Entre Mares e Livros escrita por mille_crotti, kat_h


Capítulo 9
Cara, como eu sou burro!


Notas iniciais do capítulo

Para vocês!
Com certas surpresinhas...kkkkkk
Bjs
Kat e mille



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/139936/chapter/9

                Devo dizer que nunca me senti tão bem vindo em nenhum lugar como estava me sentindo no acampamento. Durante o jantar, cheguei a ficar sem fôlego de tanto rir com os irmãos Stoll, Connor e Travis, dois filhos de Hermes que de longe ganhariam o troféu encrenca do acampamento – se ele existisse, é claro. Eles ficavam imitando a cara da Clarisse quando ela se livrou da bolha e saiu do salão, e faziam freqüentes comparações dela com vários seres... Para você ter uma idéia, a frase mais leve foi de Travis, que disse “Se trocassem a cabeça do javali no topo do chalé de Ares pela cabeça da Clarisse eu divido que alguém notaria alguma diferença. No máximo, pensariam que ele estava usando peruca”. Mas então seguiu-se um trovão muito forte após esse comentário, e resolvemos mudar de assunto. Algo me diz que o Deus da Guerra não estava nada feliz com os acontecimentos recentes e não melhoraria de humor com nossos comentários.

Toda a história de deuses e semideuses ainda me fazia ficar com milhões de perguntas na cabeça, mas agora, eu já não duvidava mais, não depois do que eu fiz. Na verdade, ainda não sei como fiz aquilo com todos os sucos, mas foi irado. Todos me diziam frases como “Já estava na hora de alguém enfrentá-la” ou então “Valeu, Percy, me senti vingado da vez em que ela...” e a parir daí seguia-se uma história de como Clarisse ou seus irmãos haviam machucado alguém.

Depois do jantar, Quíron deu alguns avisos, e apresentou formalmente eu e Annie como novos campistas indeterminados. Essa palavra fazia boa parte do pessoal tremer, e outra parte, bem menor, ficar esperançoso. Um dos meus colegas de chalé me disse que tinha esperanças que eu e Annie fôssemos reconhecidos e assim, quem sabe, seu pai se lembraria dele. Fiquei com dó, isso explicava por que o chalé de Hermes era o mais cheio. Não eram muitos filhos do Deus – ok, ele tinha um bocado de filhos sim, mas de um total de 25 moradores do chalé, 14 eram indeterminados. Ele era o Deus mais ativo, por assim dizer, seguido de perto por Apolo, seu chalé tinha 12 campistas.

Era relativamente fácil identificar os campistas que eram irmãos. As semelhanças entre pessoas do mesmo chalé eram imensas. No chalé de Atena, por exemplo, todas as crianças têm cabelos loiros e olhos cinza. Os campistas filhos de Ares são todos fortões e com cabelos castanhos. As filhas de Afrodite têm cabelos compridos e olhos claros, mas fica difícil decidir qual é mais bonita. O chalé de Hefesto tem ocupantes de cabelos pretos e pele bem morena. Bom, se eu ficar descrevendo todos, vocês irão se cansar, mas acho que já deu para ter uma idéia.

Agora, estava indo para o chalé de Hermes, acompanhado por Annabeth e Luke. Eu não tinha percebido como estava cansado, até depois do jantar, quase dormi na mesa, mas lembrei de Annie me falando eu babo enquanto durmo, então dei uma desculpa qualquer e saí. Annabeth e Luke estavam se dando bem, aparentemente, eles conversaram bastante durante os dois dias que fiquei desacordado e já estavam amiguinhos demais para o meu gosto. Annie ainda não dormira no chalé, passou as duas primeiras noites na casa grande, cuidando de mim, mas durante o dia ela ficava livre vagando pelo acampamento.

Fui interrompido de meus devaneios por um tapa na nuca seguido de uma risada da loira.

- Eu não falei, Luke, que o Percy é um cabeça de algas!

- Já falei para não me chamar assim, sabidinha!

Ok, eu e minha boca grande. Ela me deu aquele famoso olhar mortal e, em dois segundos, eu estava no chão me perguntando o que aconteceu.

- Eu também, Algas.

Luke estava sentado no chão, rindo e segurando a barriga de tanto rir.

-Há! Essa... foi ótima... Annie!... Percy, você tinha... que ver ... a sua cara!

Eu ainda estava estirado no chão. Luke nem conseguia falar, de tanto que ria. Quer dizer que ele pode chamá-la de Annie e eu não?

- Caramba, Annabeth, onde você aprendeu a fazer isso? – Perguntei boquiaberto.

- Ora, Algas, eu não fiquei dois dias dormindo. Eu sei que Quíron havia me liberado das tarefas, mas já estava livre aproveitei para começar a treinar e estudar mais sobre tudo isso.

- Mas eu sou mais forte que você! Como conseguiu me derrubar tão rápido?

- Em uma batalha, não adianta ter músculos e não ter cérebro, Algas.

- Nossa, Annie – Lá estava o Luke se intrometendo de novo – Você falou como os filhos... ah... esquece, melhor não criar esperanças. Vamos dormir? Percy, já que já está deitado na grama, quer que eu traga um cobertor? Mas já aviso, as harpias irão adorar um lanchinho noturno.

- Há-há, muito engraçado, Luke.

Levantei e seguimos até o chalé. Já lá dentro, percebi que alguém trouxera um saco de dormir e um travesseiro para mim. Annabeth também ganhou os mesmos itens e já estava entrando em sua cama improvisada. Luke foi tomar um banho. Terminei de arrumar as coisas e me deitei. Eu já estava quase dormindo, quando Annie me chamou.

- Percy?

- Fala Annabeth.

- O que achou do acampamento?

- Ah, parece ser bem legal. Não vejo a hora de começar a treinar. Mas às vezes ainda acho que é um sonho e que vou acordar a qualquer momento.

- Fico pensando isso também. Quer dizer, é muito bom se sentir em casa. É como eu me sinto.

- Eu também, Annie.

- Annabeth.

- Por que eu sou o único que não pode te chamar de Annie? Não é justo!

- É justo sim! É só mais uma maneira de te provocar. – Mas ela vacilou, e olhou para baixo.

- Conte-me, Annabeth, você está escondendo alguma coisa e eu quero saber o que é.

- Não é nada Percy, sério, é só que... você me faz lembrar de casa e quem me chamava de Annie era meu pai – Ela engoliu em seco, estava com os olhos marejados. Agora eu entendi, ela sempre se lembrava de como era o pai antes dele conhecer a atual esposa, que fez com que ele ignorasse Annie e preferisse seus dois outros filhos.

- Aah, desculpa Annabeth, eu não sabia. Vamos pare de chorar! Conte-me tudo o que você fez nesses dois dias.

De repente, era uma nova Annabeth que estava me encarando. Seus olhos brilharam e ela abriu um sorriso maravilhoso... digo... um sorriso bem grande.

- Ah Percy, você não tem idéia! Eu descobri que sou a melhor arqueira do acampamento! Também sou muito boa em lutar com adagas! Disseram-me que essa habilidade é rara!  Também sou ótima em esgrima! Não é demais? E depois dos treinos, eu me reuni com os filhos de Atena. Juntos, criamos novas estratégias de batalha, eles me convidaram para ser do time deles no caça a bandeira, principalmente agora que os chalés de Atena e Hermes firmaram uma aliança para tirar a vitória das mãos do chalé de Ares. Ah! E eles me ensinaram estratégias para utilizar em combates corpo-a-corpo, principalmente quando seu adversário é maior que você! Foi assim que te derrubei! Haha.

- Aah... legal. – Foi tudo o que consegui dizer. Ela falou tudo tão rápido que eu ainda estava assimilando o que tinha escutado.

- Legal? Legal? Percy, isso é fantástico! Amanhã vou pedir a Luke que me deixe treinar com você, e quem sabe você não possa ser útil durante a caça a bandeira. Luke me disse que esse jogo é extremamente perigoso e que todos levam muito a sério, claro que é proibido matar e mutilar, mas vai ser bem mais fácil do que derrotar o minotauro que matou sua mãe.

Congelei. À simples menção à minha mãe e ao seu trágico destino meu coração ficou apertado... Ela estava morta, e a culpa foi minha. Eu deveria ter protegido ela. Tentei não chorar, mas meus olhos não respondiam aos meus comandos e lágrimas caiam involuntariamente por toda a extensão do meu rosto.

- Ah, Percy, me desculpa, eu não queria...

- Tudo bem Annabeth... A culpa foi minha. Eu devia ter protegido ela, mas acho que meu padrasto tem razão, eu sou tão inútil que nem para salvar minha mãe eu sirvo.

- Percy! Não diga isso! Claro que a culpa não é sua, a gente nem sabia da existência...

- Para, Annabeth, por favor, eu não quero falar sobre isso. Eu vou dormir... Boa noite.

Eu sei que fui grosso, mas eu não estava mais conseguindo me controlar... Virei para o outro lado, e permiti que as lágrimas lavassem meu rosto silenciosamente. Senti uma mão quente e delicada acariciando meus cabelos. Ao receber seu toque, senti um estranho formigamento percorrer todo o meu corpo. Annie me disse:

- Calma, Percy, eu estou aqui, vai ficar tudo bem... Eu sempre estarei ao seu lado, não se esqueça disso.

E então eu adormeci: sem sonhos, sem medos, só com a estranha certeza de que tudo iria melhorar e que ela sempre estaria ao meu lado.

***

No dia seguinte, acordei ouvindo sussurros e risadinhas. Senti algo pesado em meu rosto, e resolvi abrir os olhos para ver o que estava acontecendo. Infelizmente, eu abri os olhos, acho que preferia continuar em minha santa ignorância dos fatos. Veja bem: ao abrir os olhos, dei de cara com Annie, que também estava acordando nesse momento e estava virada para mim. Estávamos muito próximos um do outro, devido à falta de espaço no chalé, mas a imaginação das outras pessoas não permite que elas vejam a verdade, e a mão de Annabeth estava em meu rosto. Dei um pulo no mesmo momento em que minha amiga e eu, sinceramente, não sei qual dos dois estava mais vermelho.

- Bom, agora que o casal mais fofo do acampamento acordou, eu, na condição de conselheiro do chalé de Hermes, devo informar que é terminantemente proibido namorar dentro dos chalés, principalmente com todos os seus companheiros compartilhando o mesmo espaço. – Ah! O Luke me paga!

Como eu queria ser um avestruz nesse momento enfiar minha cabeça em um buraco.  Annabeth também estava na mesma situação, mas tentava explicar...

- Luke, não é nada disso, é que o Percy...

- Relaxa Annie, estamos só brincando... – Nesse momento, para a nossa maior felicidade, ouvimos o trompa anunciar o café da manhã. – Pessoal, café da manhã, vamos lá.

Eu entrei correndo no banheiro, fiz minha higiene matinal e fui arrumar minha cama, enquanto esperava Annabeth terminar de se arrumar. Fomos juntos até o refeitório, sem trocarmos sequer um bom dia, esperando que lá pudéssemos esquecer o ocorrido. Cara, como eu estava errado! Quando entramos no salão, todos pararam o que estavam fazendo e começaram a cochichar. Era óbvio que a notícia do acontecimento já se espalhara, ou melhor, os irmãos Stoll já a espalharam. Acho que o pior foi o caminho até a mesa. Andamos debaixo de sussurros e assovios, as filhas de Afrodite sussurravam um “Ai! Que casal mais lindo!” e posso jurar que ouvi uma delas perguntar à irmã “Mas o que ele viu nela?”. Deu meu pior olhar para a garota: Annabeth era minha melhor amiga e sim, ela era muito bonita. Caramba, se houver um Deus dos Micos, com certeza eu sou filho dele.

Alguns minutos depois, o refeitório voltou à balburdia habitual, embora ainda visse um ou outro conversando e olhando para mim ou para Annie. Peguei meu prato fui até a fogueira jogar uma parte de minha refeição para os deuses – pois é, costume estranho, mas eu é que não ia contrariar. Joguei a comida, rezando mentalmente ao meu pai para que me reconhecesse, e retornei ao meu lugar. Para evitar mais fofocas, Annie esperou eu retornar para ir até a fogueira, e foi aí que a coisa ficou estranha. Após jogar parte da sua comida, algo começou a brilhar acima de sua cabeça, um símbolo de uma coruja. O salão inteiro ficou em silêncio absoluto. Quíron levantou de sua mesa:

- Está determinada. Annabeth Chase, filha de Atena.

A mesa dos novos irmãos de Annabeth explodiu em vivas. Ela corou, novamente, e apressou-se a vir sentar, mas Quíron a impediu.

- Annabeth, agora que foi determinada, deve sentar-se com seus irmãos. Após o café, pode fazer a mudança de chalé.

Ela me olhou pela primeira vez desde a manhã, e murmurou algo como “Desculpa” e seguiu para sua nova mesa, onde foi saudade por todos com abraços e gritos de “Eu sabia! Com essa inteligência, só podia ser!”

Cara, como eu fui burro! Agora, vendo ela com os irmãos, era óbvio. Todos eram loiros, pele branca e olhos cinza. Isso explica suas notas altas e sua constante vontade de aprender. Luke me olhou e perguntou:

- Você está bem?

- Eu... Estou surpreso, só isso. – Ele riu.

- Cara, só você não tinha notado. Só estávamos esperando a confirmação. Atena nunca leva mais de uma semana para reconhecer os filhos. – Notei uma nota de amargura em sua voz. Estranho.

- É, eu sei que sou burro, obrigado! – E, não sei o porquê, comecei a rir, acompanhado por todos na mesa.

- Relaxa, Percy, coma logo, depois do café o nosso chalé tem treino de esgrima, e eu fui incumbido por Quíron para treiná-lo.

- Legal, mais um mico para minha coleção. Apanhando do líder do chalé.

Depois disso, rimos mais ainda, e terminamos de tomar nosso café. Após escovar os dentes, seguimos para minha primeira aula de esgrima. Todos do chalé 11 (Hermes) se reuniram na grande arena circular, onde Luke seria nosso instrutor.

Começamos com estocadas e cutiladas básicas, usando bonecos recheados de palha com armaduras gregas. Acho que fui bem. Pelo menos entendi o que devia fazer e meus reflexos foram bons.

O problema era que eu não conseguia encontrar uma lâmina que se adaptasse às minhas mãos. Eram pesadas demais, leves demais ou compridas demais. Luke fez o melhor que pôde para me ajudar, mas concordou que nenhuma das lâminas de prática parecia funcionar para mim.

Passamos adiante, para duelo em duplas. Luke anunciou que seria meu parceiro, já que era a minha primeira vez.

- Boa sorte - disse um dos campistas. - Luke é o melhor espadachim dos últimos trezentos anos.

- Talvez ele pegue leve comigo - comentei.

O campista riu, desdenhoso.

Luke me mostrou as estocadas, paradas e defesas com escudo do jeito difícil. A cada golpe eu estava um pouco mais surrado e contundido.

- Mantenha a guarda alta, Percy - dizia ele, e então me atingia com força nas costelas usando a parte chata da lâmina. - Não, não tanto assim! - Plaft! - Ataque! - Plaft! - Agora, recue! - Plaft!

Quando ele pediu um tempo, eu estava empapado de suor. Todos correram para o isopor de bebidas. Luke despejou água gelada em cima da própria cabeça, o que me pareceu uma ótima idéia. Fiz a mesma coisa.

Na mesma hora me senti melhor. A força percorreu novamente os meus braços. A espada não parecia mais tão difícil de manejar.

- O.k., todo mundo em circulo! - ordenou Luke. - Se Percy não se importar, vou fazer uma pequena demonstração.

Incrível, pensei. Vamos todos assistir enquanto Percy é triturado

Os garotos de Hermes se reuniram em volta. Estavam todos contendo o riso. Imaginei que já tinham passado por aquilo e mal podiam esperar para ver Luke me usar como saco de pancadas. Ele disse a todos que ia mostrar uma técnica para desarmar o oponente: como girar a lâmina do inimigo com a parte chata da própria espada para que ele não tenha alternativa a não ser deixar a arma cair.

- Isso é difícil - enfatizou. - Já usaram contra mim. Não riam de Percy agora. A maioria dos espadachins precisa trabalhar anos para dominar essa técnica.

Ele demonstrou o movimento para mim em câmera lenta. Como previsto, a espada pulou da minha mão.

- Agora, em tempo real - disse ele depois que recuperei minha arma. - Vamos fazer o movimento até que um de nós tenha sucesso. Pronto, Percy?

Eu assenti, e Luke veio para cima de mim. De algum modo, eu o impedi de golpear o cabo da minha espada. Meus sentidos se aguçaram. Vi seus ataques chegando. Eu rebati. Dei um passo à frente e tentei minha própria estocada. Luke a revidou facilmente, mas notei uma mudança em seu rosto. Seus olhos se estreitaram, e ele começou a me pressionar com mais força.

A espada estava pesando em minha mão. Mas equilibrada. Eu sabia que era apenas uma questão de segundos antes que Luke me derrubasse, então decidi: Que se dane!

Tentei a manobra para desarmar.

Minha lâmina atingiu a base da de Luke e eu a girei, pondo todo o meu peso em um golpe para baixo.

Plem!

A espada de Luke retiniu contra as paredes. A ponta da minha lâmina estava a dois centímetros do seu peito desprotegido.

Os outros campistas ficaram em silencio.

Baixei a minha espada.

- Ahn, sinto muito.

Por um momento, Luke ficou perplexo demais para falar.

- Sinto muito? - Seu rosto marcado abriu-se num sorriso. - Pelos deuses, Percy, você sente muito? Mostre-me aquilo de novo!

Eu não queria. A rápida explosão de energia maníaca me abandonara completamente. Mas Luke insistiu.

Dessa vez, não houve disputa. No momento em que nossas espadas entraram em contato, Luke atingiu o cabo da minha, que saiu deslizando pelo chão.

Depois de uma longa pausa, alguém do público disse:

- Sorte de principiante?

Luke enxugou o suor da testa. Ele me avaliou com um interesse totalmente novo.

- Talvez - disse. - Mas fico pensando o que Percy poderia fazer com uma espada equilibrada... Vamos, lá! Vamos fazer um mini campeonato, uma dupla por vez, vou sortear as duplas, e o vencedor ganha o primeiro horário do banheiro hoje!

Até que foi legal... Minha dupla era Travis Stoll... Achei que não iria durar 15 minutos em um combate direto. Como sempre, estava errado... Durei 8 minutos e meio, momento que Travis me derrubou, desarmado. Não ganhei o campeonato, mas ganhei um corte feio no braço. O vencedor do campeonato foi Luke, é claro.

Depois da esgrima, fui estudar grego antigo com Quíron e conversamos sobre deuses e deusas no presente, o que era um pouco estranho. Descobri que Luke estava certa a respeito de minha dislexia: o grego antigo não era tão difícil de ler. Pelo menos, não mais difícil que inglês. Depois de algum tempo eu já conseguia ler sem muita dor de cabeça algumas linhas de Homero, tropeçando aqui e ali.”

No resto do dia eu alternei atividades ao ar livre, procurando alguma coisa em que fosse bom. Quíron tentou me ensinar arco-e-flecha, mas descobrimos bem depressa que eu não dava para aquilo. Ele não reclamou nem mesmo quando teve de arrancar de sua cauda uma flecha perdida.

Corrida? Eu também não era bom. As instrutoras, as ninfas do bosque, me fizeram comer poeira. Disseram-me para não me preocupar com isso. Tiveram séculos de práticas fugindo de deuses apaixonados. Mas ainda assim era meio humilhante ser mais lento que uma árvore.

A única coisa em que eu era mesmo excelente era canoagem, e essa não era o tipo de habilidade de herói que as pessoas esperavam do cara que venceu o Minotauro.

Sabia que os campistas mais velhos e os conselheiros me observavam, tentando concluir quem era meu pai, mas não estava sendo fácil para eles. Eu não era tão forte quanto os garotos de Ares, nem tão bom em arco-e-flecha quanto os garotos de Apolo. Não tinha a perícia de Hefesto com metais ou - os deuses me livrem - o jeito de Dionísio com as vinhas. Luke me disse que eu podia ser filho de Hermes, uma espécie de pau para toda obra, mestre nada. Mas eu tinha a sensação de que ele só estava tentando me fazer sentir melhor. Na verdade, também não sabia o que fazer comigo.

Após um dia intenso de treinos, fui para meu chalé, tomei banho, e me dirigi para o refeitório. Depois do jantar, seria o jogo de caça a bandeira.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E Ai?
Gostaram??
Odiaram?
Amaram?
Reviews, por favor!!PELOS DEUSES!
Obrigada a todos que lêem!
Bjs
Kat e mille