Eternal Flame escrita por bandolinz


Capítulo 11
Arriscando




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/141996/chapter/11


Minha mente girava em um turbilhão de idéias ao ponto de me deixar tonta. Tantas eram as possibilidades de algo dar errado e um deles se machucar. Não era sensato partir para o ataque contra um inimigo desconhecido. E se algum desses vampiros tivesse poderes especiais? Algo como o que Jane ou Alec eram capazes de fazer? Não, eu não conseguiria conviver comigo mesma se soubesse que poderia ter ajudado de alguma forma. Eu não deveria permanecer numa bolha de proteção enquanto não tenho a menor idéia do que está acontecendo às pessoas que amo. Minhas pernas já caminhavam na direção deles antes mesmo que eu tomasse a decisão. Tudo o que eu fiz foi correr mais rápido.


Foi fácil seguir o rastro que eles deixaram, os cheiros eram mais do que familiares para mim. Entrei no mesmo beco estreito onde eles haviam desaparecido segundos atrás e então fui pela direita. Era um caminho mais largo, parecia ser uma zona industrial, conseguia ser mais sombria e deserta do que a rua onde estávamos antes. Os prédios altos formavam um longo e assustador corredor, lembravam as muralhas de uma prisão.


Uma viela cortava o largo corredor em minha frente, era lá que eles estavam. Meu coração batia tão rápido e forte que com certeza eles estavam me ouvindo chegar, um rosnar contrariado de lobo ecoou pelas paredes de concreto, Jacob acreditava mesmo que eu não iria atrás deles?


Então finalmente os vi. O grande lobo marrom avermelhado nunca me pareceu tão irreal quanto agora. Era a primeira vez que eu o via em outro lugar que não fosse a floresta, ele era grande demais para o pequeno espaço entre os edifícios velhos. Jacob olhou para mim por sobre o ombro e bufou estreitando o olhar, eu sabia que aquilo era uma repreensão. Nosso contato visual, porém não durou mais que meio segundo, logo ele tinha o olhar focado em seu inimigo outra vez. Precisei de uma determinação sobrenatural para tirar Jacob do centro da minha atenção e encarar o vampiro que estava agachado em posição de ataque na frente do grande lobo. Ele era muito alto e esguio, os cabelos claros e curtos. O vampiro parecia bastante perturbado com a mutação de Jacob, seus olhos vinho escuro estavam desconfiados e transtornados, um rosnar ameaçador saindo entre os dentes expostos.


Emmett estava mais à frente, de costas para mim, o joelho flexionado, as mãos firmes em forma de garras, encarando o segundo vampiro. O segundo, era mais encorpado, tinha o cabelo castanho-escuro desgrenhado, caindo sobre o rosto. Por entre os fios espessos, olhos de um vermelho vivo cintilavam sedentos. Um recém-criado. Ele tinha o corpo inclinado defensivamente sobre algo, precisei observar com mais cuidado para entender o que ele estava fazendo. Respirei fundo e o cheiro forte de sangue invadiu meu sistema ao mesmo tempo em que a compreensão veio como um clarão. O objeto que ele protegia era um corpo dissecado de uma mulher. A cena me afetou de tal forma que por um momento tive a impressão de ver tudo rodando. Tombei para o lado apoiando o rosto no muro de concreto frio e úmido.


A cena toda se prolongou por apenas dois segundos, logo os rápidos ataques iniciaram. Pela visão periférica vi Jacob partir para cima do vampiro alto, este desviou saltando por cima dele, Jake correu atrás do seu alvo, não deixando por menos. O lobo acertou uma mordida que arrancou um pedaço indistinto da perna do vampiro. Enquanto isso Emmett e o segundo vampiro saltaram um na direção do outro, chocando-se ruidosamente no ar, quando os dois caíram no asfalto seguiram numa série de golpes e investidas, meu tio era o mais forte e parecia estar dominando a situação.


Meus olhos arregalados não conseguiam desviar da imagem da mulher mutilada no chão. Havia uma parte fraca em mim que desejava avançar vergonhosamente em busca do que restava do sangue dela, contudo eu jamais faria isso, mesmo com alguém que já estava morto. Imaginei sua família, esperando que ela voltasse para casa, coisa que nunca aconteceria. Meu corpo ficou paralisado de tensão, os músculos retesados numa mistura de raiva e espanto, preso à imagem dela. Seus membros rígidos e sem vida eram ressecados e estavam contorcidos de uma forma não natural. O rosto da mulher ficou congelado numa expressão horrenda de dor e pavor. Eu nunca vira algo tão terrível em toda minha vida. Ao meu redor a luta continuava, com uma sequência de ruídos metálicos e rosnados furiosos alternados com rugidos de dor. Eu queria olhar, queria fazer alguma coisa, queria saber o que estava acontecendo, mas eu simplesmente não conseguia me mover.


De repente algo grande voou em minha direção e, por reflexo saltei para trás, caindo no chão. O grande lobo marrom avermelhado chocou-se contra o muro onde eu me apoiava segundos antes, abrindo um imenso buraco na parede e desaparecendo dentro da construção.


– Jake – arfei aterrorizada.


Foi então que o vampiro alto e loiro notou minha presença em seu campo de batalha. Sustentei seu olhar. Ele aparentava não ter a menor idéia de porque eu estava ali.


– Do que você o chamou? – seu rosto, enrugado de dor e concentração era completamente confuso. Depois os olhos faiscaram e ele aproximou-se sutilmente, não avançava de forma direta, era mais como um tubarão rodeando sua presa.


Eu me preparava para o contra-ataque, ele esperava atacar uma humana indefesa, isso já era algo ao meu favor. Ele teria uma ingrata surpresa.


– Não importa – ele recomeçou com a voz hipnotizante – acho que quando eu terminar com isso terá um lanch...


Não houve tempo de terminar a frase, Jacob ressurgiu dos escombros saltando como uma flecha na direção do inimigo derrubando-o, ele manteve o vampiro preso sob suas patas poucos centímetros a minha frente. Foi tão rápido que se eu piscasse teria perdido. Com uma mordida só, o lobo arrancou a cabeça daquele que até meio segundo atrás serpenteava em minha volta. Engoli em seco, eu me sentia sufocando. Precisava de espaço, precisava de ar, precisava que aquele pesadelo acabasse logo. Eu precisava desesperadamente que Jacob me abraçasse e me dissesse que tudo ficaria bem, mas ele estava ocupado o bastante agora.


Me encolhi e virei o rosto, não queria ver aquilo. Só agora me dei conta do quão mimada eu fui. Nunca vi um humano morrer. Nunca tive que ver uma batalha, nunca tive que participar de uma. Toda a dinâmica que acontecia agora diante dos meus olhos fazia da visita dos Volturi anos atrás um simples encontro cordial. Suspirei pesado. Sorte que na época não houve uma batalha.


Procurei por Emmett, ele estava bem. Estava indisfarçadamente se divertindo ao desmembrar lentamente o outro vampiro. O recém-criado assustado tentava recuar, sem um dos braços e sem um pedaço da perna. Emmett estava apenas brincando com ele, a luta já tinha seu vencedor. Tombei a cabeça para trás suspirando aliviada, fitei o céu escuro sem estrelas, foi nesse momento que o vi. Um terceiro vampiro nos observava do alto de um dos prédios.


As quatro coisas aconteceram ao mesmo tempo. Emmett lutava com o recém-criado, o lobo fatiava o vampiro alto e eu vi o novo adversário no exato instante em que ele saltou em um mergulho mortal na direção de Jacob. Não houve tempo para gritos ou alertas, nem sequer houve tempo para pensar a respeito. Aquela criatura destruiria Jake antes mesmo que ele tivesse consciência do que o atingiu.


Meu corpo reagiu de imediato, eu sabia que não havia outra coisa a fazer. Apoiei minhas mãos no chão para pegar impulso e saltei na direção dele. A velocidade e força causaram um impacto tamanho que eu poderia ter me atirado de um prédio de vinte andares batendo de cara no concreto e teria doído menos. Mas funcionou, consegui desviar o vampiro da direção de Jacob. Eu faria mais dez vezes se fosse preciso.


Meu adversário girou no ar caindo agachado, praticamente no fim do beco mais largo, mais um pouco e ele teria se chocado contra o muro. Tive tempo de me equilibrar e pousar com um joelho no chão poucos metros antes.


O lobo emitiu um rosnado feroz, uma mistura de raiva e dor, como se tivesse recebido o golpe.


– Ness! – Emmett gritou, a voz tingida de preocupação. Senti que Jacob teria feito o mesmo se pudesse falar.


Logo em seguida ouvi um arranhar de metais, abafado por um rosnar. Caí na tentação de olhar para trás. Mesmo sem algumas partes do corpo, o recém-criado continuava firme, ele aproveitou a distração de Emmett e o atirou para longe. Dei um meio passo na direção dele, então uma mão fria se fechou ao redor do meu pescoço. Tentei me libertar, contudo foi inútil, ele era incontestavelmente mais forte do que eu. Quando Jacob saltou em minha direção foi interceptado no caminho, pelo estalo teve a pata dianteira fraturada, porém continuou insistindo. Ele estava fazendo tudo errado, se focasse na luta venceria fácil, ao invés disso canalizou todos os seus esforços em tentar ultrapassar o recém criado e chegar até mim, por conta disso estava levando golpes atrás de golpes.


– Acaba logo com ela e me ajuda aqui, Ryan! – o recém-criado pediu agora um pouco mais confiante.


Metodicamente Ryan me atirou no chão prendendo minhas mãos de modo eficaz e avançou rapidamente sobre mim com os dentes expostos pronto para o golpe final. Então era assim que eu morreria? Nas mãos de um completo estranho e não dos temidos Volturi? Vi minha vida passar diante dos olhos, cada momento feliz com minha família e com meu Jake, eu acreditava que ainda havia tanto por vir e aqui estávamos nós, literalmente em um beco sem saída. Jacob não podia fazer nada por mim, nem eu por ele. Justo agora, na época mais feliz de minha curta existência.


Para o meu completo espanto Ryan freou antes de concluir o ataque de forma tão abrupta que foi como se ele esbarrasse em uma barreira invisível. Só nesse momento prestei atenção às feições dele. Era jovem, tinha os olhos estreitos, de descendência oriental, o rosto afilado e comprido, cabelo curto, preto e espetado. A confusão atravessou seus olhos vinho-escuro.


– Que tipo de garota é você? – Ryan perguntou intrigado – Não pode ser uma de nós... Nem uma humana.


A testa dele se vincou de concentração enquanto esperava minha resposta. Arfei completamente sem fôlego, meu coração golpeava meu peito com força exagerada e assustadoramente rápido. Se a curiosidade dele era o que me mantinha viva eu adiaria aquela resposta pelo maior tempo que eu pudesse.


Finalmente Jacob abocanhou o tronco de Ryan e o tirou de cima de mim. O vampiro voou de encontro à parede e Jacob o seguiu. Mais ruídos, Emmett estava de volta, uma postura completamente diferente, agora era questão de honra. Ele esquartejava o recém-criado com pressa. Ryan renunciou à luta e saltou para os prédios, Jacob tentou alcançá-lo, contudo não obteve sucesso. O vampiro já havia fugido.


Fez-se silêncio. Os únicos sons eram meu coração batendo e o ofegar do lobo Jake. Ele trotou em minha direção e eu caminhei até ele sem sentir o chão sob meus pés. Eu estava sem fôlego, engasgada, como se ainda tivesse uma mão fria e rígida apertando minha garganta, era difícil encontrar o ar. Minhas mãos o alcançaram agarrei com urgência seu pescoço em um abraço. O mundo pareceu reencontrar sua simetria natural, tudo agora estava em seu lugar. Meu coração batia mais calmo enquanto meus dedos se emaranhavam no pêlo dele.


– Jake! Jake, você está bem? – me afastei um pouco para olhá-lo, mas mantive as mãos em seu pêlo. Eu precisava daquele contato para me manter calma e pensar com clareza.


Ele bufou em resposta e baixou a cabeça para ficar na altura do meu rosto, os grandes olhos castanhos de lobo ainda preocupados. Jacob encostou o focinho no meu ombro e um ronco grave ecoou de seu peito.


– Eu também estou inteira. – assegurei afagando o pelo avermelhado de sua face.


– É melhor a gente dá o fora daqui o mais rápido possível. – Emmett se aproximou me examinando com um olhar rápido. – E Nessie, para alguém que nunca esteve em uma luta até que você se saiu bem. – ele piscou e deu um meio sorriso, logo ficou sério – Da próxima vez deixa isso com os adultos, entendido?


Jacob sacudiu a cabeça uma vez concordando e ficou resmungando. Emmett tirou um isqueiro do bolso e ateou fogo no que restou dos vampiros recém-chegados.


– Onde deixou suas roupas Jake? – mudei de assunto.


Ele soltou um gemido indiferente e se sentou olhando para o lado, segui seu olhar até os farrapos de roupa espalhados pelo chão.


– Ah.


– Então é bom arranjar outras, rápido. – Emmett advertiu contemplando a fumaça escura e espessa que subia – Eu não vou querer convencer a polícia de que dei ração demais ao meu cachorro. Prefiro deixar que ele seja preso por atentado ao pudor.


– Ninguém vai ser preso! – muito menos Jacob. Protestei ofendida por meu tio ao menos cogitar essa possibilidade. – Vou comprar algumas roupas, volto logo.


Apesar do cansaço físico e emocional, caminhei a passos largos a fim de resolver o problema o quanto antes. Imaginei o alvoroço que seria se encontrassem aquele lobo enorme bem no meio de Port Angeles. Era exposição demais para um só dia, estávamos pondo em risco o segredo dos Quileutes, era como colocar nossa própria existência em evidência. Sacudi a cabeça para espantar a idéia. Jacob se colocou na minha frente, balançando a cabeça em negativa, um zumbido baixo vindo de seu peito.


– Qual o problema, Jake? – perguntei sem paciência.


O lobo rosnou gesticulando na direção de Emmett e outra vez encostou o focinho em meu ombro me empurrando para trás. Recuei alguns passos contra vontade até que entendi. Respirei fundo me arrependi de ter feito isso assim que senti uma mistura do cheiro de Jacob com o odor da fumaça arroxeada. Fiz uma careta de imediato.


– Que foi? – Emmett cruzou os braços com um sorriso brincando nos lábios.


– Jake acha melhor você ir comprar. – esclareci – Talvez aquele vampiro ainda esteja por perto. Estou certa?


Jacob bufou satisfeito, expondo seus dentes afiados com a língua pendendo de lado. Dei um meio sorriso, me alegrava perceber o quanto eu e Jake estávamos sintonizados. Eu sempre tive essa facilidade em interpretar seus sinais de lobo. Emm piscou espantado.


– É verdade. Posso fazer isso mais rápido também. Espero que eu dê a sorte de esbarrar com o tal Ryan por aí!


Incrível como Emmett sempre tinha extrema confiança em si mesmo. Ele se lançou para os prédios ao invés de correr para a rua, como eu pretendia fazer. Rezei para que ele tivesse a decência de comprar as roupas e não roubá-las.


Jacob trotou de um lado para o outro procurando algum pedaço que ainda estivesse fora da fogueira, ele permanecia ansioso, bufando de vez em quando, os pêlos se eriçando com freqüência. Algo me dizia que eu teria de ouvir muita coisa quando ele assumisse a forma humana. Sentei no chão abraçando os joelhos e contemplei seu movimentar pelo beco escuro, sem de fato prestar atenção ao que ele fazia.


Três minutos depois Emmett ‘desceu dos céus’ trazendo duas sacolas com o nome de uma loja cara estampado. Sacola era um bom sinal, levava a crer que ele agiu nos conformes. Na outra mão ele carregava um galão de gasolina.


– Aí está – meu tio atirou as compras.


Jacob as pegou ainda no ar e entrou pelo buraco imenso em um dos prédios, resultado da batalha de agora a pouco.


– Alguém chamou a polícia. – Emmett avisou.


– Então vamos sair daqui.


– Não sem antes destruir as provas e forjar novas. – ele ergueu o galão e um sorriso diabólico lampejou em seu rosto.


– Muito inteligente tio. – sorri encorajando-o – Estou impressionada.


Emmett fez uma careta pensando a respeito.


– Não vou me ofender com a segunda parte. – disse por fim.


Eu ri, ele entrou no prédio também. Esperei do lado de fora contando quantas vezes meu pé impaciente batia no chão. Ouvi um chiado de eletricidade seguido de um estouro. Vinte e duas batidas então eles saíram e eu me levantei aflita. Passei mais tempo do que pretendia contemplando o novo look de Jacob. Emmett não era nenhuma Alice, mas mandou bem - camiseta branca, jaqueta de couro, calça preta, um tênis da Nike, parecia até um astro de cinema. Quis elogiar, entretanto fiquei calada, não é hora para futilidades, Renesmee Cullen. Mordi o lábio e observei com cuidado um Jacob extremamente sério se aproximar com duas passadas largas e agarrar minha mão. Ele parecia um pai prestes a pôr uma criança mal criada de castigo, no caso, essa criança seria eu, deduzi. Vi de soslaio Emmett despejar gasolina sobre o corpo da mulher morta.


Jake me puxou caminhando obstinadamente, o maxilar rígido e os olhos estreitos encarando a saída. Chegamos à rua principal antes que eu conseguisse formular alguma frase para quebrar aquele silêncio.


– Não acredito que vai ficar com raiva de mim por isso. – desabafei chateada.


Jacob engoliu em seco, os dentes trincados. Por um momento pensei que ele não me responderia.


– Eu não estou com raiva... Não de você.


Um dos edifícios pegou fogo lançando altas labaredas de fogo no céu, a luz amarela projetou três sombras no chão. Emmett nos alcançou, caminhando silenciosamente, o que era incomum para ele, ao nosso lado. Nenhum de nós olhou para trás.


Entramos no estacionamento, passei as chaves para Emmett prevendo que eu e Jacob teríamos uma conversa séria no caminho de volta.


– Vai me colocar de chofer? – Emmett reclamou.


Lancei um olhar assassino para ele, que logo se calou e ligou o carro. Me acomodei no banco de trás, de costas para a janela, voltada para Jacob, ainda estávamos de mãos dadas.


– Não deveria ter ido até lá. Transformou uma coisa simples em algo de alto risco. – Jake disse ríspido e voltou a apertar os lábios com força, ele me encarou com os olhos amargos – O que deu em você para se arriscar desse jeito?


– Eu precisava ajudar.


– Enlouqueceu? Nunca mais faça isso.


– Quer saber Jacob? – soltei minha mão da dele – Você deveria ser grato, ou pelo menos admitir que eu ajudei em alguma coisa.


– Não, não ajudou. Você quase nos matou! – ele gritou irritado.


Meu queixo caiu em choque. Precisei de um segundo para rebater essa.


– Ah, é mesmo? Se você não percebeu tinha um vampiro caindo em alta velocidade prestes a arrancar esse seu lindo pescocinho. – contra ataquei ácida – E eu não me arrependo de ter ido. Eu precisava estar lá pra... Pra te salvar. – senti um nó na garganta, estava difícil falar, aquela sensação da mão fria me sufocando voltou tão intensa que levei a minha ao pescoço para me assegurar que estava tudo bem.


– Me salvar? – ele riu sarcástico – Então deixa eu te explicar uma coisa, eu me curo rápido, você não. – quando ele virou o rosto para a janela pensei ver seus olhos marejarem, agora parecia falar consigo mesmo – Me salvar arriscando sua vida, que idéia genial, estaria me matando de qualquer jeito.


– Não sou tão frágil quanto vocês insistem em fazer parecer.


Jake moveu a cabeça em negativa, os punhos cerrados com tanta força que os nós dos dedos estavam brancos.


– Ah, francamente. Sei que você sabe se cuidar, não é essa a questão. A questão é como eu posso me concentrar na luta vendo um sanguessuga maldito em cima de você? Você é mais frágil do que qualquer um de nós. O que custa ficar quietinha, em segurança enquanto a gente resolve o problema? – ele ralhou entre os dentes cerrados.


– Custa te perder e saber que eu não fiz nada para impedir. – falei num sussurro.


Ele se aproximou de mim angustiado.


– Por muito pouco – disse devagar, destacando cada palavra – eu não te perdi essa noite. – ele abriu a boca como se fosse continuar, mas não emitiu som algum, era como se as palavras tivessem lhe fugido.


Olhei no fundo dos olhos escuros dele e vi sua dor refletindo a minha. Reconheci o mesmo pânico que senti quando pensei que ia perdê-lo. Afaguei o rosto dele, não sabia o que dizer. Ele em parte estava certo. Uma vez que eu não suportava a idéia de vê-lo machucado, como pedir a ele para aceitar riscos, no ponto de vista dele, desnecessários? Jacob fechou os olhos com força, aquela expressão de dor que eu odiava ver no rosto dele.


– Ness, – recomeçou com uma voz gentil – eu tô te implorando. Não faz mais isso.


Jake comprimiu os lábios examinando meu rosto, não sei dizer ao certo o que ele encontrou lá.


– Juro que quando precisar de sua ajuda eu peço. – completou.


– Tem razão. – concordei por ora, mesmo assim não iria prometer nada – Mas está mentindo, você nunca vai pedir.


– Hmmm, talvez. – Jacob deu um meio sorriso misterioso.


Dessa vez fui eu quem avançou o sinal. Beijei os lábios dele de leve, Jake deixou escapar um gemido antes de puxar meu rosto para perto correspondendo.


– Ah não, eu não mereço isso! – Emmett brincou tapando os olhos com a mão.


Dei um beijo na bochecha de Jacob e o abracei.


– Eu te amo, sabia?


Ouvi o riso baixo dele soprar em meu ouvido. Nossa! Como aquela proximidade me fazia bem, empurrava qualquer lembrança ou sensação ruim para longe.


– Desculpa ter falado com você daquele jeito. – pediu afagando meus cabelos.


– Não sei. Detesto quando você fala comigo assim, acho que vai ter de se esforçar para compensar.


– Estou disposto a isso. – ele me abriu o sorriso que eu esperava ver.


– Ótimo, porque eu também estou disposta a te perdoar.


Nos beijamos outra vez, sem pressa, sem preocupações. Foi suave, macio e quente, e por mim nunca terminaria. Jacob mordiscou meu lábio inferior e sorriu malicioso. Respirei fundo enquanto um arrepio de prazer percorria minha espinha.


– Está perdoado – arfei.


Ele ergueu as sobrancelhas e sorriu.


– Foi mais fácil do que eu pensei.


– Seu metido! – bati no ombro dele.


Jacob me puxou para mais perto e eu me aninhei no peito dele. Antes que eu percebesse o tempo passar, chegamos à ilustre mansão Cullen.


– Não vai embora, vai? – segurei a mão dele.


– Não se quiser que eu fique. – respondeu Jacob despreocupado.


Quando saímos do carro dei mais uma checada no meu namorado, examinando-o da cabeça aos pés. Caramba, ele estava exageradamente irresistível.


– Que foi?


– Você fica muito sexy com essa jaqueta. – confessei.


Ele encostou de leve os lábios em minha orelha e o simples contato me estremeceu de imediato.


– Pensei que preferisse sem.


Fiquei completamente sem graça e o empurrei com o ombro, foco, foco, foco. Emm já havia desaparecido dentro da casa. O seguimos num passo não muito rápido.


– Me digam que vocês não tem nada a ver com isso. – Alice exigiu assim que entramos na sala.


Todos reunidos em torno da televisão, uma repórter noticiava sobre um incêndio numa indústria de cosméticos em Port Angeles.


– Não temos nada a ver com isso! – Emmett disse com um sorriso de orelha a orelha.


Minha pequena tia estreitou os olhos obviamente não acreditando, incrível como aquele pequenino ser conseguia ser intimidante quando queria.


– Você pediu pra dizer, ué. – Emm sentou no sofá relaxado.


– Contem exatamente o que aconteceu, por favor. – Carlisle pediu tranqüilo como sempre.


Peraí! O que meu avô fazia em casa à essa hora? Por acaso ele não trabalha mais? Vou me lembrar de esclarecer isso depois.


– Eu posso explicar – me ofereci estendendo a mão.


Carlisle e Alice, a curiosa, se aproximaram. Soltei a mão de Jacob para tocar o rosto dela também. A partir daí iniciou-se uma rodada de exibições do meu filme de terror particular. Repassei em detalhes tudo o que aconteceu e enquanto eu revivia as cenas uma nova onda de terror me atingiu. Eu estava me recuperando tão bem, tinha mesmo de trazer essas lembranças à tona?


Nem preciso dizer que no fim tive de ouvir um sermão daqueles. Alice ficou realmente chateada por não ter visto o que iria acontecer e culpou Jacob. Ele inverteu as coisas culpando minha tia por não prever a presença de um terceiro vampiro, nos deixando despreparados.


Carlisle, com a ajuda de Jasper, acalmou as coisas tirando a culpa de ambos, mas não poupou Emmett dizendo que ele não deveria ter apoiado o ataque e sim nos aconselhado a voltar para casa. Apesar disso, Esme achou que fizemos o certo, livrando assim, Emmett do castigo – sim ela sempre terá autoridade para colocar qualquer um dos filhos de castigo. A única coisa em que todos concordaram foi que eu não deveria ter me metido, sendo assim, cada um teve sua quota de bronca para me dar. Rosalie foi a pior, ela quase arrancou os próprios cabelos em revolta, coisa que me assustou muito, Rose não toca em seus fios loiros por nada.


– Tudo bem, tudo bem. Eu já entendi. – murmurei cansada, afundando no sofá com a cabeça entre os joelhos.


Já fazia meia hora que eu não prestava atenção ao que eles diziam, pois o texto se tornou repetitivo.


– Espero que sim. – Rose disse ainda irritada.


– Continuamos essa conversa amanhã, quando Edward e Bella voltarem. – Carlisle colocou a mão em meu ombro, ergui a cabeça para encará-lo.


– E ainda vai ter continuação?


– Eles são seus pais. Imagine que terão muito a dizer sobre isso.


– Prefiro não imaginar. – fiz um muxoxo.


Meu avô sorriu condescendente.


– Vá dormir Nessie, foi um dia difícil. Jacob, avise a Sam para ficar alerta. Há uma boa possibilidade de esse Ryan procurar por vocês.


– Espero que sim. E eu já ia fazer isso. – Jake se levantou.


Ele demonstrou interesse demais nesse reencontro, coisa que me preocupou.


– Vovô? – chamei apressada pela ameaça de Jacob ir embora.


– Sim, querida?


– Jake pode dormir aqui hoje? – arrisquei numa voz inocente.


Todos, incluindo Jacob me encararam espantados com meu atrevimento, mas meus pais chegariam amanhã e se me dessem um castigo com toda certeza seria me privando de ver Jacob, então eu não perdia nada tentando agora. Carlisle hesitou alguns segundos antes de responder.


– Não vejo problema nisso. – ele disse ainda confuso.


– No meu quarto – especifiquei receosa e o queixo de todos caiu. – Ah qual é? Antigamente ninguém via problema em nós dois dormirmos no mesmo cômodo.


– A situação mudou um pouco meu amor. – Esme interferiu timidamente.


Fato. A situação mudou muito, mas eu não desistiria.


– Calminha, não é o que vocês estão pensando. É que eu ainda estou muito nervosa com tudo o que aconteceu e perto dele consigo me acalmar.


– Jasper pode te acalmar. – Rose disse num tom óbvio.


– Não como eu posso. – Jacob me olhou de canto de olho com a expressão iluminada.


Sorri sem graça, corando.


– Com toda certeza! – Emmett gargalhou.


– O calor é uma vantagem que Jasper não pode oferecer – argumentei.


Toquei o braço do meu avô compartilhando com ele a sensação do gelo sufocante em meu pescoço e tentei reproduzir o quanto melhorava com Jake perto, mas eu não estava com Jake tão perto nesse instante, então não dava para demonstrar com clareza. Havia apenas as lembranças a meu favor e esperei ser suficiente.


– Além do mais, o que se pode fazer escondido numa casa repleta de vampiros? Sem segundas intenções, eu juro. – fiz um x com os dedos e estalei um beijo.


– Fogo e pólvora, Carlisle. Fogo e pólvora. – Emmett repetia entre risos.


Mostrei a língua para ele.


– Você se importa Jacob? – Carlisle quis saber.


Sim, ele se importa e não faria esse imenso sacrifício por mim. Mas que pergunta!


– Claro que não! – Jake sorriu ensolarado.


– Então tudo bem, mas é só por hoje.


Pulei do sofá abraçando meu avô. Em geral eu conseguia o que queria, contudo dessa vez fiquei insegura, estava em débito e também sabia que eu estava cruzando uma linha nunca antes ultrapassada.


– Não preciso lembrar que Jasper ficará atento.


Dei meu sorriso mais angelical.


– Não, não precisa!


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!