Eternal Flame escrita por bandolinz


Capítulo 16
Incidente




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Os dias que se seguiram foram bastante tumultuados. A princípio, Jasper, Alice e Bella não gostaram da presença de Candy e desconfiavam dos motivos que a trouxeram até nós. Tudo mudou quando Edward garantiu não ter encontrado nenhuma ameaça relevante na mente dela, excetuando a presença de alguma piada interna que ele se recusava a revelar, dizia que se eu quisesse entender, perguntasse diretamente à Cadence sobre o porquê dela estar aqui.


Eu não queria ser indelicada, então lutei contra minha curiosidade e adiei essa pergunta para um momento propício.


Edward não ficou muito satisfeito ao saber que Jacob escolheu ir embora conosco e, pior, teve meu apoio, entretanto meu pai tinha prometido me apoiar em qualquer que fosse minha decisão e não fazia parte do caráter de Edward Cullen faltar com a palavra.


Rosalie não deixou de demonstrar toda a sua fúria a respeito disso.


Jacob também não saiu ileso dessa. À custa de muita persuasão, ele aceitou frequentar a escola como o restante de nós, também teve que aceitar as condições de Alice, ela exigiu cuidar do guarda-roupa dele a partir do momento em que viajássemos.


– Se você pretende entrar para a família, deve pelo menos começar a se vestir a altura. – disparou ela altiva, sem se deixar abalar pelos protestos indignados de Jacob.


Quando Jake por fim se rendeu, um sorriso radiante estampava o rosto da minha pequena tia, como uma criança que acabava de ganhar um brinquedo novo. O bizarro é que, para Alice, era mais ou menos isso mesmo.


Naturalmente eu ainda estava de castigo e Jacob muito ocupado caçando Ryan, o que restringiu nossos encontros. Meu pai quase teve um colapso nervoso ao ler em meus pensamentos o acontecido na garagem, só se acalmou porque Bella ameaçou bloquear minha mente e a de Jacob, caso ele não controlasse suas reações. Desde aquele dia, nos falávamos apenas por telefone, Jacob estava proibido de ir ao chalé ou à mansão dos meus avós por tempo indeterminado.


Candy parecia moldar-se facilmente à nossa rotina e a amizade entre nós duas evoluía depressa, como foi com Nahuel. As afinidades surgiam das pequenas e grandes coisas e, na ausência de Jacob, em pouco tempo nos tornamos inseparáveis.


Jake, por sua vez, odiou saber sobre nossa nova visitante. Fiquei na dúvida se era pelo fato dela habitualmente matar humanos ou se ainda era por pura rixa com Nahuel. Minha mente se recusava a acreditar na segunda opção.


Controlei-me para aceitar que eu e Jake teríamos a eternidade juntos, mais do que isso, em menos de um mês moraríamos na mesma casa, – eu mal podia conter minha ansiedade por essa parte – então eu precisava voltar minha atenção àqueles de quem eu teria de me despedir em breve, em especial Charlie.


Carlisle, Jasper, Emmett e Bella estavam cuidando dos detalhes para nossa nova vida no Alasca. Minha mãe se mostrava muito orgulhosa de si por encomendar nossos documentos com um tal de J. Jenks. Charlie, Sue e Seth tornaram-se presença constante em jantares – onde apenas metade de nós comia de fato – e reuniões sobre o casamento orquestradas por Alice e Esme. Eles acertaram de alugar um espaço para realizar a cerimônia, já que alguns dos Quileutes não se sentiriam à vontade numa casa cheia de vampiros.


Ao contrário de Jacob, Seth se deu super bem com Candy, o que não era de se espantar, Seth se dá bem com todo mundo. O coitado ficava de um lado para o outro da fronteira atrás de Edward ou acompanhando Jacob, no intuito de aproveitar cada segundo que lhe restava com seus melhores amigos. Não pude deixar de me sentir um tanto culpada por isso. Eu estava levando Jacob embora, roubando-o de todos que o veneravam.


Mas meu egoísmo era algo que eu conhecia bem e eu não abriria mão de Jacob por nada nesse mundo.


Hoje é o chá de baby da Emily, minha chance de voltar à La Push e ficar com Jacob por um tempinho, Edward permitiu, mas com uma condição, Candy teria de ir também. Ótimo! Convencer Jacob é que seria uma missão impossível.


Eu estava deitada no sofá, apoiada no colo de Bella, procurando um bom argumento enquanto minha mãe lia um livro. Edward estava no outro andar.


A paz e silêncio na casa eram fruto da ausência de Emmett e Rose, que foram caçar, e de Alice e Esme, que saíram juntas para escolher a decoração do casamento de Charlie.


– Acho que ele chegou. – avisou Candy, parada em frente à grande parede de vidro da sala de estar.


Lancei um olhar suplicante para Bella.


– Por favor, bloqueia a gente? – pedi baixinho.


Ela considerou meu pedido por alguns segundos e assentiu.


– Olha lá o que vocês vão aprontar.


Sorri e lhe dei um beijo na bochecha.


– Obrigada! – levantei num salto e me virei para Candy – Volto logo.


– Nem se apresse. – ela sorriu erguendo as mãos na defensiva.


No instante em que eu abri a porta, Jacob descia da moto, me olhando com um sorriso deslumbrante no rosto. Meu coração disparou só em vê-lo, esses dias geraram tanta saudade que não cabia em mim. Pulei os degraus e corri até ele me atirando em cima dele, prendendo minhas pernas em sua cintura.


Jacob me segurou, girando comigo e por fim me beijou. Permiti-me beijá-lo sem policiar meus pensamentos, deixando fluir todo o desejo e paixão entre nós, e aquilo era maravilhoso, eu me sentia tão livre que nem dava para acreditar. Foi Jacob quem interrompeu o beijo e aproveitou para afastar um pouco meu corpo do dele, mesmo sem me soltar.


– Posso saber o motivo de tanta felicidade? – ele me lançou um olhar divertido, mas parecia um pouco nervoso.


Então eu lembrei! Jacob não sabia que os nossos pensamentos estavam muito bem protegidos por Bella. Decidi brincar um pouco com isso.


– Você! Preciso de algum outro motivo para ficar feliz estando assim tão pertinho de você, hein? – sussurrei fazendo um carinho no pescoço dele e beijando brevemente seus lábios macios.


Jacob estremeceu, os pelos da nuca dele se eriçaram e eu ri.


– Nessie, Nessie. – ele repetiu com a voz sensualmente rouca. – Eu posso até controlar minhas ações, mas desse jeito fica impossível controlar meus pensamentos, dá pra pegar leve?


– Ah é? – Afastei meu rosto e olhei para ele tentando não rir. – E o que você está pensando de tão indecente que meu pai não pode ver?


Os olhos de Jacob se estreitaram e ele deu um meio sorriso sarcástico, sua voz assumiu um tom defensivo e zombeteiro.


– Talvez no meu funeral você descubra.


Mordi o lábio inferior sentindo minhas bochechas pinicarem.


– E não vale o risco?


– Pior que sim. Por que você acha que ainda está nos meus braços? – ele abriu um largo sorriso e aproximou o rosto do meu.


Tombei a cabeça para frente encostando minha testa na dele. Ficamos em silêncio por um instante, apenas olhando um para o outro, sentindo nossas respirações se misturarem.


Jacob fechou os olhos e me beijou suavemente, retribuí em um ritmo lento.


– Então, eu já morri? – brincou erguendo as sobrancelhas.


Bati de leve nos ombros dele.


– Minha mãe bloqueou nossas mentes, bobinho.


Jacob ficou boquiaberto por meio segundo.


– Uau! – ele gritou eufórico me ajeitando, dessa vez, para mais perto de si – Vamos comemorar!


– Ei, fala baixo! – bati nele de novo – Edward ainda pode nos ouvir, principalmente com você gritando desse jeito.


Ele sorriu, um sorriso provocativo.


– A que horas eu passo para te pegar hoje? – Jake perguntou animado e eu fiz uma careta me soltando dele devagar – Quero dizer, você disse que ia ajudar Emily, naquela coisa lá...


– Chá de baby. – especifiquei.


– É, isso. – concordou não dando importância, Jacob se mostrava mais interessado em minha súbita mudança de humor.


– Pois é... Eu queria falar com você sobre isso!


– Ih, tava demorando. – Jake gemeu passando a mão nos cabelos com um pouco mais de força do que o necessário, seu esforço para não ficar irritado era nítido.


– Eu posso ir até La Push, – suspiro – se Candy for comigo.


– Ah, isso não. – Jacob sibilou entredentes. – Se aquela sanguessuga cruzar a fronteira, ela pode se considerar uma vampira morta.


– Jake! – gritei com os olhos se arregalados de espanto, ele não podia estar falando sério. – Você me prometeu que não faria nada contra Candy.


– E não vou, desde que ela fique longe das nossas terras. Mas se a sanguessuga quiser se arriscar... – Jake deu de ombros, sua expressão indicava que a idéia era bastante interessante para ele.


Examinei seus olhos negros com cuidado e me assustei ao perceber que ele estava mesmo falando sério. Precisei de um segundo para me recompor.


– Sabe, Jake, eu acho que não estou entendendo bem. Você disse que ela não poderia ir à La Push por ser vampira, sendo assim eu também não deveria ir.


– Ah, Nessie! É diferente...


– Por que é diferente? – exigi me mantendo firme.


Ele jogou a cabeça para traz deixando escapar um gemido impaciente, girou lentamente o pescoço e, quando voltou a me encarar, seu rosto parecia mais equilibrado, mais sereno.


– Primeiro – ele começou a caminhar na minha direção, um sorriso amistoso ameaçando se formar em seu rosto –, você é a minha garota.


Meu coração triplicou o ritmo das batidas ouvindo Jake falar aquilo. Esperei paralisada enquanto ele afagava meu rosto com a palma da mão, um gesto repleto de carinho. A outra mão dele pousou em minha cintura, depois me envolveu me puxando para perto dele. Tive a nítida impressão que Jacob estava me hipnotizando, tentando me distrair.


E estava funcionando.


– Segundo, – continuou beijando meu pescoço – você não mata pessoas indefesas pra beber até a última gota de sangue que lhes restar.


– Ela... Mudou de dieta. – rebati, já sem a mesma convicção inicial.


– Há uma semana? – sua voz assumiu um tom em ironia e então ele me olhou nos olhos, falando sério dessa vez. – Eu não confio nela, Nessie.


– Eu sei. – gemi abraçando os ombros dele e afundando o rosto em seu peito.


Era um refúgio tão confortável que eu não tinha a menor vontade de sair dali, do calor dos braços dele. Ficamos alguns instantes em silêncio até que finalmente consegui empurrar para fora a pergunta que me torturava há dias.


– Ou tem haver com Nahuel?


Jacob abriu a boca, mas fechou logo em seguida, não dizendo mais nada. Sua expressão repentinamente vazia.


– Se você acha que ela veio a mando do Nahuel, está enganado.


Jacob bufou.


– Já perguntou por que ela veio?


– Não, e nem vou perguntar. Candy não é perigosa. – falei só de birra.


– Então nada feito.


Abracei o pescoço dele ficando na ponta dos pés.


– Jake, é a chance que nós temos de ficar um tempinho juntos. – choraminguei – O que custa? Candy não vai fazer nada de mau, eu te garanto. Se você deixasse esses seus preconceitos de lado veria como ela é uma boa garota.


Ele mordeu o lábio inferior e fez um curto sinal de negativa com a cabeça. Se ele soubesse como ficava tão encantador quando fazia isso...


– Olha, não depende só de mim. Sam também não vai gostar.


– Vamos lá, Jake! Você é o alfa, se você disser que não tem problema ninguém vai contestar sua palavra. Por favor. Não se sabe quando teremos outra chance como essa. Do jeito que você despreza a idéia até parece que não está com saudades. – estendi meu olhar mais suplicante para ele fazendo biquinho.


– Sabe de uma coisa? – seus olhos negros se estreitaram com um brilho intenso.


– O que? – gemi ainda num tom apelativo.


As mãos de Jacob deslizaram pela lateral do meu corpo e então pararam na minha cintura me fazendo cócegas.


– Jake! – gritei explodindo numa gargalhada.


– Você é uma chantagista muito, muito maquiavélica. – acusou ele entre risos.


– Pára, Jake! Pára... – arfei já quase sem ar de tanto rir.


Empurrei seu peito, me contorcendo entre risos na tentativa de me livrar dele.


– Acredita que mesmo depois dessa incrível revelação eu ainda te amo? – dizendo isso Jacob me puxou com força contra si, segurou minha nuca com a outra mão e me beijou.


Meus lábios se moldaram aos dele sem oferecer resistência. Mesmo não me restando fôlego algum, eu queria aquilo, precisava do beijo de Jacob mais que do próprio ar. Jacob deu um passo para trás e eu o acompanhei incapaz de soltá-lo.


Minha mente girava pela falta de oxigênio, ainda assim não foi suficiente para me fazer parar, um torpor lento e prazerosamente doloroso se apossou do meu corpo me fazendo perder os sentidos por meio segundo.


– Nessie! – Jake chamou preocupado, o braço em minha volta me mantendo de pé.


Puxei uma boa quantidade de ar tentando normalizar a respiração.


– Ficou louca? O que estava fazendo?


– Desculpa, não sei o que deu em mim. Acho que meu subconsciente quis aproveitar o pouco tempo que tinha com você, já que decidimos não ir à casa de Emily juntos hoje. – gemi inocentemente, aproveitando a situação.


Jacob revirou os olhos e respirou furiosamente.


– Tudo bem, você venceu! Posso lidar com isso, mas é só por hoje. – sentenciou.


– Obrigada, meu amor! – sorri genuinamente abraçando Jake outra vez.


– Opa. Vai com calma dessa vez, hein?


Nós dois rimos juntos.


Ele ficou mais alguns minutos comigo e depois teve de ir. Soltei um suspiro apaixonado e flutuei de volta para casa. Para minha surpresa, Candy ainda estava parada no mesmo lugar, me observando pela janela de vidro.


– Nessie, que invejinha de você agora! – Candy gemeu assim que eu entrei na sala. – Vocês dois formam um casal tão lindo que eu não consegui nem desviar a atenção para outra coisa, parecia até filme romântico. – ela se aproximou de mim com os olhos brilhando de fascinação.


Mexi no cabelo, sem reação para o deslumbramento dela. De qualquer forma, não pude deixar de me envaidecer com suas palavras.


– Não precisa ficar com vergonha Nessie! Só estou falando a verdade, até um cego pode ver a ligação entre vocês! É uma química tão forte, tão real... Se há algo que eu consigo identificar de longe é o amor verdadeiro. E vou te contar, nunca vi um casal tão perfeito quanto você e o Jacob.


– Sinal de que você não reparou nos meus pais. – murmurei.


Ela sorriu e piscou.


– Na verdade, que bom você pensar assim, pois irá comigo a La Push hoje!


– O quê? – ela gritou arregalando os olhos teatralmente – Olha, por mais fofos que os dois sejam, e são, me desculpe eu não tenho a menor vocação para castiçal, Renesmee.


– Candy, por favor. – gemi unindo as mãos. – Em nome do amor verdadeiro.


Sua sobrancelha esquerda se ergueu formando um arco perfeito enquanto ela parecia considerar minha proposta.


– E aquela história do tratado? – indagou com uma indiferença forçada. – Eu quero saber se o verdadeiro amor vai nos salvar de uma matilha de lobos furiosos.


Reprimi um sorriso prevendo minha vitória. Pelo visto eu estava excepcionalmente influente hoje.


– Tem uma coisa que eu preciso te contar. – comecei. – Sobre os lobos de La Push.


– Sim?


– Jacob... Jacob é um deles. O alfa, para ser precisa.


A boca dela se abriu, em uma completa expressão de choque. Candy era uma boa atriz, sempre tinha reações exageradas para tudo. Logo em seguida seus dentes brancos cintilaram em um sorriso perigosamente entusiasmado.


– UAU! A história é melhor do que eu pensava! A filha dos vampiros e o chefe dos lobisomens. Genial! Eu não poderia ter uma idéia melhor... – falou rápido, uma frase atropelando a outra até o brilho desaparecer do seu olhar. – Espera aí! Isso é permitido?


Mordi o lábio inferior encarando o chão. Velhos problemas voltando a assombrar minha mente.


– Ah. – murmurou com a voz abafada.


De repente os braços dela estavam em minha volta me aninhando.


– Ninguém mais precisa saber disso, Nessie. Será um segredo nosso! – Candy sorriu solidária e eu agradeci.


A maneira como Cadence se sensibilizou com a minha causa me admirou, não esperava isso dela. No fundo Candy era uma garota muito romântica, pelo menos o bastante para aceitar me acompanhar. Meus pais não puderam reclamar, afinal, eu estava seguindo suas condições.


Assim, eu e Candy íamos rumo a La Push na minha Mercedes em alta velocidade.


– Será que o Seth estará lá? – Candy perguntou reflexiva. – Seria bom encontrar algum conhecido no terreno inimigo.


Fiz uma careta.


– Não é terreno inimigo. Seth? Rolou um clima entre vocês e eu não estou sabendo, é? – brinquei.


– Não delira, Nessie! – ela deu uma tapa leve no meu banco – Ele é um garoto legal, mas eu já encontrei o homem da minha vida.


Desviei a atenção da pista para me surpreender com o olhar apaixonado de Candy.


– E não vai me contar quem é?


– Talvez você não goste muito da resposta.


Dei de ombros.


– Deixando o Jake de fora você pode gostar até do Aro.


Cadence riu da minha piada tosca e eu acabei rindo junto.


– Definitivamente não! – ela exclamou abanando as mãos entre risos.


Virei à esquerda seguindo por uma estrada de terra estreita. Estávamos quase chegando.


– Então quem é? – insisti.


Candy suspirou lentamente e por fim respondeu com um sorriso nos lábios.


– Nahuel.


Os números marcados no velocímetro do carro caíram drasticamente refletindo meu choque.


– Acho que eu não escutei direito. – consegui balbuciar.


Os olhos dela se estreitaram furiosos.


– Não acredito! Você ainda gosta dele! – acusou ressentida.


– Quê? – minha voz subiu três oitavas, a informação não queria processar na minha cabeça, ela não poderia estar falando sério. – Claro que não! Mas vocês... São irmãos!


– Meio irmãos. – Candy afundou no assento bufando.


Senti meu rosto se deformar em confusão.


– E você acha isso normal?


– Por acaso o lance entre você e o Jacob é algo normal? – rebateu impetuosa.


– Uma coisa não tem nada a ver com a outra.


– Eu amo Nahuel. – ela falou pausada e claramente. – Esses preconceitos idiotas são coisas dos humanos. Ele é o único da minha espécie e é perfeito para mim. Como você acha que as espécies evoluem? – sorriu ironicamente.


Estacionei na frente da casa de Emily e Sam e girei a chave desligando o carro.


– Olha, vamos encerrar esse assunto por enquanto, está bem? – falei ainda agitada com a nova revelação.


– Se prefere assim. – ela deu de ombros em perfeita calma.


Saímos do carro e caminhamos numa velocidade humana até a pequena casa. Examinei Candy pelo canto do olho, achando impossível ela me parecer mais estranha do que agora. Como ela conseguia encarar com tanta naturalidade uma absurda paixão pelo próprio irmão? Claro que não tinha nada a ver com ciúmes de Nahuel, ele era livre para ficar com quem quisesse. Isso me deixaria feliz até, saber que ele superou nosso... Caso. Fiz uma careta ao pensar no assunto. Nós dois juntos parecia um quadro tão impossível de imaginar agora, com Jacob ocupando cada pensamento meu, com a obviedade de que nós fomos feitos um para o outro.


Emily veio os receber, exuberante com seus quase nove meses de gestação.


– Nessie, – ela me abraçou afetuosamente – que bom que veio.


– Bom te ver também. Você está ótima. – elogiei gesticulando para ela.


Seu sorriso se alargou no lado bom do rosto, depois seu olhar pousou sobre Candy sem a mesma simpatia.


– Esta é a Cadence, ela está passando um tempo conosco. – expliquei.


Emily assentiu, seus lábios se apertaram formando uma linha fina.


– Jacob sempre dá um jeito de reinventar as regras. – censurou.


– Essa é a vantagem de ser o chefe! – Candy disparou para meu total constrangimento. – Que graça teria se não pudesse mudar as regras?


Candy se balançou nos calcanhares com um sorriso angelical nos lábios enquanto o queixo de Emily caiu em choque. O manual de etiqueta ia para a lata de lixo com a sinceridade excessiva daquela meia vampira.


Acertei as costelas de Candy com o cotovelo e ela me olhou sem entender.


– Bem, Jake não mudou nada, foi só uma exceção. – aleguei na tentativa de disfarçar o embaraço da situação.


Graças a Deus Emily não quis esticar o assunto e nos conduziu até o interior da casa. Toquei o braço de Candy, contando que apesar de Jacob ser o alfa absoluto, Sam também liderava uma matilha.


– Ah, você não avisou. – ela reclamou aos sussurros enquanto atravessávamos a cozinha.


Rachel e Kim estavam sentadas conversando distraidamente. Senti a falta de Claire, a pequena estava na praia com o Quil. Emily explicou que a entrada dos rapazes só seria liberada mais tarde para eles não bagunçarem tudo antes da hora. E eu tive de concordar com ela achando aquilo um tanto divertido.


Após meia hora ouvi uma moto se aproximar, trazendo um cheiro que eu jamais confundiria. Emily se levantou a fim de receber a nova visita e eu a segui mal conseguindo ficar atrás dela, contive meus passos para não ultrapassá-la.


Meu sorriso se desfez assim que avistei Jacob na moto com Leah Clearwater. Paralisei na pequena varanda por alguns segundos enquanto Emily recebia a prima com carinho e cumprimentava Jacob. Leah como sempre muito simpática me encarou furiosamente, só que os cantos de seus lábios se ergueram quando ela percebeu minha reação diante daquela cena. Marchei até ele ignorando Leah e Emily que cruzaram meu caminho voltando para a casa. Eu via tudo em vermelho.


– O que isso significa Jacob Black? – cruzei os braços fechando a cara.


Jacob puxou uma boa quantidade de ar pela boca, me olhando com cara de culpado. Ele sabia o quanto eu odiava vê-lo pra cima e pra baixo com Leah.


– Ei, Nessie não fique irritada. Foi só uma carona.


– Desde quando Leah precisa de carona? Ela pode caminhar com as próprias patas.


Ele revirou os olhos depois esticou os braços para me abraçar.


– Vem cá, vem.


– Ainda estou esperando uma explicação, Jake. – permaneci imóvel de braços cruzados, se eu deixasse ele me abraçar, muito provavelmente, me esqueceria de brigar com ele depois.


– Ta estressadinha hoje amor? – Jacob se inclinou beijando cada centímetro do meu rosto.


As velhas borboletas se agitaram em meu estômago, enquanto um arrepio dominou meu corpo. A respiração dele indo de encontro a minha pele era algo que sempre me fazia perder o equilíbrio. Acabei sorrindo e recuando um pouco para não me derreter ali mesmo.


Jacob sorriu satisfeito e passou a mão no meu cabelo.


– Paul encontrou um rastro recente do sanguessuga que estamos caçando. Está fora das nossas terras, mas acho que, com um pouco de sorte, podemos pegá-lo hoje mesmo. – confidenciou. – Por isso pedi que a Leah ficasse por aqui... Você sabe, caso a vampira convidada queira colocar as garras para fora.


Suspirei diante da medida preventiva desnecessária de Jacob. Mas falar em Candy me fez lembrar nossa conversa no carro.


– Nem me fale. Candy é mais louca do que eu pensava. Não vai acreditar no motivo de ela estar aqui.


– Vou, se você contar. – os olhos de Jacob assumiram um brilho turbulento de expectativa.


Eu sabia o que ele esperava ouvir e não chegava nem perto do que eu iria falar.


– Cadence queria me conhecer por que estava com ciúmes do Nahuel. Acredita que ela é apaixonada por ele? – contei deixando minha indignação transparecer.


– Ta brincando? Ela não viria até aqui só por isso. Deve ter outra coisa... – a testa de Jacob se enrugou, ele parecia se esforçar para encontrar alguma explicação diferente.


– Jacob! Você ouviu o que eu disse? Ela é apaixonada pelo Nahuel. – repeti dando mais ênfase dessa vez.


– E daí? – perguntou de má vontade.


– Eles são irmãos!


– Essa parasita mata pessoas e você se incomoda com quem ela gosta ou deixa de gostar? Ah, francamente! Está se prendendo aos problemas errados, Nessie.


– Jake! – finquei o pé no chão.


Os olhos dele se estreitaram um pouco.


– Está com ciúmes do projeto de vampiro, Nessie?


Eu poderia ter dado uma boa resposta, mas Jacob ficava tão irresistível quando sentia ciúmes que eu decidi não prolongar aquela discussão.


– Por quê? Você está com ciúmes?


A desconfiança desapareceu do seu rosto dando lugar a um ensolarado sorriso. Jacob deu um passo à frente para me alcançar, com um braço envolveu minha cintura e recuou me arrastando para perto dele.


– Por que eu ficaria com ciúmes? Foi a mim que você escolheu... – disse presunçoso e beijou o canto dos meus lábios – É a mim que você ama.


– Sábia resposta. – eu sorri beijando-o.


Em algum lugar na floresta, um lobo uivou.


– Tenho que ir. – Jake ficou sério de repente lançando um olhar preocupado para as árvores atrás de si – Mais tarde passo aqui.


Ele encostou os lábios nos meus num beijo breve, porém repleto de carinho e depois correu para encontrar o resto da matilha.


Voltei à aconchegante casa de Emily, onde a conversa estava bem animada e incrivelmente Candy não demonstrava nenhuma dificuldade em se entrosar. Quem parecia deslocada era Leah, como sempre, não economizando na antipatia e nas alfinetadas. Ficou explicito que ela só estava ali porque Jacob mandou.


Naturalmente aquela era uma situação desconfortável. Apesar de primas, Emily estava grávida do homem que Leah amou por muitos anos, se é que ela não o amava ainda. Diferenças a parte, eu entendia um pouco e me solidarizava até.


– Rachel, você me faria o favor de buscar Claire na casa do Quil? – Emily pediu tirando um bolo do forno.


– Claro! Sem problemas. Aproveito para passar na casa dos Clearwater e volto com a Sue.


A irmã de Jake levantou prontamente e se dirigiu a porta.


– Eu nunca te vi tão feliz, Emily. – comentei.


– E estou mesmo. – ela passou a mão sobre a barriga afetuosamente – Quando você e Jacob tiverem o de vocês, vão entender como é mágico esse momento.


– Um filho meu e do Jake? – soltei um riso baixo que misturava expectativa e um pouco de constrangimento. Permiti que minha mente vagasse conduzida pelas palavras daquela mulher, ainda era difícil projetar, mesmo assim estremeci imaginando uma linda criança com os olhos dele, os cabelos escuros ou quem sabe cor de bronze...


– Para terem um filho eles primeiro iam precisar praticar outra coisa. – Candy disse interrompendo meus devaneios e me deixando vermelha como um pimentão.


Emily e Kim tentaram não rir, mas acabaram explodindo em um riso malicioso acompanhadas por Candy. Eu estava completamente sem jeito.


– Você é ótima Candy! Traga ela aqui mais vezes, Nessie. – Kim falou entre risos.


– Não sejam idiotas. Desde quando sanguessugas podem ter filhos? – Leah grunhiu, parada de braços cruzados no canto da cozinha.


Todas se calaram. Aquele foi um golpe feroz. Meus olhos se fixaram em um ponto qualquer da parede assimilando aquela infeliz afirmação.


– Kim, pode me trazer aqueles pratos, por favor. – Emily por fim falou tentando mudar de assunto.


Pela visão periférica vi Kim se movimentar com a maior agilidade que pode para alcançar o jogo de pratos no armário. Também notei que Candy se empoleirou na cadeira.


– Você está errada. – a voz de Cadence soou firme e clara, atraindo todos os olhares, inclusive o meu.


Ela manteve o queixo rígido encarando Leah.


– Candy, não começa... – murmurei tão baixo que apenas as audições apuradas ali presentes puderam entender.


– Não se preocupe. Parece que a nossa amiga se equivocou em seus estudos... Eu só vou esclarecer essa dúvida. – Candy sacudiu a cabeça jogando os longos cabelos negros para trás, sem tirar os olhos de Leah. – Meu pai dedicou séculos de sua existência estudando a nossa espécie e eu posso garantir lobinha, nosso organismo está totalmente apto a reprodução. – o sorriso ameaçador voltou ao rosto de Candy que não terminou sem devolver uma provocação a altura – Quanto ao seu eu já não sei...


Um rosnado baixo ressoou no peito de Leah. Os braços dela tremiam.


– Argh! Como são ridículas! Se me dão licença, preciso vomitar. – grunhiu ela, correndo para longe o mais rápido que pode antes de explodir em um lobo gigante.


– Ops – Candy deixou o cabelo cair sobre o rosto escondendo seu sorriso travesso.


– Me desculpe Emily, eu não pretendia causar problemas.


– Deixe isso para lá, Nessie. É uma pena, mas admito, Leah mereceu essa.


– Onde você vai deixar os presentes? – Kim perguntou decidida a passar por cima do incidente.


– Tenho uma mesa ótima para isso no meu quarto! – Emily falou animada, depois fez uma careta – Mas é muito pesada... Deveria ter pedido para o Sam trazê-la antes de sair.


– Não tem problema, posso pegar. – me ofereci ávida por alguns minutos de reflexão para me recuperar do acontecido.


– Mesmo? – Emily sorriu me olhando um pouco descrente de que eu pudesse mesmo trazer a tal mesa.


– Metade vampira, lembra?


– Ah, sim, claro. Obrigada. Vou terminar de cortar esse bolo, mas é por ali – ela apontou para o pequeno corredor a esquerda, a julgar pela falta de opções no caminho não seria nada difícil acertar. – Fique a vontade.


– Com licença.


– Vou com você! – Candy saltou da cadeira me seguindo.


Entrei no quarto e vi a pequena mesa de mármore com um pequeno jarro de flores e uma foto de Sam e Emily juntos. Por um segundo me senti literalmente invadindo a privacidade deles.


Candy fechou a porta atrás de si e pôs as mãos na cintura.


– Qual o problema daquela garota? – sussurrou indignada.


– Muitos! Pode ter certeza. – murmurei movendo os objetos para a prateleira ao lado.


– Pelo menos ela foi embora. Eu ia me atirar de um penhasco se tivesse que olhar para aquela carranca por mais um minuto que fosse! – Candy girou caindo na cama de casal.


– Sai daí agora. – sibilei nervosamente como se falasse com uma criança teimosa.


Ela levantou depressa ficando ao meu lado. Suspirei sentindo que devia alguns agradecimentos a Cadence.


– Obrigada pelo que você fez lá fora. Foi muito bacana da sua parte.


– Não foi nada. – deu de ombros.


– Aquilo que você disse... É verdade? – sondei receosa.


– Claro. – ela me encarou como se aquilo fosse a coisa mais elementar do mundo.


– Então eu e o Jake podemos ter filhos. – pensei em voz alta sentindo o alívio dominar meu corpo.


– Peraí. Eu disse que você poderia ter filhos.


– E então?


– Eu não sei se ele é capaz de te engravidar. – ela estudou minha expressão antes de continuar, não tenho a menor idéia do que encontrou. – Olha, eu nem deveria estar te contando isso, mas minhas irmãs se envolvem com humanos há décadas e nunca nenhuma delas engravidou. Meu pai acha que as células deles não resistem, mas se for um vampiro as chances são maiores. – acrescentou ela com entusiasmo, como se isso compensasse a informação anterior. Era Jacob quem eu queria não me interessavam as outras possibilidades. Candy continuava tagarelando – Tudo bem que ele não está nenhum pouco interessado no nosso envolvimento com humanos... Nessie? Tudo bem?


Não, nada estava bem. Não que estivesse em meus planos ter filhos agora, entretanto algum dia certamente eu ia querer. Jacob iria querer.


– Pelo menos Johan não sabe sobre você e Nahuel.


Sacudi a cabeça despertando do transe, contudo meus pensamentos não se desprenderam completamente.


– Johan? Que Johan?


– Meu pai. Dã. Vai ficar travando agora, Nessie? Ei, talvez com seu Jacob seja diferente, ele não é um lobo? Então! A regra dos humanos não será inteiramente válida pra ele.


Aquela era uma teoria pertinente. Não garantia muita coisa uma vez que Jacob também mantinha sua condição humana, mas eu precisava me agarrar a qualquer fresta de possibilidade, por mais pueril que fosse.


Relutei por um tempo e por fim decidi não me preocupar. Carlisle poderia aprofundar seus estudos quando eu contasse as novas informações e não adiantaria de nada me desesperar agora. Respirei fundo.


– Qual o problema em Johan saber? Eu e Nahuel já não temos nada a ver, Candy. – repeti pela milésima vez.


Ela encolheu os ombros.


– Ele ia querer que tivessem. Às vezes essa coisa toda de cientista sobe à cabeça e Johan acaba esquecendo o valor dos sentimentos. Quem sabe é por isso que ele e Nahuel não se dão bem. – especulou – Meu pai é obcecado em levar a nossa espécie adiante, pra ele – ela formou aspas no ar – “Renesmee Cullen com seus dons incríveis é a parceira perfeita para Nahuel”.


Candy não parecia nem um pouco satisfeita em compartilhar a opinião do pai e confesso que ouvir aquilo me assustou bastante. Eu não imaginava ser famosa entre vampiros que eu nem sequer conhecia, ainda mais ser idealizada como nora perfeita por um cientista maluco. Candy tinha a quem puxar.


Meu celular tocou me salvando daquela situação desconfortável. Puxei o aparelho do bolso atendendo de imediato.


– Oi mãe. – murmurei grata pela interferência.


– Nessie? – Bella chamou ansiosa do outro lado da linha. – Meu amor, está tudo bem com você?


Candy suspirou e caiu na cama de novo. Fiz sinal para ela sair dali, mas Candy nem se abalou, sacudiu a mão num gesto de pouco interesse.


– Comigo? Claro... Por quê? Aconteceu alguma coisa? – me preocupei.


– Não. – Bella suspirou aliviada. – Tive um mau pressentimento, só isso. Precisava saber se você estava bem.


– Fique tranqüila mãe. Só aconteceram algumas besteiras com a Leah... Nada demais. Quando voltar conto melhor.


– Tudo bem então. Eu e Edward vamos caçar. Jake está com você?


– Ele passou por aqui mais cedo.


– Uhum. – notei que Bella continuava tensa, talvez estivesse com medo de eu e Jacob estarmos fazendo algo errado, vai saber – Comporte-se e tome cuidado querida.


– Pode deixar. Beijo mãe.


– Te amo. – disse ela antes de desligar.


Coloquei o celular no bolso e me curvei para pegar a mesa quando ouvi um grito seguido de um baque e estilhaçar de vidros vindos da cozinha. Candy e eu nos entreolhamos por uma fração de segundo e instantaneamente corremos para ver o que houve. Dava para sentir o cheiro de sangue.


Quando cheguei ao fim do minúsculo corredor meu coração já estava a mil, meus músculos se contraíram paralisando em completo terror. Ryan estava aqui, na casa de Sam, a dois metros de mim, com os olhos perturbadoramente vermelhos e ferozes. Ele se preparava para atacar Kim enquanto Emily estava caída, inconsciente e ensanguentada entre os vidros e restos do armário destruído.


– Por favor, pare! – gritei engasgada. O tentador cheiro de sangue invadindo meu sistema nervoso era complicado resistir.


O vampiro largou Kim no chão e ela saiu correndo o mais rápido que pode, rezei para que a namorada de Jared encontrasse um dos rapazes e trouxesse ajuda. Ryan não se incomodou com a fuga de sua presa, fixou os olhos orientais em mim com um sorriso diabólico.


No mesmo instante Candy deu um passo impulsivo na direção de Emily e por reflexo eu coloquei o braço firme em sua frente a detendo.


– Candy, pelo amor de Deus, eu preciso que você se controle. – sibilei entredentes.


– Não dá – ela gemeu em resposta, mas manteve-se hesitante atrás de mim.


O vampiro deu um passo à frente e pendeu a cabeça para o lado avaliando Candy e depois voltou a mim com um brilho turbulento no olhar.


– Enfim nos reencontramos.



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