Little Princess escrita por Emmy Black Potter


Capítulo 30
O cicatrizado e a vidente




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Capítulo 32 – O cicatrizado e a vidente

"Para suportar a tristeza basta um, mas para desfrutar a felicidade são precisos dois"

(Elbert Hubbard)

"Estas alegrias violentas têm fins violentos

Falecendo no triunfo, como fogo e pólvora"

(William Shakespeare)

Pov's Edward:

         Eu me sentia vazio. Engraçado, eu tinha certeza que alguma coisa estava errada – o quê? Não, eu não sei. Por que dessa sensação esquisita? Era como algo estranhamente familiar tomando conta de meu peito, e esse familiar doía.

         Minha irmã Rosalie caminhava com seu salto de um lado para o outro da sala. Impaciente, ela suspirou. Tanya, Irina e Kate estavam abraçadas umas as outras como meninas inseparáveis, e soluçavam forte, num choro sem lágrimas. Minha mãe, Esme, tinha as mãos na boca, encolhida no sofá, e meu pai acariciava-lhe os cabelos, numa cara pensativa e bravo, como eu nunca vira. Carmen também soluçava, e Eleazar a consolava. Emmett estava estirado em um sofá, as mãos cobrindo os olhos.

         Porém, eu estava aqui, aturdido numa poltrona, olhando minha família e tentando lembrar por que algo estava errado. Extremamente errado.

- Vamos, Edward – Rosalie ralhou comigo – faça algo, tome uma atitude!

         Rosalie não estava brava, brava. Era mais... Chorosa, tristeza, isso.

         Uma atitude? Fazer algo? É, alguma coisa faltando, com certeza. Olhando minha família, tentei analisar. Eu ainda me sentia completamente aturdido. Zonzo.

         Uma menina. Minha irmã mais nova. Era algo relacionado a isso, mas por que era tão doloroso tentar se lembrar de algo? Eu estava ao que parecia século sentado nessa poltrona, tentando lembrar algo que eu sei que me traria dor.

         Bella.

         Meu cérebro parecia não querer raciocinar, entretanto, ali estava o motivo de minha dor. Minha memória estalou – Bella tinha sido levada. Mas por que eu estava sentado aqui? Tudo estava confuso.

- Carlisle, precisamos que fazer algo! – Rosalie chiou, era a única que falava e andava. Que parecia viva nesse cômodo fúnebre. – Não podemos simplesmente deixar minha irmã com os Volturi!

         Meu pai suspirou: - Também não gosto disso, Rosalie, você sabe. No entanto, não posso simplesmente invadir Volterra e tirar minha filha de lá. Matar-nos-iam.

- Mas, mas... – Rosalie gaguejou e desistiu, passando as mãos pelo cabelo, como se fosse isso que a fizesse sentir melhor, ao invés de chorar seco.

         Eu franzi o cenho. Sentia-me num estado estranho de absoluta calma. Cheguei a conclusão que nada poderia fazer – minha irmã... Minha irmã se fora. Não estava morta, somente longe. Longe de mim. Ela. Matar-me não resolveria o problema, pensei, primeiro porque ela está viva, segundo porque eu nunca mais a veria.

         Eu poderia entrar para a guarda Volturi, imaginei. Será que Aro deixaria? Provavelmente não iriam me aceitar. Agora que já tem Bella com todos os dons – inclusive o meu – para que me tiver? Claro que eu não quero lutar pelos Volturi, mas se isso fizesse ficar com ela, por que não?

         Porque Aro não aceitaria.

         Uma repentina vontade de quebrar tudo ao meio tomou meu corpo. Olhei para os móveis – eles de repente pareciam divertidos de se jogar na parede, assim como as árvores do lado de fora, serem derrubadas. Balancei com força a cabeça, olhando pela janela.

         Senti que se continuasse ali, cairia em depressão.

- Pai – chamei-o, ele me olhou – por favor, vamos... Para outro lugar.

         Carlisle assentiu a olhos tristes.

- LP –

(1952, Bufalo, Nova York)

         Eu revirei os olhos para meu irmão. Ele riu e se jogou contra o urso, fechando os braços em volta de seu torso e sugando o sangue. Sorridente, Emmett veio em minha direção.

- Esse era dos bons – ele comemorou, e não parecia nem mesmo se importar que sua nova camiseta tivesse um enorme rasgado – eu quase senti doer em minha pele quando me arranhou.

- Não brinque com a comida, Emmett – eu resmunguei.

         Como sempre, ele me ignorou totalmente, fazendo parecer que eu era o irmão mais velho, e não ele. Emmett se posicionou e gritou: - Corrida! Um, dois, três, já!

         Nem mesmo me deu tempo de pensar no que estava acontecendo, simplesmente disparou floresta à dentro. Levantei-me calmamente e corri atrás, sentindo o vento bater com força em meu rosto. Eu me perdi em meus pensamentos, as árvores formavam um arco quase familiar sobre minha cabeça.

         Minhas costas de repente pareciam pesar, como se alguém tivesse pulado nelas. Inconscientemente fui diminuindo a velocidade, até parar. O sol batia no meu rosto, meu corpo ainda tinha a sensação de pernas em torno da minha cintura e braços do meu pescoço. "Ora, anda cavalinho!" a voz infantil ecoou na minha cabeça milhares de vezes, com um riso alegre ao fundo.

         Bella.

- Edward? – Emmett estava parado na minha frente. Aparentemente tinha voltado para ver o que tinha acontecido comigo.

         Pisquei rapidamente: - Que foi? Vamos logo! – e voltei a correr, parando em frente a casa antes de meu irmão, que as minhas costas gritou 'trapaceiro!'.

         Quando parei, senti um novo cheiro adocicado de vampiros dentro de casa. Não era dos – argh, raiva! – Volturi, nem dos Denali. Troquei um olhar com Emmett.

- Vá checar como Esme e Rosalie estão – sugeri. Ele pareceu ansioso, como se fosse isso que o fosse levar a uma luta.

         Ainda pensando em como meu irmão era bobo, adentrei pela porta da frente. Carlisle estava ali na sala, sorrindo tranquilamente para outro vampiro. Poderia ser normal, claro, meu pai é gentil demais. Só que esse vampiro tinha um problema: ele era coberto de cicatrizes de batalhas. E meus instintos apitaram para atacá-lo.

         Agachei-me e rosnei, ele repetiu meu gesto. Ficamos assim por alguns milésimos de segundos, até eu ouvir a voz de Carlisle, numa repreensão: - Edward.

"Ele e sua companheira querem seguir nossa dieta", explicou mentalmente para mim.

         Assenti, entendendo. Ajeitei minha postura e sorri amigavelmente para o vampiro a minha frente.

- Desculpe-me – pedi, e estendi a mão, ao qual ele apertou – Sou Edward.

- Jasper Whitlock – ele disse simplesmente, devolvendo-me o sorriso. Sua mente era cheia de emoções, quase nenhuma palavra, e perguntei-me o porquê disso.

         Emmett apareceu nessa hora, com Esme e Rosalie atrás, risonhas do olhar envergonhado dele – e me perguntei o que ele tinha feito.

- Desculpe-me novamente.

         Jasper deu de ombros: - Tudo bem foi divertido. Talvez alguma hora você possa me mostrar como você luta.

- Farejo um desafio – Emmett começou a falar, aproximando-se, agora, alegre. – Sou Emmett Cullen, você é?

- Jasper – e apertou a mão estendida de meu irmão.

- É um aperto decente que você tem aí, cara – Emmett observou e, zombeteiro, disse: - Melhor que o do garoto ali.

- Garoto... – resmunguei sob minha respiração, então completei mais alto – Sou mais velho e mais experiente que você, Emmett. Não me chame de garoto.

- Certo, bebê, certo – Emmett resmungou e riu. Como sempre – podendo contar com Rosalie para o serviço – recebeu um tapa estalado na nuca.

         De repente, um vulto desceu saltitante e voando pela escada da casa. A menina, bom, era uma mulher – uma mulher baixinha -, tinha cabelos espetados e pretos, apontando para todos os lados. E seus olhos eram dourados. Ela era baixa, mas ainda assim no mínimo dez centímetros maiores que a Bella. E era tão animada quanto.

- Oh, Edward! – ela exclamou, jogando os braços em volta de meu corpo – É tão bom finalmente conhecê-lo! – eu não fazia idéia do que ela queria dizer com isso, e nem tive tempo para pensar, pois ela continuou a disparar sua fala: - Eu nem consigo acreditar! Quer dizer, consigo, mas é inacreditável!

         Que frase confusa. Ela sorriu para mim novamente e subiu como um raio escadas acima.

- Ela é... Hm... – eu estava sem palavras.

         Jasper riu, provavelmente da minha cara, e explicou: - Ela é Alice, minha companheira.

- Certo – foi o máximo que consegui dizer.

         Carlisle repentinamente sorriu.

- Imagino que vá se entender muito bem com eles, filho. Alice e Edward são talentosos.

         Ergui as sobrancelhas e perguntei curioso para Jasper: - Qual seu dom?

- Sou empático, sinto e manipulo as emoções – ele parecia envergonhado por falar isso.

- Ah, suponho que seja por isso que na sua mente quase não há palavras – foi mais para mim mesmo do que para ele, e vendo seu olhar de dúvida logo tratei de explicar: - Eu leio mentes.

- Hm – Jasper pareceu meditar – interessante isso.

         Ele ia continuar a falar, mas Emmett – puuuxa, quem mais? – interrompeu-o: - Uma luta seria muito interessante.

         Jasper olhou para mim, desculpando-se e acompanhou meu irmão ansioso. Rosalie foi atrás, ansiosa para ver a luta, assim como Carlisle, que queria analisar como o novo vampiro lutava – vi em sua mente que Jasper contara que lutava no sul, há alguns anos. Esme somente os seguiu, não sem antes me mandar um sorriso.

         Segui em direção ao meu quarto – ou, bom, o que era para ser meu quarto. Estava lotado de pilhas de roupa até o teto, meticulosa e calculadamente dobradas, de forma que não caiam, mas ainda não me senti aliviado o bastante para me aproximar. Alice, contudo, mexia nelas, de um lado para o outro, ajeitando-as.

- Alice? – chamei, ela parou e me olhou – Onde você colocou as minhas coisas?

- Estão na garagem – ela respondeu simplesmente, e voltou a fazer o que estava fazendo.

         Ergui a sobrancelhas. Meu quarto agora era na garagem? Bem, seria, até Esme fazer um novo (tenho certeza que ela irá adorar, ama decoração). Já estava virando as costas, quando Alice me chamou delicadamente:

- Edward, eu vejo o futuro – ela explicou.

         Franzi o cenho, isso não fazia sentido algum, de repente contar-me isso.

- Desde que acordei de minha transformação – Alice começou a dizer, num tom quase penoso – venho tendo visões sobre a família Cullen, e Jasper. Foi assim que achei ambos.  – ela riu sem humor, dessa vez não tão feliz quanto quando me vira – Se não fosse meu dom, eu provavelmente estaria numa floresta me perguntando que aberração eu sou.

- Ainda não entendo – admiti. Seus pensamentos eram povoados de coisas ao mesmo tempo, e senti que demoraria certo tempo até me acostumar com isso.

- O que quero dizer, é que acompanhei a história de sua irmã, Bella.

         Eu gelei.

- Sinto tanto... Eu... Eu já sentia como se ela fosse minha irmã própria! – ela disse chorosa e minha raiva sobre Alice estar falando sobre isso sumiu. – Há alguns dias eu tive a visão de que estaria tendo essa conversa com você... Então me concentrei em Bella, para ver se via algo, como ela estava, ou algo do tipo... E, bom, aqui está.

         Ela focou seus pensamentos em uma única coisa e eu olhei com ansiedade, sedento por ver minha irmã depois de tantos anos.

         Na visão, Bella estava em um grande quarto. As paredes eram beges e o carpete do chão, cor de creme, assim como a cama de cobertores e travesseiros macios – o que era desnecessário.

         Minha irmã estava de pé, ao lado de uma mesinha de vidro. Ela vestia um sapato de salto alto baixinho, preto de fivelas douradas. Seu vestido ia até um pouco acima do joelho, de veludo preto. Seu pulso carregava uma pulseira com um "V". Assim como seu pescoço com um colar dourado com um diamante em forma da maldita letra.

         Vi-me ávido por pegar todos os seus detalhes.

         Ela tinha uma caixinha de música, daquela com bailarinas que dançavam e tocavam musiquetas irritantes quando abertas, a sua frente. A caixa estava, porém, fechada, com um colar sobre a tampa de madeira com verniz.

         Rapidamente descobri que colar era: aquele de bailarina que minha irmã sempre usava. Uma esmeralda brilhante em formato delicado de uma bailarina.

         Bella sorriu e deixou uma lágrima de veneno escorrer por sua bochecha, como se lembrasse de algo feliz e triste ao mesmo tempo. Ela segurou o colar em seu pescoço com força, em seus olhos vi o desejo de arrancá-lo dali e colocar o de bailarina.

         Mas o que ela fez foi guardar o colar novamente sob a caixinha – perguntei-me como ela tinha ficado com ele, afinal, Bella não o tinha quando Alec a levou embora, para longe de mim.

         Bella colocou o cabelo atrás da orelha, limpando rapidamente a lágrima, como se tivesse medo que alguém a visse. Suspirou profundamente, voltando a ter um rosto monótono, e poderoso. Ela empinou o queixo, mostrando os últimos sinais de fraqueza:

- Edward – ela murmurou.

         E a visão de Alice acabou.


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