Little Princess escrita por Emmy Black Potter


Capítulo 20
Confusão




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Capítulo 22 – Confusão

(1934, Gatlinburg, Tennessee)

Pov's Bella:

         Minha cabeça tombou para o lado, como se eu pudesse ver de um ângulo melhor a imagem refletida no espelho.

         A garota ali era baixinha, de pele branca porcelana. Os olhos eram duas poças douradas e brilhantes. Os cabelos claros, num tom quase mel, e caiam encaracolados até abaixo dos ombros. Ela tinha um sorriso perfeito e dentes brilhantes. Usava um vestido azul escuro de seda que ia até o joelho, numa cor dégradé. O sapato que a menina usava era branco. E ela era eu.

         Mas por que, de repente, parecia que não era eu?

         Franzi o cenho e apertei os olhos, mais ou menos como um humano tentando enxergar melhor. Porém, continuava a mesma sensação esquisita e a mesma imagem da garota – a garota que era eu, mas também não era eu.

         Eu olhei melhor os traços do rosto. Eram delicados e encantadores. As maçãs do rosto eram cheias e tenho certeza que se eu fosse viva, seriam rosadas. Os lábios eram fartos e, ao mesmo tempo, cheios de delicadeza. Os cílios longos e bonitos.

         Coloquei uma mecha de cabelo atrás da orelha, ainda não era a minha imagem. Meu nariz tremelicou em desagrado. Apertei os olhos de novo e uma imagem, rápida e em um milésimo, se formou em minha cabeça e refletiu no espelho – para mim pareceu um tempo enorme.

         Não era uma garota de um e quarenta de altura, devia ter pelo menos um e sessenta. Também não era uma menininha, era uma adolescente com seus quinze ou dezesseis. Corpo com curvas perfeitas, seios perfeitos, pernas perfeitas.

         Os cabelos eram castanho avermelhados, num tom quase ruivo, e desciam elegantemente até um pouco acima da cintura. Os olhos passavam a impressão de serem castanhos, mas, repetindo a imagem na minha cabeça, vi que não eram castanhos.

         Eram como chamas, acolhedoras, dançando dentro das órbitas – uma mini-fogueira no lugar da íris.

         A pele era branca, os lábios e as bochechas rosadas. Usava um vestido azul longo, que descia até o chão e tinha uma calda atrás. O decote era em V e valorizava os seios. O salto alto era dourado e cheio de brilhos.

         O espelho agora refletia a garotinha.

         A imagem da mulher era familiar, eu só não conseguia pensar por quê.

- Bella? – ouvi uma voz feminina me chamando da porta do meu quarto.

         Desviei os olhos do espelho e vi minha irmã, Rose, ali na porta, olhando para mim confusa: - O que está fazendo? Temos aula.

- Nada, não estou fazendo nada – respondi distraidamente, enquanto me abaixava e pegava meus livros de escola. O ruim do Tennessee era que eu não tinha fugido da escola – dessa vez.

         Não, acho que o pior era que a escola não era Middle e High juntas – eu fingia ter onze, já que não íamos ficar muito por aqui.

         Edward já estava no carro. Rosalie sentou no banco da frente como sempre, e me acomodei atrás, olhando pela janela a imagem das casas passando rápido – quero dizer, não muito rápido. Será que um dia os carros seriam tão rápido que a vista seria um borrão? Eu esperava que sim.

         Eu já tinha conhecido vários tipos de humanos. Alguns doces, alguns arrogantes, os quietos, os estudiosos, os felizes, os tristes, os emos, os tagarelas, todos. Já tinha visto muitos tipos. Era por isso que eu odiava tanto escola. Não sei, misturar-me com pessoas que poderiam ser meus filhos ou netos é muito estranho, ainda mais quando essas pessoas zombam de você – ou não, né.

- Tenha um bom dia, minha flor – desejou Rosalie sorrindo para mim amavelmente. Às vezes, ela me tratava como Esme – como uma mãe. Às vezes, como amiga, geralmente como irmã. Os instintos dela eram esquisitos.

- Boa sorte, Bella – Edward desejou, olhando seriamente para mim.

         Por alguns instantes sorri, vendo a imagem dele enfrentado a Gangue de Idiotas em Ohio.

- Tchau, Eddie, Rose.

         Catando meus livros, desci do carro e acenei. As pessoas entravam, algumas até tinham seus carros, mas quase ninguém tinha idade para dirigir. Vi Michel Taker passar apressado, com um tabuleiro de xadrez embaixo do braço, enquanto lia um livro de geometria e ajeitava os óculos fundos de garrafa no rosto. Thuanny Breca jogou o cabelo preto para trás e sorriu para o grupo dos populares. Mia Wazimoska e Lilá Lutz conversavam tímidas sentadas num banco.

         Respirei fundo e caminhei em direção a minha primeira aula, de Cálculo – todo dia era como uma tortura. Desempenhar um papel impossível. Mas um cheiro esquisito me fez parar e olhar em volta. O sinal bateu, eu já estava sozinha no estacionamento, mas não dei atenção a isso.        

         Quase rosnei irritada, o cheiro adocicado de vampiros era muito irritante, mas o cheiro desse vampiro em especial ainda nem tinha palavras para descrever.

- Bella – Alec sorriu, não muito longe de mim. Tinha surgido de repente e silenciosamente.

         Sei que no ponto do estacionamento que estávamos não dava para nos ver de nenhuma janela da escola. Droga.

- O que quer aqui? – pergunta boba. Ele sempre quer a mesma coisa, o duplo sentido dessa frase era horrível.

- Convidar você a se juntar a guarda, é claro – Alec riu, os olhos vermelhos eram como holofotes: "Sou perigoso".

- Como sempre, agradeço, mas dispenso – forcei minha mente a lembrar que ele era um Volturi, da guarda Volturi, os carinhas no poder e tal. Ou seja, arrancar a cabeça de Alec não podia entrar na minha lista.

- Ora, Bella – Alec estava mais perto. Seu corpo estava, repentinamente, a milímetros do meu, seu hálito gelado bateu em meu rosto quando falou – você se faz de difícil, e eu adoro isso. Mas já está na hora de parar com o jogo, não acha?

         Certifiquei-me de que meu escudo mental estava ali quando vi a névoa do dom de Alec começando a espiralar em minha volta.

- Tão tolinha – ele acariciou meu rosto com as costas da mão – tão inocente...

         E, quando eu menos esperava, ele grudou os lábios nos meus. Ergueu-me do chão, enquanto segurava minhas costas de um jeito vulgar, e puxou-me para si, aprofundando mais um beijo. Debati-me, entretanto, era como lutar com uma pedra de mármore – o que ele era de fato.

         Ele tentou abrir espaço com sua língua, eu não permiti. Alec apertou minhas costas, agora não era vulgar, era doloroso. Odiava o fato de vampiro contra vampiro a luta poderia realmente doer ou machucar. Seu beijo – ou seria sua estupidez nojenta? – continuou.

         Juntando energias, montei meu escudo físico o mais longe que consegui. Alec parara do outro lado do estacionamento, sorrindo com escárnio. Lambeu os beiços: - Você tem um gosto muito bom, Bella. É uma vampira deliciosa.

         Se fosse humana, teria ficado em várias colorações vermelhas – de raiva. Tirei meu escudo físico e, em um segundo, fiquei na sua frente, metendo-lhe um tapa na cara que pareceu ecoar.

- Bella, Bella – Alec riu. Pareceu olhar algo sobre minha cabeça, mas eu ainda olhava com raiva para ele, sem dar atenção a nada – você é uma menina levada... Ou safada, talvez seja o mais adequado. Não é qualquer uma que recebe um beijo daqueles de Alec Volturi. Desfrute-o.

         Sibilei: - Aparentemente tapas não tem mais a mesma eficiência. Você prefere que eu comesse a te socar?

- Se com um tapa eu ganho um beijo, gostaria de saber o que ganho com um soco.

- Ora, seu... – e tentei dar-lhe um chute, mas ele desviou agilmente.

         Chutei novamente em direção a sua cabeça, Alec segurou minha perna no ar e colocou nos seus ombros: - Já treinando para quando formos para a cama, querida?

         Eu gritei, enfurecida: - Você, Alec Volturi, é o ser mais estúpido da face da Terra. Se entrasse para um concurso de idiotice para amadores, provavelmente lhe diriam que 'não aceitam profissionais'!

         Ele sorriu irônico – como se meu xingamento fosse de uma criança de três anos - e desapareceu. Eu gritei e chutei o ar, raivosa. Que vampiro irritante e desagradável!

         Mas tive de me obrigar a me acalmar quando uma pequena labareda de fogo surgiu no chão perto de mim. Concentrando-me no poder que clonei de Tom, o fogo extinguiu-se.

- Bella! – ouvi uma voz desesperada atrás de mim.

         Me virei e vi Eddie e Rose ali. Diabos, mas como...?

         Rosalie pareceu bater em uma parede invisível, até eu me tocar de que, inconscientemente, estava deixando escudo físico de pé. Minha irmã correu e me abraçou, preocupadíssima – parecia que ia quebrar com um toque, aparentemente.

- Estou bem, Rose, sério – respondi entediada, ajeitando meu vestido, que provavelmente mostrara tudo na hora da luta com Alec Safado Volturi – não é como se fosse a primeir...

         Eu parei bruscamente minha frase. Edward me olhava sombriamente, de braços cruzados e irritados, parecendo, mais do que nunca, um vampiro mau.

- Há quanto tempo, Bella?

         Eu não precisei perguntar pra saber que ele queria dizer "Há quanto tempo Alec vem fazendo isso?". Também não perguntaria há quanto tempo eles estavam ali e o que viram, afinal, parecia meio óbvio.

- Antes mesmo de você se transformar – suspirei. Nunca tinha realmente contado o que tinha acontecido depois da minha transformação.

         Esme, Rose e Eddie sabiam que alguma coisa, luta ou algo do tipo tinha acontecido, mas eu e Carl nunca contamos.

- Quando Alec e Jane foram à minha casa – eu contei me sentando no banco que, minutos atrás quem tinha sentado eram Mia e Lilá – mataram meus pais e me viram fugindo pela floresta. Eles conversaram, ignorando minhas perguntas desesperadas e chegaram a uma conclusão: transformar-me em uma criança imortal seria um jogo divertido.

- Jogo?! – perguntou Rose incrédula. Certo, ela tinha seus momentos de raiva, de mau humor, mas também tinham seus momentos doçura-de-irmã, ou vingança-de-irmã – chame como quiser.

- Jane me mordeu, acho que foi ela, nem sei exatamente qual dos dois – dei de ombros – Carlisle me achou. Alguns meses depois, quando estávamos na França, Alec e Heidi, que controlou a mente de papai, nos seqüestraram até Volterra. Houve uma breve luta e eu menti para Aro, disse que meu dom era um escudo, não a clonagem. No entanto, ele já me queria na guarda e, desde então, Alec vem me convidar para entrar.

         Baixei os olhos. Edward rosnou as palavras: - Convidar? Ele estava fazendo muito mais que convidar, estava abusando de você! – ele parecia pronto para chutar alguém, pronto para chutar Alec.

         Eu teria rido se não fosse critica a situação. Rosalie também soltou um som de rosnado, completamente enfurecida.

- Pare – eu disse numa voz mandona, eles me olharam, ainda bravos – não se metam com os Volturi por uma bobagem dessas. Nunca estiveram frente a frente com toda a guarda, nem com um dos Volturi vocês já estiveram. Não sabem do que são capazes.

- Mas, Bella... – eu interrompi Rose com um abano de mãos.

- Não – eu olhei determinada para eles – Dói-me dizer que eles são poderosos, mas é a realidade.

- Poderíamos facilmente matar Alec – Edward parecia seriamente cogitar a idéia.

- E atrair todos os Volturi, com a desculpa perfeita – respondi irritada que não me escutassem realmente – Vocês não entendem! Crianças-imortais-não-podem-existir! – eu quase soletrei – Aro somente me deixou viva por eu ter um dom com uma força um pouquinho a mais que o escudo de Renata, se matarmos um dos dele, Aro não vai ligar e me matar, entendem isso?

         O final veio acidentalmente com sarcasmo. Baixei os olhos para as mãos em meu colo – eu não queria causar problemas para minha família, mas eu era um problema ambulante.

         Alguém bufou, nem ergui o olhar para saber que tinha Edward – "Irei lhe proteger sempre, Bella". Ele me dissera isso antes de fugir, ele me dissera isso quando voltou, prometendo ficar. Será?

         Eu estava confusa – e odiava ficar confusa, porque me sentia estúpida, estupidamente idiota.

- Vamos somente voltar para casa, foi um dia estressante – eu disse – Talvez possamos nos mudar e...

- Não – disse Rosalie decidida – nenhum humano viu nada, podemos continuar aqui por mais alguns meses... Não sei, gosto daqui.

         Olhei em seus olhos dourados, agora naturalmente. Antes ela ficava usando óculos escuros o tempo todo – os humanos estranhavam, mas os do sexo masculino pareciam estar mais embasbacados pela beleza de minha irmã do que ligando para olhos vermelhos atrás das lentes dos óculos pretos.

         Edward me pegou no colo enquanto caminhávamos até o carro. Certo, sei que deveria ficar brava quando ele me tratava como criança, mas, de certa forma, era fofo sua super proteção – meu maninho preocupado *-*.

         Dessa vez sentei na frente ao invés de Rose. Olhei no espelhinho que eu tinha na bolsa, meu cabelo, como sempre, estava impecavelmente arrumado. Meus olhos estavam agora pretos, o que mostrava que ou eu tinha sede, ou muita raiva – opção dois.

         Por alguns instantes, vi de novo aquele rosto de uma mulher jovem. Os cabelos pareciam mais do que nunca ruivos e levemente encaracolados. Os olhos, agora que eu podia ver bem de perto, eram definitivamente chamas tremelicando levemente nas órbitas.

         O espelho voltou a refletir minha imagem.

         Quando guardei o espelho na bolsa novamente, esperava não estar com o rosto tão confuso quanto me sentia.


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