Little Princess escrita por Emmy Black Potter


Capítulo 32
Ever Solace




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Capítulo 34 – Ever Solace

(Ainda em 1961, Volterra, Itália)

Pov's Bella:

         Franzi o cenho, folheando as folhas da biblioteca Volturi. O livro em minha mão era grosso, velho e grande, tecnicamente, "pesado". Porém foi com facilidade que o depositei na mesa de madeira, virando-o em grande velocidade, para sair logo daqui, antes que alguém me visse. A sessão mais velha e longe da biblioteca, era onde eu estava, e tenho certeza que não era aberta a qualquer um.

"Mas Aro terá de abrir uma exceção", pensei, vendo com interesse o livro que eu tinha em mãos – A história da humanidade.

         Esqueça tudo sobre explosão do Universo, ou criação de Deus, com esse livro em mãos você pode imaginar todas as possibilidades da Criação, menos essas duas. "Há muito tempo antes dos humanos surgirem na Terra, houve uma guerra". Era quase como se o que Ever me falara há algumas semanas estivesse aqui, nessas folhas empoeiradas. "Sangue, dor, fogo, gelo". Tirei uma mecha de cabelo que caía em meu rosto. "Lunares e Solares lutavam pelo domínio do Poder". Quem? "Princesa Ever Solace do Sol e Príncipe Dan da Lua selaram o destino do Universo quando se explodiram em gelo e chamas, e pó". Ever? Continuei a ler com avidez a página. "Sol e Lua, ambos afastados, gerando a vida na Terra com os seres malignos da Lua, invadindo-a. Para equilíbrio da Vida, Solares acompanharam Lunares na Terra, a fim de mantê-la segura."

         "Os humanos surgem".

         A primeira página acabava aí, e virei para outra, esperando encontrar mais um pouco sobre isso. Mas o que vi foi uma imagem ocupando a folha inteira, e arregalei os olhos, pois era... Perfeita. Real. Toquei levemente com meus dedos o papel áspero de velhice, que ainda mostrava uma imagem viva e nova.

         O fundo era escuro, cheio de estrelas e tinha aparentemente uma aurora boreal no meio do Universo, porque ele era colorido. Na imagem havia a Lua – grande, prateada e brilhante – de um lado. E, não muito longe, para minha surpresa da distância, estava o Sol – era maior, obviamente, porém não parecia somente uma enorme bola de fogo e gás, como diriam os cientistas. Assim como a Lua não parecia só, bem, rochas.

         Havia uma ponte simples, reta, praticamente celestial com as cores dourada, verde e rosa interligando esses dois astros. Mas ela estava vazia, exceto por duas pessoas – o que era surpreendente para quem esperava uma imagem de guerra. Todavia, não deixei de ficar impressionada.

         O homem era jovem, devia ter no máximo vinte anos, na aparência, pelo menos. Seus cabelos eram bagunçados como nunca – e eu não sei por que, mas tinha certeza de que não era por causa da luta –, seus olhos eram de um azul chocante como gelo, e brilhavam. Sua pele era branca brilhante, e ele tinha um corpo cheio de músculos por baixo da armadura preta que usava.

         A mulher, minha boca entreabriu, era Ever! Tinha os mesmo cabelos castanhos avermelhados até a cintura, os mesmos olhos de fogo dançante, tudo, tudo igual. Vestia uma armadura feminina branca, com um desenho de um sol. Em suas mãos, estava uma bola de fogo, perfeitamente desenhada. Assim como na de Dan – logo o identifiquei – tinha uma de gelo.

         Eles lutavam como dizia o livro, mas ainda era chocante demais. Para minha surpresa maior, as imagens começaram a se mexer, lentamente, até virar alta velocidade. Dan lançou a bola de gelo em Ever, que revidou, lançando a de fogo. Chocou-se, criando um enorme clarão de luz, que saiu do livro e me fez fechar os olhos, tamanha a força. E, quando os abri novamente, a imagem da ponte estava vazia, somente com um leve pó brilhante tilintando.

- Então você descobriu – disse uma voz sussurrante ao meu ouvido. Vir-me-ei apressadamente e não me enganei em quem era: lá estava Ever, parecendo um holograma com a luz da janela batendo em si. Garanti que a luz não chegasse até mim, não seria legal chamar atenção sendo um diamante.

- Sim.

         Ever ajeitou a armadura branca que usava como se tivesse acabado de sair do livro. Passou as mãos pelos cabelos, arrumando o que já estava arrumado. Ela suspirou.

- Ah, Bella, se você soubesse... – ela balançou a cabeça – Bom, são coisas passadas. Eu pedi que você pesquisasse, pois é de suma importância que você aprenda essas coisas antes que... – Ever parou.

         Eu a encarei: - Antes que o quê, Ever?

- Nada, antes que nada – ela corrigiu-se.

         Tentei deixar passar, fazendo outra pergunta, mesmo que isso formigasse dentro de mim, pedindo para dizer: - Mas, Eve, ainda não compreendo... O que tudo isso, essa guerra, tem haver comigo? E como isso vai me ajudar a sair daqui?

         Ever olhou profundamente para mim. A única coisa que não parecia um holograma, e, sim, realidade nela, eram seus olhos penetrantes de fogo acolhedor.

- Acho que você sabe bem o que isso tem haver com você, Bella. Está somente escondendo de si mesma, querendo que isso seja de outra pessoa. Mas você sabe o que tem haver contigo.

         Abaixei a cabeça, as engrenagens girando dentro dela, em velocidade máxima. Sim, aquela coisa dentro de mim me dizia. Essa sensação que sempre me disse o que fazer, o que pensar, sempre existiu, e agora eu entendia por que. Essa sensação de já saber, já entender, já imaginar...

         Essa sensação era Ever.

- Não... Não – eu murmurei um tanto histérica. Ever estava certa, eu não queria que isso fosse um fardo meu; qualquer outra pessoa poderia ser, mas... Era eu - Não!

         E meti a mão no holograma que era Ever, desejando que ela sumisse logo dali e me deixasse em paz, para sempre, pela eternidade. Eu só queria sair daqui! Ever sumiu com minha mão abanando, mas eu ainda podia ouvi-la.

- Você não pode fugir disso por muito tempo, sabe disso – e seu sussurro se tornou um silêncio absoluto.

         Soltei o ar que nem notara estar segurando – isso estava me saindo muito complicado. Por breves segundos, pensei em ficar aqui, parar essa busca estúpida que me levaria onde não quero ir. Aí a lucidez voltou a mim: se eu quisesse voltar para os Cullens, eu tinha que continuar pesquisando essa bosta – e Ever tinha razão. Urgh!

         Virei a página do livro, havia uma árvore genealógica da família real da Lua.

Rei Juan (Criação – morto em ?)

 Rainha Myrtle (Criação – morta em ?).

Príncipe Daniel (Nascido no ano 270 – morto em 291).

Príncipe Demétrio (Nascido no ano 1107 a.C – morto em ?)

         Essas coisas eram muito confusas – ano 270 a partir da Criação? E de onde veio esse "1107 a.C"? Antes de Cristo? Antes da Criação? O quê? Não era possível que um ser tivesse vivido desde a época em que a vida começou a existir, mas aparentemente não havia dúvidas. Se Ever existia, por que não o Rei e a Rainha da Lua? Ou Dan? Demétrio?

         Suspirei. Abaixo seguiam algumas explicações, sobre como quem possuía o Sangue Real era a Rainha Myrtle, e sobre como Juan virara rei por casamento, já que nascera Caçador da Lua. Virei com impaciência para a próxima página: árvore genealógica do Sol.

Rei Charlie (Criação – morto em ?)

Rainha Renée (Criação – morta em ?)

Princesa Ever Solace (Nascida no ano 272 – morta em 291)

         Engoli seco diante das novas informações. Eu estava cada vez mais não gostando disso.

         Dessa vez era ao contrário: o Rei tinha o Sangue Real do Sol, e a Rainha ganhara tal posição por casamento, nascida de uma linhagem do que viriam ser poderosas Bruxas. Porém cada vez mais a coisa parecia ridícula. Charlie, Renée, Ever... Urghhhhh, mil vezes urgh!

         Fechei o livro num baque mudo, desejando tê-lo batido com todas as minhas forças, o feito em migalhas, mas alguém provavelmente ouviria, então, respirei fundo, tentei me acalmar e abri o maldito livro novamente, no sumário.

         Pulei o que não era de importância alguma para mim como, por exemplo: Dinossauros: antes e depois deles, Sol e Lua: astros afastados, A vida antes de Dan e Ever, A Criação, entre outras coisas que pareciam inúteis a mim no momento. Pulei direto para um capítulo, Os Seres do Mundo.

         Comecei a ler em alta velocidade, para terminar logo. "Na Lua há dois Seres básicos: os Caçadores da Lua e os Vampiros". Finalmente algo útil. "Caçadores da Lua são, tal como o nome indica, caçadores. Até hoje não se reporta de um único ser que eles não tenham achado e, em sua maioria, matado. Sem dó, nem piedade, Caçadores da Lua são seres frios, imortais, porém, ainda, com capacidades humanas". Certo. Imortais. Não. Tudo bem – bizarro. "Vampiros são Seres originalmente da Lua (Lunares), e são conhecidos por serem frios, bonitos e sanguinários. Mais assassinos que os próprios Caçadores, tão acostumados a morte que a tratam como brincadeira. Imortais, rápidos e fortes, você não tem chance". Arrepiei-me levemente. Mesmo sendo vampira, nunca vi uma descrição assim, tão... Direta do que éramos. Monstros. Mas, se tem uma coisa curiosa aí, é que está explicado – se é que isso é verdade, e provavelmente é – o surgimento dos vampiros.

         Um pouco mais abaixo, após uma ilustração horrenda de um vampiro com sangue escorrendo pelo queixo e sorriso sádico, tinha algo um pouco mais acolhedor. "Tal como na Lua, no Sol há dois Seres básicos, entretanto, bondosos: os Transformos e os Bruxos". Estreitei os olhos ao primeiro ser, imediatamente a imagem dos três Quileutes me veio à mente. "Transformos: é a maior parte da população Solar e sua principal habilidade é se transformar em animais. Cada pessoa transforma pode ser somente um animal, mas todos têm um mesmo objetivo: matar vampiros. É para isso que foram criados". Sem dúvida alguma, a raça dos Quileutes é daí, tal como a minha vampiresca da Lua, mas... Ai, "que dor de cabeça". "Os bruxos também são boa parte da população dos Solares, apesar de em menor quantidade. Dotados de Magia Elemental, os Bruxos são poderosos imortais, mas ainda assim com capacidades humanas, o que faz com que cacem Caçadores da Lua, e, não, Vampiros". Ah, ta, super normal. Revirei os olhos, talvez ler esse livro tenha começado a afetar minha cabeça, sinceramente.

         O capítulo seguia explicando mais detalhadamente essas quatro espécies, e falando sobre algumas outras que havia na Lua e no Sol, mas pulei essa parte, deixando os outros Seres para depois, queria saber de algo ligado a mim. Explicava um pouco sobre as espécies com Sangue Real, dizendo que somente o Rei – ou Rainha no caso da Lua – e seus filhos tinham tal sangue e mais um monte de baboseira que fiz questão de ignorar. Na realidade, o livro era um pouco interessante, dizendo coisas sobre a Criação, a Vida, e blá, blá, blá. Mas não vi muito além do que já disse acima, afinal, eu queria, definitivamente, bloquear a idéia de Sol e outras asneiras mais.

         Não, não é que eu não acredite. Merda. Como vou explicar isso? Tudo bem. Eu sou uma vampira, então, é óbvio obviamente que essas coisas podem – talvez devam – existir, afinal, vampiros, transformos, por que não a Guerra dos Astros? É que eu não queria acredita. Nem um pouco. Só quero sair desse castelo nojento, entretanto, aqui estava eu: lendo esse livro ainda sem saber como isso iria me ajudar.

         Suspirei. Por mais rápido que eu lesse o Sol já se punha no horizonte, o que significa que em alguma hora vão notar que eu sumi. Maldita história de "princesa Volturi", quem foi o idiota que penso nisso? – sim, Aro, é contigo mesmo! Grr...

- Você sabe o que tudo significa... – uma voz sussurrou quente em meu ouvido. Fiz questão de ignorar Ever, caramba, essa daí me persegue.

         É claro que eu já tinha entendido alguma coisa nisso tudo, mas o mais importante de tudo eu ignorava completamente. Não pode ser isso que estou deduzindo. Ever dizia o contrário.

         Suspirei profundamente, fechando os olhos por uns poucos segundos. O vento da janela bateu em meu rosto e eu aproveitei essa carícia no meu rosto, essa calma que me invadia depois de anos lutando, treinando e vivendo monotonamente. Esse vento em meu rosto me trazia a calma de estar correndo nas costas de Eddie, de estar desviando dos socos inúteis de Emm, da agitação que Rose fazia quando queria fazer-me um penteado. Trazia lembrança do frio no Alasca, com os Denali. Do vento em Chicago com Carl, e de Esme correndo comigo em New Hampshire.

         Eu queria desesperadamente voltar para casa, com todas as minhas forças, esse era meu maior desejo. Simplesmente virar as costas para os Volturi e fugir – simples assim. Mas não era.

         Não havia um dia em que minha cabeça não pense em planos mirabolantes para fugir, escapar ou sair daqui – nenhum plano parecia bom o suficiente. E, depois de algum tempo, minha cabeça parou de pensar, dando lugar a um vazio de conformação: eu não ia conseguir fugir. Então, passei a estar sempre com meu escudo mental em mim, para garantir que a lucidez ainda estava ali – que era eu, e não Aro formando minha mente, nem ninguém do tipo.

         Agora, aqui estou eu: lúcida, com meu escudo, e com um plano me sendo apresentado por Ever. O que fazer? Aceitar o meu passado, ou ignorá-lo e não ter futuro?

         Soltei o ar, abrindo os olhos, tomando uma decisão importante, aquela que decidiria tudo.

         Eu só precisava programar minha cabeça ao que eu tinha acabado de descobrir: eu era a reencarnação de Ever.

         E se eu quisesse sair daqui, tinha que entender isso.


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Notas finais do capítulo

AVISO! - o próximo capítulo só vem se alguém fizer uma recomendação! *carinha triste* Buááááá.


Rsrs, beijos!