Entre Mares e Livros escrita por mille_crotti, kat_h


Capítulo 8
Hã??


Notas iniciais do capítulo

Mille: Oiee leitores do meu coração!
Está aqui mais um capítulo quentinho direto do Word... hehe... Feito especialmente para vocês!
Kat: Hã?
Mille: kkkkkk Hã?

Mille e Kat: calma, não somos doidas, leiam e vocês irão entender!

Beijos!

Mille e Kat

ps: tá legal, somos loucas sim =P



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Depois que assimilei o fato de meu professor de latim ser um cavalo, fizemos um passeio agradável, embora tivesse o cuidado de não andar atrás dele. Havia participado algumas vezes das rondas com pazinhas para recolher cocô de cachorro na Parada do Dia de Ação de Graças da loja Macy’s e, lamento dizer, não confiava na parte de trás de Quíron tanto quanto confiava na da frente.

Passamos pela quadra de vôlei, onde Annie juntou-se a nós. Diversos campistas se cutucavam. Um deles apontou para o chifre de minotauro que eu carregava. Um outro disse:

- São eles.

A maioria dos campistas era mais velha que eu. Seus amigos sátiros eram maiores que Grover, todos trotando de um lado para outro de camisetas cor de laranja do ACAMPAMENTO MEIO-SANGUE, sem nada para cobrir os traseiros peludos à mostra. Eu normalmente não era tímido, mas o modo como olhavam para nós me deixou pouco à vontade. Era como se esperassem que eu desse um salto mortal ou coisa assim.

Olhei para a casa de fazenda trás de mim. Era muito maior do que eu pensara - quatro andares, azul-céu com acabamento em branco, como um hotel de veraneio de primeira classe à beira-mar.

- Venham - disse Quíron, o tom despreocupado agora um pouco forçado. - Há muito para ver.

Caminhamos pelos campos de morangos, onde campistas colhiam alqueires de morangos enquanto um sátiro tocava uma melodia numa flauta de bambu.

Quíron me contou que o acampamento cultivava uma bela safra para exportar para os restaurantes de Nova York e para o Monte Olimpo.

- Paga as nossas despesas - explicou. - E os morangos não exigem esforço quase nenhum.

Observei o sátiro tocando a flauta. A música fazia com que filas de insetos saíssem dos canteiros de morangos em todas as direções, como se fugissem de um incêndio. Imaginei se Grover podia fazer esse tipo mágica com música. Imaginei se ainda estava dentro da casa, levando broncas do Sr. D.

- Grover não vai ter muitos problemas, vai? - perguntei a Quíron. - Quer dizer... ele foi um bom protetor. Sem dúvida.

Quíron suspirou. Tirou o casaco de tweed e jogou-o por cima do seu lombo de cavalo, como uma sela. Annabeth olhou para o chão, ela sabia de alguma coisa e não queria – ou não podia – me contar.

- Grover sonha alto, Percy. Talvez mais alto do que seria razoável. Para atingir seu objetivo, ele precisa primeiro demonstrar uma grande coragem tendo sucesso como guardião, encontrando um novo campista e trazendo-o em segurança à Colina Meio-Sangue.

- Mas ele fez isso!

- Eu poderia concordar com você - disse Quíron. - Mas não cabe a mim julgar. Dioniso e o Conselho dos Anciãos de Casco Fendido devem decidir. Receio que possam não ver essa missão como um sucesso. Afinal, houve o acontecimento com a Sra. Dodds, há o desventurado... ahn... destino da sua mãe. E o fato de que Grover estava inconsciente quando socorremos vocês nos limites da propriedade. O conselho pode questionar se isso demonstra alguma coragem da parte de Grover.

Eu quis protestar. Nada do que acontecera havia sido por culpa de Grover. Também me sentia muito, muito culpado. Se não tivesse insistido para Grover ir à praia, ele poderia não ter se envolvido em encrenca.

- Ele vai ter uma segunda chance, não vai?

Quíron retraiu-se.

- Infelizmente aquela era a segunda chance de Grover, Percy. Além disso, o conselho não estava muito ansioso em lhe dar outra oportunidade depois do que aconteceu na primeira vez, cinco anos atrás. O Olimpo sabe, eu o aconselhei a esperar mais tempo antes de tentar de novo. Ele ainda é muito pequeno para a sua idade.

- Que idade ele tem?

- Ah, vinte e oito.

- O quê! E ainda está na sexta série? – Ok, a Annie exagerou na reação, praticamente chamou ele de burro. Tá, ele é meio bode, mas não tem nada a ver com inteligência.

- Os sátiros amadurecem no dobro do tempo dos seres humanos, Annabeth. Grover teve idade equivalente à de um aluno de escola secundária nos últimos seis anos.

- Que coisa horrível. – Eu disse – Quantas vezes ele viu as matérias que estávamos vendo esse ano? Eu hein.

- De fato - concordou Quíron. - De qualquer modo, Grover está atrasado, mesmo pelos padrões de sátiro, e ainda não avançou muito em magia dos bosques. O pobre estava ansioso por perseguir o seu sonho.

Talvez agora encontre alguma outra carreira...

- Isso não é justo! - disse eu. - O que aconteceu na primeira vez? Foi mesmo assim tão ruim?

Quíron desviou os olhos depressa. E, como eu suspeitava, Annie baixou a cabeça novamente, confirmando que sabia pelo menos uma parte da história.

- Vamos andando?

Mas eu ainda não estava pronto para mudar de assunto. Uma coisa me ocorrera quando Quíron falou sobre o destino de minha mãe, como se estivesse intencionalmente evitando a palavra morte. O princípio de uma idéia - uma pequenina e esperançosa chama - começou a se formar em minha cabeça.

- Quíron - disse eu. - Se os deuses, o Olimpo e tudo isso são reais...

- Sim, criança?

- Isso significa que o Mundo Inferior também é real? A expressão de Quíron se fechou.

- Sim, criança. - Ele fez uma pausa, como se estivesse escolhendo as palavras cuidadosamente. - Há umlugar para onde vão os espíritos após a morte. Mas por ora... até que saibamos mais...eu recomendaria que tirasse isso de sua cabeça.

- O que quer dizer com "até que saibamos mais"?

- Venha, Percy. Vamos ver os bosques.

Quando nos aproximamos, me dei conta de como a floresta era enorme. Tomava pelo menos um quarto do vale, com árvores tão altas e largas que a impressão era de que ninguém entrara lá desde os nativos americanos.

Quíron disse:

- Os bosques têm provisões, se vocês quiserem tentar a sorte...

- Provisões de quê? – perguntei. - Armado com o quê?

- Você verá. O jogo Capture a Bandeira é na sexta-feira à noite. Vocês tem a sua própria espada e escudo?

- Minha própria...? – Annabeth respondeu... Eu estava tentando assimilar... ele realmente disse espada e escudo?

- Não - disse Quíron. - Não creio que tenham. Acho que o tamanho cinco vai servir para Percy. Annabeth talvez prefira... aah... outra coisa. Mais tarde vou visitar o arsenal.

Quis perguntar que tipo de acampamento de verão tem um arsenal, mas havia muito mais a pensar, portanto o passeio continuou. Vimos a linha de tiro com arco-e-flecha – Annie ficou louca com essa parte! - o lago de canoagem – Ok, dessa vez fui eu quem ficou louco- os estábulos - dos quais Quíron parecia não gostar muito - a linha de lançamento de dardo, o anfiteatro para cantoria e a arena onde Quíron disse que eles realizavam lutas de espadas e lanças.

- Lutas de espadas e lanças? - perguntei.

- Desafios entre chalés e coisas assim - explicou ele. - Não são letais. Normalmente. Ah, sim, e há também o refeitório. Quíron apontou para um pavilhão ao ar livre emoldurado por colunas gregas brancas sobre uma colina que dava para o mar. Havia uma dúzia de mesas de piquenique de pedra. Sem telhado. Sem paredes.

- O que vocês fazem quando chove? - perguntei.

Quíron me olhou como se eu tivesse ficado meio maluco.

- Ainda assim temos de comer, não temos?

Resolvi deixar para lá. Annie tinha uma ruga entre as sobrancelhas. Não devia ser nada agradável comer sopa em dia de chuva.

Finalmente, ele nos mostrou os chalés. Havia doze deles aninhados no bosque junto ao lago. Estavam dispostos em U, dois na frente e cinco enfileirados de cada lado. E eram, sem dúvida, o mais estranho conjunto de construções que já vi.

No centro do campo havia uma enorme área de pedras com uma fogueira. Muito embora fosse uma tarde quente, o fogo ardia de modo lento. Uma menina com cerca de nove anos estava cuidando das chamas, cutucando os carvões com uma vara.

O par de chalés à cabeceira do campo, números 1 e 2, pareciam mausoléus casadinhos, grandes caixas de mármore branco com colunas pesadas na frente. O chalé 1 era o maior e mais magnífico dos doze.

- Zeus e Hera? – Perguntou Annabeth. Como ela conseguia fazer isso?Sempre adivinhando as coisas, quando nada tem sentido.

- Correto - disse Quíron.

- Os chalés parecem vazios.

- Diversos chalés estão vazios. Ninguém jamais fica no 1 ou 2.

Certo. Então cada chalé tinha um deus diferente como mascote e chalés para os doze olimpianos. Mas por que alguns estariam vazios?

Parei na frente do primeiro chalé da esquerda, o número 3.

Não era alto e imponente como o chalé 1, mas comprido, baixo e sólido. As paredes externas eram de pedras cinzentas rústicas salpicadas de pedaços de conchas e coral, como se as pedras tivessem sido cortadas diretamente do fundo do oceano. Espiei para dentro da porta aberta e Quíron disse:

- Ih, eu não faria isso!

Antes que ele pudesse me puxar de volta, senti o odor salgado do interior, como o vento na praia de Montauk. As paredes internas brilhavam como madrepérola. Havia seis beliches vazios com lençóis de seda virados para baixo. Mas não havia indício de que alguém já tivesse dormido lá. O lugar parecia tão triste e solitário que fiquei contente quando Quíron pôs a mão no meu ombro.

- Vamos, Percy.

A maioria dos outros chalés estava abarrotada de campistas.

O numero 5 era vermelho vivo - uma pintura muito malfeita, como se a cor tivesse sido jogada a esmo com baldes e mãos. O telhado era forrado de arame farpado. Uma cabeça de javali empalhada estava pendurada acima da porta e seus olhos pareciam me seguir. Dentro pude ver um bando de meninos e meninas mal-encarados, disputando queda-de-braço e discutindo enquanto o rock tocava às alturas. A mais barulhenta era uma menina de talvez treze ou quatoreze anos. Usava uma camiseta do ACAMAPMENTO MEIO-SANGUE tamanho GGG embaixo de um casaco camuflado. Ela mirou em mim e lançou um maldoso olhar de desprezo. Fez lembrar Nancy Bobofit, só que a menina do acampamento era muito maior e de aparência mais cruel, seu cabelo era comprido, esticado e castanho, em vez de vermelho. Muito parecida com a menina que me atazanou com perguntas enquanto eu me recuperava do ataque do Minotauro.

Continuei andando, tentando ficar longe dos cascos de Quíron.

- Você disse que seu nome é Quíron. Você é mesmo...

Ele sorriu para ela.

- O Quíron das histórias? Instrutor de Hércules e tudo aquilo? Sim, Annabeth, eu sou.

- Mas você não devia estar morto?

Quíron fez uma pausa, como se a pergunta o intrigasse.

- Honestamente, não sei nada sobre devia. A verdade é que eu não posso estar morto. Entenda, há muitas eras os deuses concederam meu desejo. Pude continuar o trabalho que adorava. Pude ser um mestre de heróis enquanto a humanidade precisasse de mim. Ganhei muito com aquele desejo... E renunciei a muito. Mais ainda estou aqui, portanto só posso presumir que ainda sou necessário.

Pensei sobre ser um professor de três mil anos. Isso não estaria na minha lista das Dez Coisas Mais Desejadas.

- Ah, olhe - disse ele. - Grover está esperando por nós.

Quando nos aproximamos, ele olhou para mim com um ar crítico, como se ainda estivesse pensando que eu podia cair desmaiado a qualquer momento.

- Grover - disse Quíron - eu tenho aula de arco-e-flecha para mestres ao meio-dia. Você cuidaria de Percy e Annabeth a partir daqui?

- Sim, senhor.

- Chalé 11 - disse Quíron para mim, fazendo um gesto em direção à porta. - Sinta-se em casa. Annabeth já está instalada.

Entre todos os chalés, o 11 era o que mais parecia um velho chalé comum de acampamento de verão, com ênfase no velho. A soleira estava desgastada, a pintura marrom, descascando. Acima do vão da porta havia um daqueles símbolos de médico, um bastão alado com duas serpentes enroscadas nele. Como é mesmo que chamavam aquilo...? Um caduceu.

Dentro, estava abarrotado de gente, meninos e meninas, em muito maior número que os beliches. Sacos de dormir estavam espalhados por todo piso. Parecia um ginásio onde a Cruz Vermelha estabelecera um centro de refugiados.

Quíron não entrou. A porta era muito baixa para ele. Mas quando os campistas o viram, todos se puseram em pé e fizeram uma reverência respeitosa.

- Então tudo bem - disse Quíron. - Boa sorte, Percy e Annabeth. Vejo vocês no jantar.

Ele partiu a galope ruma à linha de arco-e-flecha.

Fiquei em pé no vão da porta, olhando para a garotada. Annabeth entrou e se dirigiu a um canto. Os ocupantes do casebre não estavam mais se curvando. Olhavam para mim, medindo-me com os olhos. Conheço essa rotina. Havia passado por ela em muitas escolas.

- Tudo bem? - instigou Annabeth. – Venha, Percy.

Então, naturalmente, tropecei ao passar pela porta e fiz um completo papel de bobo. Houve algumas risadinhas dos campistas, mas nenhum deles disse nada.

Grover anunciou:

- Percy Jackson, apresento-lhe o chalé 11.

- Normal ou indeterminado? - perguntou alguém.

Eu não sabia o que dizer, mas Grover disse:

- Indeterminado.

Todos gemeram.

Um cara que era um pouco mais velho que o restante chegou para frente. Estranhamente, Annabeth corou imediatamente.

- Vamos, vamos, campistas. É para isso que estamos aqui. Bem-vindo, Percy. Você pode ficar com aquele ponto no chão logo ali, ao lado de sua amiga. Mas sem sacanagens, hein?!

Corei. Annabeth ficou mais corada do que já estava.

O cara tinha cerca de dezenove anos e parecia muito legal. Era alto e musculoso, com cabelo com cor de areia aparado curto e um sorriso amigável. Usava uma camiseta regata laranja, calças cortadas, sandálias e um colar de couro com cinco contas de argila em cores diferentes. A única coisa perturbadora na sua aparência era uma grossa cicatriz branca que corria desde logo abaixo do olho direito até o queixo, como um antigo corte de faca.

- Este é Luke - disse Annabeth, e sua voz pareceu mudar um pouco. Dei uma olhada nela e poderia ter jurado que estava ficando ainda mais vermelha, se isso fosse possível. Isso está começando a me incomodar. Ela me viu olhando e sua expressão endureceu de novo. - Ele é nosso conselheiro por enquanto.

- Por enquanto? - perguntei.

- Vocês são indeterminados - explicou Luke pacientemente. - Eles não sabem em que chalé acomodá-lo, então estão aqui. O chalé 11 recebe todos os recém-chegados, todos os visitantes. Naturalmente Hermes, nosso patrono, é o deus dos viajantes.

Olhei para o minúsculo espaço de chão que eles me deram. Eu não tinha nada para pôr ali e marcá-lo como meu, nenhuma bagagem, nenhuma roupa, nenhum saco de dormir. Apenas o chifre do Minotauro. Pensei em colocá-lo ali, mas então lembrei que Hermes era também o deus dos ladrões.

Corri os olhos pelos rostos dos campistas, alguns mal-humorados e desconfiados, outros com um sorriso idiota, alguns me olhando como se esperassem uma oportunidade de limpar os meus bolsos.

- Quanto tempo vamos ficar aqui? - perguntei.

- Boa pergunta - disse Luke. - Até vocês serem determinado.

- Quanto tempo isso vai levar?

Todos os campistas riram. Percebi que não iria obter resposta alguma.

- Por que tenho de ficar no chalé 11, afinal? Por que fica todo mundo amontoado? Há uma porção de beliches vazios logo ali.

Apontei para os primeiros chalés e todos empalideceram.

- A gente não escolhe simplesmente um chalé, Percy. Depende de quem são seus progenitores. Ou... o seu progenitor. – Luke respondeu.

Ele olhou fixamente para mim, esperando que eu entendesse.

- Minha mãe é Sally Jackson - disse eu. - Trabalha na doceria da Grande Estação Central. Pelo menos trabalhava.

- Sinto muito pela sua mãe, Percy. Mas não é isso que eu quis dizer. Estou falando sobre seu outro progenitor. Seu pai.

- Ele está morto. Não cheguei a conhecê-lo.

Dessa vez foi Annie que assumiu a palavra.

- Por um acaso o monstro com o qual lutamos pegou sua memória antes que o derrotássemos? Você não se lembra de nada do que sua mãe disse aquele dia, cabeça de algas?

Algumas pessoas riram. Eu não me importei. A simples menção de minha mãe me fez sentir um estranho aperto no peito. Algo no fundo de minha cabeça dizia que ela ainda estava viva. Espantando esses pensamentos da minha cabeça, me lembrei da conversa. Meu pai não estava morto, ele era... um...

- Caramba! Meu pai é um deus!

Com essa pérola que saiu de minha boca, o chalé explodiu em risadas. Até Annabeth, que teve de sentar no chão para não cair.

- Ai, Percy, sua cara foi impagável! – Ela me disse.

- Então... era tudo verdade? – Sinceramente, ainda pensava que alguém iria pular de trás de uma coluna com uma câmera na mão dezendo “Há, peguei mais um trouxa!”. Mais isso não aconteceu. – Como vocês têm certeza? Você não sabem nada sobre mim. Nem sobre Annabeth.– Essa pergunta foi direcionada a Luke.

- Não? - Ele ergueu uma sobrancelha. - Aposto que vocês ficaram passando de escola em escola. Aposto que foram expulsos de uma porção delas.

- Como...

- Tiveram diagnóstico de dislexia. Provavelmente transtorno do déficit de atenção também.

Tentei engolir meu constrangimento.

- O que isso tem a ver?

- Tudo junto, é quase um sinal certo. As letras flutuam para fora da página quando você lê, certo? Isso é porque a sua mente está fisicamente programada para o grego antigo. E o transtorno do déficit de atenção... você é impulsivo, não consegue ficar quieto na classe. Isso são os seus reflexos de campo de batalha. Numa luta real, eles o manterão vivo. Quanto aos problemas de atenção, isso é porque enxerga demais, Percy, e não de menos. Seus sentidos são mais aprimorados que os de um mortal comum. É claro que os professores querem que você seja medicado. Eles são em maioria monstros. Não querem que você os veja como são.

- Você parece... você passou pelas mesmas coisas?

- A maioria das crianças daqui passou. Se você não fosse um de nós, não poderiam ter sobrevivido ao Minotauro, e muito menos à ambrosia e ao néctar.

- Ambrosia e néctar.

- A comida e a bebida que estávamos dando a você para curá-lo. Aquilo teria matado um garoto normal. Teria transformado seu sangue em fogo e seus ossos em areia e você estaria morto. Encare os fatos. Você é um meio-sangue.

Minha cabeça estava girando com tantas perguntas que eu não sabia por onde começar. Ouvi uma trompa soar ao longe. Primeiro, imaginei que fosse um sinal de que estávamos sendo atacados. Mas aí todos gritaram “Finalmente! Oba!” e saíram correndo. Luke riu de minha cara.

- Calma, Percy, é só o aviso de que é hora do jantar. – Disse ele saindo.

Annabeth sorriu e saiu atrás. E eu, saí atrás dela.

Chegando ao refeitório, havia 12 mesas, uma para cada chalé. Várias estavam vazias, e outras, como a do chalé de Hermes, estava apinhada de gente, quase não tinha espaço para sentar. Eu estava cobiçando uma mesinha no canto oposto do salão, pequena, mas que estava vazia. Luke notou meu olhar e disse, para minha infelicidade, que era proibido trocar de mesas, cada um deveria sentar-se junto ao seu chalé.

Então, enquanto estava me dirigindo à minha baderna, digo, mesa, trombei com alguma coisa. Ou melhor, alguém. A menina fortona de cabelos castanhos e mal encarada estava na minha frente, me encarando de braços cruzados, com mais dois meninos atrás dela, a julgar pela semelhança, seus irmãos.

- Ora, ora, o que temos aqui. Novatos! – Ela disse, olhando para mim e Annie.

- Claris...- Luke tentou, mas ela o fez calar com um olhar enquanto seus irmãos o empurravam para a mesa.

- Relaxa, loiro, só vou explicar as regras do acampamento.

Meu sangue ferveu. Cara, como odiava valentões, mesmo que nesse caso, fosse uma menina. Minha bocafoi mais rápida que meu senso de prudência.

- Ah! Então relaxa, garota, Quíron já lhe poupou um bocado de trabalho e nos explicou.

Ok, estou frito. Eu e minha boca grande. Pude sentir a atmosfera do refeitório passar de tensa a desesperadora. Alguns campistas murmuravam “Já era. Ele morreu” enquanto outros apenas olhavam assombrados com a minha audácia.

- Escute aqui, ô novato... se eu fosse você não me meteria com uma filha de Ares, ainda mais com essa – Ela bateu no próprio peito – A não ser que queira morrer.Prazer, Clarisse, seu fim.

- Não quero morrer, obrigada. Meu fim? Achei que era filha de Ares.

Os olhos da garota faiscaram. Annabeth me olhava boquiaberta, mas pude perceber que, como muitos ali, tentava segurar uma risada.

- Escute aqui, peste...

- Hã?

- Você é surdo é?

- Hã?

- Agora você morre, moleque!

- Hã?

Ninguém mais agüentou e o salão explodiu em risadas. Clarisse estava mais vermelha do que um pimentão que tentou se bronzear e esqueceu-se de passar o protetor solar.

- Ah! Já chega! Ninguém me faz de boba!

- Hã?

Depois dessa ela me atacou e eu fui pego desprevenido. Ela avançou contra mim como um jogador de futebol americano derruba seu adversário, e nós dois fomos parar embaixo da mesa. Não me pergunte como, mas eu conseguia me esquivar de todos os socos que a menina desferia. Com uma força tirada sabe-se lá os deuses da onde, eu consegui tirá-la de cima de mim. E, como sempre, não podia perder a oportunidade de provocá-la mais um pouco.

- Acabou o pití? Tem certeza que é filha de Ares? Está mais parecendo uma filha de Afrodite quando quebra a unha! – Pois é, eu não conhecia nenhuma, mas nas poucas horas que passei (acordado) já fui informado do quão fúteis elas são.

- Você acaba de ganhar uma passagem só de ida para visitar Hades, garoto. – Ela estava vermelha. Seus irmãos tentaram ajudar, mas ela os empurrou e disse:

- Ele é meu!

Agora, havia se formado uma roda em torno de nós, como se fosse um ringue de batalha.

- Vamos ver quantos segundos eu levo para te fazer visitar sua mamãe. Quem sabe ela não te ajuda a parar de chorar por causa da surra que vou te dar, quando você encontrá-la no Mundo Inferior? Ou será que ela era tão fraca que nem isso ela vai conseguir fazer?

Meu sangue ferveu. A raiva tomou todo o meu corpo. Senti uma onda na boca de meu estômago. Não sei explicar como, mas queria afogar essa menina. Quando percebi, todos os sucos que estavam nos copos em cima das mesas pairavam acima de seus recipientes. A água da fonte que ficava no canto do salão escorria para cima. Não sei como, mas de repente todo esse líquido juntou-se em uma enorme bola de água e colidiu com Clarisse, prendendo ela lá dentro. Não sei como, mas sabia que a esfera de líquidos responderia a qualquer comando meu. Foi então que disse:

- Nunca... – Fiz a esfera subir e descer bruscamente.

- Insulte... – Fiz o movimento novamente.

- Minha... – E de novo...

- Mãe... – E de novo, mas dessa vez, quando a esfera desceu, não a parei, fazendo ela colidir com o chão. Voou líquido para todos os lados, e no local do impacto, havia uma Clarisse furiosa que tossia e ofegava, tentando recuperar o ar.

- Você me paga, Percy Jackson, essa história não termina aqui.

E ela saiu, seguida por todos os irmãos. Quando o último filho de Ares saiu, todo o salão começou a aplaudir e gritar, parecia que tinham ganhado algum tipo de campeonato. Depois disso, todos foram comer, e o jantar ocorreu tranquilamente, sem nenhum sinal dos filhos do Deus da Guerra.

Por incrível que pareça, estava me sentindo em casa.


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Notas finais do capítulo

Hã? kkkkkkkkkkk

Precisamos saber a opinião de vocês! Inclusive de vcs, leitores fantasmas! (Aqueles que lêem mas não estão registrados como leitores pq não clicaram em ACOMPANHAR HISTÓRIAS) deixem reviews por favor!

E claro, se alguém quiser seguir o exemplo da nossa querida leitora kirchheim e recomendar... fique mais do que à vontade!

Beijos

Mille e Kat

ps: Hã? kkkkkkkkk