Little Princess escrita por Emmy Black Potter


Capítulo 8
Guerra




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Capítulo 8 – Guerra

(1918, Chicago, Gripe Espanhola)

Pov’s Bella:

         Se havia uma coisa que eu não entendo nos humanos, era: por que gostam de causar o próprio mal querendo dominar o mundo? Quero dizer, nada tenho eu haver com a guerra, na realidade, eu e Carl nos mudamos para uma vilazinha nos Estados Unidos chamada Springfield, no estado de Illinois, entre 1914 e 1917.

         Mas, como as pessoas do hospital começam a suspeitar demais – porque, mesmo em guerra, o povo NÃO tem o que fazer – nos mudamos para Chicago. A guerra ainda aí.

         Eu não fui para a escola de novo, depois daquela experiência desastrosa em Denali, mas sei que teria de voltar, algum dia. Então, contentei-me em não ir, pelo menos, em Chicago.

         Para piorar a situação, em 1918, em Março, exatamente, a gripe espanhola atacou – e era nessas horas que eu ficava feliz de ser vampira (ou será que lá, lá no fundo, eu queria morrer?) – e uma onda de pessoas morreu: cidadãos, soldados, generais, crianças, homens e mulheres. A gripe se espalhou pelo mundo antes que qualquer um pudesse notar, num instante estava e no outro não.

         E ela fez Carlisle trabalhar dobrado, o que era, realmente, irritante. Eu não saía nas ruas, não muito, Chicago sempre tinha uma claridade leve, mas que, refletia. Carlisle ia no seu carro, que não deixava luz entrar e trabalhava no hospital sem chegar perto das janelas. Mas, enfim, Chicago era chato e solitário e a pior cidade que já havíamos morado.

         E eu só queria sair dela.

         Eu estava enterrada no sofá, a cabeça no apoio de braço e as pernas estiradas, tal como os braços. Fitava o teto contando o inexistente e vendo a tinta desbotar. O tédio era constante e irritante. Eu não respirava muito, o que já se tornara cansativo.

         A casa que morávamos era a mais próxima dos humanos que já tínhamos morado e isso era, absolutamente, tentador. Eu não tinha o controle de meu pai, mas ficar sem respirar era um saco, cheguei a conclusão certo dia de abril.

         Respirei fundo. Ah, doce oxigênio – junto ao cheiro quase floral de crianças e mulheres humanas que ficavam em casa enquanto os maridos iam trabalhar ou guerrear. Tudo numa fungada de ar.

         Alguns minutos depois, levantei. Iria passear, papai falara para evitar sair, as pessoas notariam que eu era saudável e tal, mas, nem estava sol hoje – além do mais, minha pele absolutamente branca poderia dar a impressão de que eu estava doente.

         Saí pela porta da frente e conclui que o que Carl disse estava certo: as pessoas olhavam para mim, o que era tolice – afinal, eu só era uma garotinha de dez anos, andando sozinha pela rua, no meio de uma pandemia e de uma guerra mundial. Pessoas estranhas.

         Eu já tinha andado muitos quarteirões quando percebi que tinha chegado a uma rua deserta. As casas eram mais humildes, não, pobres e totalmente desprovidas de beleza. Algumas tinham madeiras pregadas as janelas e a grama alta demais. Eu vi uma ou duas mulheres andando encolhidas, mesmo em plena luz do dia, e uma até segurava um bebê, nervosamente.

         Dei meia volta e continuei andando, já saíra por alguns minutos, já podia voltar para casa – a verdade era que esse silêncio absoluto já estava começando a me assustar. Corri, numa velocidade humana, até em casa e quando entrei, fechei a porta rapidamente. Encostei meu corpo nela e escorrei até o chão, respirando fundo. Alguma coisa estava errada.

- Olá, Isabella – disse uma voz fria.

         Abri os olhos e Alec estava ali, sentado confortavelmente no sofá e sorrindo cinicamente para mim. Dessa vez, estava sem Jane.

- O que quer aqui? – perguntei já me preparando para ficar em posição de ataque para esse vampiro futricado.

- Ora, vamos, Bella – odiei o modo como ele falou meu apelido – somos amigos, vamos conversar. Não vai nem perguntar se a viagem foi boa? Nadei um oceano inteiro para ver você.

         Ele falava isso literalmente. Em geral, seria uma declaração de amor, mas, vampiro contra vampiro, isso era quase uma ameaça.

- Duvido que tenha nadado um oceano somente para me ver – resmunguei ainda rígida.

- Naturalmente – Alec sorriu – Aro mandou-me aqui para enviar novamente o convite de se juntar a guarda Volturi. Ele adoraria tê-la ao seu lado.

         Ele adoraria manipular-me, quase falei, mas mordi a língua. Em vez disso falei: - Minha opinião ainda não mudou. Não, obrigada.

         Alec assentiu como se estivesse compreensivo.

- Minha opinião sobre você também não mudou, ainda, Bella – ele sorriu malicioso -          Entretanto, bom, vamos torcer para que sua opinião venha a mudar e a minha a permanecer, não é mesmo?

- Vai sonhando – respondi, num tom entre educado e tenso.

- Sou morto, não sonho – ele respondeu com tanta amargura, que até me senti mal de ser uma vampira – Porém, transmitirei sua resposta a Aro, espero que nos vejamos novamente, Bella.

         E, antes que eu pudesse impedir, ele correu na velocidade do vento e deu-me um beijo. Sorrindo, correu e saiu pelos fundos, voltaria para Volterra contar a Aro.

         E eu fique ali, parada encostada a porta, tentando não borbulhar num caldeirão de raiva, amargura e nojo. Alec me beijara – essas palavras nem combinavam numa mesma frase. Minha mente dividida entre sentar aqui e sentir nojo ou ir atrás dele e arrancar-lhe a cabeça.

         Respirei fundo, ignorando completamente o cheiro tentador do sangue, o cheiro de outro vampiro estava impregnado na casa, Carlisle sentiria assim que entrasse. No meu quarto, peguei um perfume de cheiro forte e espalhei por todos os cômodos da casa até o único cheiro ser aquele odor pesado demais.

         Com certeza era ruim, mas esconderia tudo, mal acabei de pensar quando Carlisle entrou correndo pela porta, tão rápido que esta nem pareceu abrir e fechar. Mas já?... Olhei pela janela, já era noite.

         Enquanto Carlisle depositava um corpo no sofá que há algumas horas eu estivera deitada e alguns minutos Alec se sentara, joguei o perfume pela janela disfarçadamente.

         Aproximei-me de papai e do corpo – não, não do corpo. Do rapaz em plena transformação vampiresca. Era um garoto, não devia ter mais de vinte, mas tinha pelo menos dezessete ou dezoito. Seus cabelos eram desalinhados, num tom cobre esquisito – deu-me uma súbita vontade de tocá-los, para ver se essa cor existia mesmo – e os olhos eram verdes como duas esmeraldas, estavam arregalados, mas não pareciam enxergar a mim e papai na sua frente. A dor era visível.

- Quem é este? – perguntei confusa.

         Carlisle parecia nervoso.

- Tive de transformá-lo – ele repetia nervoso – sua mãe pediu... Sabia, sabia sobre... Estava prestes a morrer... Acabar com seu sofrimento...

         Por alguns minutos, deixei-o ficar consigo mesmo, tentando ganhar os pensamentos coerentes. Eu olhei para o ruivo aí, na minha frente. Parecia com dor, sim, mas estava quieto, seus olhos arregalados, entretanto, sua boca fortemente fechado, não deixando um grito sequer escapar.

         Segurei sua mão, levemente, como que para dizer que tudo ia ficar bem, eu sabia o quanto doía. Mas, assim que o choque percorreu meu corpo com o toque, eu vi imagens na minha cabeça.

         O garoto ruivo pequeno junto com a mãe, o garoto tendo aulas de piano com uma professora severo, seu quarto com sonhos de ir a guerra, a vontade de ser soldado, as garotas com quem seu pai queria que ele casasse, tudo.

         E eu logo soube – era o dom de Aro.

         Uma coisa você tem de entender em meu dom de copiar: eu não sei direito quando peguei, só quando uso. Aparentemente, posso pegar todos os dons que estiverem perto de mim, inconscientemente, mas só descubro que os tenho depois que, acidentalmente, uso.

         Como o de Aro. Não sabia que tinha, mas, por acidente, descobrira que tinha. E, depois que descobria, eu sabia até onde minhas barreiras e até onde eu podia desenvolver esse dom. Sinto que poderia potencializá-lo a ponto de ver até as memórias dele dentro da barriga da mãe – mas tirei minha mão da sua, cortando a conexão.

         Fiz uma leve camada em volta de mim no escudo de Renata – somente mental, o físico não era necessário.

- Edward Anthony Masen – sussurrei – esse é seu nome?

         Ele sentia dor, mas assentiu imperceptivelmente.

- Dezessete anos, nascido em Chicago, estava morrendo de Gripe Espanhola? – parecia insensível, mas eu queria testar ver se aquele dom de Aro era bom mesmo.

         Edward concordou novamente. Toquei levemente sua testa, ainda quente da febre da gripe, o veneno ainda não chegara a cabeça. Ignorei seus pensamentos passados e presentes, a camada do escudo envolveu mais minha mão.

- Vai ficar tudo bem, eu te garanto – contei sorrindo levemente – A dor é temporária, logo acaba.

- Logo quanto? – ele perguntou entre dentes e fechou novamente o maxilar, com força.

         Suspirei: - Dois ou três dias.

         Exclui o fato de que demora mais de acordo com cada corpo, o meu fora pouco mais de dois dias, sendo uma pessoa miúda. E de Edward?


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Notas finais do capítulo

Não, to me segurando, não vou falar nada...