Meu Namorado Infernal escrita por Mandy-Jam


Capítulo 44
Sorte minha


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo é muito tocante no final. Já vou avisando.



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Nós nos separamos devagar, e olhamos um para o outro. Ares desviou o olhar, e eu passei o punho pela minha boca, limpando-a.

- Gosto de uva? – Perguntou ele tentando não rir. Revirei os olhos, mas por incrível que pareça... Meu rosto não ficou vermelho.

- É. Você roubou meu vinho, lembra? Idiota. – Respondi voltando á andar para o quarto. Ares foi logo do meu lado – Não sei o que foi aquilo... Mas não muda o que eu disse antes. Eu ainda te odeio.

- Digo o mesmo, Filhinha de Hermes. – Respondeu ele – Aquilo também não muda o que disse antes sobre você.

- Para a sua informação, eu tenho planos para quando puder deixar você. Não que eles te interessem... Mas existem. – Disse com raiva.

- Tsc. Dessa eu duvido muito. – Disse Ares revirando os olhos.

- Vou embora. – Falei, e ele parou para prestar atenção em mim. Estávamos perto da piscina. Eu dei alguns passos, ficando na frente dele, e virei-me para poder olhá-lo enquanto falava – Eu já ia embora antes, de qualquer jeito. Eu... Ia com Apolo para Paris, mas agora eu vou sozinha. Talvez more lá. Talvez só conheça, mas...

- Viu? Não sabe o que fazer. Faz decisões ao acaso. – Disse ele com um sorriso triunfante.

- Eu pensei muito nisso, tá?! – Reclamei – Vou para longe de Jersey, longe do Apolo, e longe de você.

- Se é só nisso que você pensou, então acho que o seu cérebro não funciona bem. Ou... O álcool afetou ele, de modo que você não consegue lembrar nem do próprio plano. – Disse Ares rindo de mim.

- Cala essa boca. Eu lembro sim. E é esse. Eu vou embora. – Falei e virei-me para o quarto. Antes de começar a andar, Ares segurou minhas mãos. Eu virei novamente para poder olhá-lo, e quase tive um ataque do coração.

Ares fez um movimento, praticamente levantando todo o meu corpo e quase me jogando na piscina. Só que no último segundo, quando era para ele me largar, Ares me girou no ar fazendo eu parar no mesmo lugar que estava antes. Gritei assustada, mas quando parei na terra de novo agarrei sua jaqueta, assustada.

- O que você...? – Estava assustada demais para completar a frase. Ares começou a rir da minha cara, e pude notar mais uma vez que ele estava sobre o efeito dos copos de whiskey.

- Tinha que ver a sua cara! – Riu ele – Você saiu com a pose de “Eu faço o que quiser”, mas quando eu te assustei... Nossa! Isso tinha que ir para a TV Hefesto!

- Idiota. – Disse quase sem ar.

- O que disse? – Perguntou ele parando de rir. Ares fingiu fazer o mesmo de antes, e eu me agarrei a sua jaqueta. Ele parou e começou a rir ainda mais.

- Legal. Você está péssimo. – Disse eu largando ele e começando a andar até o quarto novamente – Sei muito bem que não vou sentir falta disso quando me mandar da sua casa.

- Ei! – Exclamou ele me seguindo. Eu cheguei até a porta do quarto, mas Ares me impediu de abri-la. Ele olhou para mim por um momento, em silêncio, mas depois sorriu – Não quero que vá embora.

Arregalei os olhos para ele.

- Ok... Você está muito bêbado mesmo. – Falei bem devagar – Ouviu o que acabou de dizer? Você disse que não quer que eu vá embora.

- Eu sei o que disse, Kelly. – Resmungou ele – Não me trate como um idiota, seu lesada. Eu disse que não quero que você vá embora, e é verdade.

- O que?! Mas... Você e eu nos odiamos! Como assim? – Perguntei sem entender – Você... Gosta de mim, ou coisa parecida agora?

- Claro que não! – Ares fez uma careta ao pensar na idéia – Eu só não quero que se mande da minha casa. É engraçado ter você por perto. Você é uma pessoa especial para mim. Quem mais serviria de saco de pancada? Quem mais eu poderia zoar por comer waffles e leite? Em quem mais eu poderia provocar um ataque de câimbras e rir?

- Aaaw, que lindo. Eu sou especial. – Disse fingindo estar emocionada – Relaxa. Você vai arrumar alguém novo para agüentar todos os tipos de torturas que você usa. Pode deixar. Só que esse infeliz não vai ser eu.

- Mas eu quero que seja você. – Disse ele ainda bloqueando a porta – E o que eu quero é lei.

- Isso é para que? Me assustar? – Perguntei cruzando os braços – Nós passamos todo esse tempo nesse hotel colocando o nosso plano em prática. De repente, depois de beber uma quantidade sobre humana de whiskey e vinho, você quer desistir de tudo?

Ele ficou em silêncio por um momento e pude notar que ele estava tentando se concentrar para dizer algo difícil. Ares abriu a boca inúmeras vezes, mas não pronunciou nenhuma palavra. Até que por fim conseguiu.

- Não quero desistir de você. – Falou ele desviando o olhar – Eu te odeio. Mas... É divertido irritar você. Gosto quando fica com raiva de mim. Gosto de ter você por perto para me distrair.

Fiquei realmente surpresa ao ouvir aquilo. Parte de mim sabia que ele só dissera aquilo por causa do álcool e tudo mais, mas... Outra parte de mim podia ver com clareza que ele estava falando a verdade. Do seu jeito irritante, ele estava sendo sincero.

Só que eu também estava afetada. Por isso... A minha reação foi encostar-me contra a parede ao lado da porta e olhar para Ares rindo.

- Olha... Eu não estou nem mais conseguindo ficar de pé direito. Deixa a parte do sentimentalismo para quando estiver sóbrio. Vamos... Abre a porta. – Disse depois de rir um pouco.

- Quem está sendo sentimental? – Falou ele com uma careta para mim – Isso é coisa do Apolo, não minha.

- Apolo... – Murmurei ao ouvir o nome. Ares revirou os olhos.

- Se isso te incomoda tanto... Esquece ele, droga. – Disse ele. Eu ri.

- Você quer que eu esqueça ele, porque você gosta de mim e me quer só para você, não é? – Falei rindo. Observação... Nunca beba mais de 15 copos de whiskey.

- Não tem nada de “gostar” nessa história! – Reclamou Ares abrindo a porta. Antes de entrar, porém, ele parou e olhou para mim mais uma vez. Pude ver que ele estava sendo sincero novamente – Tsc. Eu só não quero ter que dividir você com mais ninguém. Só isso. Isso não é gostar.

Com isso, ele entrou no quarto. Eu fiquei pasma por alguns minutos, em pé na porta. Acabei fechando-a e entrando no quarto também. Ares sentou-se (ou caiu. Não dá para saber a diferença) no chão e suspirou pesadamente, fitando o teto.

Franzi o cenho assim que vi seu braço.

- Espera... O corte no seu braço. O que o Jake fez com a espada. – Disse eu apontando para o braço dele. Ares olhou para mim, e depois para o machucado. Ele tirou a jaqueta de couro e viu que estava sangrando. Não muito, mas estava bem ruim.

- Nem tinha notado. – Falou ele, mas então ficou com raiva de repente, e soltou milhares de palavrões.

- O que foi? Está doendo? – Perguntei chegando perto.

- Não! É que aquele idiota me cortou no mesmo lugar você tinha cortado antes! Droga! – Reclamou ele – No mesmo lugar! Sabe como isso é uma grande falta de sorte?!

- Pode crer. Eu sei. – Suspirei e então fui até o closet – Eu vou dar um jeito no seu braço de novo.

- Vai tentar dar um jeito no meu braço depois de beber até não agüentar em um bar?! Se sóbria você quase me matou, o que vai fazer sobre o efeito de álcool? – Disse ele tenso.

- Vou pegar a serra elétrica ao invés da gaze. – Ri da minha própria piada. Abri a porta do armário e estiquei-me para poder alcançar a maleta de madeira. Quando a peguei, acabei ficando tonta e caí para trás.

- Não consegue nem ficar de pé, e ainda quer tentar me ajudar? – Perguntou Ares tentando não rir – Idiota.

- Pode ser... Mas você gosta de mim desse jeito. – Comentei olhando para ele e me levantando.

- Nem pensar. Agora vem logo, Kelly. Antes que eu durma aqui. – Resmungou ele estendendo o braço para mim.

Sentei do lado dele e comecei a ajeitar o machucado. Ele desviava de mim o tempo todo, e contando o fato de eu ainda estar com os reflexos afetados, o trabalho de curar o ferimento se tornava cada vez mais difícil.

- Para! Você parece uma criança! – Reclamei tentando novamente, mas ele desviou – Ares!

- Nunca sei se você vai piorar a minha situação ou coisa do tipo. – Resmungou ele desconfiado – Quer se vingar de mim, não é?

- Quero. – Confirmei dando um soco na perna dele, mas aquilo não doeu. Ares olhou para a perna sem entender e eu aproveitei o tempo para limpar o ferimento. Ele nem mesmo sentiu quando eu passei a gaze com soro fisiológico pelo corte. Eu o enfaixei como fiz da última vez, e estava pronto – Terminado. Agora você pode... Ahm?

Ares olhou para o braço agora ajeitado, e deitou-se. Mas... Com a cabeça no meu colo. Olhei para ele sem entender, e fiquei ainda mais surpresa com o que ele disse.

- Ás vezes... Em ocasiões bem raras e remotas... Eu tenho sorte de ter você. – Comentou ele de olhos fechados. Ele ajeitou sua cabeça no meu colo e caiu no sono.

- Ares...! – Não terminei a frase, pois não quis acordá-lo. Estava tão ruim quanto ele. Ainda tinha cortes no meu rosto, e nos meus braços, e eu não tinha nenhuma Alice Kelly para cuidar deles para mim. Muito menos um Apolo. Eu mesma os limpei, e chutei a caixa de madeira para perto da cama. Estiquei o braço e peguei um cobertor que estava no chão.

Eu me lembrei dele. Tinha dado á Ares para que ele dormisse. Um ato de gentileza de minha parte, por ele ter sido gentil e me dado a cama.

Dessa vez eu o dividi entre mim ele. O cobertor cobriu parte da barriga de Ares, e os meus pés. Não era a melhor coisa do mundo, mas eu também não ia notar isso. Tinha bebido o suficiente para não sentir nem mesmo uma bala de canhão sendo atirada contra mim.

- Boa noite. – Murmurei.

Ares se ajeitou sobre a minha perna.

- Boa... Noite. – Murmurou ele.

Abri os olhos devagar. O quarto estava um pouco claro. Já deveriam ser umas 10 da manhã, no mínimo. Uma forte dor de cabeça me atingiu assim que meus olhos se abriram, e eu sabia que aquilo era reflexo da minha noite no bar.

- Uhm... – Gemi pondo a mão sobre minha cabeça. Olhei em volta para ver como o cenário estava, e notei uma coisa. Eu estava dormindo ao lado de Ares, e minhas duas mãos estavam sobre o seu peito bem definido e malhado. Meu rosto ficou vermelho, mas eu não fiz nenhum movimento brusco.

Tirei a minha mão direita de lá, já que a outra já estava em minha cabeça, e tentei levantar, mas Ares virou-se de repente, e agarrou minha cintura. Ele ainda estava dormindo, mas podia notar um sorriso maldoso em seu rosto.

Devia estar sonhando com alguém sofrendo, ou com alguma luta livre que vira na televisão. De qualquer modo... Eu tentei tirar suas mãos de mim, mas não queria de jeito nenhum acordá-lo.

Desviei dele, e quando finalmente consegui me livrar... Fiquei de pé. Só que bateu uma enorme náusea em mim, de modo que eu tive que sair correndo para o banheiro.

É. Você entendeu o que eu fui fazer lá.

Quando abri a porta, cerca de uns 30 minutos depois, Ares estava em pé logo na minha frente. Ele ainda estava com um ar de sono. Com um bocejo alto, ele começou a falar comigo.

- Você está pálida. Está tudo bem? – Perguntou ele sem muito interesse.

- Está. Eu só acabei de vomitar o meu fígado fora. – Comentei saindo do banheiro e indo em direção ao closet. Ares riu um pouco, mas continuou parado no mesmo lugar – Eu... Não devia ter ido para aquele bar.

- Se não fosse... Eu não teria a minha espada. – Comentou Ares – Bem... Na verdade teria, pois eu daria um jeito de consegui-la depois. Mas... Não tão rápido, eu acho.

- Vou encarar isso como um agradecimento. – Disse olhando as roupas do armário.

- Não encare. Não devo nada á você, muito menos um agradecimento.

- Ótimo. Você está voltando á ser você mesmo. Pensei que ia continuar como o cara sentimental de ontem a noite para sempre. Fiquei assustada por um segundo. – Brinquei rindo um pouco, mas me virei e vi que Ares estava logo atrás de mim.

Ele segurou o meu queixo com a mão esquerda e apoiou a mão direita na soleira da porta do armário. Parei ainda segurando as roupas que tinha escolhido para o dia, e estreitei os olhos para ele.

- Deixa eu explicar uma coisa. Aquele lance de... “Tenho sorte de ter você”, “Não quero dividir você com mais ninguém”, e... “Não quero que você vá embora”... Não querem dizer que eu gosto de você, entendeu? Não pense que eu vou parar de te infernizar nem por um mísero segundo só porque eu bebi e falei demais. – Falou ele olhando fixamente para mim.

- Você podia ter dito “Porque eu bebi demais e falei besteira”, mas... – Comentei olhando para ele. Ares parou para pensar por um minuto, mas acabou negando com a cabeça – Bem... Você que falou desse jeito.

- Eu te odeio. Continuo te odiando, e sempre vou te odiar. – Insistiu ele.

- Da última vez que falamos isso, nós dois... – Ia dizer que nos beijamos, mas resolvi deixar o resto da frase incompleta.

Ares parou o dedão dele sobre os meus lábios, e continuou olhando para mim.

- Se manda... Cherry Bomb. – Disse ele saindo da minha frente. Eu passei por ele e fui até o banheiro trocar de roupa.

Assim que terminei, nós fomos andando até o restaurante. Depois de pegar a comida, nós nos sentamos á uma mesa mais longe das pessoas, para que pudéssemos comer em paz.

- Waffles e leite. – Comentou Ares olhando para o meu prato – Filhinha de Hermes...

- Lá vai você de novo. – Revirei os olhos. Embora Ares continuasse implicando comigo, e comendo como um animal, eu comecei a me lembrar do que tinha acontecido ontem. Mas especificamente do que ele tinha dito para mim.

Olhei para ele distraída, e com o cenho levemente franzido. Ares estava matando um hambúrguer enorme, mas parou quando viu que eu o observava.

- Que foi? – Perguntou de boca cheia.

Pisquei os olhos voltando ao normal. Não estava certa se devia perguntar aquilo, mas...

- Você não quer que eu vá embora? – Perguntei olhando para ele. Ares abaixou o hambúrguer, surpreso, e engoliu o que estava em sua boca.

- Eu... Eu quero. – Respondeu hesitante. Ele riu forçadamente, e depois desviou o olhar de mim – Por que acha que não?

Fiquei em silêncio por alguns instantes.

- Sabe... Eu vou embora. – Comentei olhando para os meus waffles – Sei lá para onde, mas... Eu vou.

Ares ficou em silêncio por alguns minutos. Não sei porque, mas eu estava me sentindo um pouco triste por falar aquilo. Não por deixar ele, mas... Não sei.

- Ótimo. – Disse ele bem devagar – Se é o que você quer... Vai.

Assenti e nós voltamos a comer em silêncio.


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Notas finais do capítulo

Aaaw, duvido que alguém não tenha ficado comovido com isso.

Alice vai embora, e vai deixar, não só o Ares, mas o Apolo também. Ou será que não?

Veremos nos próximos capítulos!

Ah! Vou avisando... Essa fic está chegando próxima ao fim. Mas não se preocupem. Como a autora (leia-se eu) é muito boazinha... "Meu namorado infernal" terá uma continuação!

Espero por reviews!