Dorea Potter poderia ter alguns graus de miopia, mas isso não fazia com que ela fosse cega... Ou pelo menos não enquanto ela estivesse usando os seus óculos, o que, por sinal, ela sempre fazia, já que não gostava de esbarrar em todo mundo ou confundir seu marido com outra pessoa na rua. De qualquer maneira, apesar da miopia, Dorea enxergava muitas coisas.

Por exemplo, quando James foi para Hogwarts, ela já sabia que não havia chances de seu filho cair na Sonserina. Só alguém cego – ou alguém muito míope que não usasse óculos – não saberia que o jovem Potter iria acabar na Grifinória, afinal, era só ver como ele agia desde pequeno para saber que aquele garotinho tinha uma alma grifinória dentro dele. Por isso, não ficou sentida quando recebeu a primeira carta do filho na qual ele dizia que havia ido parar na mesma casa do pai. Charlus comemorou horrores, obviamente.

Quando James já estava no terceiro ano e ela fora levá-lo até a Plataforma 9 ¾ no dia 1° de Setembro, Dorea não pôde deixar de notar a maneira como seu menino olhava de esguelha para uma família trouxa que estava parada perto deles. A bruxa tentou estreitou os olhos ao encontrar, parada no meio dos pais trouxas, uma menina ruiva que carregava, com alguma dificuldade, uma gaiola com uma coruja parda pequena e agitada. Desde então, a Sra. Potter decidiu manter aquela garotinha sob observação.

Nas próximas férias, seu filho deixou escapar o nome dela. Evans, Lily Evans. Charlus poderia estar ocupado demais perguntando sobre as partidas de Quadribol de James, mas Dorea percebeu como os olhos do garoto brilhavam a cada vez que ele mencionava a garota ruiva, nem que fosse apenas para comentar sobre como ela dissera que preferia beijar um trasgo a sair com ele.

Quando James entrou na Plataforma 9 ¾ para embarcar para o seu quinto ano, Dorea encontrou Lily Evans no meio da multidão novamente. Dessa vez a garota encarou seu filho com uma expressão séria no rosto e revirou os olhos quando ele sorriu de maneira divertida para ela. A bruxa se conteve para não rir ao ver como seu garoto conseguiu disfarçar a vergonha que obviamente estava sentindo no momento. Isso não se repetiu quando ela fora encontrar seu filho na plataforma já em Julho do ano seguinte. A menina Evans não olhou para James naquele dia. Na verdade, não olhou para ninguém, nem para o garoto meio desajeitado com quem Dorea percebera que ela sempre andava quando estava na plataforma.

Um marco nas observações da Sra. Potter foi o dia em que Lily Evans deu um meio sorriso para James quando ele a ajudou a colocar seu malão no Expresso de Hogwarts, no ano em que os dois completaram dezesseis anos. Quando James voltou para casa nas férias, não parava de falar da menina, coisa que rendeu vários xingamentos e cutucões por parte de seu amigo, Sirius Black, que parecia estar cansado de ouvir sobre como os olhos de Lily eram lindos e como ela ficava bonita sorrindo.

No ano seguinte, quando recebeu uma carta do filho dizendo que Lily Evans aceitara namorar com ele, Dorea não precisou estar olhando para o rosto dele para saber exatamente como ele estava. Sorrindo feito um idiota, muito provavelmente, e com um brilho animado nos olhos castanhos, expressão com a qual ele iria chegar em casa no próximo verão, contando para Deus e o mundo sobre o seu namoro e recebendo ainda mais cutucões de Sirius...

Dorea Potter sempre foi ótima em enxergar as coisas, mas essa expressão no rosto do filho ela nunca viu. Não por causa de sua miopia, mas por uma razão na qual nem um par de óculos pode dar um jeito.