Little Princess escrita por Emmy Black Potter


Capítulo 16
Volta ao indiferente




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Capítulo 17 – Volta ao indiferente.

(1925, New York, NY)

Pov's Edward:

         Acho que os humanos eram os verdadeiros vilões de tudo. Por que tinham que ser tão tentadores, com seu sangue bombeando e seu cheiro chamativo como um holofote?

         Talvez, seja culpa minha também, em partes – afinal, por que vampiros tinham um olfato tão bom? Eu, por mais que tivesse abandonado a única coisa que restara para mim, minha família, não queria dizer que não lamentava.

         Não há um único dia em que eu não me lamente por ter os deixado – todos os três. Principalmente quando vejo um homem loiro passando, ou uma mulher de aparência maternal, ou, o pior de tudo, uma criança alegre.

         E acho que foi isso que partiu minha barreira.

         Era dia, o céu estava nublado e parecia prestes a cair um temporal. Eu caminhava entre as pessoas, que pareciam me repelir como se eu tivesse alguma doença contagiosa – e agradeci por estar de óculos, meus olhos estavam escarlates.

         Estava dobrando uma esquina quando quase trombei – não é como se eu fosse um humano distraído - com uma menininha e sua mãe. A mãe era alta, de cabelos loiros, olhos azuis e sorria lindamente para a filha – até olhar para mim. A menininha, de dois ou três anos, era pequena, usava marias-chiquinhas nos cabelos pretos e seus olhos eram do mesmo azul da mãe.

- Oia, mamã! – sorriu a garotinha, apontando para mim – Moçu bonhito!

- É, Tina, agora vamos – chamou a mãe apressadamente, vendo que eu olhava para sua filha.

         Um sentimento de... Saudade brotou em mim.

- Mai mamã, moçu bonhito! – insistiu a garotinha. Ela apontou para meus óculos, como se soubesse que atrás deles tinham olhos vermelhos – Moçu bonhito tem oilhos bonhitos, oilhos douradios!

         A mãe puxou "Tina" apressadamente, me afastando da menina.

         E eu, idiota, fiquei parado – as pessoas passavam do meu lado me ignorando e eu ignorando elas e seus cheiros. Crianças eram... Inocentes, muito inocentes. E perguntei-me se elas também tinham um tipo de... Visão ou algo do tipo.

         Moço bonito tem olhos bonitos, olhos dourados... Ela conseguia ver? Mas, ver através dos óculos, basicamente, através da minha alma ou do meu passado recente? Meus olhos, no momento, eram vermelhos, como Tina sabia que eram dourados?

         Um humano passou perto e seu cheiro ficou forte. Em geral, eu levantaria e sugaria até a última gota de sangue de seu corpo, mas, não hoje. Não mais.

         Casa parecia uma palavra muito acolhedora no momento.

Pov's Bella:

         Eu já estava na Middle School, e, com alunos muito mais velhos, eu me sentia a ser mais repugnante do mundo. Venho refletindo sobre o porquê de ainda não termos nos mudado, porém acho que é porque Carl e Esme têm esperanças de que Edward volte – volte depois de dois anos.

         Tudo bem, afinal, cada um sonha com o que quer certo? Errado.

         Eu não queria sonhar – hipoteticamente falando, claro, eu não durmo – que Eddie, o meu irmão, poderia voltar. Mas, a vontade ainda estava aqui dentro, inconsciente e gigantesca, esperando somente um clique para ela sair avassaladora.

         Carlisle e Esme - comemorando mais um ano de casados, parece até coisa humana – tinham se arrumado e bailavam lá embaixo. Podia escutar a música, junto com seus pés, leves e ritmados, dançando contra o chão.

         Eu estava aqui, no estúdio – como sempre. Hoje vestia uma meia calça branca, sapatilhas rosa, um collant vermelho e uma saia branca. Meu pé estava pousado na barra, enquanto eu testava minha flexibilidade, me "alongando".

         E paro, quando escuto uma batida na porta. Ah, certo, quem é que bate na porta da casa de vampiros, ainda mais sendo esta no meio da floresta? Um cheiro adocicado vinha lá de baixo.

         Corri, parando no alto da escada, olhando curiosa quando Carl foi atender a porta. Senti-me ridiculamente fraca quando tive de sentar no último degrau, encostando a cabeça no corrimão, para não ficar em choque.

         Edward estava parado na soleira da porta. Usava calças jeans surradas, sapatos velhos, uma blusa qualquer, os cabelos – que sempre seriam iguais – bagunçados e de óculos escuros, temi o que tivesse atrás.

- Edward? – perguntou Esme, também se aproximando.

         Eu continuei na escada. Inexpressiva.

- Carlisle... Esme... – Edward disse, parecia sentir dor – Eu sinto muito mesmo e... Gostaria de ficar... Se me aceitarem, é claro.

         Esme, como sempre, abraçou ele forte: - É claro que você pode ficar, meu filho! – e tentou tirar seus óculos para vê-lo melhor, mas Edward delicadamente afastou sua mão, negando.

- Não, não tire – acho que Esme não queria mesmo ver seus olhos vermelhos.

- Filho – disse Carl.

- Pai.

         Abraçaram-se rapidamente.

         Eu senti uma súbita vontade de gargalhar, gargalhar muito alto, como se todo esse amor sendo demonstrado fosse motivo de graça, de ironia – ora, a criança tinha voltado para casa, não era divertido?

         Comecei a bater palmas lentamente, atraindo atenção para mim no topo da escada.

- Não é lindo, gente? – ironizei. Olharam para mim surpresos, nunca viram um tom arrogante sair de minha boca, não contra eles – Tocante, no mínimo. O nosso menino volta para casa, sendo recebido de braços abertos, como se tivesse voltado da escola, e não de uma fuga de dois anos.

         Edward olhou para mim com dor: - Bella...

- Não, não fale nada, Edward – rosnei – E sabe por quê? Porque, no instante que você passou por aquela porta, há dois anos, ignorando minhas suplicas como se não fossem nada... Naquele instante, você morreu para mim. E mortos, certamente, não voltam a vida.

- Isabella Cullen não fale assim com seu irmão – mandou Carlisle, como se fosse mesmo meu pai. Mas ele não era.

- Ele não é meu irmão, Carlisle – respondi e olhei friamente para Edward – hoje percebo que nunca foi.

- Bella, por favor, se você me ouvir talvez... – eu simplesmente o interrompi.

- Talvez o quê? Talvez eu te perdoe, te abrace e chore com você, como se nada tivesse acontecido? – eu ri irônica e com uma pontada de histeria – É, Edward, então, talvez, finjamos que eu te amo, que sempre amei meu irmão.

         Meus olhos cuspiram raiva: - Eu não sei contar mentiras como essa, então, vou ser direta para que entenda com sua mentalidade: eu te odeio, você nunca foi, não é e nunca será meu irmão, e você está morto, assim como minha alma de vampira!

         Virei as costas a minha família e Edward, caminhando em direção ao meu quarto. Eu não bati a porta do meu quarto, eu não destruí nada, não esperneei, não chutei, não quebrei – eu não sentia raiva.

         Sentia-me normal. Feliz? Claro, "com certeza". Com raiva de Edward? Não, afinal, essa era sua casa, certo? Claro.

         Agora, se ele era meu irmão, se ele era da família?

         Errado.


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