Prostitution Is Revolution. escrita por rumpelstiltskin


Capítulo 1
Capítulo 1




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01.Feels like I’m Falling in Love Alone.

POV do Beckett.

Havia um tempo que eu estava morando sozinho naquela cidade adorável, mas eu era do tipo que era rejeitado por aquela sociedade conservadora e, em sua maioria, mórmon por causa do lugar onde eu trabalhava. Embora eu não fosse do cast de prostituição, como meu pai era acostumado a me dizer “aquilo era um antro de perdição” Principalmente porque lá todo o cast de acompanhantes era masculino e quem estava lá afim de diversão eram apenas homens. Claro que eu dizia ao meu pai que estava na hora de mudar a visão; a final, os anos sessenta eram revolucionários.        

Eu trabalho em um cabaré em Salt Lake City que era bem afastado da cidade, nas montanhas do mesmo. Um cabaré encantado, onde tudo o que quiser e o que quiser poderia ser feito, bastava apenas ter uma boa condição financeira. Muitos gostavam daquele lugar pelo sigilo que ele continha e porque ali não tinha mais regras – além de sigilo e nomes falsos -, não existia mais sociedade. Tudo ali era para a diversão de quem freqüentasse, mas eu só queria ser feliz e ter uma vidinha normal. Eu só havia aceitado ser garçom – quase sem roupa alguma, na verdade, e coberto por um avental, boxer e gravata borboleta – num lugar como aquele porque pagavam bem. Muito bem e eu precisava cuidar do meu pai que estava cada dia mais doente. Os médicos não sabiam exatamente o que ele tinha, mas estava em fase terminal. Ele precisava dos aparelhos.       

  Nesse dia em especial, eu fui para o trabalho meio sem vontade - porque por mais que ele não tivesse sido um cara perfeito na infância, ainda era meu pai – e suspirei baixo quando vi o homem por quem daria minha vida entrando pela porta dos funcionários. Ele era alto, tinha olhos escuros e cabelos crespos. Embora longe do padrão americano de beleza, ele me deixava maluco com um simples olhar. Seu jeito latino – porque eu soube por fontes não muito confiáveis que ele era migrante ilegal e por isso estava trabalhando em um lugar tão baixo – me atraía como nenhuma outra pessoa fosse capaz de fazê-lo. “Hola, William.” Sorriu.

“Oi, Gabriel.” Tentei pronunciar seu nome em espanhol, como ele gostava. Gabe era meu melhor amigo, meu companheiro inseparável, o único que sabia o quanto eu lutava para manter meu pai vivo. Meu sorriso era fraco, porque seu sorriso tirava qualquer possibilidade que o meu tinha de brilhar e eu também não tinha muitos motivos para sorrir, cada dia que passava eu tinha menos motivos ainda. “Como se sente hoje?”

“Seu sorriso forçado não ajuda a melhorar meu dia ruim.” Gabe brincou, me dando um beijinho em meu rosto. Senti as bochechas ficarem vermelhas e o coração disparar com um toque simples e tão amistoso como aquele. Eu não tinha mais lugar para amar meu melhor amigo, mas cada dia que passava, eu conseguia fazê-lo ainda mais. “E como você se sente hoje? Me diz por que fazer tanta força pra me dar um sorriso?”

“Meu pai...” Abaixei o rosto e dei um suspiro. “Ele está cada dia pior.”

“Sinto muito.” Saporta segurou-me vagarosamente pela cintura e encaixou-me em seus braços. Escondi o rosto em seu peito e fiquei um tempo – curto – ouvindo o bater do coração agitado do latino, mas David – o canadense que cuidava da chapelaria – entrou naquele lugar para avisar que estava na hora de todos estarem a postos. As portas se abririam. Era a hora do show e eu não estava com muita vontade de forçar mais sorrisos e ouvir cantadas baratas de homens bêbados. Foi Gabe quem me soltou – porque eu não fiz questão nenhuma de sair dali – e me ajudo a colocar a roupa de trabalho. Por mais amigos que fôssemos, eu nunca tive coragem – ou audácia – de perguntar o que ele faria se amasse um garoto como eu o amo, mas não acho que ele faça a linha do homem preconceituoso, já que trabalhava em um lugar como esse. “Força, viu?”       

  Murmurei qualquer balela em concordância e juntos nós fomos aos nossos postos. Eu com a missão de servir as mesas daquele lugar enquanto Gabe brincava com copos e bebidas atrás de um balcão. Sempre sorridente, sempre dançando e com excelente humor. Vez ou outra o latino percebia meu olhar ou minha falta de vontade de servir as pessoas naquele dia, mas bastava uma piscadela para eu me derreter e voltar a ter um pouco mais de motivo para sobreviver ao mundo a minha volta. Aquele dia em especial, as horas pareciam lentas demais e por melhores que os dançarinos – tendo seus nomes verdadeiros: Gerard, Brendon e Tyson – naquele momento, nem eles fizeram com que eu esquecesse as palavras do médico. Nem mesmo Gabe conseguira me fazer com que eu esquecesse completamente do médico, do meu pai.        

 De repente, David fez um sinal para que eu fosse até a chapelaria. Caminhei o mais rápido que pude, sentindo vários olhares se voltarem para as minhas costas e não mais para o meu traseiro como era a maioria das vezes quando os garçons passavam pelas mesas. Eu sabia do que se tratava, mas ao mesmo tempo eu não estava com tanta sede de saber, porque era o meu pai, o homem que eu admirava e que me trouxe para Salt Lake City e para conhecer alguém que mudaria meu modo de pensar, que mudaria a minha vida para todo sempre. Eu conheci Gabriel num momento feliz, sem saber que era ele que seria o amor da minha vida.

        Senti os olhos de Gabe em minhas costas, mas de repente nem mesmo o olhar dele se tornou tão importante que o motivo que fui chamado na chapelaria. David, acompanhado pelo segurança – que sempre o deixava com a pior cara do mundo – não tinha um sorriso nos lábios como era costumeiro e ordenado por nossos chefes. Debrucei no balcão da chapelaria, encarando os casacos dos tantos homens bonitos e outros nem tanto. Eu mantive o silêncio e senti o outro canadense, Pierre, me abraçar por trás, sem nenhuma maldade e provocando uma reação de aversão em David. “Eu acabei de receber uma notícia ruim.” O menino abaixou os olhos, encarando seus sapatos. Meu olhar ainda estava perdido nos casacos bonitos. “Eu realmente sinto muito.”

“É sobre o meu pai?” Perguntei baixinho, fraco, quase sem vontade nenhuma de receber uma resposta que confirmasse minhas suspeitas. Pierre fazia uma pequena caricia em minha cintura, reparando o menor de nós três sacudir a cabeça em concordância. Embora fosse uma notícia triste e uma forma terrível de me deixar chateado – ainda que sem intenção -, mas David conseguia ser admiravelmente doce. Tão doce que eu não conseguia ficar bravo com ele, em nenhum momento sequer e nem mesmo por um segundo. “O que houve?”

“Avisaram do hospital que o seu pai... bem, ele teve complicações no pulmão e, infelizmente, ele não resistiu.” David se balançava nervosamente, sem me olhar nos olhos e despencando por meus. Meu coração disparava e apertava ao mesmo tempo, porque eu não esperava que fosse tão rápido, que não desse tempo de eu me despedir, ou simplesmente dizer que sairia desse emprego que ele odiava, porque Salt Lake era linda e podia ter algo bem melhor para um cara inteligente como eu. “Eu sinto muito.”

“Eu também sinto.” Pierre falou baixinho e eu assenti, como se dissesse que havia entendido o que ele havia entendido o que o garoto quis dizer e o abraço de Pierre foi se desfazendo quando eu mas precisei, quando eu realmente achei que desabaria como as minhas lágrimas que não queriam mais ficar retidas em meus olhos. Poderia odiar Bouvier naquele momento, mas fiquei agradecido quando seu abraço foi substituído por Gabe Saporta e seu carinho. Era realmente tudo o que eu precisava agora.

“Nick mandou que eu te levasse para casa e cuidasse de você hoje.” Gabe me disse baixinho, dentro do meu ouvido e me deixou um beijo doce em meu rosto, sem dizer uma palavra sequer sobre sentir muito. Talvez porque ele soubesse que essa formalidade toda me soava sem sentido na grande maioria das vezes. Algumas palavras de consolo vindas de alguém que você ama valem muito mais que apenas um ‘sinto muito’ da mesma pessoa.        

 Devagar, Gabe me conduziu até o carro dele – dizendo que Nick providenciaria que o meu carro fosse levado para casa – e devagar começou a me conduzir pelo estacionamento até as vagas mais longínquas que eram destinadas aos funcionários e eu apenas cuidava de esconder meu rosto no peito de Gabe e sentia meu coração temer qualquer coisa a partir daquele momento, porque eu estava sem alguém que, embora me repreendesse por eu escolher uma profissão dentro de um antro de mistério e perdição, mas era o único emprego da cidade que pagava aquele salário mais a gorjeta gorda de todo final de semana. Encostei-me no carro dele e olhei bem dentro dos seus olhos, buscando ali algum conforto, algum meio de sobrevida, alguma chance de achar algum sentimento além do convencional carinho, mas não sabia exatamente se era eu quem estava muito vulnerável ou se realmente tinha algo além do usual carinho que ele sempre me demonstrava e, por incrível que pareça, eu encontrei algo muito maior que a pena, muito maior que a compaixão.

“Obrigado por tudo, Gabanti.” Falei baixinho, com os braços cruzados em frente do peito, abaixando momentaneamente os olhos. Ao contrário do que eu pensei, Gabriel segurou meu rosto com tanta doçura que eu poderia sentir minha sanidade se evadir por meus poros. Estava perto do inverno e as montanhas de Salt Lake City eram muito frias e por isso meu queixo começou a bater, provocando um ruído pequeno mais incômodo. As mãos geladas do barman a minha frente foram retiradas do meu rosto e colocadas em seu casaco, que foi logo foi retirado de seu corpo magro – e não menos provocante – e colocado sobre meus ombros. “Obrigado por cuidar de mim quando eu mais precisei.”

“Não precisa agradecer, Bilvy.” Seus lábios vieram de encontro à minha bochecha, mas logo deslizaram até o canto dos meus lábios. Ele estava sendo completamente cuidadoso ao me abraçar e ao manter seu rosto ali, perto do meu. Me obrigando a fechar os olhos para curtir a sensação fria que vinha do vento junto com o leve sabor quente latino vindo daqueles lábios. Por muito pouco não virei meu rosto, roubando-lhe um beijo, mas minhas bochechas já denunciavam minha meninice.         

Devagar, ele arrastou seus quentes lábios até os meus e tentou começar um beijo, mas fomos interrompidos por uma grande lanterna. Eu cheguei a engolir um palavrão baixo, porque eu esperei – muito – por aqueles lábios, mas ao ouvir o desligar da sirene policial me virei aos pouquinhos para ver porque a polícia queria exatamente. Fixei meu olhar no senhor alto que vinha em nossa direção, acompanhado de mais dois e este gritou, apontando uma arma para a cabeça de Gabe, dizendo: “Gabriel Eduardo Saporta, você está preso por imigração legal. Mantenha as suas mãos aonde eu possa ver e nada acontecerá com você.”        

 E então, meu mundo realmente tinha caído mais uma vez debaixo dos meus pés. O chão que já era quase inexistente, faltou completamente quando Gabe levantou as mãos e juntou nossos lábios lentamente, apertando seus olhos com tanta força, como se fosse a última vez que ele fosse me ver. O resto do meu coração fora destroçado com aquela situação toda e aquele beijo foi como um pedido mudo para que eu continuasse a viver, mas o latino não notou que eu não tinha mais motivos para continuar. Quero dizer, eu até tinha, mas não havia condições de eu deixar minha irmã, Courteney, e minha mãe ao vento para viver aquele amor que eu tanto desejei.         

A sensação do beijo estava correta. Nunca mais o veria.

Fim do POV do Beckett.


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