Little Princess escrita por Emmy Black Potter


Capítulo 38
Vôo preso




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Capítulo 40 – Vôo preso

(1977, Sheffield, Inglaterra)

Pov's Edward:

         Vi Bella desviar os olhos dos meus, mordendo o lábio inferior. Estava obviamente nervosa e envergonhada com algo. Mexendo as mãos pelo cós da blusa para lá e para cá, minha irmã estava incomodada.

- Bella? – chamei delicadamente.

         Estávamos em uma viagem de caça nesse final de semana, somente para variar um pouco da escola. Viemos: eu, Bella, Jazz e Alice.

- Tem algum problema? – há uns bons meses que minha irmã andava assim comigo. Eu conversava, cumprimentava, sorria. Ela ficava envergonhada e arranjava uma desculpa para sair. Mas envergonhada do quê, eu me perguntava sempre. Conhecíamos-nos há décadas, não há motivos para isso.

- N-Nada, Eddie – ela gaguejou e arregalou os olhos, parecendo confusa. Sua mente parecia discutir consigo mesma. Nunca desejei tanto ver o que se passava naquela cabecinha. – Ah... Ah, vou caçar mais um puma... Tchau, E-Eddie.

         Antes que eu pudesse piscar, Bella já tinha sumido de minhas vistas e audição. Droga! Eu odiava que ela ficasse sozinha. Ela já me provara a muito que podia lutar, mas velhos hábitos custam a morrer.

         Jasper e Alice apareceram de mãos dadas e sorridentes na parte da floresta que eu estava. Ambos jogaram-se no chão, relaxados. Jazz me olhou.

- Está preocupado – não era uma pergunta. Coisa de empáticos vá entender.

- Bella está sozinha por aí – foi minha resposta a sua afirmação.

         Alice me olhou: - Ela sabe se cuidar, Edward.

- Sei que sabe, mas... Bom, preocupo-me com ela. Talvez você não entenda Alice. Não estava aqui quando ela foi levada, nem quando a vi pela primeira vez – dei de ombros.

         A mente de Alice explodiu com tamanha acusação. Ela estava tagarelando com si mesma, tentando tirar a concentração de algo que ela sabia – afinal, Alice sempre sabe – e não queria me contar.

- Como pode dizer isso? – Alice indignou-se – Quer saber, eu acho que esse é exatamente o problema. Tem razão, eu não estava quando você a viu pela primeira vez e, tirando Carlisle, você foi o primeiro de nós a conhecê-la. Criou um instinto super protetor estúpido. Só esquecesse-se de uma coisinha: Bella-não-é-uma-criança.

         Trinquei o maxilar e Jasper tentou me acalmar, porém Alice continuou firmemente o seu monólogo irritante. Entretanto, o que falou a seguir veio numa voz tristonha e quase penosa.

- Sei que a ama, Edward. Mas antes de conhecê-la, Bella ficava sozinha em casa e fazia o que lhe desse na telha – Alice dizia. Seus olhos eram tristes para mim – Pode amá-la o quanto quiser. No entanto, não tente prender numa gaiola um pássaro que foi sempre livre.

         Franzi o cenho: - O que quer dizer com isso?

- Você me entendeu – ela retrucou – Eu quero dizer exatamente o que eu disse. Não se pode manter alguém que foi sempre livre sob uma gaiola de proteção. Por mais frágil que essa pessoa seja, a liberdade lhe dá noção.

         Suspirei frustrado. Argh! Alice e seus códigos, ela podia falar claramente e podia – também – ter uma mente que não pensasse em tantas coisas ao mesmo tempo. Ela realmente sabe como esconder algo de mim.

- Certo... Então pelo menos sabem por que ela está agindo tão estranho? – perguntei. E soube que tinha chegado a questão certa, pois os pensamentos de Jasper ficaram desesperados para se distrair do motivo e Alice berrava em sua mente uma música irritante.

- Não – responderam em uníssono, e voltaram a conversar, ignorando-me forçadamente.

         Soltei o ar. Fala sério! Chutei com raiva uma pedra e comecei a caminhar entre as árvores, seguindo inconscientemente o cheiro de Bella. Eu não queria admitir, mas ela estava mais independente do que nunca.

         Encontrei-a depois de alguns minutos caminhando. Ela estava sentada a beira de um laguinho – tinham muitos desse na Inglaterra, nunca soube por que. Bella estava com os cabelos caindo pelas costas, em cima da blusa preta que usava. Seus tênis estavam deixados de lado, pois os pés estavam na água, balançando para frente e para trás.

         Minha irmã parecia desatenta a minha presença, olhando para o céu como se esperasse algo. Com surpresa percebi que cantarolava algo.

- I want to know, have you ever seen the rain? Comin' down on a sunny day? – e mexia os pés ao ritmo da música. [N/A: (Eu quero saber, você já viu a chuva? Caindo em um dia ensolarado?)].

         Estava tão anestesiado vendo-a cantar – com sotaque britânico, pois morar aqui trouxera o que ela aprendeu antes mesmo de ir para a América – que só percebi que parara quando seu rosto virou por cima do ombro, para mim.

- Oi, Eddie – ela murmurou quietamente, parando de mexer os pés.

         Sorri, aproximando-me e sentando ao seu lado, com as pernas cruzadas.

- Bella – eu cumprimentei ainda sorridente, porém meu sorriso sumiu. Minha irmã estava um tanto melancólica.

         Seus ombros tremeram levemente e soluços contidos foram ouvidos. Ela estava tentando não chorar.

- Bella? – chamei-a.

         Seus punhos se fecharam em pequenas bolas e lágrimas pingaram para seu colo. Seus ombros começaram a tremer mais fortes e mais veneno simplesmente pingou em sua saia jeans.

- Por que está chorando, Bella? – eu perguntei pego de surpresa. Eu havia feito algo? Mas nem mesmo tinha falado outra coisa senão seu nome.

         Ela não me respondeu. Somente começou a secar as lágrimas, levantando o rosto para o céu e deixando os cabelos caírem mais sobre suas costas.

- I want to know, have you ever seen the rain? I want to know, have you ever seen the rain? Comin' down on a sunny day? – Bella voltou a cantarolar, como se não tivesse chorado segundos antes.

         Para minha imensa surpresa, começou a garoar. Mas o céu ainda estava azul e o sol brilhava. Como Bella sabia que...? O dom de Alice, claro! Que bobeira a minha. Com o dom de Alice, Bella poderia facilmente ver se choveria ou não.

         Ficamos em silêncio, somente sentindo a água pingar sobre nossos corpos. A chuva aos poucos foi parando, dando lugar a um arco-íris no céu. Suas cores magníficas completavam a paisagem da floresta ao fim da tarde. Os pássaros voavam para seus ninhos e as corujas começavam a sair.

- Vamos, Bella? Hoje voltamos para casa – sorri pensando em meu piano.

         Mas minha irmã não se mexeu, somente os lábios: - Vá à frente. Alice sabe que já vou, vou... Ficar mais um pouco.

         Pensei em protestar, mas as palavras da fadinha vieram-me a mente: "Não tente prender numa gaiola um pássaro que foi sempre livre". Agora eu entendia. Não gostava, mas entendia.

         Assenti e comecei a voltar para o jipe.

Pov's Bella:

         Quando ouvi os passos de Edward silenciarem-se, olhei novamente para o arco-íris. Isso me lembrava minha vida humana – e, por mais que não gostasse, trazia-me memórias de Ever. Minhas memórias.

         A cada dia novas sensações me vinham. Eram sensações de uma vida passada, as dores de cabeça traziam memórias. Ouvi um riso feminino sob meus ouvidos, junto a uma risada masculina. Eve e Dan.

         Não sei por que, mas toda vez que pensava nos dois – quero dizer, nele e eu – sentia-me feliz. Parecia uma época alegre, por mais que aquele livro na biblioteca Volturi dissesse que era uma guerra.

         Naquele tempo eu amava. Sabia disso. Só não entendia como, afinal, Ever morreu agora a alma pertence ao corpo de Isabella Cullen. Uma eterna criança. Eu amava. Naquela época eu era amada daquela forma. Aqui não.

         Com certeza havia algum problema.

- Somewhere over the rainbow... Way up high... There's a land that I heard of once, in a lullaby… - cantarolei baixinho. A música viera-me a mente há alguns dias e ficara. Era uma música triste e ao mesmo tempo feliz. Esperançosa.

- Somewhere over the rainbow... Skies are blue... And the dreams that you dare to dream… Really do come true… Someday I wish upon star… And wake up where the clouds are far behind me… - lágrimas de veneno pingaram novamente em minha saia.

         Ri tristonha, pensando em Alice dando um chilique por minha saia ensopada. Mas quem ligava para isso quando se tinham outros problemas? Funguei, afastando com as costas da mão as lágrimas de escorriam pelas minhas bochechas. Mas elas voltaram.

         Elas sempre voltam. Porque minhas lágrimas vêm com problemas. E eu não agüentava mais tê-los. Ora, não tinham mais Volturi's atrás de mim, mas os problemas continuavam... Vida passada, memórias, dor de cabeça, Daniel... Oh, maldição! Daniel! Eu amo Edward Cullen, então por que dói pensar em Dan? Por que dói se ele está morto?!

- Where troubles melt like lemon drops... Way above the chimney tops... That's where you'll find me… Somewhere, over the rainbow… Blue birds fly… Birds fly over the rainbow… Why… Oh – lágrimas e soluços -… Why can't I?

         Por quê?! Eu queria gritar com alguém, culpar alguém pela minha desgraça... Eu era tão perigosa, tão... Fraca. Se fosse realmente forte conseguiria deixar minha família. Eu era perigosa, mas fraca demais para deixá-los... Para deixá-lo.

         Funguei novamente e levantei vacilante. Eu não agüentava mais fugir.

         Queria entender tudo que acontece comigo... Era tudo muito confuso, complicado, irritante, doloroso. Eu queria saber por que sou eu a reencarnação de Ever, por que eu sou uma criança imortal, por que eu? Tantas pessoas no mundo... Por que eu?!

Você entenderá um dia, Bella. Ever sussurrou ao vento para mim.

- Um dia? – eu gritei para a floresta vazia, minha voz quebrada de impaciência e ecoando entre as árvores ocas – Qual dia? Amanhã, semana que vem, quando?! Estou cansada, Ever... Quero parar de ficar confusa...

         E principalmente, quero saber por que penso em Dan, se amo Edward? Aliás, como posso pensar em um – morto – e em outro, que nem mesmo sabe de meus sentimentos? Era tão doloroso.

Vai sarar, sempre sara. Ever respondeu as minhas perguntas.

- Estou cansada de ouvir isso! – retruquei a ninguém, com a voz embargada pelo choro – Você não é a primeira a me dizer isso, e quer saber? Não sarou, em nenhuma das vezes!

Bella. Ever murmurou urgentemente ao vento.

         Dane-se! Eu queria sumir, queria ir embora, só queria que parasse de doer! Agachei-me no meu casulo, os braços em volta de minha cintura. Estava doendo tanto, tanto.

- Ah – eu engasguei.

         Não estava sarando. Nunca sarava.

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Over the Rainbow – Além do Arco-Íris

Somewhere over the rainbow

Em algum lugar além do arco-íris

Way up high

Bem lá encima

There's a land that I heard of once

Tem uma terra, que eu ouvi falar uma vez

In a lullaby

Numa canção de ninar

Somewhere over the rainbow

Em algum lugar além do arco-íris

Skies are blue

O céu é azul

And the dreams that you dare to dream

E os sonhos que você ousa sonhar

Really do come true

Realizam-se mesmo.

Someday I wish upon a star

Um dia eu vou pedir a uma estrela

And waky up where the clouds are far behind me...

E acordar onde as nuvens estão distantes atrás de mim...

Where troubles melt like lemon drops

Onde problemas têm gosto de bala de limão

Way above the cimney tops

Acima das chaminés

That's where you'll find me

É onde você irá me encontrar

Somewhere

Em algum lugar

Over the rainbow

Além do arco-íris

Blue birds fly

Pássaros azuis voam

Birds fly over the rainbow

Pássaros voam além do arco-íris

So why can't I?

Então por que eu não posso?

If all that little blue birds fly

Se todos aqueles pequenos pássaros azuis voam

Over the rainbow

Além do arco-íris

Why, oh, why... can't I?

Por que, oh, por que... não posso?


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Notas finais do capítulo

Bom, esse capítulo é pra ser curtinho mesmo, mas reflexão, sabe? Tem pouco disso nessa fic (eu acho). Então decidi deixar assim. Espero que gostem.

As músicas são:

— Have you ever seen the rain - by sei lá, muitos cantores... Rsrs

— Over the rainbow - by O Mágico de Oz. Não sei direito disso, ouvi de lá, achei fofo, tive que por.

Bom, até a próxima,

Emmy