Little Princess escrita por Emmy Black Potter


Capítulo 37
Doce-Amargo




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Capítulo 39 – Doce-Amargo

(1975, Sheffield, Inglaterra)

         Encarei as caixas de mudança, sentindo uma súbita preguiça de desempacotar tudo e guardar. Por esse motivo, levantei lentamente do divã branco que meu quarto possuía ao invés de uma cama. Caminhei em direção a grande janela de vidro que meu quarto tinha, dando vista a uma enorme floresta, distante da cidade.

         Era linda, quase me fazia lembrar-se de Forks ou do Canadá. Bons tempos. Eu sabia que tinha um lago próximo aqui que traria brincadeiras futuras – cortesia do dom de Alice. Como todos os meus poderes, exceto o escudo e o teor de pensamentos, eu também matinha o de ver o futuro "desligado". Mas, assim como a maioria de meus poderes, uma pequena parte era usada inconscientemente. E isso me fazia ter leves impressões sobre tudo.

         Realmente confuso. Cada vez mais. Corri os olhos pelas árvores, vendo um pássaro branco levantar vôo de uma. Tranqüilo, livre. Recuei um passo quando um pássaro maior o agarrou pelas garras e o matou. Morto.

         Eu queria que minha vida fosse tão tranqüila quanto a de um pássaro, tão livre quanto, sem problemas. Somente minha família e eu, para sempre. Sem Volturi. Sem mortes, como o do pássaro há pouco.

         Gemi quando minha cabeça deu uma forte cutucada. Apoiei-me na parede vermelha de meu quarto. Escorreguei até o chão, segurando a cabeça entre as mãos. Flashes passaram pela minha cabeça.

         Uma casa em chamas. Gritos. Meus pais gritavam, estavam mortos. Gritos. Fogo. Morte. Minha cabeça deu uma pontada mais forte, eu gemi mordendo o lábio inferior, desejando que ninguém mais na casa ouvisse. Não agora. Mais flashes.

         Um bebê. Era uma menina. Tinha cabelos cor de mel e olhos azuis. Alegria. Perda. Mais fogo. Ever beijava um homem. Dan. Eu beijava Daniel. Dor. Perda. Saudade.

         Segurei minha cabeça mais forte. Eclipse. Luta. Dor. Gemi novamente. Alguém faça a dor passar, eu implorei mentalmente, faz parar. Algo pareceu se acomodar dentro de minha cabeça. Por favor, implorei novamente.

         Soltei a respiração que segurava. A dor de cabeça não me incomodava mais. Ótimo. Eu odiava essas dores ridículas. Vinham acontecendo com cada vez mais freqüência, desde dez anos atrás. Eu nunca comentei realmente para minha família, mas acho que Alice sabia, pois sempre me olhava reprovadora quando eu me escondia para a dor e depois voltava. Felizmente, escondia seus pensamentos de Eddie.

         Depois da primeira vez que isso ocorreu, eu pintava, dançava e meditava quase o dia todo, quando não estava na escola, claro. Distraía meus pensamentos e, aparentemente, da dor. Eu não gostava de ficar sem fazer nada, pois a dor voltava a me assolar.

         Mas o que eu mais odiava com todas as minhas forças, cada vez mais todo, pelo menos um minuto de cada dia, era o fato de eu ter um dom – uma maldição. Eu já era uma criança imortal, por que tinha que ter algo a mais? E por que diabos esse "algo a mais" tinha que ser justamente um dom de clonar dons, e não algo como... Não sei, cuidar de flores excepcionalmente bem?

         Os dons de outras pessoas estavam impregnados no meu ser, estavam a cada momento penetrando mais profundamente, misturando-se uns aos outros. Poderosos, porém incontroláveis. Eu perdia o controle sobre eu mesma, como quando lutara com Eddie, ou quando tentei controlar as emoções de todos – precisei da ajuda de Jazz para todos de casa voltarem ao normal. Eu sentia que daqui a pouco até mesmo o escudo – tanto mental quanto físico – perderia o controle.

         E eu não admitia para ninguém, mas eu tinha medo. O mesmo medo que tomava conta de mim antes de ser seqüestrada pelos Volturi: de ferir minha família com meu dom. E agora que estava de volta podia sentir esse medo à vontade.

         Respirei fundo uma última vez antes de levantar. Andei rapidamente em direção as caixas que eu tinha espalhadas pelo quarto. As prateleiras brancas estavam vazias, esperando meus enfeites e caixas com jóias. Meu closet – que Alice fizera questão de escolher inteirinho – já estava com as roupas e sapatos. Havia uma mesinha de cabeceira ao lado do divã com uma pilha de livros em cima. Grossos, finos, grandes e pequenos. Ler era uma coisa incrível que nos levava a outro mundo. Um mundo com problemas, mas que sempre acabavam bem.

         Abri uma das caixas e vi que era a das minhas coisas mais pessoais. Havia um quadro que pintei, o primeiro quadro em que pintava uma pessoa. Ri para a imagem, era Eddie nela. Estava quase perfeito – o original era melhor.

         Tirei-o da caixa e o coloquei delicadamente na parede, onde havia um prego. Olhei novamente dentro e vi dois bichinhos de pelúcia. Sorri para eles. Um leão dócil e macio e uma ovelhinha branca, felpuda com um laço vermelho no pescoço. Peguei a ovelha e a coloquei numa prateleira. Segurei o leão em minhas mãos, analisando-o bem. Com certeza valera apena Emm ter estragado aquele urso, pois este era... Lindo. Trazia lembranças boas de uma época que eu não queria esquecer. Num impulso abracei o leão, beijando a ponta de seu nariz e o colocando ao lado da ovelha, parecia o certo a ser feito.

         Balancei a cabeça, eu provavelmente estava ficando louca. Que diferença faria se o leão ficava ou não ao lado da ovelha, no final? Franzi o cenho quando pensei "Muita".  Antes que eu pudesse concluir algo mais, ouvi Carl dizer no andar de baixo:

- Reunir na sala de jantar, família – nota: não, não usávamos a mesa. Era mais para reuniões (e para Esme ter algo mais a decorar, fazer o quê?) em família.

         Corri para o andar debaixo, ouvindo o resto das pessoas fazerem isso.

         Papai estava sentado na cadeira da ponta, Esme ao seu lado estava segurando sua mão. Quando cheguei antes de todos, ele indicou o lugar ao seu lado. Eu ri, dando-lhe um beijo na bochecha: - Obrigada por reservar meu lugar, papai – ele também riu e eu sentei.

         Chel apareceu e sorriu para mim, sentando-se ao lado de Esme e Corin ao seu lado, este último tinha um sorriso de criança travessa no rosto. Alice saltitou até meu lado, com Jazz em seus encalços. Eddie apareceu atrás de Rose e Emm, rindo, pois minha irmã puxava a orelha do "Ursão".

         Quando todos já estávamos sentados, Carl começou a falar:

- Bom. Eu já estou empregado no hospital mais moderno da cidade. Corin e Chelsea estão matriculados no primeiro ano da Sheffield Hallam University (SHU)... – Corin interrompeu seu discurso em seu típico tom animado, o que fez Carl dar um sorriso de canto de boca.

- Eu estou no curso de história geral, né? – acredite se quiser, mas Corin gostava mesmo dessas coisas.

         Pela primeira vez me toquei que em relação à idade eterna, Corin era um ano mais velho que Carlisle, tendo vinte e quatro anos, mas era mais... Imaturo, talvez, infantil. Mas ambos eram bons para mim de um jeito que eu não sabia explicar.

- Sim, Corin – Carlisle riu – e Chelsea no de moda (Alice insistira). A história que contei é que Esme é sua irmã mais velha e Corin seu namorado, como fizemos da última vez. De acordo, Chelsea?

- Claro Carlslie – ela respondeu tranquilamente – Chelsea Huglibins e Corin Blake? – e Carl acenou positivamente a pergunta de minha amiga/irmã.

         Ele olhou para Esme: - Querida, você naturalmente é minha esposa e uma decoradora, como assim gosta. Rosalie, Emmett e Jasper estão no penúltimo ano da Roosester High School, e Edward e Alice no primeiro ano. Jasper e Rosalie são gêmeos, sobrinhos de Chelsea e Esme, filhos da irmã mais velha delas.

         Os citados acenaram positivamente. Revirei os olhos, eu sabia que os humanos fariam questão de decorar cada mínimo detalhe, então, saber tudo era importante, para não cometer um erro.

- Emmett, Edward e Alice são meus filhos adotivos, como sempre, "problemáticos" – Emm soltou uma estrondosa gargalhada que sacudiu as paredes da casa. Carlisle ignorou isso e continuou – Bella, você entra no terceiro ano da Lionel Elementary School, minha única filha biológica e com oito anos.

         Assenti. A mesma história de sempre. Fizemos umas poucas modificações depois que Chel e Corin juntaram-se a família, mas depois de algum tempo já estava acostumada. Pois é, já até chamava Chelsea de titia quando a via na frente dos humanos curiosos. (Curiosos).

         Mordi o lábio inferior com força – minha cabeça estava voltando a doer. Argh. Se fosse pra isso acontecer, pelo menos que fosse no meu quarto e não aqui, com todos a minha volta. Jasper me olhou, de cenho franzido. Ignorando a dor, coloquei meu escudo mental nele, impedindo Eddie de ler os meus pensamentos e os dele.

         Edward me olhou questionador, ele sempre sabe quando estou aprontando algo. Dei de ombros discretamente, Carl terminava de falar.

- Bom, como sempre, tentem não se meter em problemas e tentem não criar problemas – agora ele olhou para o Emmett.

         Este fez uma cara inocente: - O quê?

- O quê, o quê? – Rose zombou do marido – Acho que aqueles humanos em Nova Jérsei não gostaram de ter suas caras enfiadas no vaso somente porque cantaram a mim.

         Emmett deu de ombros, murmurando quietamente um "eles mereceram".

- Bom, acho que é só isso, alguma dúvida? – papai indagou.

         Todos acenaram que não e ele nos dispensou. Cada um começou a voltar para o próprio quarto, indo arrumar suas coisas. Eu mesma já estava indo fazer isso quando olhei para Jazz e vi que este queria falar comigo. Tínhamos uma espécie de ligação muito forte, não sei, sinto-me tão confusa.

         Jasper é meu irmão favorito, o mais... Irmão. Mas... E Eddie? Eu amava tanto Edward que me sentia sufocar, mas se Jasper era meu irmão favorito, Edward era o quê?

         Segui Jasper pelo quintal, nos sentamos próximos a árvores, distantes o suficiente para ninguém nos ouvir e com meu escudo mental em volta de nós dois, para ninguém - *cof* Edward *cof* - ler nossos pensamentos.

- Jazz? – chamei, ele olhava distraidamente para a paisagem – Queria falar comigo, não é?

         Ele correu os olhos mais uma vez pelas árvores. Se caminhássemos mais um pouco daríamos no lago e acho que foi para lá que Jasper olhou, pois levantou e começou a andar naquela direção.

- Bella – ele começou quando eu o segui – há alguns anos, aliás, desde que você chegou, venho tentando entender suas emoções. Acredite se quiser – ele riu fraquinho – mas você consegue sentir mais coisas ao mesmo tempo do que Alice, e isso é um feito e tanto.

         Eu dei um sorriso torto, ainda escutando. Pulei uma pedra particularmente mais alta e acompanhei seu passo.

- Você sente alegria, e sente tristeza. Sente medo, e coragem. São tantas antíteses ao mesmo tempo... É... Intenso – ele sussurrava as palavras. Parou e olhou para mim – mas, um sentimento... Vem me intrigando.

         Franzi o cenho. Jazz ajoelhou-se na minha frente e fez a pergunta que eu menos esperava no momento: - Você e Edward são muitos próximos, não é?

         Mesmo com surpresa, respondi:

- Ah... Sim. Há muito tempo que nos conhecemos e vivemos como uma família. Eu o ajudava a controlar a sede enquanto Carlisle ia trabalhar, e nós acabamos por virar irmãos assim.

         Olhei nos olhos de Jazz, sentindo que podia me abrir com meu irmão. Ele era empático, não podia haver alguém melhor para desabafar do que com ele.

         Sentei na margem do lago e tirei a sapatilha que usava, molhando os pés na água fria, que acariciou minha pele de mármore. Jasper sentou-se ao meu lado, mas preferiu não molhar os pés.

- Não sei. Ando tão... Confusa – murmurei a última palavra. – Eu amo Eddie mais que tudo, ele é meu irmão – a palavra engasgou na minha garganta e eu me perguntei por que – Desde que voltei da Itália, venho sentindo algo esquisito. Tive que sofrer a perda e a dor para começar a entender... Passou mais de uma década, e eu ainda não entendi.

         Jasper me olhou solidário e passou o braço por meus ombros.

- Tem certeza que não entende Bella? Está aí, dentro de você, eu sinto, pois você sente. Mas também vejo negação e confusão. Como eu disse você sente muito ao mesmo tempo.

         Desviei os olhos e quando falei, minha voz estava embargada: - Eu... Eu acho que... – minha garganta deu um nó.

- Diga – Jasper cochichou no meu ouvido, incentivador – Diga alto e claro.

         Sei que se fosse humana meu coração estaria a mil agora. Minha respiração estava irregular, senti meus sentimentos girando num redemoinho dentro de mim. Eu parecia mesmo uma humana cansada e confusa.

- Diga – Jasper falou.

- Eu... – hesitei. As palavras tropeçaram na minha boca – Eu estou... Eu estou apaixonada por Edward Cullen.

         E senti meus próprios olhos marejando.

         Eu tinha acabado de tomar conhecimento que amava meu irmão de um modo que não deveria. E minha mente não me repreendia, parecia completamente certa de que isso não era algo errado.

- Está sim – Jasper acariciou meus cabelos.

         Eu amava Eddie. E Edward me via como uma irmãzinha.

         E isso doía. Muito.


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Notas finais do capítulo

Revelação da Bellinha! Surprise, people!

Bom, estamos caminhando para o final e para quem não sabe: VAI TER SEGUNDA TEMPORADA! (Não sei se avisei nesse site).

Bom, espero que estejam gostando, espero comentário, hein...

Rsrs, beijokas! =D