Eternal Flame escrita por bandolinz


Capítulo 21
2x01 - Cavando Minha Cova


Notas iniciais do capítulo

PRIMEIRO CAPÍTULO DA 2ª TEMPORADA - Narrado pelo Jacob.



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Apesar de não fazer a menor idéia do porquê de Edward ter me chamado até aqui, meu sexto sentido dizia que coisa boa não deveria ser.

Apressei a corrida em direção ao ponto da floresta onde ele indicara. Edward estava lá, de costas para mim. Eu sabia que ele me ouviu chegando, mas não se moveu. Voltei à forma humana, vesti-me e esperei que ele começasse.

– Fico feliz que Seth tenha lhe dado o recado. – disse com a voz cansada.

– Como ela está? – cortei impaciente.

Ele sacudiu a cabeça com pesar. Eu não precisava de uma resposta para saber que Renesmee estava péssima. Assim como eu.

– Tem que me deixar falar com ela... Contar sobre o imprinting.

– Contar sobre o imprinting não é a decisão mais acertada nesse momento.

Quando ele finalmente se virou, sua expressão devastada me deu mais razões para me preocupar.

– Jacob, eu preciso que me escute atentamente. – começou com um sussurro apressado – Alice teve uma visão. Os Volturi estão a caminho e não há tempo para buscar ajuda. Nós achamos que eles sabem sobre você e Renesmee. Há uma boa probabilidade de essa ser a razão que os trará até aqui. As chances não estão ao nosso favor, mas ainda assim devemos tentar. Você tem que se afastar dela. Vocês devem continuar longe até que os Volturi cheguem, e quem sabe, nós conseguiremos convencê-los de que nunca mais haverá algo entre você e Renesmee.

Por um momento, não consegui falar. Ele continuava jogando todas aquelas informações em cima de mim, entretanto só uma coisa me perturbou de fato e eu poderia resumir toda a baboseira que ele continuava a falar em apenas uma sentença: Edward estava pedindo para que eu desistisse de Renesmee.

– Vá para o inferno! – grunhi sentindo o calor se espalhar pelo meu corpo – De jeito nenhum eu vou cometer o mesmo erro que você cometeu quando abandonou Bella.

– É apenas temporário. – insistiu. – Ela já rompeu com você, tudo o que estou pedindo é que a deixe sozinha por enquanto.

– Eu não posso fazer isso. Não vou deixar que ela sofra todo esse tempo achando que eu não me importo.

– Jacob, é a vida de Renesmee que está em jogo.

– Você nem sabe se isso vai ajudar!

– Pode ajudar.

– Você não pode ter certeza. – rosnei.

Fechei os olhos com força tentando me manter sob controle. Eu estava prestes a perder Renesmee de uma forma ou de outra. Se eu aceitasse a proposta insana de Edward talvez eu nunca conseguisse o perdão dela a tempo. Ela deixaria Forks, então o caminho estaria livre para o projeto de sanguessuga se reaproximar. Ou de qualquer modo todos nós poderíamos estar mortos dentro de alguns dias.

– Se Aro visse nas memórias de Renesmee que vocês já não estão juntos e que ela não tem a intenção de te perdoar, teríamos um argumento. Uma fresta de esperança.

Apoiei as mãos nos joelhos respirando fundo.

E se ela me perdoar antes?

– Nós dois sabemos que ela é orgulhosa demais para tomar a iniciativa. Apenas pare de procurá-la.

Sacudi a cabeça mecanicamente ainda incapaz de ceder. Eu já vi isso acontecer antes. Não fui eu mesmo quem estava lá esperando o primeiro deslize de Edward para roubar Bella para mim?

Eu sabia que seria difícil conseguir o perdão da Nessie. Eu a magoei de verdade e isso me mata. Deveria ter contado toda essa história com a Bella quando tive chance, mas, caramba, Nessie me ama. E era minha obrigação trabalhar no meu próprio meio de trazê-la de volta para mim. De amá-la e protegê-la até que ela confiasse em mim novamente. Agora esse parasita queria que eu arruinasse minha única chance?

– Renesmee precisa acreditar que não haverá mais nada entre vocês dois para que haja uma possibilidade de Aro acreditar também. – Edward acrescentou com cautela.

– E se ele quiser ver os seus pensamentos? Por acaso pensou nessa possibilidade, telepata? – o sarcasmo era ácido na minha língua.

– Não vou deixar que chegue a esse ponto.

Bufei.

– Só pode estar brincando! Isso não vai funcionar de jeito nenhum.

Edward rosnou baixo perdendo a paciência e deu um passo a frente me encarando como se pudesse me atacar a qualquer momento.

Seria bom se ele atacasse, eu precisava estraçalhar alguma coisa mesmo.

– Eu vou manter minha filha a salvo, Jacob Black. Nem que para isso eu precise te matar. Então pense duas vezes antes de chegar perto daquela casa de novo.

Edward me fitou por alguns instantes e então saiu, me deixando com aquela bomba nas mãos. Praguejei em voz baixa desejando ir à Itália por conta própria e causar o máximo de destruição possível. Mas isso seria inútil. Tudo mais era inútil, inclusive o plano de Edward.

Tomei a única direção que eu poderia tomar deixando a metamorfose ocorrer naturalmente. Minhas patas cravavam no chão extraindo o máximo de impulso que conseguiam logo as árvores não passavam de vultos escuros ao meu redor enquanto eu corria até a única coisa que habitava o centro do meu mundo. O ponto de gravidade que irreversivelmente me atraía cada vez mais para perto.

Tentei limpar minha mente, em vão. Costumava ser mais fácil limitar os sentimentos apenas para a forma humana, mas quando se tratava de Nessie, era praticamente impossível me desligar.

Jake, cara, você está bem?

Quil perguntou, eu podia ver pelos pensamentos dele que estava fazendo a patrulha do outro lado da floresta.

Vá para casa Quil, eu assumo daqui em diante.

Você já cobriu o Collin ontem à noite.

Não vou conseguir dormir de qualquer jeito.

O que tem em mente? Aposentar a matilha inteira?

É. Algo assim. Eu não me importava em cobrir o perímetro sozinho, principalmente agora, com tanta coisa pra pensar.

As coisas andam paradas desde o lance com a Emily. Sem sanguessugas, sem rastros. Tédio total. Talvez eu deva deixar você com a sua dor de cotovelo.

Rá. Não acho que o tédio vá se estender por muito tempo.

Ele hesitou por um segundo capturando minha conversa com Edward.

Caramba Jake. Isso é mau. Isso é muito, muito mau. O que vai fazer?

Continuei correndo na direção da casa dos Cullen. Será que Edward me impediria de me aproximar? Mas eu precisava tanto vê-la...

Ok. Não quer conversar. Vou indo nessa, mas não esqueça que o próximo turno é da Leah.

Esplêndido.

Talvez você prefira ter essa conversa com ela, Quil provocou.

Talvez eu queira acertar um soco na cara dela.

Ele riu aos uivos então desapareceu da minha mente.

Passei longe da Leah nos últimos dias, eu não queria estragar o casamento de Sue presenteando-a com o funeral da própria filha. Então evitá-la era o melhor que eu podia fazer para não voar em seu pescoço.

Reduzi a velocidade avistando a grande cripta branca. Ainda que eu estivesse acostumado, o fedor dos sanguessugas nunca seria algo agradável. Tornava-se suportável, uma vez que estava misturado ao cheiro da Nessie.

Nessie. Respirei fundo tentando filtrar o cheiro dela dentre os outros. Imediatamente desejei invadir aquela casa e pegá-la nos meus braços, apenas para sentir seu perfume, o calor da sua pele... Silenciosamente dei a volta pela margem da campina me mantendo escondido na parte densa da floresta. A dúvida martelando na minha cabeça. Avançar ou recuar?

Foi então que a vi. Debruçada sobre uma poltrona atrás da grande janela de vidro, os olhos inexpressivos fixos em algum ponto da floresta. No escuro do quarto, sua pele se destacava ficando ainda mais pálida, ela parecia linda e fugaz, como uma aparição. Meu coração martelou uma batida irregular, dividido entre a esperança e a angústia.

Nessie estava mais abatida do que antes. A raiva havia desaparecido, o que era pior. Apenas a melancolia emanava dela, me atingindo como ondas pesadas de água gelada. Só de olhá-la, assim de longe, eu entendia o que se passava na cabeça dela. A questão agora não era apenas eu e Bella. A questão agora era o risco de vida que todos nós corríamos. Renesmee estava se culpando pela chegada dos malditos sanguessugas italianos, eu podia apostar minha vida nisso.

Abafei o rosnar que surgia em minha garganta.

A idéia de enganá-la não me agradava. O que eu faria? Fingir que não me importo e na semana seguinte dizer que tudo foi parte de um plano estúpido e que agora podemos ficar juntos para sempre? Ridículo. Mas que outra escolha eu teria? De que outro jeito eu manteria o coração dela batendo, quente e a salvo?

Vi Edward parado como uma estátua de mármore no andar de baixo, olhando diretamente para mim. O olhar dele de algum modo conseguia ser suplicante e ameaçador ao mesmo tempo. Sacudi a cabeça tentando clarear minha mente.

Está bem. Ficarei longe dela pelo tempo que for preciso, anunciei. Se sobrevivermos é melhor me ajudar a consertar isso, parasita.

Fiquei ali por não sei quanto tempo, em silêncio, observando-a em seus quase imperceptíveis movimentos, incapaz de tirar os olhos dela, como se aquele ser tão delicado pudesse se decompor sem minha constante vigilância, odiando a mim mesmo por assisti-la sofrendo e não fazer nada quanto a isso. Até que a coisa toda ficou insuportável e eu tive de sair dali.

Corri a toda velocidade para La Push, cobri o perímetro em busca de algum rastro. Nada. Como sempre. Estava amanhecendo. Abati um cervo antes de fazer meu caminho de volta para casa, um encontro com Leah era algo que eu definitivamente queria evitar.

Enquanto corria de volta para casa obriguei minha mente a encontrar uma maneira menos torturante de passar por isso. Eu não conseguiria ficar longe de Renesmee por muito tempo. Não poder vê-la, não poder tocá-la... Isso me enlouquecia! Depois de quebrar muito a cabeça, decidi ficar por perto, me reaproximar da Nessie e acompanhá-la, pelo menos como amigo. Como eu conseguiria isso? Eu não sei.

Você não aprende nunca, não é mesmo garoto?

Trinquei os dentes. Leah.

Olha Jacob, eu sei que você ainda está louco pelo que eu fiz, mas acredite, foi melhor assim.

Eu bufei, quase rindo até. Aquilo só podia ser uma piada.

Eu fiz o que você, por anos, não teve coragem de fazer, com medo de magoar os sentimentos da família sanguessuga. Vamos lá, Jake. Assuma que você queria contar pra morceguinha branca sobre a Bella. Além do mais, agora temos a prova de que ela não gostava tanto assim de você, disse ela ironicamente, Nem sequer quis ouvir a sua versão da história. Quanta insensibilidade.

Rosnei furioso, avançando no vácuo. Se Leah pelo menos estivesse no meu campo de visão...

Uh. Que medo, ela riu.                                                                       

Tentei me acalmar, considerando seriamente voltar para a forma humana e fazer o resto do trajeto a pé.

Eu juro, assim que Emily se recuperar e Sam retomar sua parte na matilha, vou te mandar para ele, declarei. A vingança me trazendo a primeira centelha de prazer em dias. E então me lembrei de como era divertido jogar com esse lance de ser o alfa, ainda que Sam se recusasse a princípio, ele não teria escolha.

O humor e a superioridade evaporaram do tom de Leah.

Você não ousaria...

Eu não apostaria dinheiro nisso, rebati me sentindo uma tonelada mais leve.

Garoto estúpido. Eu salvei o teu pescoço da forca. Deveria me agradecer.

Não Leah. Sinto muito destruir a ilusão na qual você seria capaz de me salvar de alguma coisa, mas meu pescoço está mais a prêmio do que nunca.

Ela vacilou por um instante procurando o significado das minhas palavras. Quando os flashes dos últimos acontecimentos começaram a reviver em minha memória e a compreensão foi substituindo a confusão nos pensamentos dela eu me transformei. Não queria que Leah visse mais do que eu pretendia mostrar.

Me vesti e corri o restante do caminho na forma humana. Não foi lá uma grande caminhada, eu já estava perto de qualquer forma.

– Hey Jake. Que tal ajudar seu velho pai aqui com uma carona até a casa de Charlie? – Billy pediu assim que passei pela cozinha.

Dei meia volta me encostando à soleira da porta e encarando o velho, ele estava confortavelmente acomodado em sua cadeira de rodas, com um engradado de cerveja em cima da mesa, à sua frente. Pronto para sair. Apenas esperando por mim.

– Bom dia para você também pai.

– Charlie e eu marcamos de assistir ao jogo...

– Tudo bem. – eu disse de boa vontade.

Billy me estudou por alguns segundos enquanto colocava o engradado no colo. Me apressei em pegar sua cadeira e rebocá-lo para fora. Não queria contar o que estava acontecendo, ainda não. E ajudar o velho seria uma boa forma de matar o tempo. Já que com Leah na forma de lobo, eu estava preso na forma humana pelas próximas horas.

Levei Billy até a casa de Charlie sem trocar muitas palavras durante o percurso. Chegando lá, mesmo não passando do jardim dos Swan, tive de ouvir os votos sinceros de Charlie dizendo que esperava que eu e Renesmee reatássemos logo e de como ela estava péssima da última vez que ele esteve na casa dos Cullen. Ótimo. Mais uma rodada de vinagre nas minhas feridas abertas.

Voltei para casa, passei um tempo improdutivo na oficina e então me arrastei para o sofá na sala, na esperança de conseguir desligar minha mente por alguns míseros minutos.

De repente Leah passa marchando pela porta e para em frente a mim com cara de poucos amigos. Como sempre.

Mas é claro que eu não teria paz.

– Tem idéia da ansiedade que eu fiquei até meu turno acabar? – ela bateu pé na minha frente – Que história é essa de estarmos todos à beira da morte?

– Não é da sua conta.

– Claro que é. – rosnou.

Eu a ignorei completamente, se não podia me livrar de Leah pelo menos eu poderia enlouquecê-la de curiosidade. Talvez ela mesma tomasse a iniciativa de partir para cima de mim, desse jeito não seria problema se eu apenas revidasse. Eu alegaria legítima defesa...

– Eu sabia. – Leah sibilou num tom que capturou minha atenção. – Sabia que ela mataria todos nós. Quando os parasitas italianos chegarem, nós seremos outra vez os cães de guarda dos Cullen.

– Não vou pedir que façam isso. – disse sem emoção.

– E precisa? Eu não vou ficar escondida em algum lugar da floresta enquanto você luta sozinho.

Suspirei não entendendo o raciocínio dela e exausto demais para tentar acompanhar.

O que você quer, então?

– Eu quero que você pare de agir como um idiota!

Fiz uma carranca para ela, a expressão de Leah, no entanto, era aberta e franca quando ela se agachou ao meu lado.

– Pense um pouco garoto. Tudo seria muito mais simples se você apenas a deixasse ir. Sem mortes, sem estragos. Sem danos para ambas as partes.

– Você é um grande exemplo de como seguir em frente, é claro.

– Dá pra abaixar a guarda só dessa vez? Eu to tentando fazer a coisa certa aqui.

– Não brinca. – zombei encostando a cabeça no braço do sofá.

– Olha Jacob, por mais que eu deteste aquela cria de morcego, eu entendo que vocês estão amarrados pelo imprinting e blá, blá, blá... E eu não quero te ver se arrastando como um zumbi nos últimos dias que te restam de vida – acrescentou ela com uma nota de humor – Então eu estou aqui, te garantindo que essa foi a última vez que eu me intrometi na tua vida.

– Hã? Eu ouvi direito? Você está se desculpando? Alguém chame um exorcista, um espírito maligno se apoderou do corpo de Leah Clearwater! – gritei para os cômodos vazios.

Ela riu. Os traços de rancor momentaneamente desaparecendo de sua expressão. Leah até conseguia ser bonita quando não estava ocupada demais fazendo a vítima amargurada.

– Não se empolga garotão. Ninguém aqui falou em desculpas. É mais como uma... Trégua.

– É, mas isso não muda nada. O estrago já está feito. Além do mais eu decidi ficar longe da Nessie até os Volturi chegarem.

– Como se você fosse conseguir. – Leah murmurou ironicamente.

Para isso eu não tive resposta. Eu não sei quanto tempo vou conseguir ficar longe da Renesmee e muito menos se vou resistir ao impulso de pegá-la em meus braços se por acaso eu esbarrar com ela por aí.

De repente, como se evocado pelos meus pensamentos, o perfume dela invadiu o ambiente, era muito leve ainda, misturado ao cheiro da terra molhada pela chuva que agora caía lá fora, mas era ela. Sem sombra de dúvida Renesmee estava por perto.

Meus músculos se contraíram de imediato.

– O que foi? – levou algum tempo ainda até que Leah notasse. – Oh. O que você vai fazer?

– Eu não sei. – respondi tenso, procurando qualquer maneira de evitar um confronto, mas pelo cheiro ela já estava perto o suficiente.

Se Nessie veio até aqui é porque repensou sobre nós. A satisfação inundou meu peito apenas para ser sufocada pelo peso da responsabilidade.

– Vai reatar com ela? – Leah pressionou.

– Eu não sei! Eu não posso fazer isso. Ela não deveria ter vindo. – murmurei frustrado comigo mesmo.

Antes que eu pudesse pensar a respeito, Leah montou em cima de mim.

– Mas que droga é essa?

Ela se inclinou segurando meu rosto.

– Você vai ficar me devendo essa.

Num minuto o cheiro de Nessie era tudo o que eu podia sentir e em seguida os lábios de Leah já pressionavam nos meus.

Por reflexo empurrei Leah para o lado. Ela me puxou e eu caí por cima dela no chão.

– Que diabos você ta fazendo? – sussurrei atordoado.

– Salvando sua pele. – ela explicou irritada.

Foi quando ouvi o ranger da velha porta dos fundos se abrindo que entendi. Ela estava me oferecendo uma maneira de evitar um confronto com a Nessie.

E no desespero para manter Renesmee a salvo dessa vez eu tomei a iniciativa e beijei Leah.

Os dedos dela se envolveram em minha nuca e ela correspondeu ao beijo com uma atuação mais convincente do que eu esperava. Uma mínima parte de mim se perguntava por que o coração de Leah continuava acelerando embaixo do meu, por que os lábios dela se moviam tão urgentemente nos meus e por que as mãos dela insistiam em me puxar para mais perto.

Ainda assim noventa e nove por cento do meu cérebro estava focado no som da respiração de Renesmee, que desapareceu com um arfar denunciando o momento exato em que ela nos viu. Esperei que aquilo fosse o suficiente, e que Nessie fugisse de mim de uma vez, me odiando mais do que nunca.

Mas não foi.

– Jake!

Me levantei e, quando olhei nos olhos dela, eu sabia que não era tarde demais. Sabia que ainda havia tempo de reparar o tamanho estrago que eu causara. Renesmee estava ali - trêmula e encharcada - na minha frente, parecendo mais frágil do que ela alguma vez na vida parecera. Esperando apenas que eu fizesse o que eu mais queria fazer.

Domei o ímpeto de implorar seu perdão, decidido a fazer o que fosse preciso para levar aquilo até as últimas consequências.

– x –

– Adeus Jacob.

Quando Renesmee saiu correndo, não foi só a dor de ver a decepção e o ódio nos olhos dela. Não foi apenas a tortura de ver a mulher da minha vida indo embora, talvez para sempre. Senti que ela também estava arrastando para longe a melhor parte de mim.

Não percebi que minhas pernas haviam me levado para a frente até que Leah grunhiu.

– Isso tudo não vai ter servido pra nada se você sair correndo atrás dela agora como um cachorrinho.

Parei a meio caminho da porta e me encostei à parede da cozinha.

– Vai embora daqui Leah.

Levei as mãos à cabeça apertando-a com força. Talvez, com sorte, eu conseguisse esmagar meu crânio.

– Jacob...

– Cai fora Leah! Será que não entende que eu não quero você aqui? – gritei.

Ela me encarou furiosa, mas havia algo mais. Parecia... Decepção?

Daí eu lembrei o beijo e me ocorreu que talvez Leah estivesse confundindo as coisas. Maravilha! Quem sabe outra hora eu pudesse esclarecer minhas motivações para ela. Mas no exato momento, eu estava ocupado demais com minhas próprias dores pra me preocupar com os sentimentos de Leah.

Ela saiu bruscamente, esbarrando em mim de propósito ao passar pelo corredor estreito.

E mais uma vez eu estava preso na forma humana, com as dores humanas. Saí de casa antes que eu quebrasse alguma coisa. Mas eu estava sem opções. Só havia um lugar para onde eu queria ir e era exatamente esse o lugar onde eu não poderia estar.

Andei até a praia ignorando a chuva forte. Isso não me incomodava afinal.

Eu nem iria notar que estava chovendo, não fosse a imagem de Nessie ainda tão nítida na minha mente. Molhada da cabeça aos pés se mostrando absurdamente vulnerável diante de mim... Eu nunca iria me perdoar por tê-la tratado daquele jeito.

Idiota. Idiota. Idiota. Repeti para mim mesmo como se isso pudesse mudar as coisas. Mas eu fiz o que tinha que fazer e, com sorte, quando os Volturi chegarem, eles vão poupar a vida dela. E é isso que importa, certo?

Segui caminhando pela orla da praia vazia imaginando como ela estaria agora. Quem iria consolá-la. Quem iria aquecê-la...

– Jake! Jake! – ouvi Embry chamando do outro lado da praia.

Me virei para vê-lo parado no limite da floresta, ele parecia tenso.

– Ainda bem que eu te achei cara! – ele gritou permanecendo onde estava – Uma vampira invadiu nossas terras. Os caras querem pegá-la.

Meu sangue esquentou apenas pela oportunidade de uma batalha. Corri na direção da floresta já tirando a camisa. Uma luta agora era tudo o que eu precisava.

– O que eles estão esperando, que ainda não a atacaram? – grunhi enquanto passava por ele.

– Espera Jake!

– O que foi, Embry? – gemi impaciente.

– A vampira que invadiu nossas terras... Er... A vampira é a Bella.


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