POV ANNABETH

Mal esperamos Quíron acabar de falar, e eu e meus amigos já saímos como furacões correndo pelo acampamento. Arrumei minha mala em segundos, tinha prática em fazer isso correndo por que minha madrasta tinha os 5 minutos dela e de repente a gente ia viajar. Nem sei direito o que aconteceu nesses cinco minutos, meus irmãos me olhavam com a maior cara de interrogação e me faziam perguntas, mas eu não respondia por que minha cabeça estava a mil. Só sei que quando dei por mim nó três já estávamos na varanda da casa grande, encarando Quíron. - O que você fazem aqui, meninos? - Ora Quíron, você disse que ainda essa tarde ia pedir a Argos que nos deixasse na rodoviária. – Percy respondeu. Franzi a sobrancelha. - Falei? Por Zeus! Desculpem meninos, mas esse velho centauro já não é mais o mesmo... vocês não irão partir antes de dez dias. - O quê?? – Nós três gritamos. COMO ASSIM??? - Vocês ainda precisam treinar mais, acabaram de chegar aqui, e não podem sair por aí pelo mundo sem pelo menos mais um pouco de treinos. Percy, o limite é o solstício de inverno, ou seja, você ainda tem um mês e meio. Gostaria que você ficasse mais um mês aqui, mas seu pai conversou comigo e convenceu-me de que pode não ser tão fácil encontrar o que procuram. Sendo assim, vocês partem daqui a 10 dias, e sem discussão. Ok. Legal. Parecia que eu tinha tomado outro banho no mar gelado, mas dessa vez pelo menos a culpa não foi do cabeção do Percy. Eu virei cabisbaixa, com Grover e Percy ao meu lado. - Bom, eu vou... Desfazer minhas malas. – Disse Grover. Era nítida a decepção dele. Tadinho, tenho certeza que ele quer mostrar ao irritante Sr. D que ele é capaz de continuar a ser um guardião. Eu e Percy seguimos para os chalés e depois fomos fazer nossas atividades. Percy foi treinar Arco e Flecha com Apolo – Sim ele é péssimo, ao consegue sequer acertar o alvo. Eu fui encontrar meus irmãos para estudar Grego Antigo. Confesso que essa língua é muito legal e muito fácil de aprender. Em quase uma semana, eu já estou em um nível bem avançado! Fiquei lá o resto da tarde e só saí quando ouvi a concha anunciando o jantar. Eu estava sentada na mesa com meus irmãos, mas percebi que Luke não parava de me olhar. Corei. Droga, eu odeio isso, coro por tudo! Permaneci vermelha durante todo o jantar. A toda a hora, surpreendia Luke me olhando. E também notei que Percy estava extremamente emburrado olhando para Luke, mas deve ser por que ele queria treinar esgrima e não ser humilhado pelas crias de Apolo no Arco e Flecha. Luke se levantou da mesa e, para minha surpresa, veio até mim. - Annie, Quíron falou que amanhã chega uma nova campista, será que você pode me ajudar a preparar aas coisas para sua chegada? Achei aquilo estranho, mas acabei concordando. Seguimos em silêncio até o chalé de Hermes. Mas do nada ele fez uma curva e foi para a parte de trás da casa. Ele deitou na grama e ficou quieto, admirando as estrelas. Sentei-me ao seu lado. - Lu... er... desculpe... Luke... – Eu comecei. Eu e minha maldita mania de diminuir os nomes até não poder mais! - Haha, pode me chamar de Lu se quiser, Annie. - Aah, obrigada. É que eu tenho mania de abreviar até onde der o nome das pessoas. Eu sei, sou anormal. Ele riu. Um sorriso encantador, devo confessar. - Relaxa Annie, você é uma semideusa, nada em você é normal. Isso me lembra uma frase que li em um livro. 90% das pessoas teriam crise emocional se você as chamasse de anormal. Se você faz parte dos 10% que diria “Qual foi sua primeira pista?” dê uma cambalhota e grite viva! Começamos a rir. Muito. Não sei quanto tempo se passou, mas estava uma noite muito agradável. Ficamos em silêncio novamente, até que ele foi quebrado por Luke. - Mas que belo banho você tomou no mar hein moça? – Ele agora estava sentado. - Ah aquilo foi muita sacanagem do Percy, eu realmente não queria, mas não deu. - Ah, mas foi hilário, Annie - Disse Luke rindo. Mas depois sua voz ficou séria. – Então, qual lance entre você e o Percy? Quer dizer, como Poseidon e Atena deixaram? Preciso dizer que corei de novo? Ah, que raiva! - Aah, Luke, você realmente acha que eu sou a namorada do Percy? - Bem, eu e o resto do acampamento. – Sim, corei de novo. - Não, nunca... o Percy e eu nos conhecemos desde que eu me entendo por gente, ele era meu vizinho. Passamos muitas coisas juntos, mas ele é só meu melhor amigo. – Era estranho, senti uma sensação esquisita dentro de mim quando falei isso. Eu hein. - Aah, tem certeza Annie? - Claro, Lu! – Mas eu não tinha tanta certeza quanto tentava fazer parecer que tinha – Eu não gosto do Percy, ele é meu melhor amigo, só isso... ele é como um irmão para mim. – Novamente senti a sensação. – Por que? - Aah, é que... bem... desde que você chegou, tem um carinha do chalé de Hermes que gostou de você desde o primeiro dia. E... hum... eu fiquei... quer dizer... ele vai ficar feliz em saber que você não ama o Percy. Ok. Corei de novo. Mas como assim? Ninguém iria olhar para mim com tantas filhas de Afrodite por aí. Além disso, eu tenho que pensar na missão agora, não tenho tempo nem paciência para as emoções. - Aah, até parece que algum menino vai olhar para mim com tantas ninfas e filhas de Afrodite no acampamento. – Estava corada ainda, então resolvi fitar o chão. - Annie – Ele segurou meu queixo e ergueu minha cabeça. Meu coração deu um salto. Mas parte de mim ainda estava com aquela sensação estranha. – Eu te olho. E sabe o que eu vejo? Uma menina linda, corajosa, leal aos amigos e que não mede esforços para fazer o que é certo. – Uma lágrima teimou em escorrer do meu rosto e ele fez questão de limpar. Mas fora isso, eu estava completamente sem reação. Quero dizer, poxa, eu o conheço há apenas uma semana! Mas não pude deixar de sorrir ao fitar seus lindos olhos azuis e num impulso, eu o abracei. AAAIII ANNABETH O QUE É QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO??? Ok, e não nego que estava bom o abraço. - Obrigada, Luke, você sabe como fazer uma menina se animar – O que? É verdade gente! – Quero que saiba que sempre estarei aqui ao seu lado para o que você precisar, viu? Sempre. Ouvimos um barulho. Num salto, Luke estava segurando a espada e eu, sumi com meu boné mágico. -Tinha alguém ali! – Disse Luke. - Será que era alguém ou algum monstro? – Perguntei. - Fofoqueiro do jeito que o pessoal daqui é, aposto que deve ser alguma filha de Afrodite. - Mas acho que é melhor voltarmos, Luke, amanhã teremos um dia cheio e daqui a pouco as harpias aparecem. - Vai lá, Annie, que eu vou andar por aí, ainda não estou totalmente convencido de que foi um monstro. Caminhei o mais rápido possível em direção ao meu chalé, e fui direto para minha cama. Como uma boa filha de Atena, fiquei pensando em tudo o que havia acontecido. Luke me olhando durante todo o jantar. Percy emburrado com Luke. Será que era ciúme? Nãão... não o Percy. Conhecendo o algas, ele deve ter perdido alguma batalha para Luke e ficou bravinho. O que mais me incomodava naquela história toda era o misto de sensações que eu estava sentindo. Pensar em Percy somente como somente um amigo de certa forma... doeu. Mas acho que é por que sempre o tive ao meu lado, como o irmão carinhoso e companheiro que eu não tive. Não quero que nossa amizade acabe nunca ou que a gente se afaste um dia. Estou sentindo aquela sensação novamente, que coisa. Ah! Atena! Explique-me o que acontece com essa sua filha! O que realmente me pegou desprevenida foram as palavras de Luke “Annie, eu te olho. E sabe o que eu vejo? Uma menina linda, corajosa, leal aos amigos e que não mede esforços para fazer o que é certo.” Mas será que me olha mesmo, ou ele só estava tentando me consolar? Ele realmente era um mistério. Seus olhos azuis e sua expressão de diversão têm uma mistura de felicidade, alegria e mágoa. São os olhos de alguém que já lutou muito na vida para defender a si e aos seus amigos. Mas não sei, ainda tem algo a mais, algo que ainda não defini o que é. Não vou negar, ele me deixa encantada, tanto com sua beleza quanto com suas palavras. Adormeci tentando decifrar esse turbilhão de emoções. No dia seguinte durante o café da manhã não aconteceu nada de especial. Quíron contou a todos que tem uma nova profecia e que nós vamos sair em missão, por isso agora o meu chalé, o de Percy e o de Luke treinariam sempre juntos. Ele também tentou fazer uma piada sobre ensinar canoagem a Percy, mas não deu certo. Aiai, esses dez dias serão longos! Já percebeu que quanto mais ansiosos ficamos para fazer alguma coisa, mais devagar o tempo passa? Pois é. Saí do refeitório e encontrei Luke indo em direção à arena também, já que íamos treinar juntos. Corei imediatamente. - Bom dia Annie! – Nossa, ele estava empolgado. - Bom dia Lú. Como eu queria um pouquinho dessa sua empolgação! - Hahaha eu te empresto, toma! – Ele estendeu a mão para mim, e quando fui apertá-la, ele tirou a mão na última hora falando “Peguei mais um trouxa!”. Não pude deixar de rir, por mais que a trouxa ali fosse eu. Ao chegar na Arena, Luke nos reuniu, já que ele seria o professor. - Muito bem galera! A partir de hoje, vamos pegar mais pesado nos treinos, principalmente com a Annie e o Percy que... – Parei de prestar atenção quando vi Percy entrar na arena carregando uma... hã... caneta? O que esse cabeça de algas ia fazer com uma caneta no meio de um treino de esgrima? Mas do nada, ele destampou a caneta, e então surgiu uma espada maravilhosa. Eu estava de longe, então não pude ver os detalhes, mas pareça muito bonita. Percy começou a fazer alguns movimentos no ar, provavelmente para sentir o peso da arma. Logo depois, passou a atacar um boneco de treino, e deuses, fiquei boquiaberta, ele decapitou o boneco com apenas um golpe, como se estivesse passando a espada na água! Percebi que eu não era mais a única observando meu amigo. Todas as pessoas que estavam lá agora prestavam atenção na nova arma do príncipe dos mares. Algum tempo depois, ele percebeu que estava sendo observado por todos, e foi quando eu percebi que sem querer havia me aproximado dela, para ver melhor, é claro. - Percy! Onde conseguiu isso? – Perguntei. - Presente do meu pai. Porquê? – Nossa! Que grosso! O que foi que eu fiz? Alguém acordou mal humorado hoje. Como adoro provocá-lo, não iria deixarbarato. - Nossa, eu sabia que os cavalos são símbolo de Poseidon, mas nunca imaginei que seus filhos tivessem ferraduras. - Pois é, Annie, temos ferraduras e ainda damos coices. Dei meu melhor olhar mortal a ele. Sim, eu sei que ele morre de medo disse, por que uma vez ele mesmo me disse. - Brincadeira, sabidinha. Filho de uma... ai que raiva! Quem esse peixinho pensa que é, só por que ganhou um brinquedinho novo do papai acha que é melhor que todo mundo? Eu vou mostrar a ele como se derruba um inimigo. - Vamos ver quem é a sabidinha depois que a gente treinar hoje. Isto é, se você não tiver medo lutar sem poderes e de perder para uma garota, algas. Ele pensou um pouco antes de responder, mas percebi certo receio em sua face. - Cai dentro, corujinha. Novamente dei aquele olhar mortal, lhe dei as costas e saí andando. Tudo um plano, é claro. Atena sempre tem um plano. Do nada, me virei já com uma espada em punho e o ataquei. Milagrosamente, ele se defendeu. Pura sorte. Continuei atacando e ele defendendo, até que os papéis se inverteram e ele começou a atacar. Tinha uma vaga noção de todos os campistas gritando e incentivando nossa luta. Ouvi uma filha de Afrodite dizer “Gente, não se metam em briga de namorados”. Percy riu, e esse foi o erro dele, ele se distrai por qualquer coisa, principalmente por que tem um ego extremamente inflado. Aproveitei essa distração e lhe dei uma cotovelada no nariz, seguida de uma joelhada em suas “partes baixas”, que ele desviou. Ele se recuperou rápido. Ainda estava com o nariz sangrando, mas ele já voltara para a luta como se nada tivesse acontecido. Ok, eu admito, eu subestimei meu adversário. Mas ainda tinha muita luta para acontecer. Continuei atacando incansavelmente, até que tentei lhe dar uma rasteira. O cabeçudo pulou por cima da minha perna e ainda teve a audácia de me cortar! Ah algas! Acabou de comprar sua passagem direta para o Tártaro! Devíamos estar lutando a apenas 5 minutos, mas pareciam horas. Os ataques eram duros e exigiam toda a nossa força. Durante esse tempo, consegui formular uma nova estratégia e estava só aguardando para por em prática. Ele abriu um pouco a guarda, e decidi que aquele era o momento. Tentei desarmá-lo no exato momento em que ele tentou fazer o mesmo. Resultado: nossas espadas saíram voando e nós dois caímos e demos uma cambalhota até que Percy parasse em cima de mim, com nossos lábios colados. Não sei explicar o que senti. Ondas de choque percorreram meu corpo, meu coração quase entrou em colapso de tão acelerado que estava. O “beijo” durou apenas 2 segundos, mas aquela sensação ficou em mim por um bom tempo. O que estava acontecendo comigo? Quando separamos nossos lábios, fiquei encarando aqueles olhos verdes calmos como o mar e que transmitiam várias emoções ao mesmo tempo. Voltei à razão quando Luke disse: - Bom, eu acho que isso é um empate. Vamos, pessoal, façam suas duplas e retomem o treino. - Sai de cima de mim, algas. – Eu disse, e logo em seguida fiz a única coisa que me ocorreu na hora: dei-lhe outra joelhada, mas dessa vez acertei. Ele caiu para o meu lado. E eu estava morrendo de raiva daquele abusado! Eu estava absolutamente vermelha. Todos os meninos gritaram um sonoro “Ouch!” e se encolheram ao ver o que eu fiz com Percy. Confesso que fiquei com um pouco de pena, mas passou rapidinho. Levantei e fui para o lado de Luke, que estava com uma cara extremamente vermelha, aparentemente de raiva. Percebi que havia ganhado a batalha, e abri um sorriso. - Bem – Eu disse – Acho que venci essa luta. - Nada disso, corujinha – Ai, como eu odiei esse apelido! – Luke já tinha declarado empate quando você me acertou! - Ora, Algas, saiba ser um bom perdedor e vá se resumir à sua pequena insignificância! – Ele tentou me olhar mortalmente, mas nunca dava certo por que ele tinha olhos maravilhosos. - Na verdade, Annie – Luke disse – Ele tem razão. O fim da luta já tinha sido declarado, então não estava mais valendo. Ok. Eu perdi o chão. O pior é que eles tinham razão. Mas eu estava tão perturbada com os acontecimentos que nem pensei direito. Mas o Luke tinha que me expor desse jeito? Como a injusta filha da Deusa da Justiça? Olhei feio para Luke, que se encolheu, depois olhei para Percy e disse: - Ainda vamos terminar isso. E saí da arena. Eu fui para meu quarto, chorando. O que estava acontecendo? Por que me senti assim com o beijo do Percy? Por que eu não consigo pensar direito quando ele está por perto? Será que eu... não, eu não posso, ele é filho de Poseidon e minha mãe me mataria! Foco, Annie, foco! Estava me repreendendo mentalmente, mas a imagem de seus olhos me fez esquecer de tudo, e por muito tempo fiquei só pensando naqueles lindos olhos verdes que sempre estiveram ao meu lado e que sempre estariam. É, acho que gosto do Percy, mas ele nunca iria gostar de mim, então tenho que dar um jeito de esquecê-lo. Lembrei-me de Luke bravo e do que ele me disse ontem. Será que era verdade? Que ele realmente gostava de mim? Bom, ele realmente me encanta. E se tenho que esquecer o Percy, vou fazer isso com quem realmente goste de mim. Eu não ia mais sair do chalé pelo resto do dia. Mas é claro que, em um acampamento cheio de meios sangues, as suas próprias vontades nunca são respeitadas. Alguém estava batendo na porta. Era o Luke. - Hã... Annie, está na hora do almoço. - Ah, Luke, não me leve a mal, mas eu não estou a fim de sair daqui hoje. - Annie, relaxa, perder é normal, é por isso que treinamos. Erramos aqui para acertarmos lá fora, com os monstros. - Mas, Lú – Meus olhos estavam cheios d’água novamente. – Eu sou filha de Atena. Nós sempre vencemos! Minha mãe deve estar com vergonha de mim! - Nem sempre vencemos, Annie, e tenho certeza que sua mãe está orgulhosa. Você foi brilhante e você não perdeu, foi um empate! - Mas... - Agora nada de “mas”, mocinha, venha para o refeitório que Quíron tem um anúncio importante a dar. Ele pegou minha mão e eu corei, mas não soltei. Meus pensamentos voaram para Percy, mas eu não ia permitir. Obriguei-me a pensar em Luke e ergui a cabeça. Ele tinha razão, a luta ainda não havia acabado. Fomos ao refeitório e entramos de mãos dadas. Percebi Percy me olhando, mas ignorei. Luke se despediu com um sorriso maravilhoso, e seguiu para sua mesa, enquanto me juntava aos meus irmãos.