Ready, Steady, Love escrita por N_blackie


Capítulo 16
Capítulo 16




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A Floresta Negra

Já era noite, e todas as garotas estavam se aprontando para dormir. Emmeline penteava os cabelos de Marlene enquanto Lily ajeitava as almofadas, e nenhuma delas parecia perceber que Dorcas franzia a testa de repente.

- Hey, alguma de vocês viu o meu rolo de pergaminho que o Kettleburn pediu? – perguntou ela subitamente, se erguendo de um salto e correndo até a bolsa, vasculhando os papéis e livros.

- Não, por quê? – Alice apareceu na porta do banheiro, secando os cabelos molhados com uma toalha amarela. Dorcas virou a bolsa na cama, todo o conteúdo desta se espalhando pelos lençóis, e ainda assim não encontrou nada.

- Onde você o viu pela última vez? – perguntou Lily, sempre responsável. – Pode ser que tenha deixado em algum canto da sala comunal.

- Vai ver você não deixou com alguém. – sugeriu Emmeline, esticando o pescoço para espiar Dorcas procurando o trabalho.

- Não acho! Eu não pedi ajuda, ninguém nem liga pra... Ah, não!

- Que foi? Lembrou? – Marlene virou a cabeça, estragando a trança que Emmeline fazia em seus cabelos. Dorcas deu um tapa na própria testa, bufando.

- Esqueci em cima daquele tronco que sentamos hoje! – lamentou-se a garota, revoltada. – Vou voltar.

- Se Filch pegar você...

- Lily, esse trabalho vale quase um terço da nota! – desesperou-se. Depois, tentando se acalmar, colocou o roupão roxo. – Vou até lá buscar.

- Está louca? – Marlene revirou os olhos. – Deixa pra lá, Dorcas, você copia do meu, sei lá.

- De jeito nenhum, foi o melhor trabalho que eu já fiz. Eu vou. Tenho certeza de que Filch vai entender, e se não, Dumbledore vai.

- Tanto sacrifício por um trabalho, isso que é esforço. – Emmeline riu ao mesmo tempo em que Dorcas corria escada abaixo.

- Hey, aonde a senhorita pensa que vai? – perguntou a Mulher Gorda enquanto a garota fechava o retrato atrás de si, e Dorcas simplesmente acenou com displicência para trás, se penalizando por ter sido tão distraída. Seu coração batia nervosamente a cada movimentação das escadas, e quando estas se alinhavam nos lugares certos ela corria até o próximo lance.

Os jardins estavam sombrios, iluminados apenas pela grande lua crescente que brilhava no céu. Enquanto caminhava na direção da orla da floresta, onde mais cedo o professor de Trato de Criaturas Mágicas decidira fazer a aula, seus pensamentos se voltaram para a lua, e especialmente para Remus.

Quando pensava na ideia de Remus Lupin ser um lobisomem, tinha vontade de rir, e se não tivesse visto com os próprios olhos talvez achasse difícil de acreditar que o maroto tão gentil de olhos castanhos pudesse se transformar na fera que ela desde criança fora ensinada a temer. Lobisomens são o pior tipo de criatura, sua mãe dizia, porque não conseguem discriminar amigos de inimigos enquanto estão transformados. Dorcas sentia um arrepio só de pensar em como Remus se sentia ao parar se pensar como humano, e alua crescente era um terrível lembrete de que, em poucos dias, ele sofreria tudo novamente.

As toras estavam jogadas de forma irregular por sobre a grama quando ela chegou, e seu coração quase parou quando viu que seu trabalho não estava lá. Parada naquele ambiente quis sentar e chorar, até que uma trilha de lama adentrando a floresta chamou sua atenção. Ajoelhou-se perto do começo da trilha, e percebeu que seu pergaminho devia ter sido colocado por algum engraçadinho dentro do tronco, que por sua vez havia sido arrastado. Respirando fundo e cruzando os dedos para encontrar onde o Professor deixara o restante dos troncos, começou a andar.

Dorcas nunca fora de quebrar regras, muito menos aquelas que sabia serem para seu próprio bem. Entrar na Floresta Negra era a primeira, mas o que antes era simples preocupação estudantil se tornou determinação diante da raiva que sentia de quem quer que fosse que tivesse sumido com seu trabalho. Seus passos firmes e irritados marcaram a grama orvalhada, e um arrepio de frio subiu por seus braços enquanto as árvores chacoalhavam ao seu redor com a força do vento. Finalmente, uma pilha de madeira chamou sua atenção, claramente reunida por mágica. Aliviada, Dorcas correu até o lado da pilha e viu, dentro do espaço oco de uma das toras, seu pergaminho. Sujo e amassado, mas seu.

Subitamente, se sentiu observada. Era como se as árvores estivessem suspirando, e o vento parecia mais gélido do que antes. Congelada no lugar, a garota só conseguiu virar a cabeça de um lado para outro, tentando captar de onde vinha aquela coceira na nuca, quando um par de olhos muito azuis começou a mirá-la por entre arbustos, muito baixa para ser um humano.

- Quem está aí? – chamou, sem resposta. Um rosnado passou por trás das folhas, e Dorcas sentiu as pernas amolecerem quando viu vários outros pares de olhos surgirem acompanhados do primeiro, e caiu sentada em choque quando percebeu que sete lobos circulavam o lugar onde ela estava, indefesa.

- Hey, cachorrinho... – tentou acalmar o mais próximo, que arreganhou os dentes. Vou morrer aqui, pensou ela, desesperada, vou morrer aqui por culpa do Kettleburn, não acredito!

O primeiro lobo avançou, empurrando – a para o lado. Dorcas sentiu um ardor forte no estômago, e quando olhou para baixo viu que sua barriga tinha um arranhão de lado a lado, do qual escorria sangue. Antes que pudesse se levantar, outros dois animais puxaram a barra do tecido roxo, rasgando – o na altura da coxa com força. Dorcas sentiu que não conseguiria nem chorar, e decidiu fingir que estava morta para ver se os lobos desistiam. Em posição fetal, sentia os arranhões rasgaram suas canelas, e fechou os olhos esperando o golpe final quando um lobo maior, que parecia o líder da alcateia, se aproximou.

De repente, tudo parou. Dorcas sentiu outra respiração que não era a sua, e os ganidos amedrontados de lobos ecoavam pela floresta. Ainda demorou alguns segundos para conseguir sentar a perceber quem estava salvando-a, e quando viu a parte detrás de um uniforme grifinório, o coração deu voltas.

Remus parecia fora de si, e os feitiços voavam de sua varinha ao mesmo tempo em que arreganhava os dentes para os lobos. A alcateia começava a correr, e Dorcas se sentiu pregada ao chão enquanto ele respirava fundo, virando-se desesperado na direção dela.

- Merlin, Dorcas, o que você fazia aqui? – ele se ajoelhou perto da garota, que se encolheu de vergonha. Remus puxou o pergaminho de sua mão, e quando leu, olhou incrédulo para a garota. – Você veio até aqui por isso?

Diante do aceno de cabeça da menina, Remus revirou os olhos e jogou o trabalho de lado. Demonstrando mais força do que ela achava que ele tinha, pegou Dorcas no colo. A garota se sentiu ainda mais envergonhada, e seu roupão dilacerado subiu mais alguns centímetros quando as mãos do maroto passaram por trás de suas coxas.

- Segura no meu pescoço, precisa ir para a Ala Hospitalar.

- Não! Agora que você jogou o trabalho como vou explicar o que estava fazendo no meio da floresta a essa hora?

Remus mordeu o lábio, pensativo. Dorcas se pegou encarando o garoto, perdida nos olhos castanhos estreitos, nos braços firmes e nos lábios comprimidos. Não podia acreditar que Remus era um lobisomem, era simplesmente surreal, inimaginável. Mas era o que ele era. Mesmo sendo uma das pessoas mais prestativas que ela conhecia, era um lobo indomável uma vez por mês.

Enquanto ele a carregava, Dorcas se lembrou da última vez que conversaram sobre o assunto. Ela correra dele, não de medo, mas de choque. E mesmo assim ele voltara a falar com ela. Mesmo machucado, triste, ofendido, ele voltara. Dorcas se sentiu pior a cada passada do maroto, e quando notou que ele olhava preocupado para suas feridas o sentimento piorou. Como ele pode ser tão bom e amaldiçoado, perguntou-se Dorcas. Mas a resposta que sua mente lhe daria ela nunca saberia, pois Remus parou na beira da escadaria, chamando-a:

- Vou te levar para a Sala Comunal.

- Você sabe feitiços de cura?

- Alguns, se acontecer alguma coisa vou ser obrigado a acordar Lily. – ponderou o garoto, que logo sorriu. – Mas fique tranquila, não vou fazer nenhum estrago. Modéstia à parte, Madame Pomfrey já me ensinou alguns truques. Tenho quase aulas especiais todo mês com ela, sabe.

Dorcas enrubesceu. Remus subiu com ela e pegou alguns atalhos, e quando finalmente chegaram à sala, o garoto deitou-a no sofá e acendeu a lareira, sorrindo em seguida.

- Vamos lá, onde machucou? – perguntou preocupado, se aproximando do tornozelo dela. Dorcas sentiu um ardor enquanto ele mexia na pele rasgada, mas logo um tremor percorreu suas pernas. Remus pegou sua mão.

- Espera só um segundo, vou pegar a essência de Ditamno.

O líquido era um pouco pegajoso, e embora ardesse, fazia as feridas fecharem mais rápido conforme o maroto aplicava os feitiços. Quando já tinha os tornozelos limpos, Remus limpou a garganta e a encarou.

- Eu, er, desculpa, vou precisar que você, hum, tire o roupão. Está com sangue escorrendo.

Com dificuldade e morta de vergonha, Dorcas retirou o que restava do roupão, revelando a camisola que ia até a metade das coxas. Tão tímido quanto ela, Remus afastou um pouco o tecido e aplicou o líquido no arranhão na parte externa das pernas dela, tomando cuidado para não subir demais ou escorregar a mão.

- Obrigada, eu podia ter morrido. – agradeceu, e Remus sorriu. – Eu quero pedir desculpas, eu corri, não sabia o que...

- Não precisa dizer nada. – cortou Remus. – Eu não fiquei chateado, já esperava. Só agradeço por não ter contado.

- Remus, eu não tenho nenhum problema com isso.

Remus ergueu os olhos subitamente, e sorriu timidamente. Dorcas sorriu de volta, tomando a decisão final. Lobisomem ou não, Remus Lupin era o que muitos humanos não conseguiam ser: um bom amigo.


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