Prostitution Is Revolution. escrita por rumpelstiltskin


Capítulo 4
Capítulo 4




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04. But if I ever get it right you’ll miss me, sorely.

POV do Jon.

            Era estranho viver a minha vida daquela forma. Trabalhar e morar na mesma rua que alguém tão ridículo quanto Spencer Smith era. Eu não trabalhava para o cabaré, nem mesmo como profissão menos ‘imunda’. Eu era apenas freqüentador daquele lugar, porque tinha um ambiente agradável, porque tinha muitos homens semi-nus prontos para lhe atender e porque tinha um homem que tirava meus pés do chão com um olhar. Um olhar azul capaz de me matar só com o seu aproximar. Eu não sabia quem era aquele homem dono de um olhar tão expressivo, de um corpo que me deixava maluco, embora não fizesse o tipo cheio de curvas, mas a maciez de sua pele superava tudo. Eu o amava desesperadamente. Tão desesperadamente que minha mulher reclamava da minha falta de atenção.

            Era engraçado porque eu tinha a impressão nítida que eu o conhecia de algum lugar. Eu tinha a impressão que ele estava presente no meu dia a dia e havia decidido que hoje eu o conheceria. Eu retiraria sua máscara antes de estar com ele na cama. Por mais que, naquele lugar, tudo era apenas por diversão, agora eu já estava pensando em deixar tudo o que eu tinha conseguido com minha esposa por ele. Se você me perguntar, eu deixo claro que eu não sou gay. Talvez eu seja dos poucos aqui que não seja gay, eu sou bissexual apenas, sinto atração física por minha esposa, mas eu sou um homem que não se deve prender. Eu dependo de minha liberdade para voltar para casa.

            Ao entrar pelo tão conhecido recinto, fui direto ao balcão de madeira e procurei por Gabe – havia um período de tempo que eu não aparecia por aqui, alguns problemas pessoais me impediam -, mas não achei, então fiz um sinal para o barman que estava por ali. Debrucei no balcão e pedi o whisky para o barman e um tempo depois eu estava assistindo às apresentações das moças.

“Hey. Cadê o barman latino?” Falei pro barman que sorriu para mim.

“Ele saiu.” Encolheu os ombros, me servindo de mais um pouco de whisky. “É uma pena, porque dizem que ele era excelente.”

“Ele era, hunf.” Pisquei. “Mas e Loise? Gostava das apresentações dele.”

“Ele é só uma lenda desse lugar... Dizem que ele foi morto no camarim por um amor.” Girou os olhos e eu sorri. “Mas é bom saber que Loise existiu. Porque eu ouço funcionários mais antigos reverenciá-lo e lamentar sua morte.”

“Me faz um favor?” Pedi após assentir por suas palavras. “Me prepara, em outro copo, uma dose dupla de gin com bastante gelo?” Levantei uma nota maior e as sobrancelhas do homem foram ao seu ponto máximo. Eu havia visto o loiro dos meus sonhos passando por mim – e parecia nem ter me notado – e eu precisava dar um jeito de chamar a atenção dele.

“Sim, senhor.” Embora apreensivo, ele preparou o que eu pedi. Por minha vez, peguei um guardanapo e escrevi uma mensagem carinhosa, assinando com o nome falso que adotei para estar ali, já que eu não podia usar meu nome ou qualquer coisa que fizesse menção a ele. Quando o drink ficou pronto, puxei um garçom semi nu pelo avental e entreguei a bebida, o bilhete e apontei para quem era. E o garçom fez o que eu pedi, recebendo de mim uma gorjeta relativamente gorda.

            Levantei meu copo simbolizando um brinde à distância quando ele me olhou de sua mesa. Fez um sinal para que eu me aproximasse dele e eu fui a sua direção. Senti meu coração querer sair pela boca, e ao mesmo tempo, saltava por tanta felicidade. Eu amava o simples fato de poder curtir um pouco mais de sua presença e poder passar a noite ao seu lado. Coloquei meu copo em cima da mesa e me sentei em sua frente. Me inclinei, roubando um beijo rápido e superficial, que finalizou em um sorriso. Nós nos relacionávamos a algum tempo, já. Nos amando feito dois adolescentes inconseqüentes e ao mesmo tempo como dois adultos que éramos. No meu caso, adulto e casado.

“Acertei na bebida?” Perguntei.

“Você sempre acerta.” Respondeu, apertando minha mão.

“Você já quer ir pro quarto?” O louro negou com a cabeça e eu terminei minha dose de whisky. “Eu to sem a chave de nenhum, mesmo.” E expliquei.

“Uh, eu também não.” Confessou. “Mas a gente podia diversificar e fazer no meu carro. O que acha?”

“Gostei da proposta.” Ri baixinho, dando-lhe um beijo na mão. Só naquele dia que eu reparei que tinha uma aliança ali. Torci os lábios para ele, meio brincalhão, meio verdadeiro, mordendo-o ali fortinho para mostrar minha indignação. “Essa mocinha de ouro não estava aqui antes...”

“Essa mocinha de ouro significa o mesmo que a tua.” Ele mordeu o canto dos lábios e eu ergui a sobrancelha. “Que a gente tem vida do lado de fora dessas quatro paredes, meu caro.”

            Assenti com a cabeça meio sem vontade. Eu não gostava nada da idéia de ser apenas a diversão e dividi-lo com outras pessoas. Mesmo que eu não saiba quem ele é fora daqui, eu não conheço ninguém que ame outra pessoa que goste de dividi-lo com outra. Percebendo minha tristeza repentina, ele veio até mim e sentou-se em meu colo. Distribuiu com os lábios doces alguns carinhos por meu rosto e pescoço, não resisti ou revidei em momento nenhum, ele me levava a loucura, me comandando da forma que quisesse. Trocamos um beijo apaixonado por ali mesmo – eram tantos casais por ali trocando beijos, e fazendo outras coisas a publico que nós dois não seria nenhum problema. Então eu abri os olhos e vi aqueles olhos azuis me amando com tanta devoção, me olhando de uma forma que minha esposa nunca conseguiu e eu só consegui sorrir feito um idiota, porque era exatamente assim que eu ficava ao seu lado.

“Vamos agora pro carro?” Pedi baixinho.

“Vamos sim.” Assentiu, se levantando do meu colo. Enlaçou minha calça pelo passador quando eu me levantei e foi me puxando para fora. Ele parecia ansioso, até mais ansioso que costumava ficar perto de mim, parecia que hoje ele reservava algo que eu não estava acostumado, algo que mudaria minha vida para sempre.

            O loiro que era mais alto que eu, prendeu-me na porta do carro com força. Segurava meus dois braços com um só quase que possessivamente, sem deixar de ser doce. Ergui os olhos por seus ombros, tentando saber se eu poderia me entregar completamente ali mesmo pra ele, mas eu já estava fazendo muito mais que isso, eu já estava deixando que uma de suas mãos desfazia minha máscara. Foi nessa hora que meu coração disparou, porque algo me dizia que ele não ia gostar. Eu o amava, e talvez devesse dizer que não me importaria com quem estava embaixo daquela máscara. Eu simplesmente amava-o além do sexo, mas sua reação foi muito pior do que eu esperava.

“Ah, não...” Me soltar foi sua primeira ação, seguido de um olhar atordoado, confuso. “Jonathan Walker, merda! Merda, merda, merda!”

“Q-qual o problema?” Franzi o cenho, suspirando fraco. “E como você sabe o meu nome? Nós conversamos muito, mas você nunca teve uma reação assim, comigo. Você disse que me amava.”

“Como eu posso amar alguém detestável como você, Walker?”

“Oh, meu Deus!” A pronuncia do meu sobrenome me fez entender de quem se tratava. Puxei-o pra mim pelo casaco, e puxei sua máscara, confirmando minhas suspeitas. “Spencer Smith, o nojento que me incomoda todo santo dia. Que não aceita perder para mim.”

“Você é o plagiador aqui, Walker.” Girou os olhos.

“Essa briga não vai nos levar a lugar nenhum, Spencer Smith. Nós tivemos momentos excelentes, juntos. Uma máscara não pode mudar todo nosso relacionamento de antes, não é?”

“Claro que pode, seu idiota!” Ele bateu no carro, me assustando um pouco. “eu tava traindo minha noiva com o pior cara do universo! Um cara casado, que pajeia minhas idéias, que faz tudo pra minha vida ser um inferno e o pior de tudo é que você consegue.” Spencer suspirou fraco. “A gente tem que acabar de uma vez por todas com isso, hunf.”

“Eu não vou deixar isso acabar assim.” Girei os olhos também, chocando nossos lábios uma última vez, mas Spencer me esnobou. Negou meus lábios. Pela primeira vez na minha vida eu me sentia infeliz, mas eu não conseguia pensar em mais nada que não ser em como manter aquele homem ao meu lado, a final, eu estava querendo largar tudo por amor. E conforme eu não conseguia mais enxergar nada além de estar perdendo o homem que eu o amava desesperadamente e o queria comigo.  “Eu te amo.”

“Mas eu não quero mais você, Walker.”

“Tudo bem, Smith.” Suspirei e acabei dando uma joelhada nas partes baixas, fazendo-o cair. Eu o amava, mas não queria que ele pertencesse a mais ninguém e depois dessa loucura toda. Enquanto ele ainda estava no chão, continuei a bater e descontar toda a minha raiva naquele homem. Não só por parte do meu fracasso profissional, mas também porque eu, de repente, fui descartado.

            Confesso que Spencer reagiu algumas vezes. Eu levei algumas fortes pancadas no rosto, mas eu levei a melhor. Spencer Smith era maior que eu, mas eu estava muito mais furioso com ele por ter sido descartado, por ele ter me reduzido a uma máscara que eu o derrubei outras vezes com muito mais força, muito mais violento que a primeira vez. Quanto mais os minutos passavam, mais eu deixava me levar pela fúria até que consegui escutar apenas um gemido mais alongado e um pedido para que eu parasse.

            Só então eu olhei diretamente para os olhos azuis dele, agora feridos por meus golpes. Ele estava quase que em coma quando eu me abaixei até ele e limpei o sangue do seu rosto carinhosamente. Só naquela hora eu pude perceber que eu estava matando o meu grande amor no sentido literal. Claro que eu poderia apelar num tribunal, dizendo que fora um ato passional, mas eu não queria bem aquilo. Eu não queria que ele sofresse daquela forma, mas apenas que entendesse que agora pertencia a mim e que a máscara só escondia nossos rostos e não nossos sentimentos.

“Você podia ter evitado tudo isso.” Falei, enroscando carinhosamente minhas mãos em seus cabelos. Spencer forçou um sorriso doloroso, colocando a cabeça em meu colo – com minha ajuda – com muita dificuldade.  Eu correspondi ao sorriso com um tímido, forçado, por causa de toda aquela situação.

“E você poderia ter sido um pouco mais sensato.” Ele rebateu fraco, falhando nas palavras. “Eu vou morrer te odiando.”

“Você está morrendo por não assumir que me ama, é diferente.” Encolhi os ombros, mantendo uma carícia quase imperceptível nos cabelos dourados de Spencer. “Eu não queria isso, mas já que vai acontecer, eu vou aprender a viver sem tudo o que você causa em mim.”

“Se...” Foi então sua maior falha, seguida do expelir de um bocado de sangue em sua roupa. Eu nunca havia deixado ninguém daquela maneira, nunca havia perdido a cabeça daquela forma e feito tudo aquilo com uma pessoa relativamente maior do que eu; dizem que a fúria faz-nos crescer muito mais que qualquer outro sentimento. “Fosse sensato, Jon e me deixasse ir, eu voltaria correndo pra você.”

“Não voltaria.” Neguei com a cabeça ajuntando nossos lábios. “Você me odeia, Smith. O que nós construímos aqui vai morrer aqui, com você.”

“O bom... é que com minha morte você vai passar o resto da sua vida sofrendo.” E sorriu com um quê quase imperceptível de vitória. Eu abaixei os olhos e fiquei remoendo aquela frase. Porque após um suspiro mais alongado e um gemido doloroso maior, e nada mais foi dito. Até porque nada mais tinha que ser dito.

            Deitei-me no chão ao lado dele e coloquei minha cabeça em seu peito, até seu coração parar de bater. A última frase dele era uma profecia. A última frase dele seria concretizada em minha vida. Eu o matei. Matei o único homem que apenas precisava de um pouco de tempo para aceitar que amava seu rival. Talvez a sensatez que eu não tive o vingaria em mim dia após dia e eu sabia perfeitamente que essa vingança era muito mais que merecida. Era justiça.

            Eu faria questão de sofrer enquanto eu vivesse por não ter dado o tempo que Smith precisou para aceitar que me amava.

Fim do POV do Jon.


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