Entre Mares e Livros escrita por mille_crotti, kat_h


Capítulo 4
"Nós não estamos loucos, Percy"


Notas iniciais do capítulo

Oi gente!
Esse ficou beem grande, aproveitem!
O próximo sai logo, no máximo até sexta!
Boa leitura!

Mille e Kat



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                Não conseguia falar nada. Ainda tremia enquanto voltávamos para a praça do lado de fora. Annabeth também estava em estado de choque e tremia tanto quanto eu.

                Tinha começado a chover. Grover estava sentado junto ao chafariz com um mapa do museu formando uma tenda em cima de sua cabeça. Nancy Bobofit ainda estava lá, encharcada do banho no chafariz, resmungando para as amigas feiosas. Quando nos viu, disse:

- Espero que a Sra. Kerr tenha chicoteado seus traseiros.

- Quem? - respondi. Annie me olhou confusa.

- Nossa professora. Dãã!

Eu pisquei. Não tínhamos nenhuma professora chamada Sra. Kerr. Annie perguntou a Nancy de quem ela estava falando.

Ela simplesmente revirou os olhos e deu as costas. Perguntei a Grover onde estava a Sra. Dodds.

- Quem? - respondeu ele.

Mas Grover primeiro fez uma pausa, e não olhou para mim, tampouco para Annie, portanto, pensei que estivesse me gozando.

- Não tem graça, cara - disse a ele. - Isso é sério. Um trovão estourou no alto.

Vi o Sr. Brunner sentado embaixo do guarda-chuva vermelho, lendo seu livro, como se nunca tivesse se mexido. Chamei Annabeth e fomos até ele. Ele ergueu os olhos, um pouco distraído.

- Ah, é a minha caneta. Por favor, traga seu próprio instrumento de escrita no futuro, Sr. Jackson.

Entreguei a caneta ao Sr. Brunner. Não tinha notado que ainda a estava segurando.

- Senhor - disse eu -, onde está a Sra. Dodds? Ele olhou para mim com a expressão vazia.

- Quem?

- A outra professora que nos acompanhava. A Sra. Dodds. Professora de iniciação à álgebra.

Ele franziu a testa e se inclinou para frente, parecendo ligeiramente preocupado.

- Percy, não há nenhuma Sra. Dodds nesta excursão. Até onde sei, nunca houve uma Sra. Dodds na Academia Yancy. Pergunte a Srta. Chase. Está se sentindo bem?

- Professor, na verdade, eu gostaria de saber a mesma coisa. Onde está a Sra. Dodds? - Respondeu minha amiga.

Sr. Brunner estudou-nos com critério. Deu um forte suspiro e disse:

- Meninos, - Annie fez uma careta, que ele ignorou- Sei que algumas coisas podem parecer tentadoras, ainda mais nessa idade de vocês, que é um período de descobertas, de independência. Mas se voltarem a beber, juro que eu mesmo vou falar com seus pais e providenciar a detenção dos dois. Fui claro?

Annie estava boquiaberta. Eu, de olhos arregalados. O Sr. Brunner tinha uma expressão severa, e repetiu a pergunta.

   - Fui claro, Sr. Jackson e Srta. Chase?

- Sim, Sr. Brunner.

- Então voltem a comer, ainda temos 15 minutos.

O resto do passeio aconteceu normalmente, dentro dos limites, é claro. O que significa que mais do que nunca a turma estava no nosso pé por termos “jogado Nancy na fonte”, e que ninguém sequer ouvira falar sobre a Sra. Dodds, ou seja, fomos tachados de loucos. Acabei quase acreditando neles: a Sra. Dodds nunca tinha existido.

Quase.

Mas Grover não conseguiu me enganar. Quando eu mencionava o nome Dodds ele hesitava, depois alegava que ela não existia. Mas eu sabia que ele estava mentindo.

Annie estava anormalmente calada, mas estava pensando tanto no ocorrido que logo mais sairia fumaça de sua cabeça. Quando tentei puxar o assunto, ela apenas balançou a cabeça negativamente e murmurou um “Mais tarde, no meu dormitório”. Não pensem besteira! Quando precisamos conversar em paz, ela vai até meu dormitório (que divido com Grover) e ficamos lá comendo doces do meu estoque secreto e tagarelando até altas horas da manhã. Dessa vez, seria no quarto dela, pois algo me dizia que Grover não poderia escutar o que ela queria falar. Ei! Você! Para de pensar besteira, somos só amigos.

Quando chegamos à escola (leia inferno) já estava anoitecendo, o que foi muito bom, assim pudemos jantar e ir dormir. Mas eu não queria dormir. Sabia que Annabeth tinha chegado a alguma conclusão, como sempre. Ela resolve questões que pessoas normais demorariam horas, em minutos. Se ela não tivesse dislexia e transtorno do déficit de atenção, diria que ela é super dotada.

Ao soar das 22h do relógio, esgueirei-me sorrateiramente pelos corredores. Grover não estava no quarto, ficou com dor de barriga depois do jantar e foi para a enfermaria, ainda não tinha voltado. Coitado, dá para entender, ele é vegetariano e hoje a janta era bolo de carne. Para não passar fome, ele comeu.

Continuei meu trajeto até o quarto de Annabeth, os corredores escuros tinham um ar sombrio e eram fracamente iluminados por lâmpadas que, sinceramente, não sei como ainda funcionam, pois parecem ter 10 anos de idade. Ao chegar, bati rapidamente na porta. Annie abriu uma fresta para ver quem era, e logo me deixou entrar.

- Finalmente, cabeça de algas, por que demorou?

- Tive que me esconder por um tempo pois era o diretor que estava fazendo a vigia hoje. E para de me chamar assim, sabidinha.

Tudo bem, agora ela estava querendo me matar. Seu olhos ficaram cinza escuros, e ela fechou os punhos.

- Não me chame assim! Mas vamos conversar sobre hoje, antes que eu te dê uma surra.

- Annabeth, sério, o que foi aquilo com a Sra. Dodds? E o pior, por que todos estão fingindo que nada aconteceu? E o que aconteceu com a Nancy, não lembro de tê-la empurrado! E por que Grover não fala nada, ele sabe de algo, tenho certeza, ele não sabe mentir!

- Percy, calma, uma coisa de cada vez. Mas algo me diz que você não vai acreditar em mim. Primeiro vou contar o que vi acontecer com Nancy: você ficou extremamente irritado, e, não sei como ou por que, mas a água da fonte formou um tipo de mão, e agarrou ela, acho que iria puxá-la até o esgoto se ela não fosse tão gorda e tivesse entalado na entrada no cano.

Caí sentado na cama. Realmente, não estava acreditando. Mas parte de mim estava. O que senti naquele momento, aquela onda na boca do estômago, não foi normal. Uma parte de meu cérebro tinha as respostas, mas eu simplesmente não sabia como chegar até elas.

- Tá – Foi tudo o que consegui dizer. - E o resto?

- Percy, tem umas coisas que eu não consegui explicação, como porque todos acham que estamos loucos e por que ninguém se lembra da Sra. Dodds, mas eu cheguei a uma conclusão que, devo dizer, está me aterrorizando.

- O que Annabeth? Fala, estou curioso!

- Bom... Quando chegamos, jantei muito rápido e fui à biblioteca pesquisar o que era aquele monstro, sabia que já havia visto em algum lugar.

- E? – Eu já estava desesperado pela resposta, mas devo dizer que também estava com medo.

- Percy... Aquilo era uma fúria. Lembra que o Sr. Brunner falou delas em uma das aulas? São criaturas do Mundo Inferior... Do reino de Hades.

Congelei. Sabia que Annie estava certa. A Sra. Dodds era uma fúria. Foi aí que a terrível verdade atingiu-me em cheio.

- Mas Annie, se as fúrias existem, então...

- Todo o resto deve existir também... Isso inclui todos os seres da mitologia grega... E os Deuses. Nós não estamos loucos, Percy. Só vemos coisas que, provavelmente, nem todos podem ver.

Não sei dizer por quanto tempo exatamente ficamos em silêncio. Eu encarava o chão de olhos arregalados. Não era possível, não podia ser real... Mas o episódio com a Sra. Dodds fora real.

- Annie, eu... Não sei o que pensar. Vou dormir, amanhã conversamos.

- Ok, Percy, mas lembre-se. Grover sabe que é real. Ele sabe e não quer nos contar. Então acho melhor fingirmos que esquecemos o assunto, assim esperamos a poeira baixar e depois o pegamos em sua própria mentira.

- Ok. Boa noite.

É, acho que você percebeu que eu estava em choque ainda. Saí andando sem rumo pela escola. Não sabia para onde estava indo e nem me importava se fosse pego. A conclusão que Annie chegou era impossível. Mas era plausível. Fúrias. Mitologia. Deuses. Grécia. Olimpo. Não podia ser verdade. Acho que Annie estava louca.

Quando dei por mim, estava em frente aos gabinetes dos professores. A maioria estava vazia e escura, mas a porta do Sr. Brunner estava entreaberta e a luz que vinha da sua janela se estendia ao longo do piso do corredor. Resolvi entrar. Se algum poderia me ajudar a entender a mitologia, esse alguém era o Sr. Brunner. Ele não precisaria saber que eu e Annie estávamos achando que os Deuses existiam, poderia dar a desculpa de que não entendi direito as explicações do museu.

Eu estava a três passos da maçaneta da porta quando ouvi vozes dentro da sala... O Sr. Brunner tinha feito uma pergunta. Uma voz que, sem sombra de dúvida, era a de Grover disse: “... preocupado, senhor."

Eu gelei.

Normalmente não sou bisbilhoteiro, mas desafio alguém a não tentar ouvir quando seu melhor amigo está falando sobre você com um adulto.

Cheguei um pouquinho mais perto.

-... Sozinho nesse verão - Grover estava dizendo. - Quer dizer, uma benevolente na escola! Agora que sabemos com certeza, e eles também sabem...

- Só vamos piorar as coisas se os apressarmos - disse o Sr. Brunner. - Precisamos que eles amadureçam mais.

- Mas Percy pode não ter tempo. O prazo final do solstício de verão...

- Terá de ser resolvido sem ele, Grover. Deixe-o desfrutar sua ignorância enquanto ainda pode. Annabeth não corre tanto perigo, desconfio que seja se Atena, e Zeus sabe que a deusa não faria uma coisa dessas.

- Senhor, eles a viram...

- Imaginação deles - insistiu o Sr. Brunner. - A Névoa sobre os alunos e a equipe será suficiente para convencê-los disso.

- Senhor, eu... Eu não posso fracassar nas minhas tarefas de novo. - A voz de Grover estava embargada de emoção. – Sabe o que isso significaria.

- Você não fracassou Grover - disse o Sr. Brunner gentilmente. - Eu deveria tê-la visto como ela era. Agora vamos apenas nos preocupar em manter Percy e Annabeth vivos até o próximo outono...

Maldita hora que deixei escapar uma exclamação. O Sr. Brunner silenciou.

Com o coração disparado, voltei pelo corredor.

Uma sombra deslizou pelo vidro iluminado da porta da porta de Brunner, a sombra de algo muito mais alto do que meu professor de cadeira de rodas, segurando alguma coisa suspeitamente parecida com o arco de um arqueiro.

Abri a porta mais próxima e me esgueirei para dentro.

Alguns segundos depois ouvi um lento clop-clop-clop, como blocos de madeira abafados, depois um som como o de um animal farejando bem na frente da minha porta. Um grande vulto escuro parou diante do vidro e depois seguiu adiante.

Uma gota de suor escorreu por meu pescoço.

Em algum lugar no corredor, o Sr. Brunner falou.

- Nada - murmurou ele. - Meus nervos não andam to bons desde o solstício de inverno.

- Nem os meus - disse Grover. - Mas eu podia ter jurado...

-Volte para o dormitório - disse-lhe o Sr. Brunner. - tem um longo dia de provas amanhã.

As luzes se apagaram na sala do Sr. Brunner.

Aguardei no escuro pelo que pareceu uma eternidade.

Por fim, me esgueirei para o corredor e subi de volta para o dormitório.

Grover estava deitado na cama, estudando as anotações para a prova de latim como se tivesse estado lá a noite inteira.

- Ei! - disse ele, com olhar de sono. - Vai estar preparado para a prova?

Não respondi.

- Está com uma cara horrível. - Ele franziu a testa. -Tudo bem?

- Só estou cansado. Você melhorou?

- Sim, foi toda aquela carne... Eca! Enjôo só de pensar.

Virei-me para que ele não pudesse perceber minha expressão e comecei a me preparar para dormir.

Não entendi o que tinha ouvido lá embaixo. Queria acreditar que havia imaginado aquilo tudo.

Mas uma coisa estava clara. Annabeth estava certa. Grover, e agora sei que o Sr. Brunner também, estavam falando de nós pelas costas. Achavam que corríamos algum tipo de perigo. E o pior: os Deuses gregos existem.


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Notas finais do capítulo

E aí? Gostaram?
Por favor, críticas, sugestões, xingamentos, declarações de amor ->deixem reviews!
O dedo naõ cai e nós autoras ficamos mais motivadas!

Beijos
Mille e Kat