Eternal Flame escrita por bandolinz


Capítulo 9
Inconveniente




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A escuridão dominava o bosque ao redor da mansão Cullen. Observei pela janela a lua lutando para brilhar através das nuvens pesadas que se aproximavam para nos dar as tradicionais ‘boas vindas’ de Forks. Um vento gelado invadiu meu quarto me causando um arrepio. Desejei ardentemente estar entre os braços de Jacob. Irritada, fechei a grande janela, praguejando mentalmente contra Emmett.


Carlisle e Esme foram nos buscar no aeroporto e, ao chegarmos em casa, Emmett não desgrudou de mim. Jacob ficou para ver o carro que meus tios me deram, um Mercedes Benz vermelho, é maravilhoso! Fui dar uma volta com Jacob para experimentar o carro, e Emmett veio junto! Isso estourou minha paciência que já é curta, acabei cruzando a floresta e voltando para casa frustrada. Enquanto Em descrevia para Carlisle e Esme suas aventuras na Amazônia com onças, jacarés e anacondas, aproveitei para fugir com Jake para meu quarto. Poucos minutos de paz e Emmett irrompeu pela porta, justo na hora em que nos beijávamos.


– Vim trazer suas malas. – anunciou ele com sua infinita cara de pau.


E foi aí que por fim desistimos de ter um minuto a sós. Jacob passou o resto da tarde aqui, e não foi preciso muito mais para me deixar bem. A simples presença dele ao meu lado me fazia ganhar o dia, bastavam nossas mãos entrelaçadas e nada mais me abalava. Nem a saudade de meus pais, nem a culpa por não ter procurado Nahuel antes de partir e nem as piadinhas constrangedoras de Emmett. Muito menos o maior dos problemas, o que eu preferia considerar tão perigoso quanto um simples pesadelo. Mas não era, e em algum lugar de minha consciência eu sabia disso – Os Volturi. Eles sempre seriam fantasmas assombrando a vida de minha família e a de quem mais se envolvesse conosco, sejam vampiros, semi-vampiros, humanos ou lobos. É verdade, que se a sorte estiver ao nosso lado, os anciãos do clã mais temido pelos imortais nunca saberão sobre meu envolvimento com Jacob, mas a eternidade é um tempo muito longo para se contar com a sorte.


Agora sozinha, já que Jacob fora para casa, eu estava inevitavelmente ponderando sobre todos esses assuntos e ficando cada vez mais nervosa. Joguei-me na cama e abracei meu velho companheiro MJ. Eu não quebraria mais minha cabeça com questões que estavam fora de meu alcance. Emmett sim, era um problema indiscutivelmente real e um tanto urgente. Algo que eu precisava resolver logo. Acorrentá-lo a um pinheiro não me pareceu eficaz, então imaginei se doses cavalares de sonífero poderiam, pelo menos, deixá-lo meio grogue. Provavelmente não, considerando que não havia sangue correndo em suas veias para espalhar a droga. Talvez eu pedisse à Esme que lhe desse um sermão e o deixasse de castigo, isso se eu não estivesse em dúvida quanto a quem ela apoiaria. Vovó não me pareceu muito à vontade com a idéia de eu e Jake juntos como um casal, o que me faz pensar em como Charlie reagiria à notícia. Provavelmente melhor já que ele e Jacob se davam tão bem.


O telefone tocou. Levantei-me da cama de súbito e corri para a sala, pulando os cinco últimos degraus da escada, o coração acelerado de antecipação. Todos me olharam, mas logo voltaram a suas atividades. Alice atendeu, ela estreitou o olhar na minha direção em um sinal de reprovação, antes de girar me dando as costas.


– Olá Bella! Bom receber sua ligação. Como está a viagem?


Suspirei aliviada e decepcionada. Decepcionada por obviamente não ser quem eu esperava e aliviada por ter notícias de meus pais. De qualquer modo, ainda que fosse Jacob, não teria sido eu a atender, então, melhor assim. Acomodei-me em uma poltrona, eu acamparia ali até a próxima ligação.


– Sim, claro. – Alice girou na ponta dos pés e me estendeu o telefone franzindo os lábios. – Quer falar com você, Nessie.


Peguei o telefone sem entender sua expressão.


– Oi, mãe.


– Nessie, sou eu. – a inesperada voz grave e rouca quase me fez derrubar o telefone.


– E-esperava que ligasse – gaguejei me recuperando do susto, meu coração já tomando a liberdade de voltar ao ritmo frenético.


Fiz menção de levantar, mas do outro lado da sala Alice sutilmente moveu a cabeça em negativa. Ok, iria mesmo chamar atenção eu precisar falar com Bella em particular.


– Caramba, é bom ouvir sua voz. Eu já estou com saudades.


– Eu também, já sinto sua falta... Mãe. – completei após meio segundo.


Jacob riu baixinho do outro lado da linha.


– Escuta Ness, tenho um plano.


Olhei para Emmett, completamente alheio assistindo à uma partida dos Gators na tevê.


– Hum – murmurei o incentivando a prosseguir.


– Então, por que não vem passar a noite aqui em La Push? Eu não me importo de dormir no sofá! Vai rolar uma festa na fogueira, comida, bebida, lendas, aquela coisa toda que você já conhece. E os garotos estão vibrando com a novidade... Você sabe... Sobre nós dois. Eles querem comemorar.


– Já contou a eles?!


– Algum problema?


– Não. – admiti relutante.


– Eles iam saber de qualquer forma. – a despreocupação no tom de Jacob me fez vê-lo nitidamente dando de ombros.


– Ah. É verdade. – senti que estava corando.


Não sei ao certo porque aquilo me incomodou. Os lobos ouviam os pensamentos uns dos outros, disso eu sempre soube. Porém essa característica nunca me afetou diretamente. Agora, entretanto, meus momentos com Jacob eram lugar comum a todos do bando. Ótimo! Era o que faltava mesmo para ficar perfeito.


– Posso continuar?


– Claro. – suspirei.


– Como eu sei que Emmett vai te impedir de vir, devemos fazer isso em segredo. Você diz que vai dormir e então vem para cá. – a voz de Jacob ficava mais animada conforme ele continuava. – Uma vez que você cruzar a fronteira, ele não poderá mais nos incomodar. Uma típica fuga! Como as garotas fazem nos filmes.


Pensei nisso por um instante. A idéia de passar a noite em La Push com Jacob soava extremamente tentadora. E além de tudo, eu também estava com saudades dos garotos da tribo. Valia o risco.


– Isso é, apenas se você quiser, é claro. – acrescentou com um súbito receio na voz.


– Não! Quero dizer, sim! É uma boa idéia. – percebi Emmett me olhar de canto de olho e emendei com a primeira coisa que me veio à mente – Vou esperar vocês chegarem para contar ao Charlie.


Ele está por perto?


– É. Tenho que desligar. Até mais, mãe. Diga a Edward que eu o agradeço infinitamente por ter amarrado Emmett em meu pé.


Meu tio sorriu orgulhoso de si mesmo.


– Até logo. Vê se não demora muito.


– Tudo bem. Até mais.


– Hei! Só mais uma coisa.


– O quê?


– Te amo.


Não pude conter o sorriso imenso que se espalhou em meu rosto. Eu sabia que Jacob me amava, mas sempre me causava um frio na espinha ouvir essas palavras na voz dele.


– Eu também te amo. – respondi talvez tarde demais.

Larguei o telefone sobre a mesinha de centro.


– O que a Bellinha queria Nessie? – Emmett se virou no sofá para me olhar.


– Nada demais, só saber como estão as coisas por aqui e avisar que está tudo bem. Vou dormir, estou cansada. Boa noite para vocês.


Todos me desejaram boa noite e eu voltei ao meu quarto para pensar nos detalhes da fuga. Ri comigo mesma. Era estranho precisar desse tipo de artifício, era simples demais, apenas mais uma festa na fogueira com os garotos quileutes, que mal havia nisso? Para quê segredos e fugas? As coisas andam, definitivamente, fora do lugar.


Vasculhei meu closet à procura de uma roupa, percebi que a maioria não cabia mais em mim, apenas as que não se ajustavam muito ao corpo ainda serviam. Então eu engordei descomunalmente! Corri para o enorme espelho procurando as mudanças mais perceptíveis em meu corpo, não era possível tanta diferença em apenas algumas semanas.


Carlisle se espantou com meu crescimento, disse que superou suas estimativas. E minhas roupas estavam gritando exatamente a mesma coisa! Jacob também pareceu surpreso quando chegou ao Brasil. Particularmente não percebi nenhuma mudança drástica durante o mês que passamos fora, mas verdade seja dita eu também não estava reparando.


Agora olhando atentamente eu percebi. Estar de volta ao lar também ajudou a visualizar a evolução. O cenário era exatamente o mesmo, a garota no reflexo é que não era tão fiel àquela de quem eu bem me lembrava. A altura aumentou pouco, se é que aumentou, a verdadeira diferença estava nas curvas mais acentuadas, e eu estava convicta sobre o aumento de outras medidas. Interessante. Meu corpo, agora, se assemelhava mais ao de uma mulher do que ao de uma garota, gostei disso, pois era como eu me sentia.


Troquei de roupa e comecei a ler um livro para passar o tempo. Como estava difícil me concentrar na história, deixei minha mente vagar até que uma hora se passasse. Reparei que a casa estava no mais absoluto silêncio, espiei pelo corredor e nada. Tomando todo cuidado para não fazer nenhum barulho, desci as escadas na ponta dos pés, isso depois de me certificar que a sala estava vazia. Sorrateiramente fui à garagem e entrei no meu carro. Pronto, agora era dirigir até a reserva a toda velocidade. Apertei o botão para a porta da garagem abrir e girei a chave no carro. Foi aí que o vi. Emmett estava parado em meu caminho, de braços cruzados e com um sorriso debochado no rosto.


– Boa tentativa, Ness!


Estreitei a vista e o fuzilei com toda a ira de meu ser. Pisei fundo no acelerador.


– Você é quem sabe! Vai querer estragar seu carro logo no primeiro dia? Acho que não. Um possante que seus tios escolheram com tanto carinho. Assim você magoa meus sentimentos, garota!


Mantive o pé no acelerador, ouvindo o ronco suave do motor se preparando. Emm ergueu uma sobrancelha me desafiando.


– Manda ver, Nessie! Isso vai ser divertido! – ele alongou o pescoço e os braços.


Era um sacrifício inútil. Não foi preciso muito esforço para imaginar a cratera em forma de ‘U’ que Emmett deixaria no lustroso capô de meu novo carro, quase ouvi os gritos histéricos de Alice e a reprovação de Rosalie. No fim das contas ele certamente iria rir de tudo isso e espalhar a fofoca de que eu era um perigo no volante. Meu quadro trágico do futuro ainda incluía um carão de Esme por conscientemente colocar minha integridade física em risco. Bufei irritada e então desliguei o carro. Saí batendo a porta e pisando forte, eu era consciente de que estava dando a Emmett a reação que ele queria, mas o que mais eu poderia fazer?


– E nem tente a janela! – o ouvi gritar e depois explodir em uma gargalhada.


– Por que não providencia um calabouço? – grunhi.


– O que houve, Nessie? – Carlisle despontou da direção da biblioteca.


– Nada. – respondi ríspida e disparei para meu cárcere privado.


Certas vezes tornava-se insuportável estar cercada de pessoas superdotadas. Era demais querer um namoro normal? Onde eu pudesse ter meus momentos sem meia dúzia de vampiros me dizendo o que fazer, aonde ir ou com quem ficar?


Houve uma leve batida na porta. Me encolhi na poltrona apertando os olhos e abraçando os joelhos.


– Posso entrar querida? – perguntou Esme, abrindo uma pequena fresta na porta.


Soltei um suspiro longo e assenti. Ela silenciosamente cruzou o quarto e sentou-se na beirada da cama, de frente para mim.


– Escute, Nessie, sei que está chateada, mas não devia falar assim com seu avô, ele só estava preocupado com você. Assim como todos nós. – ela uniu as delicadas sobrancelhas em repreensão, seu tom era maternal.


– Sei disso. Sinto muito. – murmurei com sinceridade, os olhos fixos no chão.


– O comportamento de Emmett também não tem sido dos melhores, no entanto, quanto a isso eu não posso fazer nada, afinal foi uma orientação de Edward e sendo seu pai, ele tem esse direito.


Então ela achava justo que Emmett me atormentasse desde que meu pai estivesse de acordo. Onde está a justiça quando se precisa dela? Encarei minha avó com os olhos repletos de indignação.


– Como pode ser condescendente em relação a isso?


– Talvez seja pedir demais que você veja pelo nosso ponto de vista, mas, querida, há uma razão por trás dessa atitude. Você e Jacob são muito jovens, inconsequentes, pensam que as coisas se resolvem de modo fácil, mas não. Algumas decisões atraem males irreversíveis e essa união de vocês é uma delas.


Senti meus músculos retesarem, permaneci em silêncio. Ela então abriu um sorriso caloroso.


– Meu bem, não pense que quero separar vocês dois. Só não quero que tome uma decisão sem antes considerar todos os aspectos. Sendo uma Cullen, desde cedo lhe ensinamos a ser meticulosamente responsável por seus atos. Jacob é um bom rapaz e por diversas vezes ajudou nossa família, – sua testa se vincou com alguma lembrança – mesmo na época em que havia uma rivalidade mais acentuada entre nossas espécies. Ele é alguém de minha inteira confiança. Mas é apenas humano.


– Apenas humano? – ergui uma sobrancelha.


– Tudo bem. Esqueça o apenas, – ela maneou a cabeça concordando. – mas ainda assim, um humano. Os laços entre vampiros são muito fortes, eu diria que incapazes de se desfazer por conta própria. Quando escolhemos um parceiro, será aquele para sempre. Os humanos não... são assim. Começam e terminam relacionamentos a toda hora, poucos são capazes de assumir esse tipo de compromisso eterno.


– Está me dizendo que os humanos não conseguem ser fiéis?


Ela riu.


– Não precisa ser tão radical. Acho que os relacionamentos humanos se desgastam com mais facilidade. Tome por exemplo seus avós Renée e Charlie.


Franzi o cenho ao constatar que conhecia poucos casais humanos que deram certo. Vasculhei minha memória e conclui que eu não estava sendo justa em meus cálculos.


– Sam e Emily! Jared e Kim, Paul e Rachel. Todos garotos quileutes. Isso deve contar a meu favor. – assinalei sorridente.


Esme sorriu em resposta.


– Deve contar sim.


– Ponto para mim, então! – Suspirei grata pela conversa tomar um rumo mais leve.


– Você é igualzinha ao seu pai. Quando Edward conheceu Bella todos nós ficamos muito preocupados. Com tantas vampiras interessadas, ele teve de escolher justamente a uma humana! Mas no fim deu tudo certo e veja só que presente maravilhoso eles nos deram. – ela gesticulou em minha direção.


– Ah vovó... – murmurei emocionada e fui para o seu colo.


Esme me abraçou afetuosamente.


– Não se preocupe Nessie. De algum modo, vai dar tudo certo.


– Eu sei que sim. Jake faz tudo ficar tão perfeito, que eu não consigo temer nada quando ele está por perto. Não posso sentir algo tão forte assim por mais alguém. Eu sinto que... ele é a pessoa certa para mim. – afastei meu rosto para olhá-la.


Esme me encarou com compreensão e depois uma expressão estranhíssima atravessou seu rosto.


– Renesmee – ela recomeçou subitamente constrangida – não quero ser intrometida, mas...


– Pode falar. – encorajei.


– Você e o Jacob...


– Eu e o Jacob...?


– Er... você e o Jacob já...


– O que? Ai, fala logo que eu já estou ficando nervosa!


– Eu quero saber se você e o Jacob já transaram!


– Ah! Ah... – paralisei em choque enquanto as palavras entravam em me sistema nervoso começando a fazer sentido.


Primeiro fiquei incomodada, imaginando de onde ela tirou aquela idéia absurda, porém no segundo seguinte um calor dominou meu corpo enquanto eu me envaidecia com a possibilidade, até então inexistente aos meus olhos. Alguns flashes da cena que nunca aconteceu passaram pela minha cabeça, de forma bagunçada, incoerente, minha imaginação não era tão fértil para me permitir ir muito longe.


– E então? – ela insistiu ainda envergonhada, com a voz não passando de um sussurro.


– Não. – respondi devagar, ainda perplexa. – De onde tirou essa idéia?


– Me desculpe, eu deveria mesmo saber, querida. Foi muito tolo de minha parte. – ela se mexeu inquieta na cama, completamente sem jeito. – Onde já se viu dar ouvidos às histórias de Emmett...


– O QUÊ?! Emmett anda espalhando isso por aí? – levantei da cama indignada e comecei a andar em círculos pelo quarto. – Agora ele vai se ver comigo! Vai conhecer a fúria de Renesmee Carlie Cullen!


– Calma, não foi bem assim. Sabe como o seu tio é bobo, ele apenas insinuou em uma de suas brincadeiras algo sobre você e Jake passarem horas, sozinhos, num elevador... O erro foi meu em acreditar que...


– Horas? Foram apenas quinze ou vinte minutos, e o elevador quebrou! Não planejamos isso. – justifiquei alarmada.


– Tudo bem, querida. Está tudo bem. – ela se levantou e me segurou pelos ombros de forma gentil, porém eficaz. – Esqueça essa história, eu nem teria perguntado se não fosse tão prematuro. Sei que você é sensata o suficiente para deixar isso para daqui a algum tempo.


– Não acredito que estamos tendo essa conversa. – murmurei entre os dentes trincados jogando a cabeça para trás.


– Desculpe se não é o momento certo. É difícil saber, essa nunca foi uma preocupação que tive em relação aos meus filhos. Eu não devia deixar meus instintos maternais me dominarem. – Esme largou meus ombros um pouco decepcionada.


– Vovó, não fique assim.


Toquei o rosto dela “Eu adoro seus instintos maternais. Obrigada por se importar, mas pode ficar tranquila, não vou fazer nenhuma besteira”. Ela sorriu e me fechou em um abraço pétreo.


– Obrigada, querida. É muito gentil de sua parte. – ela disse emocionada e então me soltou. – Ande, vá ver Jacob.


– Como? – perguntei admirada, a esperança já estampada no meu rosto e em minha voz.


– Isso mesmo. Pode ir a La Push.


– Poxa! – soltei um riso curto de choque, dei um passo na direção do meu casaco, depois voltei à Esme, ainda sem acreditar. Eu não me permitiria ter esperanças para ser brutamente interceptada depois – Mas... E o Emmett?


– Deixe comigo, ainda sou a mãe. – lembrou-me ela sorrindo ligeiramente presunçosa.


Assenti grata, peguei meu casaco e desci, Esme permaneceu como uma sombra atrás de mim, eu nem teria percebido se não estivesse atenta, esperando alguma intervenção. Atravessei a sala, ainda vazia, e avancei sozinha para a garagem. Entrei no carro, e respirei fundo girando a chave.


– Hey! Hey, garota, onde pensa que vai? – Emmett praticamente se materializou ao meu lado, colocando a cabeça na janela do carro.


– La Push. – sorri convencida.


– Gostei de ver a insistência. Você é das minhas! – ele sorriu visivelmente animado.


– Se não se importa, eu estou com um pouquinho de pressa.


– Só pode estar brincando. É melhor entrar e se conformar, hoje você vai ficar sem dar uns pegas no lobo.


– Emmett, isso não é jeito de falar. – Esme reapareceu sendo oficialmente nomeada o anjo do dia. Na certa estava esperando chegar a hora certa para intervir e torcendo para que não fosse preciso, ela detestava fazer o papel de repressora. – Renesmee tem a minha permissão para ir até La Push esta noite.


– Não pode fazer isso! – Emmett gemeu em protesto. – Edward confiou a mim o dever de proteger a honra e a virtude da minha sobrinha.


– Não dramatiza. – murmurei sentindo minhas bochechas esquentarem.


– E perder a chance de causar isso? – ele gesticulou em minha direção – Sem essa! – Emmett é inacreditável! Mesmo na eminência de perder seu poder supremo, ele ainda conseguia se divertir às minhas custas.


Mostrei a língua para ele, que fez uma careta em resposta.


– Onde está a educação de vocês? Emmett deixe a Renesmee em paz. Não se preocupe com Edward, eu me responsabilizo por ela.


– Você quem sabe. – ele cruzou os braços fazendo birra.


– Obrigada, Esme. – sorri grata.


– Seja responsável, não me decepcione. – disse ela. Um alerta de que nem sempre eu receberia aquele apoio. Por hora era tudo o que eu ousaria querer, então tudo bem.


Assenti e dei partida, avançando pela floresta escura a toda velocidade rumo a La Push. Uma fina neblina caía, contudo isso não estragaria a noite.


Eu me sentia estranhamente nervosa e agitada. Talvez graças à inesperada dificuldade para cumprir minha singela missão de ir ao encontro dele. Deveria haver algum tipo de lei que garantisse às pessoas que se gostam o direito de estarem perto. A idéia de desperdiçar uma chance sequer de vê-lo me dilacerava. Eu precisava estar perto, precisava que ele visse em meu rosto o quanto o simples fato de ele existir me fazia feliz, e encontrar no olhar dele bem mais do que eu poderia pedir, toda aquela devoção e respeito, todo aquele amor. Jacob dava sentido à minha existência, como se eu houvesse nascido apenas para fazê-lo feliz.


As árvores passavam cada vez mais rápidas por mim, enquanto, já próximo da velocidade máxima, o ponteiro relutava em avançar. Preferi me manter nos cento e oitenta por hora. Já podia avistar as primeiras casas da reserva, logo elas também passaram por mim como jatos, feito todo o resto. O carro realmente era bom, especialmente porque eu amava toda forma de velocidade, me trazia uma sensação de liberdade. Isso eu herdei de Edward.


Parei diante da familiar casa vermelha e instantaneamente mil imagens vieram à minha mente. Fazia tanto tempo que eu não ia ali, aquela casinha era como um segundo lar, eu me sentia tão bem lá quanto eu me sentia na mansão de meus avós. Antes que eu desligasse o motor, Jacob surgiu na porta e disparou em minha direção com o sorriso imenso que eu esperava. Sim, era por isso que eu estava ali.


– Nessie! – Meu coração martelou dentro do peito ao ouvir a alegria com a qual ele pronunciava meu nome.


– Jake! – Saltei do carro direto para os braços dele.


Havia algo que me admirava. Não importava se eu não via Jacob há semanas ou há apenas algumas horas, minha alegria era sempre a mesma ao reencontrá-lo. Vê-lo nunca era algo banal, sempre me trazia uma série de sensações magníficas. Jacob me apertou em seu tradicional abraço de urso e me girou em um círculo.


– Incrível! Eu sabia que você conseguiria! – ele pareceu impressionado, mas acima de tudo satisfeito com o êxito de minha tarefa.


– Pois é. Atropelei cinco filhotes de esquilos para chegar até aqui.


– Espero que a guarda florestal não tenha anotado a placa.


– Não se preocupe com isso. – lancei um olhar rápido para o carro e depois sorri para Jacob. – Acho que passei dos duzentos por hora.


– Tem certeza de que foram só cinco esquilos? – ele arregalou os olhos com um falso espanto.


Nós dois rimos e então Jacob segurou meu rosto gentilmente entre suas mãos, os olhos repentinamente penetrantes, vendo direto em minha alma, tentei inutilmente reprimir um sorriso enquanto eu já me colocava na ponta dos pés. Ele sorriu com minha tentativa pouco produtiva de alcançá-lo e se curvou beijando meus lábios. O beijo foi diferente dos últimos, não havia aquela urgência avassaladora, era mais calmo, mais doce, mais gentil. O efeito sobre mim, porém, era o mesmo. Senti minhas pernas bambearem. Decidi que eu não me espantaria mais com o ritmo implacável de meu coração, sempre que eu estava com Jake ele martelava como uma bateria de escola de samba. Nossos lábios continuavam a se mover de forma harmoniosa quando eu senti um leve ardor surgir em minha garganta. Antes que eu pudesse refletir sobre isso Jacob terminou nosso beijo e colou os lábios macios e quentes em minha bochecha.


– Vamos? – sua mão se enroscou na minha me distraindo de qualquer outro pensamento.


– Claro. Billy vem conosco?


– Ele já está lá. Todos estão. – Jake sorriu e me conduziu em um giro como em um passo de dança – Só está faltando a primeira dama aqui.


Eu ri baixinho me aninhando em seu peito enquanto caminhávamos na direção do carro de Jacob.


– E esse alfa aqui também. O meu alfa. – sussurrei com certa reverência, encantada com a profunda verdade em minhas palavras.


Jacob revirou os olhos fazendo pouco de minha observação.


– Sou simplesmente seu Jacob. – ele me beijou nos lábios e então contornou o Rabbit para abrir a porta para mim.


– Ora, não tente desmerecer isso. Gosto de você ser o alfa. Combina com essa postura, esse porte majestoso que você tem. Eu diria até que um tanto esnobe. – expliquei e entrei no carro.


– Esnobe? – ele repetiu cético.


– Isso mesmo. De todo modo, você combina mais com o cargo do que Sam. – acrescentei.


Jacob sentou no banco do motorista sacudindo a cabeça discordando. Dei de ombros.


– É o que eu acho. Claro que a opinião de uma garota apaixonada não deve valer mais nada. – murmurei cruzando os braços.


– Muito pelo contrário, para mim é a única que importa. – ele puxou minha mão e a beijou. – Só falta essa garota largar de ser tão tendenciosa.


Repousei a cabeça em seu ombro enquanto ele dirigia até o local da reunião.


– Você de verdade não tem noção do quão maravilhoso é ou isso faz parte do charme todo? – indaguei após um minuto.


Jake riu alto e pareceu pensar na resposta.


– É. Faz parte do charme.


Tive a impressão de vê-lo corar, mas era difícil dizer com certeza. Desisti, ele não me levaria a sério.


– Não me contou como conseguiu se livrar do Emmett. Será que já deram por sua falta? Eu queria ver a cara dele quando descobrisse...


– Na verdade... Não estou aqui foragida. Esme me deixou vir.


Ele me olhou parecendo verdadeiramente surpreso, piscou duas vezes depois voltou a olhar para a estrada.


– Por essa eu não esperava.


– É. Nem eu. De qualquer forma a expressão frustrada do Emmett foi impagável.


Mostrei para ele a cena e Jacob riu aos uivos.


– Isso com certeza o irritou.


– Sinal de que ele vai nos atormentar em dobro de agora em diante. – reclamei.


Avistei uma aurora laranja subindo por entre as árvores logo adiante. Jacob estacionou e descemos.


– Não se preocupe com isso agora, amor. – ele me puxou para perto pela cintura – Estamos aqui e estamos juntos.


Olhei no fundo dos olhos dele. Jake estava coberto por uma aura bastante sólida de paz e confiança, ele parecia excepcionalmente feliz naquela noite, e eu me sentia imersa na felicidade dele. Não importava mesmo o que Emmett faria ou as explicações que eu ficaria devendo ao meu pai. Eu estava com Jacob. Sortuda, feliz e realizada.


– Olha só quem chegou! – me virei na direção da voz empolgada.


– Seth! – sorri contente em vê-lo e trocamos um abraço.


– Que bom que veio! – ele recuou um passo e me olhou

assustado, depois lançou um rápido olhar para Jacob. Meu namorado deu de ombros. – É, Nessie, você realmente cresceu alguma coisa. – Seth acrescentou relutante.


– É a ordem natural das coisas. – comentei um tanto impaciente, eu já estava saturada de comentários do tipo “Nossa, como você cresceu”, começava a parecer bem próximo de “Poxa, Nessie, você ainda está envelhecendo.”


Jacob apertou minha mão e passamos a caminhar na direção da grande fogueira.


– E desde quando nós seguimos a ordem natural das coisas? – Seth murmurou bem humorado indo para o lado de Jacob e dando-lhe um soco no ombro. – Jake, e aí cara!


Jacob o empurrou de leve.


– É bom não terem acabado com toda a comida, ainda.


Seth riu e disparou em nossa frente.


– É melhor eu verificar isso.


O vi se afastar enquanto eu decidia mentalmente que o próximo a dizer que eu havia crescido um milímetro sequer perderia um braço.


– Você está perfeita. – Jacob sussurrou em meus cabelos.


Lutei para não sorrir, mas não obtive êxito.


– Espera aí! Desde quando você pode ler mentes, Jacob Black?


– É fácil ver que tem alguma preocupação boba se instalando nessa sua mente fértil.


Não tem muito que você não saiba sobre mim, não é?’ indaguei tocando seu braço.


– É. Mas eu não sei, por exemplo, por que mesmo você ainda não me deu um beijo desde que chegamos.


Sorri e me estiquei para tocar o rosto dele.


‘Vem cá, vem.’


Ele se inclinou me beijando e eu o puxava para mais perto, nossa caminhada reduzida a um rastejar indistinto. Uma rajada de vento nos atingiu, tornando a temperatura do corpo de Jake ainda mais agradável. Estalei um pequeno beijo em seus lábios e passei meus braços por sua cintura.


Um sorriso brincou nos lábios dele e senti minhas bochechas pinicarem enquanto Jacob me fitava maravilhado.


– Vamos logo, Jake. Ou vão pensar que nós fomos devorados por ursos.


Andei na frente o puxando pela mão e então não havia mais árvores no caminho, pude ver a grande turma ali reunida. Paralisei quando me deparei com uma média de vinte e cinco pessoas distribuídas de forma irregular ao redor da grande fogueira que trocavam conversas descontraídas até que eu e Jake surgimos em seu campo de visão, a partir daí todos pararam o que estavam fazendo para nos olhar. Um silêncio total repousou sobre o penhasco por um instante que parecia interminável. Era desconfortável ser vítima de todos aqueles olhares. Não pelo ato de olhar, mas pelo modo como a maioria nos olhava - excessivamente especulador. Jacob pigarreou e a reação pareceu coreografada, como se ele apertasse o botão play e então todos estavam liberados do quadro aterrorizador e intimidador que formavam, voltando assim a ser apenas uma roda de amigos descontraída e leve.


Jake tomou a frente me conduzindo até o lugar onde ficaríamos e eu procurei focar os rostos mais familiares. Billy, com sua cadeira de rodas estacionada ao lado do velho Quil, parecia entretido com algum relato que o amigo lhe fazia. Sam tinha sua esposa, Emily, aconchegada em seus braços. Surpreendi-me ao ver o tamanho da barriga de Emily, mais grávida do que nunca, já devia estar próxima do oitavo mês de gestação. Ela nos sorriu e eu acenei timidamente com a mão, temendo fazer algum movimento brusco que paralisasse o cenário de novo. Sem aviso prévio fui atacada por uma garotinha, que se agarrou à minha cintura com bastante entusiasmo. Claire.


– Oi Claire! Como você está? – tentei mostrar a mesma empolgação e fiquei grata por ser mais fácil do que eu imaginava, mesmo depois de tanto tempo, meus laços com aquela turma ainda estavam bastante firmes.


– Renesmee, você está linda! – ela pendeu a cabeça para trás para me olhar, ainda agarrada à minha cintura.


– Ah, obrigada. Você também está muito linda.


– Gostou? – ela me soltou para girar exibindo seu vestido verde repleto de flores. – Foi o Quil quem me deu.


– É muito lindo.


– Hey! E eu não vou ganhar um abraço? – Jacob fez uma careta fingindo decepção.


– Claro que vai, Jake, seu bobo!


Ela abraçou Jake e depois pediu que ele se abaixasse. Jake se ajoelhou e ela colocou as mãos em forma de concha no ouvido dele como se estivesse contando um segredo. Não pude deixar de rir com a cena. Lembrei-me da época em que eu e Claire éramos inseparáveis, uma duplinha impossível, era como Quil e Jacob se referiam a nós. Mas isso foi há muito tempo, ela agora era uma esperta garota de nove anos e eu disparei no tempo estando agora em um corpo de dezessete. Numericamente, Claire era mais velha do que eu, o que tornava tudo mais bizarro. Preferi deixar esse pensamento de lado.


– Jake, é verdade que você e a Nessie estão namorando? – ela cochichou como se nenhum de nós pudesse ouvir.


Nessa hora me dei conta de que eu e Jacob não tínhamos nomeado nosso relacionamento. Fiquei atenta à resposta cruzando os dedos para que ele dissesse sim.


– Se eu disser você promete não contar para ninguém?


Ela assentiu rápido.


– Estamos sim. – Jacob confidenciou dando continuidade à cena, mas não me passou despercebida a alegria com a qual ele admitia nosso romance, isso me aqueceu por dentro.


– Ah, Jake! Mas já está todo mundo sabendo! – ela gritou e depois correu sorridente para o lado de Quil.


Jacob me lançou um olhar divertido e eu agarrei seu braço apoiando minha cabeça em seu ombro, levemente constrangida.


– Olha só quem voltou. – disse Jared, ele e Embry se aproximavam. – A única vampira que pisa em nossas terras e sai incólume.


Senti o corpo de Jacob enrijecer ao meu lado.


– Tente não ser idiota por uma noite, Jared.


– Você disse tentar. – respondeu Jared, sem se deixar abalar.


– Parece uma tarefa difícil. – eu encarei Jared, não importava o quão frequente era minha presença na tribo quileute, ele sempre tinha algum comentário impertinente a fazer. Eu começava a desconfiar que houvesse alguma rixa pessoal ali.


Ele sustentou meu olhar ainda de forma superior.


– Não vale se a vampira também é humana. – Embry advertiu e gesticulou em minha direção de forma amistosa. – Fala Ness!


– É... Talvez seja por isso. Ou talvez porque ela esteja sob a proteção de um alfa. Aposto que se não fosse isso Jake seria o primeiro a se opor...


– Cala essa boca. – Jacob acertou um soco no rim de Jared no que eu, sem titubear, classificaria como agressão, no entanto, Jared se afastou sorridente indo sentar ao lado de Kim.


– Não esquenta com isso. – Embry piscou para mim e seguiu o amigo.


– Embry tem razão, ignore o Jared. É o que eu faço. – Jacob tocou o local onde surgia uma pequena ruga tensa entre minhas sobrancelhas unidas.


– Eu não sei Jake. Talvez ele tenha razão.


– Como? – seus olhos se estreitaram sob as sobrancelhas espessas.


– Poxa, Jake. Eu sou uma vampira! – exclamei aos sussurrou e depois olhei em volta para me assegurar que ninguém estava vigiando nossa conversa.


– Meio vampira. – ele corrigiu rápido.


– Você entendeu o que eu quis dizer. Não pode me trazer aqui e querer que todos me aceitem... Como se eu fosse uma... Uma humana. – minha voz falhou na última palavra e eu encarei o chão.


– Mas você é humana.


– Meio humana. – sorri amarga, sentindo um nó se formar em minha garganta.


– Ei, do que está falando? – ele ergueu meu rosto para me olhar frente a frente. O que quer que tenha visto ali o deixou nervoso. – Nessie, meu bem, não fica assim. – Ele me puxou e eu me choquei contra seu peito, aceitando seu abraço. – Todo mundo aqui gosta de você. Até mesmo o Jared, acredite. Ele só faz isso para testar minha paciência.


– Não é o que parece. – sussurrei, a voz saiu abafada em seu peito.


– E Kim, a garota dele? Vocês são amigas.


– É. Acho que ela gosta de mim.


– Como alguém poderia não gostar?


– Tudo bem. Acho que é bobagem minha. Não sei o que me deu. Desculpe-me.


– Deixa isso pra lá.


– Ei, Jake! Salvei alguma coisa. – Seth atirou um espeto improvisado e um pacote gigante de fritas em nossa direção.


A noite passou de forma confortável e simples. Era assombrosa a velocidade com a qual os lobisomens conseguiam devorar uma quantidade absurda de comida, eu me limitei a comer um ou dois cachorros-quentes, enquanto Jacob e Paul disputavam o último pacotão de fritas sobrevivente.


Minhas preocupações sobre não ser aceita realmente não tinham fundamento, em alguns minutos o restante da tribo parecia desconsiderar o fato de ter uma semi-vampira entre eles e logo eu estava envolvida nas conversas de maneira natural, como se eu de fato fizesse parte daquele grupo. E de certo modo eu fazia, porque se aquele era o lugar de Jacob, também seria o meu. Tive bastante tempo para saber das últimas de La Push. Emily estava em júbilo planejando os detalhes do chá de baby que ela promoveria para o primeiro filho dela e de Sam. Eu me empolguei dando algumas sugestões, a convivência com Alice me conferiu certa desenvoltura com festas e qualquer tipo de celebração, Emily ouviu tudo com bastante entusiasmo e interesse. Kim também estava exultante graças ao noivado com Jared. Collin estava cheio de si, pois ganhou um violão de seus pais e agora se considerava um músico. Seth fez questão de ver por minha perspectiva os detalhes da viagem ao Brasil, dizendo que nos pensamentos de Jacob o foco era outra coisa bem diferente da paisagem. Todos estavam alegres com as realizações pessoais de cada um, como se fossem uma grande família, onde todos os destinos estavam fortemente entrelaçados e o bem estar de cada um, gerava um bem estar coletivo. Inclusive meu namoro com Jacob foi citado como motivo de comemoração, conforme ele prometera os garotos não deixariam passar. Collin até nos dedicou uma música romântica, o que me fez rir, mas acima de tudo ficar vermelha como um pimentão.


Só havia uma figura que destoava da felicidade geral, Leah Clearwater. Evitei encará-la, embora indisfarçadamente ela não tirasse o olhos de mim e Jake. Ela alternava olhares indiferentes com olhares homicidas e suas mãos estavam fechadas em punho tremendo ligeiramente, me perguntei se minha presença ali – graças à minha parte vampira - dificultava que ela mantivesse o controle. Mas se era assim, porque só ela parecia prestes a explodir em um lobo gigante? Isso não reteve minha atenção por muito tempo, afinal, Jacob estava ali e não há muito que me distraia do sorriso dele, do menor contato que seja entre nossas peles, da voz grave e rouca que ele tem, do seu olhar que derrete minha alma, e eu tive tudo isso naquela noite.


Queria ficar acordada a noite toda junto a eles. Porém o dia foi bastante longo. Eu podia sentir o cansaço me dominando aos poucos e já estava sonolenta quando Jacob me carregou até seu carro, depois rebocou Billy. Devo ter dormido mesmo, porque nem percebi a troca dos carros, quando acordei estava no banco de trás da minha Mercedes. Pisquei duas vezes ainda me orientando. O carro deslizava de forma suave na pista vazia através da neblina. Estava frio. Sentei inclinando o corpo para frente e estalei um beijo no pescoço de Jacob.


– Pensei que fosse passar a noite na sua casa. – murmurei após um bocejo.


– Do jeito que está caindo de sono? – ele riu de leve antes de continuar – Vai ser melhor para você dormir na casa dos seus avós.


– O melhor para mim é ter você por perto. – falei apoiando o queixo no ombro dele. –Queria que ficasse comigo.


Jacob examinou minha expressão antes de responder. Ele suspirou pesado, então pendeu a cabeça para o lado apoiando o rosto no meu.


– Eu ficaria se pudesse.


– Sei disso. Mas não consigo deixar de imaginar.


Passei meus braços em volta do peito dele, o abraçando com cadeira e tudo.


– Opa. Está me assediando? – ele perguntou fingindo espanto.


– Hã... Acho que sim.


Ele me sorriu bonito. Certo que não existia uma maneira dele sorrir que não fosse linda. Sorri em resposta e deslizei as mãos pelo tórax dele gostando da brincadeira um pouco mais do que devia. Senti Jacob estremecer quando a ponta dos meus dedos encontrou a barra da sua camiseta deslizando suavemente por baixo dela. Subi novamente acompanhando o desenho de seu corpo bem definido. Minhas unhas correram ligeiramente seu abdômen e ele riu se contraindo na direção do assento. Ri da reação dele e intensifiquei as cócegas. Ele explodiu em uma risada em meio a protestos, tentando desviar do meu ataque, em vão. Não pude deixar de rir com ele.


– Está querendo nos matar, é? – brincou.


Parei com as cócegas, mas mantive minhas mãos em baixo da camisa dele e o abracei de novo.


– Não acho que essa seja uma tarefa fácil. – lembrei.


Ele franziu o rosto por um segundo.


– E não é mesmo. – concordou endireitando os ombros, prepotente.


Nós dois rimos.


Aconcheguei-me no ombro dele e rocei meus lábios no seu pescoço. O cheiro dele me empolgava, então fui subindo em beijos até a orelha, mordiscando o lóbulo de leve. O carro freou de repente. Apertei a cintura de Jacob para não voar para trás.


– Você. Definitivamente. Está querendo nos matar. – ele acusou sério, mas logo um sorriso cresceu em seu rosto denunciando que ele havia gostado da investida. – Vamos deixar isso para outra hora, certo?


Assenti comprimindo os lábios. Jacob deu partida avançando na estrada escura.


– Mas isso vai ficar aqui. – movi minhas mãos indicando que me referia a elas.


Ele sorriu e beijou meus lábios rapidamente.


– Como quiser, madame.


Ficamos no nosso familiar ‘silêncio confortável’ até chegarmos à garagem da mansão Cullen. Relutante, soltei Jacob e saí do carro. Ele me seguiu.


– Como você vai voltar para casa?


Ele me olhou de forma sugestiva, como se eu estivesse deixando algo óbvio passar. E eu estava.


– Ah. Claro. – franzi o lábio decepcionada.


Se Jacob não pudesse se transformar em um lobo gigante, não teria como voltar para casa. Consequentemente teria de dormir aqui e ninguém argumentaria contra.


Sem aviso prévio ele me abraçou, me levantando num aperto quente, forte e esmagador. Também o abracei o mais forte que pude e afundei meu rosto entre seu ombro e pescoço, aproveitando ao máximo seu cheiro. Um leve ardor voltou a incomodar minha garganta e então lembrei, eu estava sem caçar a alguns dias. Não era nada demais, significava apenas que eu deveria ficar atenta. Jacob não tinha o melhor cheiro do mundo como também tinha um sabor irresistível, eu lembrava bem do gosto. E não era que eu não conseguisse me controlar tendo em vista que o machucaria, a propósito, meu autocontrole era impecável. O problema é que eu sabia que Jacob não se importaria. Bom, talvez se importasse, mas não se chatearia comigo por isso, afinal ele foi acostumado a ceder uma generosa parcela de seu sangue às minhas crises de garota mimada. Mordi o lábio para não morder outra coisa.


– Já... Chega Jake. – murmurei engasgada.


Jacob me soltou.


– O que foi? – ele me segurou pelos ombros me avaliando da cabeça aos pés como se temesse ter me machucado.


– Não foi nada. Esqueci que estou sem caçar a algum tempo. – respirei fundo pegando uma boa quantidade de ar puro. – Melhor evitar a tentação.


O rosto de Jacob se vincou em uma careta.


– Desde quando isso é problema para você?


– Desde quando eu percebi que isso te machucava. Além disso, eu não tenho mais idade para sair mordendo todo mundo por aí.


– Não estou falando de todo mundo.


– Você é um lobinho bonzinho demais. Me leve para caçar amanhã e problema resolvido.


Emmett entrou na garagem, como se já não chamasse atenção naturalmente vinha aos gritos e batendo palmas.


– Tudo bem, crianças, acabou o recreio! Tio Emmett está de volta ao comando.


– Boa noite, Ness. – Jacob me abraçou mais uma vez ignorando Em, segurou meu queixo e me deu um beijo de despedida.


– Até amanhã. – murmurei e ele disparou para a chuva desaparecendo no bosque.


Emmett passou o braço pelos meus ombros me acompanhando até meu quarto.


– Sabe que me deve explicações, garota. Não está nas regras pedir ajuda à vovozinha. Somos apenas eu, você e o lobo no jogo. E já são dois contra um!


– Jogo? – repeti sarcástica.


– Sabe a vida aqui era um tédio antes de Bella aparecer. – ele cochichou mudando completamente o tom da conversa – E voltaria a ser um tédio agora que ela está toda metida com seus poderes de super vampira, mas, caramba, Nessie, você precisava ver como sua mãe era hilária! – ele riu baixinho.


Pensei um pouco a respeito. Eu não conseguia imaginar minha mãe, aquela vampira gloriosa, tropeçando nos próprios pés como meus tios sempre contavam.


– Aonde quer chegar?


– Você é o brinquedo novo. – ele assegurou travessamente.


Dei um soco em seu ombro, e ele riu. Não o levei a mal, de alguma forma eu podia entender. Abri a porta do meu quarto, mas parei antes de entrar.


– Emmett, que horas são?


– Duas e meia, por quê?


– Já é o aniversário da mamãe. – lembrei saudosa. – Talvez eu deva ligar para ela.


– Agora?


– Muito cedo para comemorar? – mordi o lábio, indecisa.


– Na verdade, Ness, acho que ela já está comemorando. – Emmett explodiu em uma gargalhada.


Bati a porta e me joguei na cama antes que ele acrescentasse mais alguma observação que definitivamente não era do meu interesse.










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