Eternal Flame escrita por bandolinz


Capítulo 41
3x14 - A Proposta


Notas iniciais do capítulo

Muito obrigada por cada comentário e recomendação!
Cada um deles é o que me motiva a levar a história adiante.

Sei que esse capítulo vai dividir muitas opiniões, mas acreditem, tudo é por uma razão.
Espero que gostem! .õ/

Música do capítulo: https://www.youtube.com/watch?v=URZeYWD-SlI



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– Não tenho nada para conversar com você. – aleguei puxando meu braço para fora do aperto dele, em vão.

Joham sorriu maliciosamente.

– Não poderia estar mais enganada, minha cara. Tenho uma proposta a lhe fazer e estou certo que é do seu interesse ouvi-la.

Comprimi os lábios tentando pensar em uma forma de fugir, o pânico dando seus primeiros sinais em minha mente.

– Seja lá do que se trate, prefiro ter essa conversa em minha casa, na presença de minha família. – fui firme, eu estava decidida a não deixar Joham perceber meu nervosismo.

Ele riu sombriamente, parecendo quase se divertir.

– Essa é uma conversa que prefiro ter a sós com você. – o vampiro me olhou lentamente de cima a baixo – Diga-me, Renesmee, você já está crescida... Uma mulher. Não está cansada de sempre procurar pelo consentimento dos demais membros de seu clã para tomar suas decisões?

Ele não esperou minha resposta.

– O que desejo, bem como o que tenho a oferecer diz respeito a você apenas. Não vejo motivo para deixar os demais Cullen interferirem em nosso acordo.

– Não tenho nenhum acordo com você.

– Ainda.

Respirei fundo, olhando discretamente ao meu redor, gritando por Edward em meus pensamentos.

– Sei o que está fazendo. – Joham falou com uma voz suave, porém ligeiramente aborrecida. – Está esperando que Edward leia seus pensamentos e venha até nós, contudo, jovem Renesmee, está esquecendo de que sua mãe tem bloqueado seus pensamentos há semanas.

– Ela não está bloqueando os seus. Então o que quer que tenha em mente é melhor pensar duas vezes antes de fazê-lo. Logo, logo meu pai estará aqui. – estreitei os olhos encarando-o.

Joham sacudiu a cabeça lentamente rindo consigo mesmo, sua mão alcançando meu rosto sem aviso prévio.

Não preciso que Bella bloqueie meus pensamentos. Posso fazer isso por mim mesmo. Tenho replicado o dom de sua mãe e escondido meus pensamentos de Edward há semanas. Acredite em mim, seu pai não está a caminho. Ninguém está.

– Está blefando. – minha voz não passava de um suspiro. – Como você poderia...

Do mesmo modo que agora estou replicando o seu dom, foi a resposta de Joham.

Esse é meu dom. – ele completou em voz alta. – Enquanto eu estiver cercado por vampiros habilidosos, como os do seu clã, suas habilidades também serão minhas. Agora – ele falou calmamente, olhando para meus punhos rígidos – você tem duas opções: Ou continua calculando meios inúteis de escapar dessa conversa ou se acalma e ouve o que tenho a lhe oferecer.

Respirei fundo tentando controlar meus batimentos cardíacos.

– Quais as garantias de que você não vai fazer algo contra mim? – questionei.

– Nenhuma. – ele disse me soltando. – Você me ofende ao considerar que eu lhe faria algum mal, criança. Apenas sente-se e escute o que tenho a lhe dizer.

– Prefiro ficar de pé. – falei aliviada pelo simples fato de ter as mãos dele longe de mim.

– Se prefere assim.

Joham olhou distraído para o outro lado do rio. Segui seu olhar e vi um vulto passar por entre as árvores. A falsa tranquilidade que reuni a tanto custo se esvaiu em um instante. Ele não estava sozinho.

– Creio que seja do seu conhecimento o quão dedicado sou ao estudo da minha espécie... Da sua espécie. – ele começou – Por séculos tenho aperfeiçoado meu autocontrole a fim de poder ter relações sexuais com humanas, sem mutilá-las no processo, – confidenciou com um sorriso macabro – dando assim início ao grupo do qual você faz parte, híbridos de vampiros com humanos. Infelizmente muitas dessas humanas eram frágeis demais e apesar de meus cuidados, poucas delas foram capazes de trazer ao mundo meus pequenos milagres.

– Você é doente. – falei entredentes.

– Do que está falando? – ele se fez de desentendido – Não forcei nenhuma dessas garotas a nada, todas conceberam minhas crias por vontade própria.

– Elas não faziam ideia do que você era, do risco que estavam correndo. – acusei.

Joham riu alto.

– Vejo então que temos muito em comum, jovem Renesmee.

– Do que está falando?

– É um tanto perigoso para o garoto e a menininha estarem perto de você. Como é mesmo o nome dela? Ah, Catherine. Belo nome. Pobres humanos, tão vulneráveis e correndo riscos dos quais eles nem imaginam. Vê a ironia?

– Não se atreva a chegar perto deles. – ameacei subitamente furiosa.

– Isso vai depender de você. – o sorriso de Joham aumentou ao perceber que suas palavras estavam me afetando – Como eu dizia, com exceção ao seu pai, sou o único vampiro com autocontrole suficiente para criar híbridos. Infelizmente tem sido um processo lento e com muitas variáveis... Me levou quatro séculos para produzir apenas quatro híbridos. Para completar, Nahuel acabou por se revelar um desperdício de tempo, recusando-se a unir-se a mim, por conta de seu apego à mãe humana morta. Logo ele, meu único filho entre três garotas, – falou com sincero pesar – dono da habilidade singular de transformar humanos em vampiros. Habilidade essa que até este dia não consegui determinar se é derivada de seu gênero ou se é, de fato, seu dom.

“Após o nascimento de Nahuel, tentei encontrar outros vampiros com interesse pela ciência que pudessem juntar-se a mim em meus experimentos. O teste definitivo para caracterizar os híbridos de vampiros com humanos como uma raça independente é saber se os mesmos tem capacidade de reproduzir entre si. Tal teste seria ineficiente se não houvesse um híbrido com um diferente histórico genético para acasalar com um de meus filhos. Como deve imaginar, tive de proceder com bastante cautela para não chamar a atenção dos Volturi, pois não tinha certeza se eles aprovariam meu projeto. Logo, havia apenas uma limitada quantidade de vampiros nos quais eu poderia confiar e compartilhar meu segredo. Alguns deles se interessaram pela ideia, também encantados pelo conceito de uma nova super-raça, contudo nenhum teve a disciplina ou desenvolveu o autocontrole necessário.”

“Depois de perder um século lidando com vampiros incompetentes, incapazes de dominar seus instintos predadores, voltei a fazer meus experimentos por conta própria. Isso foi quando Cadence nasceu, – apontou – porém nunca desisti de encontrar outro vampiro com autocontrole e inclinado à experimentação como eu. Tendo isso em vista, pode imaginar o quão extasiado fiquei quando ouvi sobre sua família e soube de sua existência, preciosa Renesmee.”

Os olhos de Joham faiscaram em minha direção, suas íris vermelhas transbordando de fascínio, como se eu fosse um objeto valioso que ele acabara de arrebatar em um leilão.

– E olhe para você. – seus dedos pétreos tocaram meu rosto com gentileza, percorrendo lentamente o caminho de minhas têmporas até meu queixo, parando ali para erguer meu rosto – Eu mesmo não poderia tê-la criado de modo melhor. Tamanha beleza e graça... Tão pura, tão talentosa... Tão perfeita. Não tem ideia de quanto tempo esperei por você. –– sua voz não passava de um sussurro grave.

Eu estava nauseada e aterrorizada pelo toque dele, principalmente pelo nível de obsessão que Joham acabara de demonstrar. Seu deslumbramento beirava à loucura.

Dei um passo para trás, me afastando dele.

– Sei o que você quer e pode esquecer. Não vou dormir com Nahuel para realizar sua obsessão doentia. – falei enojada.

– Não quero que você simplesmente durma com Nahuel. Quero que tenha um filho dele.

– O que? – minha voz subiu duas oitavas em choque – O que te fez pensar que eu consideraria uma proposta tão insana? Essa conversa acabou. – eu disse, dando as costas para Joham.

O vampiro se colocou em meu caminho quase instantaneamente.

– Porque o que tenho a lhe oferecer é tão valioso para você quanto sua participação em meu experimento é para mim.

Eu estava tão irada, tão ultrajada que mal conseguia ouvir o que Joham tinha a dizer. Eu precisava sair dali, mas não tinha como lutar contra Joham e quem mais estivesse com ele. Eu só continuava torcendo para que alguém da minha família aparecesse e me resgatasse. Não era possível que em algum momento eles não sentissem minha falta. Estou tão perto de casa que se Bella deixasse de bloquear meus pensamentos, meu pai me ouviria facilmente.

Continuei gritando em vão por Edward em minha mente.

– Não quer ouvir minha proposta, Renesmee?

– Quero apenas que você me deixe ir. – soltei incapaz de continuar disfarçando meu nervosismo, eu odiava o rumo que essa conversa estava tomando e odiava estar perto de Joham, ainda mais a sós com ele.

– Sei como destruir os Volturi. – Joham falou me pegando de surpresa.

Encarei o pai de Nahuel atônita por alguns instantes, incerta de que eu o havia escutado corretamente.

– Isso mesmo Renesmee. Tudo o que você precisa fazer é cooperar comigo e eu lhe direi como acabar de uma vez por todas com o clã italiano. – repetiu confiante.

Pisquei hesitante.

– Está blefando.

– Não estou.

– Como você poderia ter uma informação dessas e não fazer nada a respeito? – sussurrei ainda sem acreditar.

– Eu estou fazendo. Estou lhe oferecendo essa informação em troca de algo mais importante para mim. Não tenho nenhuma razão em particular para querer me livrar do clã italiano. Ao contrário de você e sua família, que eu suponho, tenham muitas.

Joham parecia estar falando sério, contudo eu me recusava a acreditar. Me recusava a sequer cogitar a existência uma saída, a existência de um modo de destruir o clã que assombra minha família desde que nasci. Eu não queria acreditar, não queria encher meu coração de esperanças em vão, pois, se houvesse uma forma de me livrar dos Volturi, com certeza eu caçaria a mesma até o fim dos meus dias.

Entretanto, o preço que Joham estava cobrando era caro demais, era horrendo, absurdo.

– Não, eu não posso fazer isso. – falei balançando minha cabeça em negativa copiosamente – Eu não seria capaz.

Joham puxou meu braço abruptamente, perdendo a paciência.

– Ouça, criança, lhe dei uma chance de unir-se a mim de forma pacífica, se ainda assim você se recusa, temo que as coisas terão de ser feitas do meu jeito. Passei os últimos séculos de minha existência esperando por esse momento e agora que ele finalmente chegou nada irá me deter. Não será você, sua família patética, aquele garoto humano, seu lobo, nem mesmo os Volturi!

– Eu nunca vou me unir a você. – falei alto.

O aperto das garras pétreas de Joham ficou mais forte em meu braço, a ponto de começar a machucar. Se eu fosse apenas humana, meu osso já estaria quebrado a essa altura.

– Me solta. – disse tentando me desvencilhar dele.

– Sua teimosia lhe custará caro.

– Me solta! – repeti.

– E os primeiros a pagarem o preço serão seus queridos amigos humanos... –Joham começou a falar, mas foi interrompido por um lobo castanho avermelhado que saltou em nossa direção com um rosnar feroz, mordendo o ombro do vampiro que agora a pouco me ameaçava, atirando-o para longe.

Joham se recompôs em uma fração de segundo, equilibrando-se antes de alcançar o chão. O lobo Jacob se preparava para atacar novamente quando foi atingido por uma vampira que se atirou contra ele.

Foi tudo tão rápido.

– Jake! – gritei, correndo até eles.

O lobo atingiu o chão com uma pancada surda, bolando duas vezes e a semivampira, que agora eu reconhecia como Serena, a filha mais velha de Joham fazia seu caminho para ataca-lo novamente.

A interceptei saltando em suas costas, dando uma gravata em seu pescoço. Serena soltou um grunhido impaciente e se atirou de costas no chão, me fazendo receber todo o impacto. Jacob correu em meu auxílio, mas foi acertado por Joham, que voltava à briga.

Me debati com Serena, rolando pelo chão terroso, trocando tapas e golpes por alguns minutos até que finalmente consegui dominá-la. A algum custo, parei em cima dela com meus joelhos sobre seus braços e meu antebraço firmemente posicionado sobre o pescoço da meio imortal que ainda se debatia tentando escapar. Me dei ao luxo de checar o status da luta de Jacob e vi que Joham agora estava sem um braço, mas havia sido deixado para trás enquanto Jacob se precipitava em minha direção, provavelmente para me ajudar. O lobo ficou surpreso ao ver que eu havia dominado Serena e me atrevi a lhe dar um breve sorriso confiante.

Ele estava livre para lidar com Joham sem me ter como um peso morto.

Jacob virou-se de volta para seu alvo.

– Espere. – Joham ordenou com a voz firme, já com a posse de seu braço, colocando-o de volta.

Eu estava um pouco atrás de Jacob que rosnava de forma ameaçadora na direção do intruso à nossa frente.

– Me mate e tudo o que sei morre comigo. – Joham lembrou – Você nunca terá a menor chance de ficar em paz com o seu transfigurador.

Jacob me lançou um olhar confuso e eu vacilei.

Joham poderia até saber como destruir os Volturi, contudo jamais compartilharia essa informação comigo de forma gratuita, tampouco eu estava disposta a pagar o preço que ele pedia. Ainda assim, de repente fui arrebatada por uma inexplicável esperança de que, enquanto Joham estivesse vivo, eu poderia pensar em meios de arrancar essa informação dele.

Jacob encolheu as patas ficando em posição de ataque.

– Não, Jake! – falei depressa.

Pude ouvir o protesto em seu grunhido frustrado.

Lancei um olhar de advertência para Serena enquanto afrouxava o aperto em sua garganta e saía de cima dela.

– Não precisamos fazer isso, não hoje. – insisti.

O lobo ao meu lado fungou recuando sutilmente. Joham deu um meio sorriso, fazendo com que eu quase me arrependesse de minha decisão.

Serena já estava ao lado de seu pai, uma ira faiscando em seu rosto selvagem. Pelo visto ela não compartilhava do fascínio que Joham tinha por mim.

– Sábia escolha, jovem Cullen. – ele disse.

Em um piscar de olhos, Joham e Serena desapareceram floresta adentro.

Jacob me olhou insatisfeito, eu era capaz de ler até mesmo quando ele estava em forma de lobo a frustração e diversos questionamentos em sua expressão.

O lobo grunhiu e gesticulou com a cabeça para que eu subisse nele. Fiz o que ele pediu sem questionar, pois eu precisava do contato com seus pelos macios para me acalmar. As palavras de Joham ainda corriam selvagens em minha mente e havia muito que processar, contudo apenas um pensamento se sobressaia dentro do turbilhão em minha cabeça.

Há uma chance.

Há uma chance de destruir os Volturi.

Há uma chance... Para mim e Jacob.

No instante em que chegamos em casa, minha figura descabelada e suja de terra chamou a atenção de Bella que logo correu até mim para saber o que houve. Em questão de segundos todos os membros da família Cullen estavam reunidos na sala e eu comecei a lhes contar o que havia acontecido durante meu encontro com Joham, a proposta doentia dele, suas ameaças e, o mais importante de tudo, o que ele tinha a oferecer.

– Eu nunca deveria ter deixado sua mãe bloquear seus pensamentos. – Edward retrucou com pesar.

– Ele te machucou? – Rose perguntou e antes que eu pudesse assegurar que não, ela já estava ao meu lado me examinando com seus olhos e mãos.

– Isso foi Serena, não Joham. E eu estou bem. – garanti.

– Essa é a minha garota! – Emmett falou olhando minha figura descabelada com grande admiração.

– Tais experimentos, tamanha paciência e dedicação ao longo de séculos... O que Joham está tentando fazer é sem precedentes na história de nossa raça. – Carlisle ponderou.

– Por que diabos você não me deixou acabar com ele quando tivemos a chance? – Jacob questionou furioso, os tremores em suas mãos haviam começado no minuto em que mencionei a proposta de Joham e não haviam parado até agora.

– Precisamos fazer alguma coisa, esse vampiro não pode continuar a solta. – Jasper concluiu.

– Será que vocês estão perdendo o ponto principal aqui? Joham sabe como acabar com os Volturi. – repeti, dando mais ênfase dessa vez.

– Uma ova que...

– Não pode ser tão inocente ao ponto acreditar em algo assim, Renesmee. – Rosalie disse calmamente, interrompendo Jacob. – Sabemos do que esse monstro é capaz para conseguir o que quer.

– Esperem. – Alice se manifestou pela primeira vez desde que cheguei – Precisamos ao menos considerar a hipótese de Joham estar falando a verdade.

– Se for verdade, e daí? Vocês pretendem oferecer Nessie em troca de uma informação estúpida? – Jacob grunhiu entredentes.

– Claro que não, isso está fora de questão. – Bella assegurou.

– Tudo bem, talvez Joham esteja inventando tudo isso. Por outro lado, se há a menor possibilidade de acabar com os Volturi, caso ele possua essa informação, nós temos que descobrir. – Alice insistiu recebendo os mais diversos olhares como resposta – Agora não estou dizendo que devemos fazer o que ele quer, mas quem sabe podemos pensar em alguma outra maneira de conseguir essa informação. Caso ela exista.

– Concordo com a tia Alice. – falei.

– E os Lefroy? Como ficarão nisso tudo? – Esme questionou.

– Eles precisam ser protegidos. Talvez um de nós pudesse ficar de olho neles. – Bella sugeriu.

– Não podemos bancar os cães de guarda para sempre. – Rosalie apontou.

– Rosalie. – Carlisle censurou.

– Não, ela está certa. Eu fiz a bagunça, eu cuido disso. – embora meu tom de voz sugerisse o contrário, eu não tinha a menor ideia do que fazer para manter Gabriel e Catherine a salvo. Eu precisava pensar, precisava fazer uma escolha e precisava fazer isso rápido.

Joham foi bem claro quando garantiu que Gabriel e Catherine seriam as primeiras pessoas a pagar caso eu não mudasse de ideia e eu não posso permitir que algo de mal aconteça a algum deles em hipótese alguma.

Minha família continuou discutindo os melhores meios de lidar com Joham e levantaram especulações sobre o que seria o segredo que ele guarda sobre os Volturi e, ainda mais importante, como o pai de Nahuel o conseguiu. Contudo, minha atenção não estava mais voltada para isso e antes que alguém reparasse fui para meu quarto.

Eu precisava de um banho urgente e precisava colocar minhas ideias em ordem.

Me despi e entrei no chuveiro deixando a água correr livre pelo meu corpo, levando consigo uma cascata de terra e folhagem. Fui capaz de identificar uma contusão ou outra pelo meu corpo, mas isso não me incomodou. As ameaças de Joham eram tudo em que eu conseguia pensar e, por alguma razão insana, eu nunca me senti tão viva. Pelo menos não em muito tempo. Imagino que sejam os genes de vampiro, sedentos por desafios e confrontos, falando mais alto.

Eu poderia estar louca, mas nada tirava da minha cabeça que Joham de fato sabe como destruir os Volturi. Ele tem que saber.

Essa crença por si só abria infinitas possibilidades nunca antes imaginadas e eu estava mais do que disposta a explorá-las. Talvez eu pudesse enganar Joham. Talvez com a ajuda de Nahuel eu pudesse adquirir essa informação sem ter de cumprir minha parte no tratado. E eu finalmente estaria livre para viver minha vida sem esse fantasma me assombrando.

Eu só precisava pensar.

Assim que saí do banho, houve uma batida suave na porta.

– Pode entrar. – falei imaginando se tratar de Bella.

Ao invés disso, fui surpreendida apenas de toalha por Jacob.

– Hum... Desculpe, eu posso voltar depois. – ele falou desconcertado, o que eu achei fofo.

Fazia muito tempo que eu não via aquela expressão de garoto constrangido que quer fazer a coisa certa no rosto dele.

– Não, não tem problema. Pode entrar.

Jacob entrou e se permitiu dar uma boa olhada para minhas pernas e braços nus antes de sentar na beira da minha cama. Eu deveria estar envergonhada, mas surpreendentemente, não estava. Pelo contrário, eu me sentia bastante confortável enquanto pegava uma escova e começava a pentear meus cabelos. Os olhos de Jacob pararam em um claro hematoma em meu braço esquerdo, onde Joham havia apertado.

– Isso não é nada, você sabe. – falei tranquilamente.

Jacob assentiu franzindo as sobrancelhas, pensativo.

– Quando você aprendeu a lutar daquele jeito?

– Eu posso ter tido algumas aulas com Emmett ao longo desses anos.

Contive um sorriso orgulhoso, constatando que era a primeira vez que eu fazia uso das técnicas que meu tio me ensinou.

– Você realmente está cheia de surpresas. – Jacob murmurou.

– É, contudo eu jamais teria conseguido dar conta dos dois sem você. Muito obrigada por ter me encontrado.

– Sabe que não precisa agradecer.

– Sei disso, mas eu quero.

Lancei um olhar grato e terno para ele antes de me virar para o espelho e continuar escovando meu cabelo. Jacob apenas me observava em silêncio.

– Você não está considerando está? – perguntou me estudando – A proposta do sanguessuga.

– Claro que não. – respondi casual.

– Tem alguma coisa que você não está contando, vi o modo como você saiu às escondidas da sala, Nessie. Você está tramando alguma coisa.

Coloquei a escova na penteadeira com um suspiro, voltando-me para Jacob.

– Não estou tramando nada. Mas devo dizer que Alice tem razão... Não podemos descartar a possibilidade de Joham realmente saber como destruir os Volturi.

– Esquece isso, Nessie. Mesmo que ele saiba, o que eu duvido, não é como se ele fosse nos contar.

– A menos que ele tenha um bom motivo para fazê-lo. – apontei vividamente, indo me trocar, mantendo a porta do closet aberta para não interromper a conversa.

Jacob bufou.

– Seu otimismo não tem fundamentos. Você quer tanto que isso seja verdade que está cega.

Voltei à porta para lhe lançar um olhar de desaprovação, contudo Jacob continuava sentado na cama, de costas para mim e não me viu.

– Não se Candy e Nahuel nos ajudarem. – falei voltando para o closet vestindo uma lingerie rapidamente e escolhendo entre um pijama e outro.

– Não pode estar falando sério. – ele riu sem humor.

– Por que não?

– Aquelas duas crias de sanguessuga não são de confiança. Ela nos denunciou para os Volturi da última vez que apareceu e ele... Bem, ele pode muito bem se juntar ao pai apenas para ter você de volta.

– O que? – minha voz subiu dois oitavos em puro ultraje.

Fui até a porta ligeiramente irritada pelas conclusões de Jacob a respeito de meus amigos.

– Olha aqui Jacob... – comecei pronta para numerar as diversas razões pelas quais ele estava enganado, mas fui pega de surpresa quando Jacob, inocentemente, realmente virou em minha direção me flagrando apenas de calcinha e sutiã. – Não, não olha! – gritei rápido.

– Quer se decidir?

Revirei os olhos indo pegar um pijama e me vestindo o mais rápido possível.

– Você está muito errado em relação à Candy e ao Nahuel. – falei indo me sentar na poltrona em frente a ele – Claro, você não sabe, mas Candy esteve aqui alguns meses atrás e garantiu que ela não foi a responsável por nos entregar aos Volturi. Meu pai viu nos pensamentos dela, caso você não acredite. E o Nahuel... Bem, ele jamais faria algo para me machucar, ainda mais compactuar com algo tão vil. Ele odeia Joham tanto ou mais do que qualquer um de nós. Não se esqueça de que estamos falando do mesmo vampiro que foi responsável pela morte da mãe dele.

– Que seja. – Jacob desistiu, incapaz de levantar alguma outra acusação contra os semivampiros.

Sorri triunfante.

– Eu só queria avisar que a partir de amanhã dedicarei cada minuto do meu tempo a encontrar aquele sanguessuga e quando eu o fizer... – Jacob sorriu perigosamente – Bem, eu não iria querer estar na pele dele.

– Você não pode mata-lo. – praticamente pedi.

– É melhor que eu o mate antes que ele mate outra pessoa. – ele falou a contra gosto e eu sabia a quem Jacob estava se referindo.

Encarei o vazio, subitamente abatida pela consciência do que precisava ser feito.

– Não será preciso. Vou dar um jeito de manter os Lefroy em segurança.

– Isso é besteira, você sabe que ele já é um alvo.

– Apenas enquanto estiver comigo.

Jacob me encarou sério como se não acreditasse no que estava ouvindo.

– Então é isso que você pretende fazer pelo resto da vida? – disse ele, a voz carregada de descrença – Afastar as pessoas com as quais você se importa achando que as está protegendo?

– E o que você espera que eu faça? – rebati ultrajada.

Jacob balançou a cabeça em negativa e comprimiu os lábios como se lutasse para não despejar uma série obviedades sobre mim. Suas mãos se erguendo rapidamente em um movimento frustrado.

– Qualquer coisa além disso! Me surpreenda.

Chegava a ser irônico que Jacob estivesse basicamente defendendo que eu continuasse com Gabriel a despeito das ameaças de Joham.

– Você não entende. Eles nem sequer imaginam o risco que estão correndo. Se algo acontecer com Gabriel ou Catherine... – a angústia transbordava em minha voz – Eu nunca vou me perdoar.

– Bom, talvez seja tarde demais para se preocupar com a segurança dos seus amigos humanos. – retrucou.

Jacob percebeu que a insensibilidade de suas palavras me abalou e hesitou um instante antes de continuar.

– Olha, eu odeio dizer isso, mas aquele garoto está muito mais seguro com você ao lado dele do que por conta própria. Se você quer se isolar outra vez, tudo bem, – Jacob deu de ombros, a voz ressentida – mas tenha em mente que isso não vai garantir a segurança dos dois.

– O mínimo que eu posso fazer é tentar. Se Joham não conseguir o que quer, ele vai começar a ir atrás daqueles que eu amo, não há dúvidas quanto a isso.

O rosto de Jacob se contorceu por um breve instante, perturbado por algo em minhas palavras, mas logo se recompôs.

– É exatamente por isso que aquele sanguessuga é melhor morto. – o tom dele era quase de súplica enquanto tentava me persuadir.

– Você não pode matar Joham, não enquanto não soubermos se ele está falando a verdade.

– Ele não está. – Jacob apontou austero.

– Sei que você não acredita nele, mas se há uma chance, por menor que seja, eu preciso tentar, Jake. Por favor.

Ele pareceu considerar meu pedido e eu aproveitei a brecha.

Por favor. – repeti me agachando ao lado dele.

Jacob bufou.

– Que seja. Você tem duas semanas para descobrir se essa informação realmente existe.

– Muito obrigada! – exclamei me atirando em cima dele por impulso.

Jacob caiu para trás na cama quando o abracei, meu corpo sobre o dele. Houve um precioso e breve momento no qual nossos olhos se prenderam um ao outro, meu cabelo ainda úmido caindo como uma cortina nas laterais do seu rosto, nossos corações batendo forte pela proximidade. As mãos de Jacob acariciaram rosto lentamente e ele respirava com dificuldade. Quando me vi confortavelmente envolvida pelo calor de seu corpo e hipnotizada por seus lábios percebi o terrível erro que cometi.

– Acho melhor você ir. – falei me levantando.

Jake concordou, levantando-se ligeiramente atordoado.

– Boa noite. Te vejo amanhã.

– Boa noite, Jake.

Sequei meu cabelo e me preparei para dormir, imaginando o que eu faria para encontrar Cadence e Nahuel e como eles poderiam me ajudar. Certamente meus pais não me deixariam viajar sozinha para encontrá-los e, a julgar pela relutância de Jacob, duvido que ele ou alguém em minha família esteja disposto a me ajudar a apurar os fatos. Bem, talvez Alice...

Deitei-me e fui dormir com essa preocupação e muitas outras assombrando minha cabeça.

Os Volturi se aproximavam em seus mantos negros, uma cena desagradavelmente familiar. Fechei os punhos e me retrai, aguardando a batalha.

– Paz irmãos. – Aro disse. – Hoje não estamos aqui por vocês Cullens.

– Tragam os réus. – Caius bradou.

Ao comando do ancião, quatro vampiros emergiram da guarda Volturi, cada dupla escoltando um réu vestido com um manto vinho escuro e o rosto coberto por um capuz. Assisti apreensiva enquanto os vampiros colocavam os réus de joelho diante de nós e removiam o capuz de ambos simultaneamente.

– NÃO! – gritei horrorizada ao reconhecer Catherine e Gabriel.

– Eu avisei, Cullen. – Joham me sorriu aparecendo em meio aos Volturi.

– Nessie, por favor, me ajuda. – Catherine pediu começando a chorar – Eu to com medo.

Gabriel nem sequer olhava para mim, seus olhos rasos d’água conseguiam ser vazios e frios enquanto encaravam o horizonte, era como se ele já houvesse aceitado a morte.

Meu coração se partiu.

– Por favor, não! – implorei – Eu farei o que você quiser, por favor, não os machuque!

– Tarde demais. – Joham suspirou.

O que se seguiu foi o curto grito de pavor de Catherine, silenciado pelo som de pescoços sendo quebrados.

Desabei no chão arquejando, incapaz de encontrar o ar, sufocando em meus próprios soluços. Não não não não não não. Isso não pode ser verdade, eu repetia para mim mesma, não conseguindo olhar para os corpos destroçados diante de mim. O pavor que congelava meus ossos logo se transformou em ira e me levantei aos gritos me atirando na direção de Joham.

Um par de braços quentes e fortes me deteve.

– Nessie, Nessie, meu amor, está tudo bem. – ele disse me confortando.

– Me solta, Jake! Eu vou acabar com ele, eu vou... – gritei irada.

– Jacob? Eu não sou Jacob, minha querida. – a voz ao meu lado disse com cuidado – Você precisa se acalmar.

Olhei atordoada para o dono dos braços que me envolviam e arfei ao ver Nahuel, meus membros rígidos enquanto eu tentava me livrar de seu abraço.

– Você precisa se acalmar. – ele repetiu, seu tom preocupado. – Eu vou proteger nossa família, prometo.

– Família? – ecoei completamente perdida.

Nahuel me sorriu, sem se deixar abalar pela minha confusão. A mão dele afagou meu rosto, depois pousou em meu ventre.

– O estresse não é bom para o bebê. – falou acariciando minha barriga de oito meses de gravidez.

Pânico e terror corriam por minhas veias, minha garganta emitia urros de pavor enquanto eu me debatia inconformada nos braços de Nahuel.

– Ness, Ness, meu amor, por favor, acorda.

– Não! – acordei com um grito, me sentando em estado de alerta, suada e trêmula, meu rosto banhado em lágrimas.

Jacob, que estava sentado ao meu lado, me puxou para um abraço, exorcizando meus piores medos.

– Shiii, está tudo bem, está tudo bem. Eu estou aqui, nada vai te acontecer. – disse, me embalando em seus braços.

O pesadelo foi tão nítido, tão real. Levou um tempo até que eu me estabilizasse e não pude evitar levar a mão até a barriga, para garantir que não havia nenhum bebê lá.

– Quer me contar o que foi? – Jacob perguntou, tirando fios de cabelo grudados em minha testa suada.

Fiz que não.

– Pode ficar aqui comigo? – pedi com medo de me afundar em outro pesadelo.

Jacob concordou de imediato. Afastei-me e logo ele se posicionou ao meu lado, com um braço ao redor dos meus ombros. Permiti aninhar-me na segurança do peito dele, inalando lentamente o aroma amadeirado dele que me trazia tanta paz.

Logo caí no sono.

Acordei na manhã seguinte aliviada por ter conseguido dormir em tranquilidade pelo resto da noite e, apesar do cheiro dele persistir em meus lençóis, Jacob não estava mais lá.

Tomei banho e me preparei para o dia de hoje. Eu estava decidida a colocar um fim de uma vez por todas em meu relacionamento com Lefroy. É a coisa certa a se fazer, disse a mim mesma tentando me convencer. Pelo menos assim eu espero.

Contudo antes havia uma última coisa que eu precisava fazer por ele. Eu devia isso a Gabriel por todos os belos momentos que tivemos, por cada sorriso que ele colocou em meu rosto, por cada dia em que ele esteve ao meu lado, impedindo que eu desmoronasse.

Liguei para ele pela terceira vez naquela manhã, me deparando mais uma vez com a caixa postal. Gabriel deveria estar realmente magoado.

– Oi Gabe, sou eu mais uma vez. Escuta... Eu sei que você está chateado comigo pelo que houve ontem, mas nós precisamos conversar e, mais importante, você precisa ir à audição hoje, por favor. Pelo seu pai, por mim. – o silêncio continuou do outro lado me fazendo acreditar que Lefroy não iria me ouvir de jeito nenhum – Estou indo para o local combinado no anúncio, às duas da tarde. Espero você lá.

Quando o relógio marcou duas horas eu estava parada em frente ao endereço divulgado no panfleto. Não passava de uma casa comum, porém eu já podia ouvir a bateria e guitarra que tocavam estridentes na garagem. Nem sinal de Gabriel. Resolvi dar mais meia hora de tolerância, não era possível que Lefroy fosse desistir sem sequer tentar. Isso não era sobre mim, era sobre ele, sobre o sonho dele.

Vinte minutos depois eu começava a aceitar que ele não iria aparecer de jeito nenhum, quando me ocorreu que talvez Lefroy não tenha desistido de vir porque estava com raiva de mim. Talvez Joham já tenha feito algo contra ele.

A simples hipótese me deixou nauseada. Peguei o celular ligando para Gabriel mais uma vez. Caixa postal.

– Gabriel, onde você está? – minha voz não escondia a urgência – Olha, estou começando a me preocupar, por favor, me responde assim que ouvir essa mensagem. – suspirei frustrada – Estou voltando para casa agora.

Se eu tenho que ir até a casa dos Lefroy pra me certificar de que tudo está bem, que assim seja! Guardei o celular na bolsa nervosa com a possibilidade de algo ruim ter acontecido a Gabriel. Não me interessa se ele guarda todos os segredos do universo, se Joham tocou em um fio de cabelo do Lefroy, ele é um vampiro morto.

– Hey – a voz de Lefroy soprou atrás de mim.

– Gabriel.

O nome dele escapou com alegria entre meus lábios em um sussurro aliviado antes mesmo que eu me virasse para vê-lo. Entretanto, quando o encarei, sua postura não era nada receptiva, Lefroy mantinha as mãos nos bolsos, ombros encolhidos, o rosto neutro, mas de certa forma parecia triste. Ele não fez nenhum movimento para me abraçar ou cumprimentar.

– Pensei que não fosse mais aparecer – confessei ciente de que este tratamento frio era o mínimo que eu merecia depois da mancada na noite passada.

– E estava certa, eu quase não vinha. – ele disse lançando um olhar incerto para a garagem – Vamos acabar com isso de uma vez.

– Espera. Gabriel, eu realmente...

– Não quero conversar. Não agora. – ele cortou.

Assenti e Lefroy tomou a iniciativa de apertar a campainha. Alguns instantes depois uma mulher atendeu.

– Olá, em que posso ajudá-los? – perguntou simpática.

– Oi. Estamos aqui por causa do anúncio da banda... – Gabriel começou como se não estivesse muito certo de que falava com a pessoa certa.

– Sim, claro. – ela sorriu – Podem entrar.

A mulher nos guiou até a garagem, onde uma melodia harmoniosa tocava. O som cessou no instante em que chegamos.

– Mike, eles vieram por causa da vaga na banda. – anunciou.

– Os dois? – uma garota de cabelo azul indagou em um misto de surpresa e incredulidade.

– Não, apenas ele. – me apressei em explicar.

– Seja bem vindo, cara! – o rapaz, que eu supus ser Mike se aproximou com muita boa vontade trocando um aperto de mão com Gabriel. – Sou Mike.

– Gabriel Lefroy.

– Essa é Lucy, nossa baixista. – falou apontando para a garota de cabelo azul – Joe é o baterista, eu sou o cara da guitarra e essa adorável senhora é a minha mãe, patrocinadora da banda.

A mulher riu.

– Não quero atrapalhar, qualquer coisa, estarei na cozinha. Divirtam-se, crianças. – ela disse deixando a garagem.

Lucy colocou o baixo de lado e se aproximou de nós, rondando Gabriel com curiosidade. A garota parou de frente a ele ficando na ponta dos pés por um breve instante.

– Seus olhos combinam com o meu cabelo. – assinalou e depois virou-se para os demais. – Já acho que deveríamos ficar com ele.

Mike riu.

– Calminha aí, gata. Tem algumas coisas que precisamos ver antes de fechar negócio.

Todos se acomodaram e começaram a conversar sobre Gabriel, sobre a banda, sobre o motivo de eles estarem procurando um novo membro. Segundo Joe, o antigo vocalista teve de se mudar fazendo com que o grupo quase se desfizesse.

– Tem sido difícil encontrar alguém a altura. – Lucy comentou indiferente.

– Sem pressão, cara! – Mike riu.

Lefroy, como sempre, encontrava as palavras certas para dizer, sem nunca perder o bom humor e charme que lhe eram tão característicos. Entretanto dificilmente ele se dirigia a mim e eu quase senti como se não devesse estar ali.

Assim como todo mundo no colégio, os membros da banda pareceram rapidamente gostar de Gabriel que aparentava não estar nem remotamente inibido pelo desafio eminente. Eu, por outro lado, era ansiedade pura.

– E quem é a bonitinha? Sua namorada? – Lucy disparou após uma piada de Mike.

Gabriel por fim olhou em minha direção e eu esperei que ele respondesse.

– Hum, nós temos saído juntos por algum tempo. – falou sem fazer muito caso.

Lancei um olhar incrédulo, quase ofendido, para Gabriel. “Temos saído juntos” isso era tudo o que ele tinha a dizer sobre a gente?

– Maneiro. – Joe comentou e em seguida começou a contar a história do dia em que eles foram tocar na cidade vizinha.

– Com licença, onde fica o banheiro? – perguntei.

– Virando à direita e é a segunda porta. Fique a vontade.

Me levantei incapaz de tolerar a frieza de Gabriel por muito mais tempo. Enquanto eu fazia meu caminho, notei que ele me seguiu.

– Ei, tudo bem?

– Agora você está falando comigo. – ironizei. – “Temos saído juntos”. Sério? Isso era o melhor que você podia fazer?

– Desculpe, eu não sabia que te chatearia tanto.

– Como se fosse só isso. – balbuciei. – Deixa pra lá, eu não deveria ter vindo. Boa sorte no seu teste.

Lefroy bloqueou minha passagem.

– Olha, sinto muito. Eu estava chateado por ontem e tem seu ex... Eu não fazia ideia de como as coisas estavam entre nós e eu fiquei francamente surpreso quando você ligou hoje de manhã. Eu agradeço que tenha me feito vir até aqui, mas eu não estou pronto para retomar nosso relacionamento enquanto você não superar seus sentimentos por Jacob. Eu dei o melhor de mim e a impressão que dava era que cedo ou tarde eu ia acabar conseguindo... Mas eu estava errado. – ele mordeu o lábio, balançando a cabeça negativamente como se estivesse travando uma batalha mental consigo mesmo – Apenas não posso continuar fazendo isso, bailarina. Está acabando comigo. – seus olhos azuis transbordavam dor e sinceridade – Eu acho que é melhor darmos um tempo.

A dificuldade com a qual as últimas palavras escaparam dos lábios de Gabriel deu a entender que ele tinha esperanças de que eu discordasse, entretanto aquela era a oportunidade ideal, eu não podia e não devia prolongar isso.

– Eu acho que é melhor terminarmos de vez. – falei detestando que as coisas entre nós tivessem de acabar em circunstâncias tão abruptas.

O belo garoto diante de mim engoliu em seco.

– Uau. – ele soltou um riso fraco, passando a mão pelos cabelos. – Parece que a sua decisão já estava tomada afinal.

Havia uma nota de ressentimento na voz dele.

– Por favor, não me odeie nem tire conclusões precipitadas. – supliquei contendo uma vontade imensa de abraçá-lo.

– Precisaria de bem mais do que isso para me fazer te odiar.

Mordi o lábio inferior tentando dominar minhas emoções.

– Posso pedir um último abraço?

– Só se você me deixar roubar um último beijo. – disse provocativo e eu quis rir e chorar. Eu sentiria tanta falta dele.

– Você é tão bobo. – sussurrei.

Àquela altura eu já estava encurralada por seus intensos olhos azuis que faiscavam luxúria. Gabriel aproximou-se lentamente e eu permiti que ele prendesse meu corpo contra a parede enquanto seus lábios hesitavam em eliminar a distância até os meus. A ansiedade pelo beijo dele era torturante, principalmente quando as mãos de Gabriel mapeavam meu corpo como se ele estivesse me memorizando, sua respiração entrecortada soprando quente em minha pele.

Por fim os lábios de Gabriel se uniram aos meus me beijando com sofreguidão. O beijo começou lento, doce e provocativo, mas logo evoluiu para uma urgência ardorosa. Empurrei meu corpo para mais perto do dele e tateei a parede procurando a maçaneta da porta ao meu lado. Se aquele seria nosso último beijo, eu o aproveitaria ao máximo.

Abri a porta do banheiro empurrando Gabriel para dentro sem interromper o beijo. Ele me colocou sobre a bancada e minhas pernas envolveram o quadril dele em uma resposta quase automática. Um braço de Lefroy agarrou minha cintura me puxando para mais perto do corpo dele enquanto sua mão livre deslizava pela minha perna esquerda, traçando um caminho perigoso do meu joelho até a parte interna da minha coxa. Minhas unhas deslizaram por baixo da camisa dele, brincando pelo seu baixo ventre e em seguida subindo por suas costas. Lefroy gemeu baixo, sua respiração pesada e eu aproveitei a quebra do beijo para correr meus lábios pelo maxilar dele. Gabriel se movia apertando meu corpo contra o dele. Sua mão se espalmando em minha cintura por baixo do vestido enviando ondas de calor que começavam em meu ventre e percorriam minha espinha. Emaranhei meus dedos por entre seus fios loiros e Gabriel encontrou meus lábios novamente, porém seus dedos encontraram algo que me deixou muito mais alerta.

– Gabriel! – arfei baixinho agarrando o ombro dele com mais força do que deveria aterrorizada perante a avalanche de sensações ainda desconhecidas, no momento em que ele afastou minha calcinha explorando minha região mais íntima.

Meus batimentos cardíacos estavam completamente fora de controle, assim como o meu corpo que se arqueava com os mais fortes dos arrepios. Os dedos de Gabriel se moviam cada vez mais rápido, me levando ao frenesi. Eu queria afastá-lo, eu queria parar, minha consciência gritava que aquela não era a hora nem o lugar, contudo as ondas de desejo que me envolviam eram muito mais fortes.

Nós não estávamos mais nos beijando, nossas bocas apenas repousavam, mal tocando uma na outra e eu ofegava com os olhos apertados, cravando minhas unhas nas costas dele. Gabriel segurou minha nuca pressionando os lábios nos meus mais uma vez, depois encostou a testa na minha. Abri os olhos apenas para dar de cara com suas íris azuis me estudando com intensidade e paixão. Eu já deveria estar absolutamente corada, mas o olhar fixo dele enviou um fluxo extra de sangue para minhas bochechas.

– Gabe, por favor, por favor... Eu... Eu não... – gemi sentindo meu corpo empertigar.

Ele tirou a mão do caminho e deu um passo para trás, sua respiração pesada.

Escorreguei do balcão, ficando de pé ajeitando meu vestido.

– Acho que é melhor eu ir embora. – falei incapaz de fitar seus olhos.

– Não vai se despedir do pessoal? – Lefroy quis saber, sua voz tão sensualmente rouca.

– Suponho que eu deva.

Respirei fundo e saí na frente, sendo acompanhada pelo meu ex-namorado.

– Finalmente – Lucy resmungou quando voltamos à garagem.

– Vocês não transaram no meu banheiro, transaram? – Mike brincou fingindo ultraje.

Fiquei vermelha como um pimentão só de considerar a hipótese.

– Renesmee precisa ir, ela só está passando para se despedir. – Gabriel falou como se nada tivesse acontecido.

– Foi um prazer conhecer todos vocês. – eu disse.

Lucy acenou com a mão e os rapazes deram tchau. Eu não me considerava capaz de dizer uma palavra sequer para Lefroy.

– Te vejo no colégio. – ele disse.

– Boa sorte com a audição. – falei, por fim recebendo o abraço que havíamos combinado. Eu quis rir com a ironia da sequência de acontecimentos que meu pedido inocente desencadeou.

Deixei a casa de Mike ainda me sentindo um pouco trêmula e um tanto fora de mim. Fiz meu caminho até meu carro, já pegando as chaves.

– Renesmee?

Virei-me perplexa com a impossibilidade da voz que acabava de me chamar.

– Candy! – exclamei em completa surpresa.

– O que você está fazendo aqui? – indagou.

– Como assim? Quem deve fazer essa pergunta sou eu.

– Joham me pediu para seguir um rastro, por isso estou aqui. – explicou aproximando-se de mim com o cenho franzido.

– Que rastro? – perguntei apreensiva.

– Não sei de quem é exatamente, mas... – ela farejou o ar, confusa – O cheiro esta todo sobre você.

Engoli em seco apertando com força a chave do carro em meu punho.

Ela estava atrás de Gabriel.


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Notas finais do capítulo

Que momento das três temporadas da Eternal Flame você gostaria de ver transformado em uma ilustração? Respondam nos comentários e eu vou escolher os melhores para colocar no tumblr da EF! =D

http://efjakenessie.tumblr.com/