Eternal Flame escrita por bandolinz


Capítulo 38
3x11 - Jogos Infantis


Notas iniciais do capítulo

Feliz Ano Novo!! o/



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Considerando minha conversa com Jacob na última noite, fiquei bastante surpresa ao vê-lo no estacionamento logo cedo, pronto para ir para aula na manhã seguinte. Barba feita, roupas novas.

– Pode ficar com uma das minhas motos, lobo. – disse Emmett atirando as chaves para Jacob que logo estava com a expressão tão encantada quanto a de uma criança no natal.

Não pude deixar de sorrir.

– Quer uma carona, Ness? – ele perguntou piscando em minha direção.

– Na próxima, quem sabe. – respondi, de fato interessada em ficar perto dele, porém eu nem de longe estava pronta para passar os próximos minutos agarrada ao corpo musculoso de Jacob.

Edward passou por mim, me lançando um olhar curioso e pela sua expressão eu soube que minha mãe estava bloqueando meus pensamentos dele. Quase suspirei aliviada. Fiz uma nota mental lembrando-me de agradecer a Bella por isso depois.

Fui sozinha em meu carro para o colégio, como costumava fazer, uma vez que eu quase sempre saía com o Lefroy depois da aula. Durante todo o trajeto eu não conseguia deixar de me perguntar como seria o encontro do mesmo com Jacob.

Logo todos nós havíamos chegado ao Ketchikan High School.

– Pronta para me apresentar aos colegas de classe? – Jacob perguntou passando o braço sobre meu ombro amigavelmente, algo de misterioso em seu tom de voz.

Imediatamente eu soube a quem ele queria ser apresentado.

– Não tão cedo, primeiro você precisa levar seus documentos até a secretaria, fazer a matrícula, assinar papéis, se apresentar ao coordenador da unidade, receber seus horários... Basicamente perder toda a sua manhã lá. – Alice anunciou sorridente, estendendo uma pasta para Jacob.

Ele revirou os olhos pegando a pasta com a mão livre, o outro braço ainda me envolvendo.

Meus pais e tios saíram em direção à entrada e eu permaneci parada, encarando a mão de Jacob que pousava sobre meu ombro.

– O que foi? – ele ergueu uma sobrancelha.

– Nada. – murmurei, mas aproveitei que minha bolsa ainda estava no carro para me desvencilhar do braço dele.

Fiz isso da forma mais sutil possível, mas Jacob percebeu o que estava me incomodando. Ele olhou em volta examinando por um instante o campus, bem como o mar de alunos que transitava por ali e franziu o cenho.

– Como vocês conseguem fazer isso ano após ano? – indagou – Quero dizer, com tantas opções os Cullen acabam sempre no colegial de uma cidade cinzenta qualquer. Qual o sentido? Depois de meio século isso não deve ter a mínima graça.

– Não faço a mínima ideia. E se quer saber, também preferia gastar meu tempo com outra coisa, mas... – dei de ombros – Essa é a vida que eu conheço.

Ele me observou, considerando minhas palavras antes de continuar.

– Não era a vida que você conhecia quando estava comigo.

– Muita coisa mudou de lá para cá.

– Estou vendo.

Ao passo em que entrávamos no corredor principal do colégio, a mão de Jacob encontrou a minha e eu imediatamente me afastei dele.

– Qual o problema? – perguntou contrariado – Pensei que tivesse dito que nós agiríamos como amigos, não completos estranhos.

– Amigos não andam por aí de mãos dadas. – censurei, notando alguns olhares curiosos sobre nós.

– Claro que andam. – Jacob insistiu, um meio sorriso brotando em seu rosto quando a costa da sua mão direita entrou em contato com a minha.

O toque suave e caloroso teve um turbilhão de efeitos em mim enquanto ele brincava ao redor da minha mão esquerda sem de fato segurá-la.

Rendi-me apertando a mão dele de uma vez.

Jacob sorriu satisfeito.

Esse sorriso, contudo, desapareceu quando abri a porta do meu armário. Honestamente, eu nem sequer lembrava que um bombardeio de imagens da minha nova vida em Ketchikan me aguardava lá.

Imediatamente soltei da mão de Jacob, peguei meu caderno e fechei a porta de metal. Eu preferia que ele não visse aquilo, mas já era tarde.

– Pelo visto você não estava mesmo brincando sobre esse outro cara.

E lá estava ele de volta, o Jake magoado e cheio de rancor com o qual eu sempre acabava discutindo ou ressuscitando dores do passado.

Suspirei procurando algo neutro para dizer, contudo notei que ele não olhava para mim. Os olhos de Jacob estavam fixos em algum ponto mais distante, um pouco acima da minha cabeça.

– Outro cara? – reconheci a voz de Gabriel clara como cristal vindo bem detrás de mim.

Meu coração palpitou de ansiedade e instintivamente me virei para Lefroy incapaz de imaginar qual expressão eu encontraria estampada nele.

Para meu espanto, seu rosto estava sereno, iluminado e receptivo, com a mesma simpatia natural que ele dedicava para qualquer outro aluno nesse colégio. Sua mão envolvendo minha cintura de forma sutil, os dedos firmes em meu quadril como se o lar deles fosse ali, lembrando a mim e a ele mesmo de que era com ele que eu estava.

Jacob, por sua vez, encarava o garoto diante dele como se pudesse fazê-lo desaparecer no ar caso o fulminasse o bastante.

Eu precisava fazer alguma coisa. Logo.

– Jake, este é... – comecei.

– Gabriel Lefroy – Gabriel deu um passo a frente estendendo a mão para Jacob, tratando de começar as apresentações ele mesmo – Namorado da Renesmee.

A forma como as palavras fluíram dos lábios dele, tão naturalmente, de forma tão convicta fez a declaração soar tão... Verdadeira. Tão incontestável.

Imaginei que a postura do Lefroy fosse surpreender Jacob tanto quanto me surpreendeu. Imaginei que Jacob iria apenas continuar encarando Gabriel até a morte ou simplesmente soca-lo de uma vez. Entretanto nada disso aconteceu.

– Eu sou Jacob Black – Jake alcançou a mão de Gabriel com uma boa vontade assustadora, chegando até mesmo a sorrir antes de completar – O grande amor da vida dela.

Quatro segundos de absoluto silêncio e a tensão entre nós se tornou desconfortavelmente palpável.

Gabriel bufou, virando o rosto com um sorriso incrédulo, sua paciência se esvaindo.

Forcei uma risada.

– Muito engraçado, Jake. – falei ainda rindo, porém lançando um olhar de repreensão para ele. – Por que não vai a secretaria de uma vez cuidar dos seus documentos? É logo ali, primeira porta a esquerda – apontei.

Jacob assentiu, os cantos dos lábios erguidos maliciosamente.

– Mas... Você sabe – disse na direção de Gabriel antes de ir embora – eu não estava brincando.

Lefroy olhava fixamente para um ponto qualquer, o rosto rígido e indiferente, com a expressão mais serena que ele era capaz de compor, enquanto Jacob se afastava a passos lentos.

Nesse momento, vendo os dois lado a lado, ficou claro como cristal, eu estava vivendo uma vida dupla.

Sim, eu era a namorada de Gabriel. Sim, eu era o amor da vida de Jacob. Porém diferentes partes de mim desempenham cada um desses papéis e, honestamente, eu estava aterrorizada que a colisão entre esses dois mundos me fizesse desabar.

– Você vai me odiar muito se eu der um soco na cara dele? Só um, prometo me comportar depois. – a voz de Lefroy me tirou dos meus devaneios.

Eu sabia que ele estava tentando escapar da situação constrangedora com bom humor, contudo eu apenas o encarei.

– Eu sei que você ainda se importa com ele e essa foi a única razão para eu não ter feito nada. Mas... Que cara irritante. – murmurou.

– Não vamos falar sobre Jacob, por favor. – pedi incomodada.

Era estranho como até algumas semanas atrás Gabriel era meu confidente e o único ao qual eu confiava todas as minhas incertezas e frustrações em relação a Jacob.

Agora não mais.

De alguma forma, com Jacob aqui não parecia justo.

– Tudo bem. Eu tenho uma novidade para você. – Lefroy anunciou.

– O que?

– Pensei no que você me disse ontem e decidi que talvez seja uma boa ideia me apresentar na festa de Halloween.

Processei as palavras dele por meio segundo, incrédula.

– Não acredito! – gritei me jogando nos braços dele.

Gabriel riu e correspondeu ao meu abraço.

– Estou tão orgulhosa de você. – falei sincera.

– Não apresse as coisas. Deixe para ficar orgulhosa quando não atirarem tomates em mim no fim do show.

– Não seja bobo, todo mundo vai adorar. E só o fato de você ter decidido enfrentar isso me faz transbordar de felicidade e orgulho por você. Não interessa se o show em si vai acabar sendo uma porcaria.

– Ótimas palavras de encorajamento. – ele franziu o cenho.

Eu ri.

– Foi você quem disse para manter as expectativas baixas.

Ele sorriu travesso pegando minha mão.

– Ok, bailarina. Espere e verá. Vamos contar ao Peter antes que eu mude de ideia.

– Você não seria louco. – ameacei.

Gabriel sacudiu a cabeça ainda com um sorriso bobo no rosto me puxando pelo corredor.

Falamos com Peter que ficou muito contente com a notícia. Os olhos de Gabriel faiscavam em resposta a animação do amigo enquanto eles discutiam as primeiras ideias para a apresentação. Era comovente ver Lefroy resgatando essa antiga paixão, dando uma nova chance ao sonho que ele deixou morrer junto ao seu pai, anos atrás. Derrubada a insegurança, Gabriel parecia tão feliz com a ideia... Tão entusiasmado.

Fomos para a aula e tudo corria bem, até na metade do período Jennifer Collins interromper o professor Campbell anunciando que alguém havia roubado seu celular.

– Isso é uma acusação grave, senhorita Collins. Tem certeza de que não está em sua bolsa ou jaqueta? – ele questionou.

– Claro que sim! Já procurei em todos os lugares, não está aqui, alguém pegou! – ela repetiu, terminando a última frase com a voz chorosa.

Revirei os olhos.

Como aquela garota se esforçava para chamar atenção. Lefroy, entretanto, parecia estar caindo na cena da ex.

– Acho que deveríamos checar as mochilas de todo mundo antes do intervalo. – uma das líderes de torcida que sempre andava com Collins sugeriu, recebendo um aceno positivo da amiga.

– Sim! Isso seria o correto. – Jennifer insistiu.

– Acho um pouco exagerado, Collins. Isso seria violar os direitos dos outros estudantes nessa sala. – o professor ponderou em tom moderado, já conhecendo a natureza dramática da aluna.

– Mas eu fui violada! Eu exijo que todos sejam revistados até meu celular aparecer.

– Calma, não é para tanto. Por que apenas não ligamos para seu número para saber se está aqui mesmo. – Gabriel foi o primeiro a sugerir.

Ele mesmo pegou o celular e ligou para Collins.

Algo em mim ferveu pelo fato de ele se importar. Até pelo simples fato de ele ainda ter o número dela em sua agenda.

Apoiei o queixo em minhas mãos aborrecida com a situação e logo uma vibração seguida de uma canção pop escandalosa começou a tocar bem atrás de mim.

Virei-me imediatamente, perplexa ao notar que o som vinha de dentro do bolso da minha jaqueta que estava apoiada no encosto da minha cadeira.

Dezenas de pares de olhos me encaravam espantados e os translúcidos olhos azuis de Gabriel estavam entre eles.

Professor Campbell rapidamente marchou até mim pegando o pequeno aparelho no bolso da minha jaqueta.

– Esse é o seu celular, Collins? – ele perguntou, ainda sem acreditar.

– Sim! Esse mesmo. – exclamou alcançando o aparelho e pegando-o das mãos do professor.

– Como você pode ser capaz de uma coisa dessas, garota? Que tipo de maníaca é você?! – a amiga de Collins inquiriu se projetando em minha direção.

Cochichos, murmúrios escandalizados e piadinhas preenchiam a sala, entretanto o julgamento de uma única pessoa me importava.

– Eu não tenho a menor ideia de como isso foi parar aí. – disse olhando para Gabriel que estava sentado ao meu lado ainda estupefato, então encarei o senhor Campbell com os olhar mais inocente que eu era capaz de fazer. O que era difícil, quando tudo o que eu queria nesse momento era pular na garganta da Collins.

– Claro que tem! Você pegou! – Jennifer gritou. – Já é uma ladra de namorados, só fez acrescentar mais um item a sua lista.

– Controle-se, Collins. – o professor demandou firme – Quanto a você, senhorita Cullen, receio que terá de explicar isso no aconselhamento estudantil.

– Mas eu não... – comecei para logo ser interrompida por Gabriel.

– Não foi ela. – ele disse calmamente. – Fui eu quem colocou aí.

– Por que você faria uma coisa dessas? – senhor Campbell perguntou.

– Eu só quis fazer uma brincadeira – Gabriel deu de ombros.

– Não teve a menor graça. – Emma murmurou.

– Ele está mentindo para acobertá-la. Claro que foi ela quem pegou! – a amiga de Jennifer atacou.

– Calem-se todos. – professor Teodoro demandou. – Cullen, Lefroy e Collins, os três já para a secretaria. Elisabeth provavelmente saberá lidar com uma situação dessas melhor do que eu.

– O que você está fazendo? – cochichei para Gabriel enquanto pegava minhas coisas.

– Você já pegou detenção uma vez por minha causa, não vou deixar que aconteça de novo. – ele respondeu obstinado.

– Mas não é culpa sua.

– Claro que é.

Collins esperava na porta visivelmente chateada com a inesperada virada de eventos. Ela parecia prestes a se desculpar com Gabriel, ele ainda falava comigo, porém virou-se na direção de Jennifer oferecendo a ela um olhar que ia bem além da decepção.

Ele estava enfurecido com ela.

– Não foi você quem namorou uma psicótica. – concluiu.

Lefroy saiu caminhando a passos largos até a coordenação e eu o acompanhei em silêncio, preocupada por nunca tê-lo visto daquela maneira e de certa forma aliviada por ele ter ficado do meu lado e não ter acreditado nesse truque baixo.

Talvez agora ele estivesse começando a ver a verdadeira Jennifer Collins. Me pergunto se eu deveria contar a ele sobre quão vil Nick Haynes também é. Aliás, Nick e Jennifer formam um ótimo par, ambos detestáveis, ainda assim um ótimo par.

O professor Campbell nos acompanhou até a secretaria e ao cruzar a porta da sala de espera a primeira pessoa que vi foi Jacob. Ele estava, ou deveria estar, preenchendo uma porção de papéis sobre a transferência em uma pequena sala ao lado da sala do conselho estudantil e pareceu confuso ao me ver pela janela de vidro. Não tive tempo de explicar nada a ele, uma vez que o senhor Campbell nos encaminhou diretamente para a sala da senhorita Craig.

– Com licença, Elisabeth. Esses três se envolveram em um pequeno espetáculo agora a pouco em sala de aula e eu os trouxe para conversar com você. – o professor começou.

– Oh, sentem-se. – ela colocou os óculos franzindo o rosto rapidamente para Gabriel.

Claro, eles se dão muito bem, lembrei a mim mesma. Talvez não acabe sendo tão ruim se o Lefroy aceitar a culpa em meu lugar... Mas isso era tão injusto! Collins era a única que deveria ser castigada entre nós.

– O que aconteceu? – Elisabeth perguntou quando todos nós nos acomodamos.

– O celular da Collins foi encontrado dentro do casaco da senhorita Cullen. Aparentemente foi uma tentativa de furto. – senhor Campbell explicou.

– E o que você tem com isso, Gabe? – ela indagou.

– Lefroy alega ter colocado o celular lá. – nosso professor respondeu claramente desconfortável com a situação – Isso é tudo, vou deixa-los com você. Tenho uma sala cheia de adolescentes agitados para conter.

Dizendo isso ele deixou o recinto.

– Ela me roubou! – Jennifer exclamou assim que teve a chance. – Ele só está tentando acobertá-la.

– Não seja cínica, foi você quem colocou seu próprio celular no meu bolso para gerar essa confusão. – disparei.

– Como se atreve a inventar uma coisa dessas sem prova alguma? Eu não teria porque fazer isso. Você, por outro lado, foi pega no flagra. Toda a classe é testemunha. – ela baixou o tom começando uma voz chorosa. – Ela vive me dando esses olhares estranhos nos corredores, está claro para mim que Renesmee tem inveja de tudo o que é meu.

– Como pode ser tão falsa? – eu estava tão irritada que poderia ataca-la ali mesmo.

– Tudo bem, as duas, parem com isso já. – conselheira Craig interviu e então se dirigiu a mim. – Roubo é coisa séria, senhorita Cullen. Uma tentativa como essas não pode sair impune. Temo dizer que sob essas circunstâncias não há outra coisa a se fazer não ser...

– Renesmee não tem culpa de nada. – Lefroy irrompeu.

– Então me diga exatamente o que aconteceu, Gabriel. – ela quis saber.

Cruzei os braços me afundando na cadeira sabendo o que ele iria dizer.

– Foi como eu disse ao professor Campbell. Eu estava entediado então tentei fazer uma brincadeira, pegar o celular da Jennifer, colocar no bolso da Renesmee e ver o que acontecia. – ele falou com uma voz sem vida.

– Isso não parece coisa sua. – Elisabeth vincou a testa genuinamente preocupada. – Ainda mais quando estamos falando da sua ex e da sua atual namorada. É algo muito estúpido de se fazer.

– Eu sei. Sinto muito. Mas foi isso que aconteceu.

Elisabeth o examinou por meio minuto não querendo acreditar. Logo ela passou a fazer mais perguntas sobre como, quando e por que ele fizera aquilo. Eu estava impressionada em quão rápido ele inventou desculpas e pior, impressionada em ver que, apesar de sua simpatia por Gabriel, senhorita Craig estava realmente sendo convencida de que Lefroy fora o responsável por essa brincadeira imbecil. Quando eu ou Jennifer tentávamos intervir, Gabriel apenas nos dizia para deixa-lo explicar sozinho o que aconteceu.

Eu sentia que estava assistindo a alguém ser hipnotizado, como se ele pudesse convencê-la de qualquer coisa que ele quisesse fazê-la acreditar, por mais absurdas que fossem suas palavras. Vinte minutos depois eu tinha certeza de que se Gabriel dissesse a senhorita Craig que ele também tinha um corpo escondido em seu armário e agora era um traficante de drogas, ela de fato ligaria para a polícia imediatamente.

– Bem – Elisabeth disse se endireitando na cadeira – uma tentativa de roubo seria passível a expulsão, mas uma vez que você não estava tentando pegar o objeto para si, ao invés disso tentou fazer uma brincadeira de péssimo gosto, não posso expulsá-lo ou castigar a senhorita Cullen por sua falta de responsabilidade. Contudo isso não passará impune.

Gabriel apenas assentiu.

– Vocês duas, podem voltar para a sala de aula. – ela anunciou por fim.

– O que vai acontecer com ele? – as palavras tropeçaram da minha boca antes que eu pudesse contê-las.

– Ainda irei decidir. Agora vão.

Hesitei antes de sair da sala, contudo Gabriel nem sequer olhou em minha direção. Ele sabia que o castigo dessa vez seria maior do que uma semana de detenção, principalmente agora que ele parecia ter conseguido fazer com que seus anos de favoritismo com a senhorita Craig evaporassem no ar.

Como, mesmo conhecendo-o por tanto tempo, ela acreditou que ele seria capaz de uma coisa dessas?

Trinquei os dentes, inconformada, saindo para o corredor alcançando Jennifer.

– Ei! – gritei esperando apenas que ela se virasse para lhe dar uma tapa na cara.

Levou cada pedaço de autocontrole que eu possuía para não usar toda minha força, ainda assim Collins girou caindo no chão, horrorizada.

– Não tem ideia de por quanto tempo eu quis fazer isso. – arfei ainda consumida pelo ódio. – Agora some da minha frente. Se você fizer qualquer outra coisa, a menor e mais estúpida besteira que seja... Se você prejudicar o Gabriel de novo, juro, eu acabo com você.

– Você é louca, garota?

– Sim, eu sou louca e espero que você lembre bem disso antes de aprontar mais um dos seus truques baixos, sua vadia egocêntrica!

Eu não suportava mais a mera visão daquela garota, então ao invés de esperar que ela se levantasse, apenas voltei para a secretaria para esperar por Gabriel. Qual não foi a minha surpresa ao abrir a porta apenas a tempo de assistir Jacob esmurrar um confuso Gabriel.

Lefroy xingou baixo fuzilando Jacob com os olhos enquanto pressionava a mão no local que recebera soco.

– Enlouqueceu? – Gabriel soltou.

– Como tem coragem de fazer uma coisa dessas com ela? É imbecil ou o que? – Jacob atacou.

– Ei, ei, espera! Por que raios você fez isso Jacob? – intervi me colocando entre os dois.

– Eu acabei de ouvir esse fedelho dizer que colocou o celular de uma garota na sua bolsa e você quase foi suspensa por isso.

– Eu só estava tentando protege-la. – Gabriel respondeu ressentido, uma marca vermelha ficando rapidamente visível ao redor do seu olho.

– Como se você sequer fosse capaz disso. – Jacob retrucou – Você não sabe nada sobre ela. Então é melhor apenas se afastar de uma vez. Claramente só está atrapalhando.

– É mesmo? E você sabe? – Gabriel devolveu.

Confesso que eu estava assustada com a coragem de Gabriel ao enfrentar Jacob. Jake era intimidadoramente mais forte do que ele.

– Eu conheço a Nessie desde que ela era uma criança, cara. Acredite, eu a conheço bem melhor do que você.

– Então com certeza deve saber o quanto a magoou sendo um idiota e ignorando-a completamente todo esse tempo. Se você a conhece tão bem, desde o começo teve a plena consciência de que estava propositalmente quebrando o coração dela de todas as maneiras possíveis. – as palavras de Lefroy congelaram no ar.

– Algo está acontecendo aqui? – senhorita Craig abriu a porta de sua sala, insatisfeita ao ver que ainda estávamos na secretaria.

– Não. Nada. – a voz de Gabriel mais uma vez não tinha emoção alguma. – Vou à enfermaria dar um jeito nisso – ele passou por mim apontando para seu olho direito – Se quiser, sabe onde me encontrar.

Senhorita Craig voltou para sua sala, deixando Jacob e eu a sós. Quando notei que ficamos sozinhos quis me retirar dali o quanto antes e tive o ímpeto de ir atrás de Gabriel, mas Jacob segurou meu pulso me fazendo girar de volta para ele. Com o impulso acabei o encarado sem querer e ele me olhava profundamente com seus olhos negros e intensos. Senti o calor se concentrando em minhas bochechas, agora provavelmente coradas por ele vasculhar minha alma com aqueles olhos escuros e misteriosos.

– Precisamos conversar. – ouvi sua voz rouca dizer, mas eu estava tão perdida em pensamentos e lembranças nesse momento... Ele olhou ao redor. – Mas não pode ser aqui.

De alguma forma, no minuto seguinte fomos parar dentro de uma minúscula dispensa que Jacob encontrou no corredor. Nossos corpos a um palmo de distância um do outro.

– O que você contou àquele fedelho? O que ele sabe sobre nós? – começou ele, me tirando do transe.

– Oh. Isso. Não é da sua conta, Jake. Deixa para lá.

– Claro que é! Por que você saiu falando sobre nós para qualquer estranho?

– Ele não é um estranho. Gabriel é meu amigo. O único que eu tive em anos, para constar.

Tentei olhar ao redor, mas meus olhos estavam magneticamente presos ao rosto dele, à forma como seu peito se movia conforme ele respirava, ao calor emanando da sua silhueta naquele cubículo escuro. Uau, ele era tão alto! Eu não lembrava o que era ficar tanto tempo parada próxima a ele.

– E eu agora não sou mais nada. – Jacob sugeriu enciumado.

– Não seja idiota, você também é meu amigo. Embora não merecesse. Meu melhor amigo. – acrescentei meio segundo depois – Apenas pare de agir como se fosse meu namorado. Nós não estamos mais juntos.

– Por causa daquele...

– Sabe que não é por causa do Gabriel. – interrompi. – Ele é apenas... A única coisa boa que eu consegui tirar de tudo isso... E agora você quer afastá-lo de mim.

– Não quero afastá-lo de você. – falou sério.

– Como não? Agredindo ele sem mais nem menos como acabou de fazer...

– Não quero afastá-lo de você. – repetiu.

– O que você quer então?!

Jacob inclinou o rosto até seus lábios tocarem minha orelha fazendo um arrepio percorrer meu corpo de forma feroz.

– Quero que você escolha se afastar dele. – ele soprou.

Eu não entendia onde Jacob queria chegar e de toda forma estava difícil me concentrar no que ele dizia quando tudo o que eu conseguia pensar era na forma na qual sua respiração quente encontrava minha pele.

– Sabe uma das coisas que eu mais senti falta? – ele calmamente pegou minha mão e colocou no rosto dele. – Disso. Do teu toque. De estar na tua mente. De ter cada um dos teus segredos compartilhados comigo. De ver o mundo pelos teus olhos.

Meu coração perdeu o ritmo, batendo de forma inconstante e louca. O que estava acontecendo comigo? Se acalme, Renesmee. Controle-se, controle-se, controle-se...

Mas eu sinto tanta falta dele, uma voz quase esquecida dentro de mim implorou.

Jacob deu um breve sorriso em reação à confusão em minha mente e eu bloqueei meus pensamentos dele de imediato.

– Você não sente falta disso? Porque eu sinto. – perguntou deslizando a mão dele sobre a minha para em seguida tocar meu pescoço com as pontas dos dedos e, por fim, tirar meu casaco. Suas mãos acariciaram meus ombros expostos descendo lentamente até meus pulsos.

Eu vou derreter, eu vou derreter.

– Você nunca pôde tocá-lo assim, pôde? – Jacob provocou, dando um passo a frente encostando o corpo dele ao meu.

– Jake... – suspirei. – Por que me trouxe aqui? Isso não está certo – minha voz era tão fraca quanto o sussurro de um doente delirante. Eu me sentia doente. Eu me sentia delirando. – Preciso ir ver como o Gabriel está. – soltei em um surto de clareza.

– Por que você continua se iludindo com ele, Ness? – a voz rouca de Jacob mais uma vez aproximou-se suavemente do meu ouvido, sua mão encontrando minha cintura e espalmando-se em minhas costas.

Ele beijou meu maxilar e meu corpo ascendeu de desejo por seus lábios macios e quentes, ansiando que eles viessem de encontro aos meus, pelo menos por uma última vez.

– Ele não seria capaz de te amar em mil anos, o que te amei em um único dia.

– Mas ele me ama. – murmurei recebendo flashes dos meus momentos com o Lefroy como relâmpagos em minha mente.

– Pode até amar... A parte humana. – Jacob assinalou. – Eu te amo por inteira.

Confusão dominava cada célula do meu corpo. Por que Jacob estava fazendo isso? Ele sabe que eu já tomei minha decisão e, nesse momento estava impossivelmente difícil não trair a mim mesma.

Foi quando as palavras de Lefroy cruzaram minha memória, se você a conhece tão bem, desde o começo teve a plena consciência de que estava propositalmente quebrando o coração dela de todas as maneiras possíveis.

Eu odiava a ideia de que, por me conhecer tão bem, Jacob tinha absoluto controle sobre mim.

– Para com isso, Jake. – gemi lutando contra o desejo que se apoderava de mim. – Não é justo...

Os dedos dele se entrelaçaram na raiz do meu cabelo e os lábios de Jacob mais uma vez brincaram ao redor da minha orelha.

– O que não é justo, meu amor? – ele indagou em uma voz hipnotizante.

O afastei com uma mão em seu peito e toquei seu pescoço com a outra.

Não é justo com Gabriel, meu namorado. Não é justo com minha família que está confiando em mim... e em você. E não é justo comigo você de repente me arrastar para um canto escuro e tentar me seduzir depois de tanto tempo me ignorando completamente.

– Eu tenho que ir. – falei pegando meu casaco e saí correndo em direção à enfermaria.

Os corredores permaneciam vazios, pois ainda faltavam alguns minutos para o horário do almoço. Eu não podia encontrar meu pai nesse estado, eu precisava tirar Jacob da minha cabeça.

A enfermaria com quatro leitos estava vazia, exceto por Lefroy, sentado na beira de uma das camas pressionando uma compressa de gelo na lateral do rosto.

Tranquei a porta e Gabriel levantou o rosto em minha direção esperando que eu fosse a encarregada por iniciar a conversa. Eu queria me desculpar por Jacob, pelo incidente com a Jennifer, por não ter chegado aqui antes, contudo eu estava cansada de palavras.

Larguei minha bolsa e meu casaco no chão e rapidamente fui até ele e, tirando a compressa do caminho, o beijei como se aquela fosse a última chance que eu teria em vida. Havia tanto fogo borbulhando dentro de mim, eu precisava extravasar antes que eu enlouquecesse.

Gabriel largou a compressa em qualquer lugar, me envolveu pela cintura e me ergueu para que eu sentasse no colo dele. Passei minhas pernas ao redor do seu tronco e de repente nós dois estávamos na cama. Ainda nos beijando.

A mão dele estava fria em minha pele quando deslizou por baixo da minha camiseta, talvez pela compressa de gelo, talvez porque a última mão a me tocar tenha sido a de Jacob, de todo modo eu não me importava. Isso estava funcionando, e funcionando muito bem. Mas eu precisava de mais.

Sem quebrar o beijo, tirei o moletom do Lefroy que me olhou surpreso, mas eu não estava hesitando. Precisava queimar esse desejo em mim. Por fim tirei a camisa dele e o empurrei deitado na cama, ainda sentada sobre ele.

– Uau. – Gabriel soltou maravilhado, mas ainda confuso. – O que você está fazendo, Renesmee...

O calei com um beijo enquanto minhas mãos percorreram seu peitoral e abdômen, satisfeitas com o que encontravam. Deixei escapar um gemido de satisfação pelo contato entre nossos corpos. E o corpo dele já estava reagindo a mim. Interrompi o beijo para traçar com meus lábios o caminho do seu pescoço até seu ombro, onde a cicatriz do seu acidente iniciava. Isso me lembrou por um segundo que finalmente ele iria voltar a se apresentar, me deixando com vontade de satisfazê-lo ainda mais. Eu não tinha lhe premiado de nenhuma forma pela coragem de aceitar o convite de Peter.

– Se eu soubesse que você achava hematomas tão sexy, teria me metido em uma briga antes. – ele brincou me abraçando pra junto dele e virando por cima de mim.

Eu estava tão feliz por tê-lo, de outra forma como eu poderia me distrair de Jacob? A sensação do corpo dele sobre o meu fazia com que eu me contorcesse em antecipação para o próximo movimento, mas, apesar de seu corpo estar dando claros sinais de que ele estava interessado, o beijo de Gabriel agora era mais carinhoso do que urgente. Isso me preocupou.

– Você não está seriamente considerando fazer isso na enfermaria do colégio, está? – ele me sorriu provocativo.

– Por que não? – soltei abafando toda a vergonha que me cobria agora.

Gabriel riu uma risada larga, gostosa e sincera. E então beijou minha bochecha saindo de cima de mim e vestindo sua camisa.

– Primeiro, não é assim que eu quero que as coisas aconteçam entre a gente. – falou. – Segundo, se está querendo me expulsar do colégio basta pedir que eu me transfiro.

Eu ri baixinho.

– Falando nisso, o que aconteceu? – perguntei.

– Nada demais. – ele deu de ombros, mas seus olhos se voltaram tristes para o chão. – Peguei três semanas de suspensão.

– Três semanas?! – repeti em choque.

Ele fez que sim.

– Mas e o festival de Halloween?

– Elisabeth disse que não vou poder me apresentar, nem mesmo ir à festa.

Meu queixo caiu em decepção e frustração.

– Não é possível. – gemi.

– Sim é. – ele se levantou colocando o moleton.

Enquanto Gabriel terminava de pegar suas coisas terminei minhas lamentações sobre ele perder essa chance de se apresentar. Provavelmente apareceriam outras oportunidades e eu estaria lá para encoraja-lo.

Entretanto, isso também significava que eu teria que enfrentar as próximas três semanas sem Gabriel e a sós com Jacob.

Quando Lefroy me perguntou se estava tudo bem, eu disse que sim, porém, secretamente eu temia que essas próximas três semanas poderiam mudar para sempre o destino de todos nós.


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