POV. PERCY

Eu queria muito poder dizer que acordei descansado, que não tive nenhum sonho e que meu sono foi tranqüilo.

É claro que isso não aconteceu.

Assim que adormeci, meus sonhos começaram. Eu estava de volta na arena do Acampamento. Havia centenas de campistas lá, mas eu estava assistindo a um evento que ocorreu há, pelo menos, mil anos. Todos os campistas vestiam-se com tradicionais roupas gregas e sandálias. Todos estavam de preto, e espalhados ela arena havia mais de 50 mortalhas sendo queimadas.

Era uma cerimônia fúnebre.

Em destaque, no centro da arena, havia uma mortalha verde, toda trabalhada em ouro e prata. Espantei-me ao ver Quíron em pé, ao lado de duas meninas que choravam silenciosamente. Para minha surpresa, o centauro havia abandonado sua pose de forte, cedendo às lágrimas. Ele fazia um discurso, que era ouvido por todos.

- Heróis. Não há palavra que os defina melhor. Vencemos mais uma guerra contra Cronos, garantindo ao mundo um merecido tempo de paz. E graças a vocês, podemos comemorar essa vitória. Mas essa guerra nos trouxe perdas. Muitos heróis deram suas vidas para nos salvar. Perdemos amores, amigos, irmãos. E hoje estamos aqui, para prestarmos nossas últimas homenagens a esses que, com toda a certeza, alcançarão os Campos Elísios. – Ele parou para enxugar suas lágrimas. – Por isso, agradecemos aos heróis que aqui jazem, e principalmente a Airos, filho de Zeus, que com suas últimas forças pôs fim à tirania do Senhor do Tempo, dando sua vida para acabar com o Titã e, consequentemente, com a guerra, como há muito foi dito pela Grande Profecia.

 “Em tempos de guerra, o mundo estará

Contra a ameaça iminente, o filho dos céus lutará

Para salvar seu mundo, uma decisão a tomar

Com um último suspiro,

O Olimpo tentar salvar”

Recitou um dos campistas. Após um minuto de silêncio, Quíron voltou a falar.

- Despedimo-nos hoje de seus corpos, com a certeza de que suas almas serão lembradas por toda a eternidade.

E foi então que aconteceu. Acima de cada uma das mortalhas, surgiu o símbolo do pai ou mãe olimpiano de cada herói, e pela primeira vez, eu vi chover no acampamento. Mas não era uma simples chuva.

Eram as lágrimas dos deuses, que choravam por seus filhos perdidos.

Meu sonho mudou.

Quíron falava com as duas meninas que estavam ao seu lado mais cedo na cerimônia. A mais velha tinha cabelos negros, pele branca, olhos negros e aparentava ter 15 anos. Já a outra, era loira, com olhos verdes e pele clara, aparentava ter 13 anos. As meninas estavam sentadas no sofá, chorando, enquanto ouviam Quíron.

- Não foi culpa sua Melina, ele escolheu o destino dele, não se pode escapar de profecias.

- Mas Quíron - Falou Melina, a mais velha – se eu não fosse uma filha de Afrodite tão inútil, eu não precisaria ser salva e Airos não teria sido ferido pelo minotauro, e teria mais força para lutar com Cronos e não teria... não...

Ela não conseguia mais falar, soluçava fortemente no braços da amiga.

- Ele fez a escolha dele, Mel, tenho certeza que ele te salvaria quantas vezes fosse necessário, e outra coisa, você não é inútil, sabe muito bem disso, a melhor...

Quíron parou de falar quando a menina loira dobrou-se, seus olhos ficaram verdes e sua voz, parecia que tinha três pessoas falando ao mesmo tempo.

Um meio sangue dos três grandes

Aos dezesseis chegará apesar de empecilhos

Com a ajuda do amor e de dois iguais contará

Para a paz tentar salvar

Apunhalado por outro semideus será

Num sono sem fim parte do mundo estará

E a alma do herói a lâmina maldita ceifará

Uma escolha seus dias irá encerrar

O Olimpo preservar ou arruinar

A menina fechou os olhos, e caiu desmaiada no sofá. Melina a ajeitou e olhou para Quíron, que estava branco.

- O que foi isso Quíron? – Melina perguntou.

- Creio, Mel, que acabamos de ouvir a próxima Grande Profecia. – Disse ele, podia ouvir seu cérebro trabalhando para interpretar o que ouviu.

- Mas... Quíron... Acabou de se cumprir a última profecia, e já temos outra? – Disse Mel, se entregando às lágrimas novamente.

- Acalme-se, Mel. As grandes profecias não são como as outras. Só por que ela foi dita a você, não significa que se refere à você. As Grandes profecias podem demorar meses para serem cumpridas, anos e até séculos, por isso, não se preocupe com isso antes de termos certeza a que, ou melhor, a quem ela se refere. E               lembre-se, o único filho dos três grandes que morava no acampamento, era Airos, então... ou teremos novos campistas em breve, ou essa profecia irá demorar a se cumprir.

E assim eu acordei. Assustado, ofegante, e com minha caneta (contracorrente) em minha mão.

Annabeth e Grover dormiam em seus acentos, e pela janela do trem, pude ver que ainda era madrugada. Mas eu não consegui pegar no sono novamente. Fiquei pensando em meus sonhos e no que eles significavam.

Lembrei do dia em que cheguei ao acampamento. Lembrei de todos cochicando à minha volta e de Annabeth, perguntando “São eles?”. Lembrei de todos os campistas fazendo reverência quando fui reconhecido. E, principalmente lembrei-me de Quíron me dizendo “Essa caneta foi dada a mim por seu pai, que me pediu que guardasse até que um verdadeiro herói se revelasse seu filho. Estou com ela há mais de 1500 anos, e tenho certeza de que estará em boas mãos”. Há mais de 1500 anos, ele disse, mais ou menos a época do meu sonho.

E então fui atingido por uma verdade arrebatadora.

Eu acabara de descobrir Grande Profecia.

E ela refere-se à mim.