Eternal Flame escrita por bandolinz


Capítulo 14
Eternidade


Notas iniciais do capítulo

Música do capítulo: Say Goodbye - Skillet |http://www.youtube.com/watch?v=1TuEUxuWR0I&feature=player_embedded



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/141996/chapter/14



Passei a tarde na casa dos meus avós. Recebemos a feliz visita de Charlie, o que fez o tempo correr mais rápido e o ambiente ficar mais leve.


– Estou lhe dizendo, Sue vai amar. Confie em mim. – Alice piscou para meu avô.


Charlie coçou a cabeça fazendo uma careta em dúvida.


– Eu não sei Alice. Pensei em algo menos...


– Será melhor do que você imagina! – Alice saltitou para perto dele – É um momento especial Charlie, deve ser celebrado. Eu insisto, será meu presente.


Ela estava, há duas horas, persuadindo meu avô a deixá-la organizar a festa de casamento dele e de Sue. O pobre Charlie tentou escapar de todas as maneiras, mas estava nítido que ele acabaria se rendendo, Alice é implacável.


– Vou ficar tão feliz. – ela lançou seu olhar mais suplicante – Lembre-se de que depois disso iremos embora e eu nunca mais lhe pedirei nada.


– Que chantagista – meu pai murmurou disfarçando em um sorriso, tão baixo que só nós poderíamos ouvir.


– Está bem. – Charlie bufou.


Alice saltitou até ele dando um beijo em sua bochecha, depois mostrou a língua para Edward.


– Prometo ficar por perto para que ela não faça nada muito extravagante. – levantei a mão direita como quem faz um juramento, Charlie me lançou um olhar grato.


– Eu ainda não sei por que vocês vão embora. Poderiam esperar mais alguns anos.


– Já explicamos, temos que ir, pai. Mas nem por isso é obrigado a aceitar as exigências dessa terrorista. – Bella brincou sorrindo para Alice.


– Não, não se preocupe com isso Bells. Contanto que seja algo simples. – Charlie olhou para a pequena fada erguendo uma sobrancelha, desconfiado.


– Será algo perfeito. – ela concluiu empinando o nariz, orgulhosa por mais uma vitória.


– Bem, é melhor eu ir para casa. – Charlie anunciou e se despediu de todos.


– Vou sentir tanta falta dele. – Alice suspirou enquanto observava diante da janela de vidro o carro da polícia desaparecer na floresta escura.


– Também vou sentir falta de muitas pessoas aqui em Forks. – assenti ao lado dela, deixando meus olhos vagarem pela mata fechada procurando outra coisa.


Inevitavelmente voltei a pensar em Jacob. Decidi não pedir para ele ir conosco, embora aquilo doesse como se estivessem arrancando um pedaço vital de mim, eu o manteria a salvo. Eu não seria mais essa garota inconsequente. Precisava amadurecer e, por Deus, eu precisava ser forte o bastante para dizer adeus à Jacob, dizer que nos resta apenas um mês juntos.


– Nessie, hora de tirar suas medidas. – Carlisle chamou.


Senti as lágrimas acumulando-se em meus olhos, tratei de enxugá-las antes que alguém percebesse.


Depois de tomar nota de meu crescimento milimétrico, Carlisle aproveitou para me ensinar algumas lições de física avançada. O que eu achei bom, por poder ocupar minha mente, ou pelo menos parte dela.


– Pronto. Está livre. – Carlisle me sorriu fechando o livro.


– Mesmo? Eu pensei que poderíamos fazer mais alguns – eu disse folheando outro livro.


– Parece que está fugindo de alguma coisa. – ele delicadamente puxou o livro cujas páginas eu percorria compulsivamente.


– Tirou o conhecimento de minhas mãos! – franzi a testa falando com ar de indignação.


Meu avô riu enquanto se levantava para guardar a pilha de livros.


– Vamos para casa, Nessie? – Bella sorriu aparecendo na porta.


Suspirei, era quase meia noite e eu não estava com um pingo de sono.


– Tudo bem. Tchau, vovô!


– Até amanhã, Nessie. Boa noite, Bella.


Voltamos para o chalé. Passei um tempo com meus pais para matar a saudade e então, sem alternativa, fui para meu quarto. Eu não queria dormir, não queria ter aqueles pesadelos de novo. Respirei fundo deitando na cama e me enrolando. Na tentativa de manter minha mente desperta comecei a pensar no que diria a Jacob quando nos víssemos amanhã.


Quanto mais eu pensava mais eu percebia que algo inédito estava acontecendo, eu queria, de qualquer modo, adiar meu encontro com ele. Isso, para não ter de dizer as frases ensaiadas mais cortantes de minha vida. Enterrei o rosto no travesseiro sufocando as lágrimas. Imaginei se Edward prestava atenção aos meus devaneios, também a essa altura não importava, eu teria de pensar a respeito mais cedo ou mais tarde. Listei repetidas vezes os motivos, em alguns momentos eu me pegava perguntando por que mesmo eu tinha de fazer isso, por que eu não podia simplesmente ficar com Jake para sempre?


Eu continuava bolando na cama sem pegar no sono enchendo minha cabeça de problemas sem soluções quando senti o cheiro.


– Jake? – murmurei arregalando os olhos e saltando da cama.


Corri para a janela. Lá estava ele, vestindo apenas uma bermuda, sem tênis ou blusa, parado a poucos metros do pequeno chalé. Ele sorriu ao me ver e meu coração derreteu na mesma hora. Todos os meus argumentos fugiram de mim com a mesma velocidade que um acender de luzes elimina a escuridão. Abri a janela e ele começou a correr na minha direção, respirei mais fundo capturando o máximo daquela fragrância amadeirada que, eu nem havia notado até então, mas estava me fazendo falta.


Recuei um pouco dando a ele espaço para pular a janela. Será que Edward viria aqui botá-lo para fora?


– Oi. Pensei que estivesse dormindo. – Jacob sorriu meio sem jeito, completamente alheio aos meus terríveis planos de meio minuto atrás.


Não consegui sustentar o olhar dele, logo comprimi os lábios encarando o chão.


– Ei, você estava chorando? – perguntou num sussurro angustiado, eliminando a distância entre nós. – Nessie?


Ele pegou meu rosto entre suas mãos grandes e confortavelmente quentes. Ah, como eu amava cada toque dele, o menor contato entre nossas peles fazia o sangue correr mais rápido em minhas veias. E eu perderia tudo isso. Senti as lágrimas voltarem a escorrer pelo meu rosto. Como eu não olhei para ele, Jacob se inclinou para ficar na minha altura. Eu simplesmente não conseguia olhar nos olhos dele.


– Olha, eu sinto muito. Eu não deveria ter te deixado enfrentar todos eles sozinha. – Jacob recomeçou num sussurro ansioso, imaginando mal o motivo de minha recepção não calorosa – Me desculpe. Eles foram muito duros com você? Por que se foram, eu juro que...


– Não, Jake. – interrompi com a voz embargada – Por favor, me abraça.


Por um breve instante tomei coragem para examinar o rosto confuso dele. Jacob não perdeu tempo, passou os longos braços fortes ao meu redor, me apertando contra seu peito. Abracei a cintura dele desfrutando daquele conforto, daquela paz. Deixei as lágrimas correrem livremente de encontro ao peito dele. Parecia que nada, nem ninguém me machucariam ali. Ficamos assim não sei por quanto tempo, poderia ter sido um minuto ou uma hora, o tempo não interferia na minha necessidade dele. Eu não o largava de jeito nenhum, tampouco ele mostrava sinais de que me afastaria, esperou pacientemente até que minhas lágrimas não descessem mais.


– Eu te amo tanto, Jake. Não posso te perder. – estreitei mais ainda o abraço.


– E não vai. Tudo vai ficar bem.


Continuamos assim por mais alguns instantes, até que eu finalmente criei coragem para me afastar de Jacob. Respirei fundo e olhei para ele apreensiva.


– Vai querer saber o porquê disso, não vai? – fiz uma careta.


Jake segurou meu queixo com a ponta dos dedos e estreitou o olhar me avaliando. Eu sei bem o que ele encontrou – medo, remorso, pânico...


– Na verdade, acabou de me dar uma dica. – Jacob disse devagar quando eu desviei o olhar outra vez – Mas eu não vim aqui uma hora dessas para encher tua cabeça de problemas, amanhã a gente conversa sobre isso. – completou parecendo despreocupado, se ele soubesse...


– Aliás, você veio por que mesmo?


– Fiquei com saudade. – Jake soprou em meu ouvido com um tom tentador.


Me arrepiei por completo com aquela voz rouca, aquele hálito quente... Tudo tão próximo de mim que me deixou completamente desorientada. Ergui o rosto procurando seus lábios macios, esquecendo todos os problemas que me atormentavam. E eu tinha algum problema? O homem que eu amo está aqui, diante de mim e ele me ama também que se dane o resto!


Nossos lábios se tocaram, gentis e calmos a princípio, entretanto sempre havia mais calor do que o necessário para incendiar uma floresta entre nós. O beijo agora parecia urgente. Passei os braços ao redor do pescoço dele, ao passo que suas mãos desceram pelas minhas costas parando em minha cintura, me apertando firmemente contra corpo dele. Eu gostava muito disso, adorava o modo como ele me abraçava quando nos beijávamos. Ficávamos tão próximos assim que eu imaginava faltar pouco para sermos um só.


– Jacob Black! Saia da minha casa e do quarto da minha filha, agora! – minha mãe gritou entrando no quarto impetuosamente, fazendo a porta se chocar contra a parede.


Eu e Jacob nos afastamos depressa, ficando a quase um metro de distância um do outro. Eu ainda estava ofegante e o susto que Bella nos deu não ajudou a regular minha respiração em nada.


– Calma Bella, não aconteceu nada. – Jacob levantou as mãos para o alto.


– Eu sei muito bem o que aconteceu. – Bella sibilou atravessando o quarto, irritada. – Agora, para fora!


Ela apontou para a janela e Jacob fez uma careta sem entender. Edward chegou ficando na porta de braços cruzados com um sorriso travesso esculpido no rosto e um brilho no olhar que eu reconheci como orgulho pela atitude de minha mãe.


– Ah, qual é Bella! – Jake protestou.


– Não foi por aqui que você entrou? Então é por aqui que você sai. – Bella emendou com tom provocativo. – Adeus Jacob. Tenha uma boa noite!


Ele revirou os olhos teatralmente e, com toda certeza por dar valor à sua vida, se dirigiu à janela.


– Boa noite, Nessie. – ele piscou para mim sorrindo amplamente. Tão lindo.


– Boa noite, Jake. – corei sorrindo em resposta.


– Tchau, sogrinha. – ele completou depois de passar para o lado de fora.


Bella olhou Jacob horrorizada pela audácia, contudo ele já havia corrido para longe aos risos antes que ela pudesse fazer algo.


– Era só o que me faltava! Vou ter de mandar vedar essa janela? – Bella colocou as mãos na cintura voltando a atenção para mim, a censura impressa em sua fisionomia.


– Eu sinto muito. – murmurei sem conseguir demonstrar a menor culpa.


A visita de Jacob mudou completamente meu estado de espírito. Minha mãe sacudiu a cabeça suspirando pesado e veio até mim me dando um beijo na bochecha.


– Por favor, vá dormir Nessie.


Fiz que sim me jogando na cama para mostrar minha disposição em cumprir a tarefa. Bella sorriu e saiu do quarto levando Edward.


Depois disso foi bem mais fácil dormir.


A manhã passou arrastada, sem nenhum sobressalto. Eu estava na expectativa de ver Jacob, mas aos poucos a culpa se apoderava de mim outra vez. Egoísta! Egoísta! Eu repetia para mim mesma enquanto meu pai me levava em seu carro até a fronteira.


– Engraçado, – Edward riu sem humor – até ontem você estava convicta sobre sua decisão e os problemas que evitaria. Bastou aquele vira-lata aparecer, então você esqueceu tudo isso.


Fato. Apesar de carregada de sarcasmo, a afirmação de Edward era bem coerente. Talvez eu devesse escrever em algum lugar o que eu iria falar. Edward bufou reagido ao meu pensamento idiota.


A impressão que dava era de existir uma imensa bolha ao redor de Jacob, repelindo todas as sensações ruins. Suspirei com pesar, no momento, tudo o que eu mais precisava era ficar dentro dela.


– Pensar desse jeito não ajuda em nada, Renesmee. – ele olhou para mim, os olhos solidários – Concentre-se no bem que vai fazer a ele.


– Eu não consigo pai! – me afundei no assento.


Edward puxou minha mão delicadamente e me encarou, sem se incomodar em prestar atenção na estrada. Tive a impressão de que ele estava prestes me dizer algo vital.


– Eu confio em você. – ele afagou as costas da minha mão – É mais forte do que imagina Nessie, sei que fará a escolha certa. E independente de qual seja nós iremos apoiá-la.


– Obrigada, pai. – beijei o rosto dele e Edward sorriu em resposta.


De repente o rosto dele ficou rígido e os olhos apertaram focalizando algo à nossa frente. Jacob. Meu coração acelerou apenas em reconhecê-lo ao longe, encostado ao velho Rabbit.


– Concentre-se Renesmee. – Edward suspirou cansado, como se estivesse repetindo aquilo pela milésima vez.


Ele parou no acostamento.


– Tudo bem. – respirei fundo.


– Está com o celular?


– Aham.


– Ligue para que eu venha buscá-la.


– Não precisa. Jake pode...


– Eu faço questão. – Edward cortou e me deu um beijo na testa.


Revirei os olhos e peguei minha bolsa saindo do carro.


– Até mais tarde, pai.


Caminhei até Jacob em passos largos. Ele, como sempre, sorriu e tornou tudo perfeito. Praguejei mentalmente, seria mais difícil do que eu esperava.


– Oi. – sorri lutando para não deixar aquela sensação de paz que a presença dele trazia me dominar.


Jacob veio até mim casualmente, quando ficamos frente a frente ele segurou meu rosto entre suas mãos e me beijou brevemente. O simples toque dos nossos lábios fez meu corpo estremecer. Mas eu estava fazendo meu melhor para não perder o foco.


– Quer parar de se preocupar, pelo menos por um minuto? – Jacob reclamou ajeitando uma mecha do meu cabelo, colocando-a atrás da orelha.


Ele parecia muito tranquilo. Em minha opinião, não era como um homem, que acabou de descobrir que o amor de sua vida vai morar do outro lado do país, deveria estar. Nem de longe era o Jacob que saiu da minha casa como um furacão ontem de manhã.


– E por que eu faria isso, Jake? – cruzei os braços esperando. Minha voz saiu carregada de sarcasmo, apesar de no fundo eu torcer para ouvir uma boa resposta.


– Sabe, Emily está desesperada para falar com você! – ele puxou minha mão ignorando por completo minha pergunta.


– Jake? – chamei absolutamente confusa enquanto ele me colocava dentro do carro.


– O quê? – ele perguntou erguendo as sobrancelhas como se nada estivesse acontecendo, era nítido seu esforço para não sorrir. – Você também está ansiosa para vê-la? Que bom!


– Jake! – eu ri sem entender o modo como ele estava agindo.


Jacob deu a volta no carro assobiando e fazendo graça. Acabei rindo mais ainda.


– Em algum momento vai me explicar por que está tão alegre e saltitante? – pedi quando ele entrou no carro.


Jacob sorriu mordendo o lábio inferior, maneando a cabeça, supostamente concentrado em ligar o carro. Não pude deixar de notar como ele ficava lindo quando fazia isso, continuei observando ele completamente encantada.


– Vou. Mas não agora. – o sorriso de Jacob ficou mais amplo, os olhos brilhando de empolgação.


Alguma coisa na expressão dele me encheu de esperança.


– E vai me deixar assim? Na curiosidade? – senti que o sorriso bobo continuava em meu rosto.


Jacob riu alto.


– É onde mora toda a graça.


Passei o resto do dia em La Push, parte significativa dele na casa de Sam e Emily. Ela estava mesmo à minha espera, como alertara Jacob, para pedir algumas dicas sobre os detalhes do chá de baby, que seria em poucos dias. Desfrutei de horas agradáveis, em primeiro lugar por poder ficar pertinho de Jacob, depois porque, apesar de simples, a casa deles era muito aconchegante, e o ambiente trazia toda uma sensação de paz e felicidade. Emily e Sam estavam em um momento de pura alegra, era tão contagiante que eu quase esqueci minhas pequenas tragédias. Ele, muito realizado e orgulhoso, não parava de falar no filho que estava por vir. Ela, por sua vez, não parava de repetir o quanto sonhara em ser mãe.


Mais tarde, Jacob e eu fomos caçar. Dessa vez tive sorte, encontrei um puma, que além de ter um gosto mais agradável do que os alces, proporcionava uma caçada mais divertida também. Jacob terminou antes de mim e desapareceu entre as árvores para se transformar.


Saciada, deixei o corpo do puma de lado e mantive os olhos fixos na direção que Jake tomara. Uma pontada de curiosidade maliciosa me fez querer ir até lá para dar um susto nele, mas em um surto de responsabilidade mantive meus pés firmes no chão. Edward me mataria apenas por esse pensamento.


Olhei para o céu ainda claro, com poucas nuvens, constatando que chegara à hora de eu e Jacob termos aquela conversa. Ele agiu como se nada estivesse acontecendo o dia todo, tanto que eu até cheguei a acreditar que estávamos apenas curtindo mais um maravilhoso dia juntos. Contudo não era bem assim. E pensar em Edward me fez lembrar o verdadeiro motivo de eu estar hoje aqui.


– Bu! – disse Jacob a centímetros de mim.


– Jake, pelo amor de Deus! – Com o susto, saltei indo parar a mais de cinco metros de distância dele. – Detesto quando você faz isso.


Jacob riu, veio até mim e me abraçou por trás beijando meu pescoço.


– Desculpe. Não resisti. É tão difícil te pegar distraída desse jeito. – ele me embalou de leve entre seus braços. – Aposto que estava pensando besteira.


– Não é besteira Jake. – sussurrei entristecida fazendo desenhos em seu braço com a ponta do dedo – Precisamos mesmo conversar.


– Eu sei. – ele suspirou e estreitou os braços em minha volta antes de me soltar. – Vem, quero te mostrar um lugar.


Jacob segurou minha mão e me conduziu pela floresta.


Caminhamos em silêncio. Eu mal continha minha ansiedade, enfim saberia o que deu em Jacob para agir de forma tão estranha. Ficou pior agora que eu tentava adivinhar onde ele estava me levando. Vi uma fresta de luz surgir em meio às tantas árvores em nosso caminho.


– Pronto, chegamos. Primeiro as damas. – ele sorriu e se curvou como quem faz reverência me dando passagem.


Sorri e segurei as pontas do vestido me inclinando em agradecimento, entrando na brincadeira.


– Obrigada, cavalheiro.


Jacob riu baixinho e eu segui em frente, escutando os passos dele logo atrás de mim. Tirei alguns arbustos do caminho que fechavam a passagem como se fosse um portal e segui em frente.


Fiquei paralisada diante da beleza do que vi. Estávamos no alto do que me pareceu o maior penhasco de La Push. Dava para ver toda a praia, parte da floresta e, principalmente, o mar. Um vento forte agitou meus cabelos e fez a vegetação em volta tremer, com um som bastante agradável, que completava o ambiente.


Avancei mais dois passos, olhando para as ondas quebrarem nas pedras lá em baixo, mantendo uma distância segura, é claro. Aquilo era assustadoramente alto! Perdi alguns minutos observando a paisagem, o céu com sua magnífica mistura de cores, anunciando o pôr-do-sol. Era um momento perfeito.


– Eu costumo vir aqui, só pra ficar pensando em você. – Jacob confessou em meu ouvido, repousando as mãos nos meus ombros e deixando-as deslizar pelos meus braços em um carinho muito bem vindo.


A temperatura dele era ideal para equilibrar a sensação de frio produzida pelo vento forte e constante aqui em cima. Minha vontade era de parar o tempo e continuar para sempre com Jacob pertinho de mim. Tê-lo assim tão próximo complicava ainda mais minha situação, fazendo todos os meus argumentos evaporarem. Virei ficando de frente para ele e toquei seu rosto “Sabe que estamos com problemas, não sabe?”


– Você vai mesmo embora? – Jacob perguntou num tom baixo, tão conformado que era quase uma afirmação.


– É Jake. Não tem jeito, minha família já tomou essa decisão e eu acho que, no fim das contas, vai ser mesmo melhor pra todo mundo. – o rosto dele se retorceu levemente quando eu falei a última parte.


Ele esperou que eu continuasse, mas eu não consegui. Eu precisava fazer a escolha que eu jamais considerei – a de uma vida sem Jacob. Doía demais saber que ele estava ali, na minha frente, ao alcance dos meus olhos, das minhas mãos, porém em um mês nossas vidas tomariam rumos diferentes. Será que ele me esqueceria? Tocaria a vida, como era o correto a ser feito? Mesmo imaginando que isso era o certo, para mim, era uma hipótese inaceitável. Jacob era meu, de mais ninguém.


Entretanto, meu egoísmo não falaria mais alto dessa vez.


– Vou sentir muito a sua falta Jake. – abracei a cintura dele lutando para não derramar nenhuma lágrima, mas minha voz já estava afetada. – A cada dia, a cada minuto... Mais do que tudo!


Jacob me apertou em seus braços afagando meu cabelo.


– Não precisa ser assim, Nessie.


– Como? – me afastei em choque para olhá-lo.


– Eu prometi não deixar nada nos afastar, lembra? – os olhos de Jacob se acenderam enquanto ele sorria afagando meu rosto. – Se você tem mesmo que ir embora, só me resta ir com você.


Então era por isso que Jacob estava tão tranquilo, ele já havia encontrado sua solução para o problema. Nossa solução. Eu estava convicta sobre o brilho intenso que se apoderou do meu olhar.


– Jake... – lutei contra a felicidade que queria explodir de mim ao ouvir aquelas palavras – Eu não posso te pedir isso.


– E não está pedindo. É uma decisão minha.


– E Billy? E a matilha... Os amigos, todas as pessoas que você ama. Toda a vida que você conhece. Vai deixá-los para trás ou não pensou nisso? – perguntei numa voz suave que me lembrou o tom usado pelos psicólogos com seus pacientes.


Meu instinto de auto preservação me implorava para parar com isso. Só que eu precisava ter certeza, precisava que Jacob ficasse ciente de tudo o que estava perdendo antes de me permitir ter esperança.


– Tem pessoas que eu amo indo embora também. – disse ele me olhando sugestivamente. – A mulher da minha vida a propósito.


Não pude deixar de me envaidecer com as palavras dele. Jacob estava disposto a largar tudo, por mim.


– Quanto à matilha – recomeçou numa voz segura e firme – eu já falei com Sam. E devo dizer que ele não ficou incomodado com a idéia de voltar a ser o único alfa. –Jake sorriu por um instante, respirou fundo e continuou. – Billy... Bem, o velho sabe se cuidar! Mas não vou deixá-lo sozinho. Aposto que Rachel vai passar mais tempo em casa quando eu não estiver. Ela sempre reclamou por querer o quarto dela de volta.


– Já contou a eles?


Jacob rapidamente balançou a cabeça em negativa.


– Tirando o Sam, você é a primeira a saber.


Mordi o lábio inferior para não sorrir.


– Percebe que vai morar em uma casa cheia de vampiros?


Ele deu de ombros.


– Eu já me acostumei com o fedor mesmo.


– As coisas não são tão simples. Você diz isso agora, depois...


– Eu não estou dizendo que será fácil. Estou dizendo que, por você, posso suportar.


Suportar. Foi então que lembrei o pesadelo da noite passada. A imagem dos Volturi chegando para matar Jacob dominou minha mente de forma colérica. Dei um passo involuntário para trás, sentindo a cor sumir do meu rosto.


– Não Jake. – balbuciei com a voz trêmula – Você não pode ir com a gente.


Jacob me olhou confuso, naturalmente sem entender minha reação.


– Sinto muito. – sacudi a cabeça recuando, mas Jacob agarrou meu pulso.


– Ei! Do que está falando? O que deu em você, Nessie?


Baixei a cabeça constrangida, deixando meus cabelos caírem sobre o rosto.


– Se algum dia os Volturi descobrirem sobre nós dois... – falei com dificuldade, sentindo um nó se formar em minha garganta.


– Eles não têm por que vir aqui, nós já falamos sobre isso.


– Mas agora é diferente. – eu o olhei nos olhos para mostrar como eu falava sério, ignorando as lágrimas que corriam livremente pelo meu rosto – Eu não vou suportar se algo de ruim te acontecer, Jake. Então, por favor, é melhor você ficar aqui, longe de mim. Nosso conto de fadas não foi feito pra durar. Se você for conosco, mais cedo ou mais tarde eles vão descobrir. Essa é a grande chance que temos de fazer a coisa certa, de terminar nossa história de uma forma saudável, e não com uma tragédia.


O queixo de Jacob caiu. Dessa vez ele quem começou a se afastar, mas eu me aproximei segurando o rosto dele entre minhas mãos.


– Eu te amo. Você é... É o que mais importa nesse mundo! A melhor parte da minha vida. Eu não posso suportar – me interrompi procurando ar – muito menos conviver com a idéia de te perder, Jake. Por mais que me parta o coração, prefiro ficar longe de você.


Ele me encarou horrorizado por alguns instantes.


– Quem te mandou dizer isso? Edward? – perguntou por fim numa voz sufocada.


– Não Jake. Meu pai não tem nada a ver com isso.


– Claro que tem! – ele gritou se afastando de mim. Seus braços tremiam. – Eu fui um idiota em pensar que ele entenderia... – Jacob começou a andar impaciente, as sobrancelhas unidas e a testa vincada de raiva – Mas não, claro que não! Eu não sei o que ele disse pra fazer a tua cabeça, mas ele vai me pagar.


– Jacob! Para com isso! Edward não fez minha cabeça! – finquei o pé no chão ofendida pela idéia que ele fazia do meu pai. – Ele só quer o melhor para mim, assim como o resto da minha família. Eles exageram às vezes, é verdade, mas é só porque se preocupam comigo. Não os culpe pela minha decisão.


– Me deixa ver se eu entendi bem. – Jacob se aproximou com duas passadas largas e inclinou-se ficando com o rosto a centímetros do meu. – Do nada, você resolveu desistir de nós dois com medo de algo que nem ao menos sabe quando ou se vai acontecer? – perguntou amargurado, o maxilar rígido de irritação.


A acidez dele me magoou profundamente. Eu não consegui mais argumentar, estava cansada de prolongar aquela situação, simplesmente levei minhas mãos ao rosto dele e deixei fluir o que eu pensava. Mostrei detalhadamente o pesadelo, os Volturi chegando, ele caindo no chão se retorcendo de dor e eu completamente impotente ao seu lado. Quando finalmente terminei, eu já chorava compulsivamente.


De repente Jacob me abraçou e eu aceitei, me reconfortando em seus braços.


– Era por isso Nessie? Um pesadelo? – perguntou incrédulo.


Eu poderia estar delirando, mas tive a nítida impressão de que ele estava sorrindo.


– Eu. Não. Posso deixar. Que isso aconteça. Jake. – consegui falar entre os soluços.


– Shiii. Foi só um pesadelo meu amor, já passou. Eu estou aqui com você. – ele falou com a voz carinhosa, me balançando sutilmente em seus braços.


Quando consegui ficar calma me afastei ansiosa por estudar a expressão dele. Jacob estava tranquilo outra vez. O que havia de errado com ele? Não conseguia entender o perigo que nos acompanhava como uma sombra?


– Por um momento você me assustou, sabia? – Jacob franziu o cenho, contudo estava quase sorrindo.


Seu olhar passou por cima de mim, fitando a paisagem. Ele parecia... Aliviado.


– Jacob? – chamei atônita.


– Hum?


– Você viu mesmo o que eu acabei de te mostrar?


– Vi. Inclusive eu te aconselharia a parar de ver filmes de terror, mas não adiantaria muito já que você mora na própria casa dos horrores.


– Jake!


Ele riu.


– Não teve graça. – murmurei.


– Tem razão. – comprimiu os lábios – Não deveria ter mesmo.


– Talvez eu esteja enlouquecendo, mas acho que ver isso deixaria qualquer um apavorado ou no mínimo incomodado.


– A única coisa que me incomodou foi o sofrimento que esse pesadelo idiota te trouxe. Sinto muito. – seus dedos deslizaram pelo meu rosto. – Queria que houvesse algum modo de evitá-los.


– O problema não é o pesadelo, Jake. – suspirei. – O que me apavora são as sérias chances dele se tornar real. Você não parou para pensar sobre isso?


– Claro, claro. – ele revirou os olhos – Então tudo se resume na sua preocupação comigo?


Fiz que sim, Jacob suspirou. Ele sentou e me puxou consigo. Sentei na frente dele me aconchegando em seu peito ansiosa por finalmente ouvir uma explicação. Vê-lo tão relaxado me passava uma grande confiança, já me deixou mais tranquila. Jacob beijou minha testa antes de começar.


– Nessie, não tem nada que você possa me dizer ou mostrar que eu já não tenha considerado.


– Convencido. – murmurei brincando com a gola da camisa dele.


Jacob me ignorou.


– Eu sei de todos os riscos e consequências de ficar com você. Sei que, um belo dia, eu posso acordar com uma dúzia de sanguessugas querendo me matar. – ele me lançou um olhar maroto e sorriu tentando diminuir o efeito daquela frase horrenda – Mas, Nessie, até lá eu vou ser o homem mais feliz do mundo. Nunca vou desistir de você, prefiro viver um ano, meses até, desde que sejam com você do que passar o resto da minha vida sentindo a tua falta.


Absorvi aquelas palavras incapaz de mostrar alguma resistência à felicidade que me dominava. Era exatamente daquele jeito que eu me sentia em relação a ele, eu só não estava tão certa de que Jacob abriria mão de realmente tudo por mim. Bem, talvez bem lá no fundo eu soubesse, mas precisava ouvir dele palavra por palavra para me sentir plena outra vez.


– Eu vou aonde for preciso. Isso se você ainda me quiser, é claro.


– Claro que eu te quero Jake! Ah... Eu te amo tanto! – me virei distribuindo beijos por cada centímetro do rosto dele. – Obrigada! Obrigada!


Eu estava quase chorando de emoção. Aquela era a maior prova de amor que ele poderia me dar. Jacob sorriu enquanto eu o beijava sem parar repetindo o quanto eu o amava. Minha vontade era de gritar para o mundo o quanto nos amávamos e como eu era a garota mais sortuda e feliz na face da terra!


– Que bom que disse que sim, – disse pretensioso, me puxando para cima dele – porque eu ia te seguir de qualquer jeito.


Nossos sorrisos se encontraram, então ele segurou minha nuca e avançou sobre mim buscando meus lábios. Eu o beijei tentando transferir todo o meu amor por ele naquele simples contato. Foi um beijo sem pressa e repleto de ternura, nós simplesmente não conseguíamos nos separar. Mantive minhas mãos no rosto dele deixando meus sentimentos e pensamentos expostos enquanto ele envolvia minha cintura me puxando para mais perto.


Meu coração batia em seu familiar ritmo acelerado. Toda a felicidade se estendia diante de mim, tendo Jacob ao meu lado. Assim, nos braços dele, eu me sentia finalmente em paz, sentia que aquele era o meu lugar.


– Sabe, bastou um mês no Brasil para me fazer enlouquecer de saudade, não posso nem imaginar como seria terrível passar a eternidade sem você. – confessei.


– Nem me fale uma coisa dessas! – Jake resmungou reflexivo mexendo no meu cabelo. – Você é a razão para eu levantar todas as manhãs, se eu não puder ver esse sorriso – ele afagou minha bochecha, me parecia impossível parar de sorrir com Jake tão radiante a centímetros de mim – então o dia não serviu pra nada. – ele beijou o canto dos meus lábios – Meu destino é ficar do seu lado, Nessie. Pra sempre.


Pude sentir nitidamente a euforia dominando cada célula do meu corpo.


– Pra sempre e sempre e sempre e sempre. – repeti, terminando a frase nos lábios dele.



Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!