Entre Mares e Livros escrita por mille_crotti, kat_h


Capítulo 18
Nossa pequena desventura...


Notas iniciais do capítulo

Não nos matem, por favor!
Desculpas pela demora.... sofremos um mega bloqueio criativo, mas depois tivemos trezentos milhões de idéias, todas para os próximos capítulos. Esse capítulo ficou menor e na minha opinião está péssimo, mas é necessário.
Esperamos que não tenham nos abandonado!
Beijos
Mille e Kat



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A viagem até a rodoviária foi... digamos.... interessante. Grover dormiu apoiado na janela direita o caminho inteiro, e quando acordou seu ombro estava ensopado de baba. Não sou só eu que babo enquanto durmo, ouviu?

Annabeth foi espremida na janela da esquerda, tentando manter a maior distância possível de mim e resmungando sozinha o caminho inteiro. Eu fui no meio, observando tudo à nossa volta e, principalmente, a tempestade que se formava no céu. Parte de mim estava atento a qualquer sinal de ataque, seja de Zeus ou de monstros.  A outra parte insistia em reviver a cena de Luke beijando Annabeth e dizendo-lhe que a amava. E o pior. Ela não fez nada. Não brigou. Não olhou feio. Não disse “Hey, Luke, somos só amigos!”. Ela simplesmente deixou, e pelo jeito que ela corou, ela gostou.

Sei que não agi certo ao beijar Sophie, mas foi por impulso. Eu não posso ter Annabeth, por mais que a idéia me agrade. Sophie é legal. Simpática. Divertida. E bonita. Então por que não ficar com ela? “Por que ela não é a Annabeth!” dizia uma parte de meu cérebro. Uma parte que eu decidi ignorar, pois assim só iria me machucar ainda mais.

Chegamos à rodoviária logo, fiquei tão perdido em meus pensamentos que nem percebi a gradual mudança de cenário, as árvores dando lugar à pequenas casas isoladas e depois uma enorme cidade de concreto se erguendo à nossa frente.

Parecia cena de filme. Nós descemos da van com nossas mochilas nas costas, demos um breve tchau para Argos, que nos dizia claramente “Boa sorte, vocês vão precisar”. Ele acelerou a van, e nós ficamos não sei quanto tempo parados, olhando para a rodoviária quase vazia, somente com alguns viajantes da madrugada. Um segurança ficou nos encarando, com uma expressão séria. Deixe-me explicar a situação: três adolescentes em trajes de gala amassados, os três sujos, descabelados, carregando mochilas nas costas e sem saber por onde seguir. É , se eu fosse ele ficaria desconfiado também.

- Vamos logo, antes que aquele guarda resolva fazer perguntas. – Disse Grover.

Entramos na Estação Greyhound no Upper East Side, não longe do apartamento de minha mãe e Gabe. Em uma caixa de correio, preso com fita adesiva, havia um folheto encharcado com meu retrato: VOCÊ VIU ESTE MENINO?

Eu o arranquei antes que Annabeth e Grover pudessem vê-lo.

Pensei em como estava perto do meu velho apartamento. Em um dia normal, minha mãe estaria chegando em casa da doceria mais ou menos naquela hora. Gabe Cheiroso provavelmente estava lá, jogando pôquer, sem nem sentir a falta dela. Senti um aperto no coração. Eu prometi a mim mesmo que encontraria um jeito de trazer minha mãe de volta. E vou cumprir essa promessa, mesmo que isso custe a minha vida.

- Não se preocupe, Percy. Tudo irá se resolver. – Disse Grover.

- O quê? – Perguntei.

- Você estava pensando em sua mãe e em seu padrasto. Mas fique tranqüilo, tudo vai dar certo.

- Cara, como você sabia? Você lê mentes e não me contou?

- Mentes não, Percy, mas suas emoções. Os sátiros fazem isso. E Annabeth, talvez não seja só eles que precisam te aceitar como você é. É uma via de mão dupla.

Vi o rosto de Annie assumir um olhar que eu já lhe conhecia. Dor. Mágoa. Ela devia estar pensando em sua família.

- Vamos logo comprar nossas passagens. – Ela disse rapidamente, deixando bem claro que não queria mudar de assunto.

Ficamos esperando o ônibus em um banco, cada um imerso em seus próprios pensamentos e lembranças. Fiquei imaginando se Grover ainda podia ler as minhas emoções, confusas como estavam. Estava grato por ele e Annabeth estarem comigo, mas me sentia culpado porque não fora sincero com eles. Não lhes contara a verdadeira razão de ter dito sim para aquela missão maluca.

A verdade era que eu não me importava em recuperar o relâmpago de Zeus, em salvar o mundo ou mesmo em ajudar meu pai ( e eu mesmo) a sair de toda aquela encrenca. Eu só me preocupava com minha mãe. Hades a levara injustamente, e Hades iria devolvê-la.

Você será traído por aquele que chama de amigo, sussurrou o Oráculo em minha mente. E, no fim, irá fracassar em salvar aquilo que mais importa.

Cale a boca, respondi.

A chuva começou a cair, assim como a temperatura.

Ficamos esperando o ônibus por mais 30 minutos, antes de embarcarmos. Para a minha infelicidade – ou não – tive de sentar-me ao lado de Annabeth, já que Grover teve que sentar-se sozinho em dois acentos, por causa de suas muletas. Ainda estávamos bravos um com o outro, mas eu pensei que seria melhor, para o bem da missão (n/a: até parece! Haha), que nós voltássemos a nos falar. Enrolei um pouco, mas finalmente tomei o primeiro passo.

- Até agora, tudo bem - disse a Annabeth. - Quinze quilômetros e nem um único monstro.

Ela me lançou um olhar irritado. Novidade.

- Falar desse jeito traz má sorte, algas. – Bom, minha situação não estava tão preocupante, ela estava me chamando de algas. Por mais que eu odeie esse apelido, isso significava que ela não estava mais tão brava comigo. Mas eu não sei ficar quieto, não é?

- Ajude-me a lembrar: por que você me odeia tanto? – Perguntei.

- Eu não odeio você.

-Ah, claro. Posso estar enganado, não é mesmo? Falei sarcástico.

Ela girava nervosamente sua pulseira.

- Percy, você sabe que eu não te odeio, ainda mais depois de tudo o que passamos.

- Então por que têm estado tão irritada? Eu lhe fiz alguma coisa?

Senti em seu olhar que sim, eu havia feito. Mas ela negou com um aceno de cabeça.

- Olhe... É só que não deveríamos nos dar bem, ok? Nossos pais são rivais.

- Por quê?

Ela suspirou.

- Quantas razões você quer? Uma vez minha mãe pegou Poseidon com a namorada dele no templo de Atena, o que é super desrespeitoso. Outra vez, Atena e Poseidon competiram para ser o deus patrono da cidade de Atenas. Seu pai criou uma estúpida fonte de água salgada como presente. Minha mãe criou a oliveira. As pessoas viram que o presente dela era melhor, portanto deram à cidade o nome dela.

- Elas realmente devem gostar de azeitonas.

- Ah, deixa pra lá. – Ela disse, revirando os olhos.

- Agora, se ela tivesse inventado a pizza... isso eu poderia entender.

- Eu disse: deixa pra lá.

- Ok. Mas a gente sempre se deu tão bem, e agora só por causa de uma rixa de nossos pais, que diga-se de passagem nem conhecíamos até uns dias atrás, nós devemos nos afastar, é isso?

Senti uma irritação crescendo em mim. Não podíamos pagar pelos erros dos nossos pais. Podíamos?

Annabeth se livrou de responder por causa de um forte estrondo seguido de uma guinada em nosso ônibus. Ok, guinada foi bondade, já que o ônibus capotou.

Depois que minha tontura passou, consegui perceber o que estava acontecendo. O ônibus virou várias vezes, e parou de ponta cabeça. A minha perna estava em cima da barriga de Annabeth, que por sua vez estava em cima de um Grover zonzo e com olhar desfocado. Ouvia-se gritos dos outros passageiros, que por sua vez não eram muitos já que poucas pessoas preferiam viajar de madrugada.

- Annabeth, você está bem? – Perguntei

- Estou, mas tira sua perna de cima de mim para eu poder sair de cima do Grover!

- Grover, você está bem? – Perguntei, tentando ficar em pé no teto do ônibus.

- Enchiladas.

- Vou encarar isso como um sim... Annabeth, temos que ajudar a tirar as pessoas daqui! Algo me diz que não capotamos por causa de um pneu furado!

- Vamos logo, Percy! Grover, se você levantar agora eu lhe dou várias latinhas de alumínio para você mastigar quando chegarmos no hotel!

Remédio nenhum teria efeito melhor. Ele ficou de pé em um salto, e logo já estava arrastando as primeiras vítimas para fora do veículo, que corria o risco de explodir.

Depois de uns 10 minutos, conseguimos deixar todos os passageiros a uma distância segura do ônibus. Fui até ele, me certifiquei que não havia mais ninguém, peguei nossas mochilas e saí do veículo, que logo mais estaria em chamas.

Eu já estava chegando perto de Annie para ajudá-la a cuidar dos feridos, quando ouvimos gritos de socorro de três mulheres, vindos de dentro do ônibus. Franzi o cenho, afinal acabara de sair de lá e não havia ninguém, mas provavelmente elas estavam presas embaixo de algum banco ou algo assim. Olhei para Annabeth e, como em um acordo silencioso, saímos correndo para salvar as moças.

Só que não eram moças.

Assim que entramos novamente no ônibus, percebemos a enrascada em que nos metemos. As portas se fecharam sozinhas com o vento, e à nossa frente erguiam-se três fúrias. E sim, uma delas era a Sra. Dodds. De novo. Mais velha. Mais enrugada. E com o triplo de vontade de nos matar.

Elas estavam no corredor, entre dois bancos dentre os vários que já estavam em chamas. Aparentemente o fogo não as afetava. Cada uma delas carregava consigo um chicote negro com pelo menos 2 metros cada. Estávamos em vantagem, já que não havia muito espaço para manuseá-los. Ou pelo menos foi o que pensei.

Pense em uma dor muito forte, que arde e queima ao mesmo tempo. Parecia que minha mão havia mergulhado em chumbo derretido. Foi isso que eu senti quando a fúria que estava à frente lançou o chicote contra meu braço. A dor começou no meu pulso, mas em segundos já havia se espalhado por todo o meu corpo. Ela, ainda não sei como, havia enrolado sua arma em meu pulso e começado a me puxar para a frente. Pude ver Annabeth pulando de banco em banco, com a adaga que Luke lhe dera em suas mãos, tentando escapar de ser pega pelo chicote da outra fúria. A Sra. Dodds assistia a tudo com um enorme sorriso de escárnio no rosto.

Eu tentava lutar contra, mas a fúria era mais forte que eu. Eu ia me agarrando em qualquer coisa que não estivesse pegando fogo para tentar recuar, mas não adiantava muito. Até que senti Contracorrente mais pesada em meu bolso, como se ela clamasse por me ajudar. Cara, eu sou lerdo, mas devo admitir que a idéia que tive a seguir foi sensacional. Peguei Anaklusmos e saí correndo em direção ao monstro, que ficou confuso. No último momento, eu a destampei e atravessei a barriga da fera, que soltou um “Ah!” de surpresa antes de explodir em pó dourado. Com um rápido movimento, acertei a benevolente que estava lutando com Annie, que logo explodiu em pó dourado também. Ela me agradeceu, e nos viramos para a Sra. Dodds, que já não sorria mais.

- Perseu Jackson - disse a Sra.Dodds com um sotaque que vinha de algum lugar mais distante do que o sul da Geórgia. - Você ofendeu os deuses. Você deve morrer.

- Eu gostava mais de você como professora de matemática - falei.

Ela rosnou.

Annabeth estava em posição de ataque. Eu apertei mais firme contracorrente em minha mão.

A Sra. Dodds já havia sentido a lâmina de Contracorrente antes. Obviamente não gostou de vê-la de novo.

- Onde está? Onde? Rendam-se agora - sibilou. - E não sofrerão o tormento eterno.

- Boa tentativa - disse a ela. – Mas já derrotei suas irmãs, o que me impede de derrotá-la de novo?

- Percy, cuidado! - gritou Annabeth.

A Sra. Dodds lançou seu chicote em volta da mão com a qual eu segurava a espada. Porém ela tinha dois chicotes, e o segundo já segurava o braço de Annabeth, que gritou com a dor.

A sensação de dor e ardência que tinha começado a se amenizar voltou com força total, mas consegui não soltar Contracorrente. Com um rápido giro, cortei o chicote ao meio, enquanto vi Annie fazendo o mesmo com sua outra adaga. A cara da Sra. Dodds estava dizendo claramente: “Vocês estão mais que mortos”.

- Zeus o destruirá! - prometeu ela. - Hades terá sua alma!

- Braccas meas vescimini! - gritei.

Eu não sabia muito bem de onde viera o latim. Acho que queria dizer: ―Coma as minhas calças!

Um trovão sacudiu o ônibus. Os cabelos se eriçaram na minha nuca. A Sra. Dodds deu um sorriso macabro e irrompeu em chamas, desaparecendo.

- Fora! - gritou Annabeth para mim. - Agora!

Mas não deu tempo. Senti uma forte energia elétrica se aproximar por cima do ônibus: um raio, provavelmente lançado pelo meu querido titio Senhor dos Céus. Não sei exatamente como, mas quando dei por mim eu havia abraçado Annabeth e logo ambos estávamos dentro de uma espessa bolha de água. Em nossas cabeças, duas bolhas de ar nos permitiam respirar.

Assistimos à explosão em câmera lenta. Um forte clarão aconteceu, e pudemos ver o fogo se espalhando pelos assento estofados do ônibus. Mesmo dentro da bolha, a água chegou a esquentar um pouco. Quando o fogo chegou à parte da cabine de motorista, outra explosão, causada pelo tanque de gasolina. Observamos pedaços de plástico, metal e tecido voando para todos os lados, e quando a explosão cessou, só havia restos queimados do que um dia fora um ônibus de viagem.

Vimos todos os passageiros que salvamos com uma expressão de choque, e mais terror ainda quando eles viram a bolha d’água em que nos encontrávamos. Grover veio correndo em nossa direção, eu desfiz a bolha e a última coisa de que me lembro foi das mãos macias de minha amiga me segurando antes que eu colidisse com o chão.


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Notas finais do capítulo

Queremos muito saber o que acharam do capítulo, então por favor nos mandem reviews!

E a gente sonha em chegar na 10ª recomendação, mas acho que depois desse cap esse sonho furou não é?

Enfim, até o próximo!

Beijos

Mille e Kat