu checava as aulas que eu teria. Nada soava interessante ou desafiador, mas não era preciso ser uma Alice para prever que seria assim.


– Nos vemos no intervalo? – Bella perguntou me lançando um olhar inseguro.


– Claro. – respondi no tom mais animado que consegui.


Seguimos juntos até o fim do corredor, depois cada um foi para sua sala. Examinando as instruções do mapa que nos foi entregue junto ao horário foi muito fácil encontrar a sala onde eu teria minha primeira aula. Trigonometria.


Como cheguei cedo, me dei ao luxo de escolher uma cadeira na lateral da sala, nem muito na frente, nem muito atrás. Um lugar perfeitamente comum.


Aos poucos os outros estudantes foram chegando e minha ansiedade logo se converteu em tédio. Abri meu caderno e comecei a rabiscar coisas aleatórias na última página e isso me pareceu uma distração digna. Até eu ouvir a conversa de dois garotos que provavelmente estavam três cadeiras atrás de mim. Um falava besteiras se vangloriando enquanto o outro o encorajava a vir falar comigo. Eles permaneceram nessa discussão por um longo tempo, o que me preocupou. Suspirei aliviada quando o professor entrou na sala mandando todos se sentarem em silêncio e em seguida começou a apresentar o cronograma da matéria.


Quando o sinal tocou, alguns de meus novos colegas tiveram coragem o suficiente para me dar boas vindas e eu apenas sorri agradecendo, abrindo caminho para minha próxima aula.


Sei que essa não é a coisa socialmente saudável a fazer, mas quem disse que eu estava interessada em fazer amigos?


Dessa vez sentei no fundo da classe. Literatura no cinema. Parecia ser interessante.


– Olá. Você é nova no colégio não é? – perguntou a garota baixinha que se aproximava de mim. Pele clara, cabelo castanho liso, cortado na altura dos ombros, olhos cor de mel e bochechas salientes.


– Sim. – concordei vendo-a sentar-se do meu lado.


Ela ajeitou o material na cadeira e virou-se para mim apoiando o queixo na mão. Percebi que ela esperava uma apresentação e logo tratei de completar.


– Renesmee Cullen.


– Karen Pearce. Prazer em conhecê-la. Eu faço parte do comitê de Vida Estudantil e é minha responsabilidade dar a você nossas mais sinceras boas vindas e ajudá-la no que for preciso. – disse ela com um sorriso orgulhoso.


– Obrigada. Acho que até agora estou me saindo bem.


– É, mas logo precisará de alguém para te apresentar a todos os departamentos e comitês do Kayhi. É assim que chamamos o colégio por aqui – ela fez uma pausa para a breve explicação, como se compartilhasse um segredo – Você acabou de se mudar com os seus irmãos não é?


Fiz que sim.


– Se eles precisarem posso recepcioná-los também. E... Nossa! Vocês são todos lindos não é? Que genética!


Ela continuou a falar e eu fingi prestar atenção, acenando e balbuciando algumas palavras nas horas certas. Tirando a tagarelice, Karen era legal.


A sala estava cheia de pessoas conversando em voz alta a respeito das férias, perguntando por novidades, todos felizes por se reencontrarem. Perguntei-me onde estavam os amigos de Karen.


Como se evocada pelos meus pensamentos, uma menina magra de cabelo amarelo queimado cacheado, presos em um rabo de cavalo, o rosto cheio de sardas, se aproximou.


– Emma! Como foram as férias?


– Monótonas. E as suas?


– Foram bastante produtivas. Ah, Emma, essa é Renesmee Cullen.


– Prazer em conhecê-la. – falei.


Ela apenas assentiu sentando na cadeira em frente à Karen, que só estava vaga porque a mesma havia colocado um caderno guardando o lugar da amiga.


Emma, sem dúvidas, era do tipo sério.


Karen começou a contar sobre o tempo interessante que passou na casa dos primos e eu achei que seria mais apropriado voltar aos meus rabiscos.


– Ai meu Deus! – Karen exclamou de repente e logo tapou a própria boca se encolhendo na cadeira.


Eu e Emma olhamos para a garota sem entender.


– Não olhem agora, mas Gabriel Lefroy está olhando diretamente para cá. – ela sussurrou em choque.


E eu não teria olhado, se o nome não me fosse familiar. Ergui o rosto e o vi do outro lado da sala, de pé perto da mesa do professor, aparentemente cercado de amigos, mas ele olhava fixamente para mim, como se esperasse que eu olhasse de volta, e quando nossos olhares se encontraram os lábios dele se curvaram em um sorriso de reconhecimento e eu sorri de volta. Logo em seguida um garoto entrou na sala cumprimentando-o com bastante estardalhaço e os dois engataram uma conversa animada.


– O que foi isso que acabou de acontecer? – Emma perguntou franzindo a testa.


– Você o conhece? – Karen emendou.


– Acho que sim. Quer dizer, eu apenas o encontrei uma vez no parque. – tentei parecer casual.


Emma se endireitou na cadeira, ficando de costas para nós, mas pude vê-la revirando os olhos em repulsa.


Gesticulei na direção da loira, perguntando para Karen qual o motivo daquela reação.


– Ano passado Josh teve uma briga com Nick. Nada demais. Nem consigo lembrar qual foi o motivo, mas enfim, deve ter sido alguma bobagem. – Karen segredou – Emma é namorada do Josh e ficou chateada porque Gabriel defendeu o Nick.


– Josh tinha razão, o Lefroy não tinha porque se meter. – Emma falou ressentida.


– Mas é claro que o Gabriel defenderia o Nick, eles são amigos desde a infância. – Karen argumentou em um tom superprotetor e eu me perguntei se havia algum sentimento enrustido ali.


– Que seja. O Nick é um idiota e o Lefroy também deve ser por não enxergar isso.


– Não foi o que você disse quando foi parceira dele no laboratório.


Emma bufou dando as costas para a amiga.


– Só não entendo porque eles ainda andam juntos. – Pearce comentou com tristeza.


Me esforcei para não rir quando a consciência de onde eu estava me atingiu: o centro das fofocas colegiais. Tanta especulação. No dia em que nos conhecemos Gabriel parecia ser apenas um garoto devotado à irmã mais nova.


– Tudo bem. E onde está esse Nick? – perguntei.


– Ele é do último ano. Graças a Deus. Uma aula com ele deve ser insuportável. – Karen se adiantou em responder. – Já o Lefroy está no nosso ano. Ele é amigável. A escola toda gosta dele. E não tinha razão para não gostar. Ele é inteligente, engraçado, talentoso, educado... E, é claro, ridiculamente lindo.


– Pensei que o Lefroy tinha caído do altar que você construiu para ele depois do acontecimento no baile. – Emma interrompeu com desdém.


– Ah. Havia esquecido isso. – Karen respondeu com a expressão vazia e o tom dessa vez era moderado.


Eu odiava ser aquela que continuava fazendo as perguntas dando oportunidade para a fofoca continuar. Entretanto, devo admitir que talvez a curiosidade possa vencer dessa vez.


Queria que Edward estivesse aqui para ler a mente delas e me contar a história toda de uma vez. Assim eu não precisaria fazer esse papel da boba desinformada.


– O que houve no baile? – perguntei derrotada e os olhos de Karen cintilaram diante da oportunidade de prolongar o assunto.


– Sabe a namorada dele, Jennifer Collins?


A menção do nome me levou de volta ao dia em que conheci Gabriel e Catherine.


“A Jennifer é uma tremenda chata. Eu fugi pela janela e ela nem sequer deve ter notado.”


Namorada? Uau. Legal. Eu teria chutado babá.


Assenti vagamente enquanto constatava que eu não o imaginava com namorada. Que ridículo, é óbvio que ele teria uma.


– É claro que ela não sabe. Ela é novata. – Emma cortou e pelo tom áspero usado eu começo a suspeitar que ela não goste de mim.


– Tem razão. – Karen riu sem graça. – Você irá conhecê-la em breve. Ela é do nosso ano e é praticamente impossível não notá-la. Ela é líder de torcida e campeã no vôlei.


Sério? Não me diga. Que clichê.


– Eis a verdade dos fatos – ela recomeçou como se tivesse propriedade no assunto – Jennifer estava doente, de cama por alguns dias, e Gabriel aproveitou a oportunidade para aparecer no baile de primavera com outra menina. Tipo, ele traiu a Collins na frente de toda a escola. Foi o único assunto por semanas. Eu tinha uma ótima ideia dele até aquele dia. Ainda não acredito que Gabriel foi capaz daquilo. Quero dizer, a Jennifer é meio nojenta, mas mesmo assim. Ninguém merece isso.


– É. Ninguém merece. – ecoei lançando um olhar para o belo garoto à nossa frente, agora como se o visse pela primeira vez.


É Renesmee, o garoto simpático não passa de mais um idiota do Ensino Médio, falei para mim mesma com uma decepção estranha. Eu mal o conhecia. Ou melhor, eu não o conhecia. Por alguma razão absurda, eu só esperava que Gabriel fosse um tipo diferente.


O professor chegou e todos se sentaram. Gabriel olhou para mim outra vez, mas eu fingi não ver.


O homem que entrou na sala parecia um tanto jovem para ser professor. Contudo logo se mostrou dono de um grande conhecimento da literatura para além da língua inglesa, se esforçava para tornar a aula divertida e, muitas vezes, conseguia. Gostei dele.


Tentei prestar atenção à aula e graças à ajuda do professor Teodoro Campbell, consegui.


O sinal tocou para o intervalo e eu não poderia estar mais grata pela oportunidade de me juntar à minha família.


– Quer que a gente te faça companhia no refeitório? – Karen se ofereceu.


– Não precisa, já sei onde fica e vou almoçar com meus irmãos. Obrigada.


Por um instante temi que Karen se oferecesse para almoçar conosco, mas em um surto de lucidez ela assentiu alegremente e saiu na frente com Emma.


Fiz questão de demorar pegando minhas coisas, assim a maioria dos alunos já havia deixado o recinto. Quando passei pelo Sr. Campbell, ele me sorriu simpático dando boas vindas e eu agradeci com um sorriso sincero.


Saí da sala pronta para procurar o refeitório, uma vez que eu menti quando afirmei saber onde ficava. Não deveria ser difícil de encontrar, entretanto.


– Hey bailarina. – falou uma voz muito perto de mim, tão perto que senti a respiração calorosa na minha nuca.


Mesmo sem estar familiarizada com a voz, não foi difícil adivinhar quem era. Quem mais me chamaria de bailarina? Meu coração deu uma ligeira descompassada devido à proximidade inesperada.


Calor humano. Definitivamente algo do qual eu sentia falta.


Dei um passo para o lado me afastando imediatamente dele e continuei caminhando. Gabriel apressou o passo ficando ao meu lado.


– Renesmee? – ele chamou de novo inclinando o rosto para me observar.


As finas mechas louras caíram sobre sua testa e Gabriel não poderia parecer mais angelical quando olhei para ele.


– Oi. – respondi quase de má vontade.


Eu sabia que era injusto ser grossa com ele por causa de uma história que ele nem suspeitava que eu soubesse. Mesmo assim não pude evitar construir algumas barreiras de autodefesa. Eu não queria me aproximar de alguém em que não se pudesse confiar, ainda que tudo nele gritasse “confiável”, não era exatamente isso que o seu histórico dizia.


– Perdi alguma coisa? Devo me apresentar de novo ou algo do tipo? – ele uniu as sobrancelhas parecendo confuso.


Reduzi a velocidade do caminhar.


– Eu me lembro de você, Gabriel.


Ele sorriu satisfeito.


– Tendo um mau primeiro dia?


– Não.


– TPM? – sugeriu bem humorado.


Ergui as sobrancelhas olhando para ele chocada. Gabriel comprimiu os lábios com a cara mais inocente do mundo ainda esperando minha resposta.


– Não. – revirei os olhos.


– Dor de dente?


– Não.


– Inferno astral?


– Não. – soltei um riso incapaz de acreditar que ele estava mesmo fazendo isso.


Ele se adiantou parando na minha frente.


– Já sei. Está chateada comigo porque não fui falar com você assim que te vi na sala. Desculpa, é que você estava com a Emma e eu acho que ela não gosta muito de mim. – se justificou.


– Não é nada disso. Que tal: Estou com fome e quero almoçar? – desviei dele e continuei andando.


– Ah. Mau humor derivado de fome. Vou anotar isso.


Ele continuou caminhando silenciosamente ao meu lado, o que me deixou desconfortável. Reparei que eu continuava chamando atenção, mas talvez dessa vez a culpa não fosse inteiramente minha. Não pude deixar de notar várias garotas boquiabertas enquanto passávamos pela multidão.


– Quer que eu vá com você até o refeitório? – perguntou por fim.


– Caso você ainda não tenha notado, eu já estou indo para lá. E de qualquer forma, não.


– Hmmm. Ok. Mas você sabe que o refeitório fica para o oooutro lado, não é? – ele gesticulou com exagero certamente adorando a situação.


Fechei os olhos sentindo meu rosto ficar vermelho de raiva por mim mesma e pelo garoto ao meu lado. Gabriel havia me distraído e não me lembrei de consultar o mapa, apenas saí andando a esmo. Que maravilha!


Virei-me e Lefroy se inclinou me dando passagem como se fosse um personagem de livro do século XVI.


Segui pelo largo corredor e mesmo que Gabriel não tenha falado mais nada eu sabia que ele me acompanhava de perto. E uma pequena parte de mim aguardava a próxima provocação. O que quer que viesse seria merecido, admito. Mas ao invés disso, o silêncio.


Dava para saber que estávamos perto do refeitório devido ao burburinho crescente. Eu já me preparava para me desculpar ou no mínimo agradecê-lo pela ajuda. Ou talvez fosse melhor apenas seguir em frente sem me incomodar em olhar para trás.


– Cat estava muito empolgada para saber se eu te encontraria hoje. – disse Gabriel num tom mais sério do que o usado anteriormente, provando que eu não estava errada a respeito de ele continuar me acompanhando – Ela tinha certeza de que nós estudaríamos no mesmo ano. Não é de se espantar, aquela pequena não erra nunca.


Meu coração amoleceu. Usar a adorável irmãzinha, que golpe baixo.


Me virei para ele e minha expressão com certeza era mais suave.


– Diga para Cat que eu mandei um abraço. Por favor.


Ele assentiu uma vez concordando, mas pareceria chateado.


– Hey Gabe! – um cara de ombros largos e muitos músculos, se aproximou, cumprimentando Gabriel com um sorriso de orelha a orelha. Levou uma fração de segundo para seus olhos faiscarem na minha direção. – Opa, quem é a gata?


– Ela não, Nick. – Gabriel murmurou empurrando o amigo para dentro do refeitório e passando direto por mim.


Ele nem se deu ao trabalho de se despedir. Tudo bem.


Também entrei no grande salão tomando o cuidado de manter alguns passos de distância deles.


– Por quê? Você a quer pra você? – ouvi Nick resmungar.


– Dá um tempo. – Gabriel respondeu como se a ideia fosse a mais ridícula possível.


– Tudo bem, sabe que eu prefiro as loiras.


Pelo canto do olho vi os dois se dirigirem a uma mesa onde um grupo já os esperava. Virei o rosto para encontrar minha família no lado oposto, em uma mesa no canto mais distante do refeitório. Ziguezagueei até lá grata por revê-los.


– Como está sendo o primeiro dia de aula? – Jasper perguntou examinando meu humor.


– Poderia ser pior.


Sentei na cadeira vaga entre Rosalie e Edward.


– Vejo que fez novos amigos. – Edward comentou erguendo uma sobrancelha enquanto discretamente empurrava sua bandeja de comida para mim.


– É melhor ficar longe daquele Nick Hayne, Ness. – Emmett falou emburrado.


Até ele?


– O que houve?


– Nada. – Rosalie respondeu passando a mão nos cabelos dourados – Emmett só está chateado por que o garoto deu em cima de mim. Uma reação que não poderia ser mais natural. – ela sorriu vaidosa para Emm.


– Claro, todo mundo quer um pouquinho da atenção da minha deusa. – Emmett disse. O retrato do homem apaixonado, ele se inclinou para beijar Rosalie.


– É, mas Rose não é a única conquistando olhares por aqui. – Alice cantarolou em sua voz de fada, um sorriso traquino curvando seus lábios. – Estou prestes a ganhar um admirador secreto.


– Como? – Bella riu.


– Nesse momento ele está colocando um chocolate e uma cartinha no meu armário. – Alice compartilhou batendo palminhas de empolgação.


– Que você não vai comer. – disse Jasper.


– Ainda assim, um doce. – Alice deu de ombros.


– Quem é? – perguntei.


– Obviamente vocês não devem esperar que eu revele a identidade do meu admirador. É secreto. – ela falou como se já antecipasse aquela pergunta.


– Mas você já sabe quem é e o que ele vai fazer, qual a graça? – Bella murmurou sem entender.


Essa é a graça. – ela estreitou o olhar na direção de minha mãe e depois seus astutos olhos dourados percorreram nossa mesa como se pudessem ver além. – Eu sabia que esse ano seria divertido.


Provei um pouco da comida, que parecia razoável. Analisei rapidamente o refeitório lotado e avistei Karen e Emma lançando olhares na nossa direção e segredando alguma coisa. Um rapaz de porte mediano e cabelos escuros, que presumi ser Josh, estava com elas, parecendo indiferente ao assunto. Outro casal se juntou a eles e Josh pareceu aliviado por isso.


– Suas novas colegas têm teorias bem interessantes. – Edward disse suavemente, um sorriso irônico nos lábios.


– Nem me fale. – balancei a cabeça suspirando pesado.


Involuntariamente me peguei observando a mesa onde Lefroy estava. Ele parecia sorridente e animado em meio aos amigos. Uma garota esbelta e loira deu a volta na mesa e se jogou no colo dele. Os dois se beijaram ignorando os risos e piadas dos demais.


Desviei o olhar me concentrando em terminar o almoço, ou pelo menos mexer na comida. Havia caçado ontem e comido um pouco da deliciosa comida de Esme, quando acordei hoje. Eu não estava com fome.


O intervalo acabou e nos dispersamos mais uma vez. Nas duas aulas seguintes não encontrei Karen ou Lefroy, mas reconheci Jennifer quando ela entrou na sala. Emma estava comigo na última aula e eu fingi não perceber quando ela insinuou que eu havia despistado ela e Pearce para ir para o refeitório com Gabriel e Nick.


Eu não devia me surpreender por ela ter notado que chegamos juntos, contudo não devo explicações a ela, então deixei passar.


Quando reencontrei minha família, Alice vinha satisfeita abanando seu envelope ainda lacrado, carta do admirador secreto. Verdade seja dita ela não precisava mesmo abrir para saber o que estava escrito.


Emmett cutucou Jasper fazendo uma piada sobre como ele estava prestes a perder Alice.


Era cômico como Jasper quase parecia incomodado pela empolgação dela, mas logo sorriu contagiado pela alegria de Alice, perguntando para a pequena fada o que ela encontraria no armário amanhã.


Entrei no carro dos meus pais sorrindo comigo mesma, chegando à conclusão de que nossa vida em meio aos humanos seria no mínimo interessante.



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Notas finais do capítulo

Fiz um desenho para o capítulo, mas como o Nyah só permite uma imagem por post, vocês podem ver o desenho no tumblr da EF.
http://efjakenessie.tumblr.com/post/26730579613/gabriel-lefroy-renesmee-cullen-livro-3