Porta 54 escrita por That Crazy Lady


Capítulo 2
Chamado




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Quando acordou no dia seguinte, Catarina estava mais do que convencida de que tudo fora real e passou o dia inteiro se preocupando; como, afinal, faria tudo o que Alice tinha dito que devia fazer se nem mesmo o molho havia vindo com ela para o mundo real?

E não tinha mesmo. Porque ela procurou.

Sem uma resposta, Catarina apenas esperava. Mas dois meses se passaram e tudo continuava exatamente igual a antes do sonho. Novidades? Mudança radical de vida? Não. As coisas estavam saindo melhor do que ela poderia ter imaginado. Esse lance todo de Alice não devia ser tão ruim, afinal; tudo o que ela tinha que fazer era guardar um molho de chaves que, ei, nem estava com ela!

Pelo menos até aquela quinta-feira.

O dia estava como qualquer outro. Depois dos fins das aulas, às onze e meia da manhã, Catarina saiu da escola como todos os outros alunos: mochila nas costas, olhar meio cansado e um grupo de conversa em volta. Já que morava a quatro quarteirões da escola, ela sempre voltava para casa a pé e escutando música.

Mas é claro que aquele não era um dia normal, então não podemos esperar que Catarina seguisse sua rotina.

Ao virar a primeira esquina, ela deu de cara – literalmente – com alguém. Os dois cambalearam e Catarina quase caiu no meio-fio, mas felizmente o tal alguém tinha mais equilíbrio do que ela e conseguiu segurá-la.

- Opa! – uma voz masculina exclamou. – Cuidado aí, moça.

Ela retomou o equilíbrio e esfregou o braço dolorido. Deu um olhar de esguelha. O garoto devia ser pouco mais velho do que ela e usava uniforme, mas Catarina não se lembrava de algum dia tê-lo visto antes.

- Desculpa – pediu –, não te vi aí.

- Tudo bem. As pessoas geralmente não me veem.

- Certo. – Ela desviou do garoto e recolocou um dos fones. Ele não era bonito o suficiente para que ela começasse a paquera-lo sem nem mesmo o conhecer.

- Alice, espera!

Catarina parou bruscamente. Apertou os olhos com força. Não, não podia ser. Ele provavelmente tinha dito o nome errado. Alice rima com... Moça? Garota? Menina? Ah, droga, não rima com nada. Ela virou o rosto.

- Desculpe, do que me chamou? – Diga que não estava falando comigo, pensou. Por favor. Faça eu me sentir idiota por pensar que você estaria falando comigo.

- De Alice, oras. Eu vim justamente te procurar! Mas não tinha certeza se era você mesmo. Geralmente as Alices são mais velhas. – Ele franziu a testa e a observou como se tentasse enxergar alguma ruga.

- Hum. Há uma Alice mais velha na Sala Redonda. Pode procurar por lá – disse Catarina, sentindo-se extremamente desconfortável. Ela estava quase se convencendo de que, afinal, fora um sonho.

- Quem, a antiga? Ah, não. Ela se aposentou ontem! Não soube? Foi o solstício de inverno. Achei que você saberia.

Ela sentiu uma vontade estranha de enterrar a cabeça em um buraco e nunca mais emergir.

- Não, não soube. Aparentemente, a notícia não é importante o bastante para resolverem me informar.

O garoto não pareceu muito impressionado.

- OK. Mas você pode ajudar?

Catarina não soube responder. Era totalmente novata naquilo tudo. A única coisa que tinham se dado ao trabalho de fazer era informa-la de que “você é a Alice agora e tem que guardar um molho de chaves!” O que eles esperavam, que ela adivinhasse o resto com sua bola de cristal imaginária?

- Eu não sei – ela respondeu sinceramente. – Não tenho experiência alguma.

O garoto pareceu ficar desapontado, mas recuperou-se rapidamente.

-Tudo bem! É só falar com Chess, ele vai ajudar.

- Ah, certo, falar com Chess. Legal! Só tem um problema: Cadê ele? – Catarina disse com as sobrancelhas arqueadas.

- Na sala redonda, claro.

A garota mordeu o lábio. Havia uma ruga de stress clara entre suas sobrancelhas. Ela odiava admitir, mas...

- Eu não sei chegar lá.

Ele riu.

- Tudo bem! É o seu dia de sorte. Esse é o meu trabalho! – O garoto apanhou a mão direita de Catarina e começou a puxá-la pela rua. – Venha!

Ele era claramente mais forte, então a única opção dela era segui-lo como podia. Os dois correram rua abaixo, Catarina com um rosto ligeiramente assustado e ele rindo. A velocidade aumentou, tudo em volta passou a ser um borrão e, de repente, as paredes curvas eram visíveis.

Catarina soltou a mão e olhou em volta.

- Caramba! Me ensina esse truque? Deve ser uma maravilha pra ir pra qualquer lugar!

- Só funciona para a Sala Redonda – uma vozinha respondeu. Catarina olhou em volta; não se parecia com a de Chess nem a do garoto.

- Hã, pessoa? Cadê você?

- Aqui! – a vozinha chamou de novo. Catarina então olhou para baixo e viu... Um coelho branco de colete? – Venha, Dona Alice. Eu vou lhe mostrar o caminho.


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