Meus pés estavam me matando, mas mesmo assim continuei correndo, esbarrando nas pessoas da minha frente, á procura de Apolo.

Se ele estava ali, era porque ele não estava mais com raiva de mim. Talvez ele precisasse mesmo de um tempo para pensar melhor nas coisas. De qualquer jeito... Ele estava ali, e era aquilo que importava.

Subi as escadas laterais do salão, driblando as pessoas na minha frente, e parei assim que cheguei ao segundo andar. Olhei em volta, procurando algum sinal de Ares. Ele tinha ficado para trás. Ótimo.

Eu comecei a andar com mais calma para o outro lado do andar, quando vi Apolo parado alguns metros á frente. Ele olhava distraído para o andar debaixo, mas quando sentiu que eu o observava, olhou em minha direção.

Ele abriu um sorriso espontâneo, mas logo depois o diminuiu. Eu fiz o mesmo.

- Você ainda gosta de mim? – Perguntou ele duvidoso e inseguro.

- Eu sempre vou gostar de você. – Respondi, e comecei a andar em sua direção. Não agüentei só andar, por isso comecei a correr. Quando cheguei á sua frente, Apolo segurou minha cintura e me levantou no ar, girando-me. Me colocou no chão e deu um passo para o lado. Tinha uma pilastra ali, que serviria para nos esconder.

Nós nos beijamos e nos abraçamos.

- Desculpe. – Disse ele afastando os lábios dos meus – É só que... Não consigo me controlar. Eu... Sou muito ciumento, não sou?

- É. É sim. – Confirmei, mas então o beijei de novo – Mas eu te desculpo. Eu senti a sua falta, Apolo.

- Achei que não ia ligar se eu fosse embora ou não. – Comentou ele, mas então me beijou de novo – Ainda bem que eu estava errado.

Nós continuamos nos beijando, e então Apolo cochichou em meu ouvido.

- Vamos fugir para um lugar mais calmo. – Sussurrou ele. Eu não pude deixar de sorrir. Apolo beijou o meu pescoço, e se afastou com dificuldade. Ele segurou a minha mão e saiu me puxando para longe.

POV Ares.

Procurei em todos os malditos lugares daquele salão, mas não conseguia achá-la. Tentava ouvir o que os homens de lá estavam falando. Se algum deles comentasse sobre Alice, talvez... Mas não. Ela tinha sumido mesmo.

Será que ela teria saído de lá? Deixado a festa?

Olhei para cima, cansado, e acabei achando a resposta para a minha dúvida. Apolo estava correndo segurando a mão de uma garota. A garota corria logo atrás dele com um sorriso no rosto. Alice.

Tive vontade de arrancar o pescoço dos dois fora, mas preferi subir as escadas e segui-los. Assim que cheguei ao segundo andar, andei em direção á eles. Os dois estavam parados em uma parede longe de todo mundo. Apolo sussurrava algo em seu ouvido, e Alice ria eventualmente.

O certo seria ir até lá e acabar com a alegria dos dois, mas algo me impediu. Quando os vi juntos, eu parei de andar e resolvi só observar um pouco.

Apolo, de brincadeira, puxou um pouco seu vestido para cima, e Alice lhe empurrou para trás. Seu rosto ficou um pouco vermelho, mas ela riu. Apolo empurrou-a contra a parede e beijou-a. Ela retribuiu o beijo, e os dois se afastaram um pouco.

Alice olhou para os lados e fez “Sh” para ele. Apolo concordou e abriu uma das portas que tinha pelo corredor. Ele entrou e puxou Alice com sigo. Ela fechou as portas, e eu quis esmurrar alguém.

Não sabia porque, mas do nada eu queria quebrar a cara do Apolo. Me sentia completamente passado para trás. Quem ele pensava que era para aparecer e estragar tudo?! Idiota! O meu plano...! A Alice...! Não. Não ela. Só o plano. Não me importava com o que ela fazia.

Fui até a porta e notei que ela tinha uma brecha. Não me sentia bem fazendo aquilo, mas antes que pudesse me impedir, eu já estava olhando.

Era uma sacada, um tipo de varanda enorme, com uma espécie de divã preto. Alice estava sentada nele, e Apolo foi para perto.

Eles se beijaram e riram. Apolo sentou-se ao lado dela e a abraçou. Mesmo da porta, dava para ouvir o que eles falavam.

- Não quero te perder. Não mesmo. – Disse ele.

- Então não vai embora. – Respondeu Alice beijando a bochecha dele.

- Seu desejo é uma ordem. – Sorriu ele.

Apolo jogou-se para trás e continuou a beijá-la. Alice caiu por cima dele, mas não se separou do beijo. As mãos de Apolo escorregaram para sua cintura, e Alice segurou seu rosto com as mãos.

Abri a porta bem devagar, e eles dois não notaram isso. Andei calmamente para perto deles e puxei Alice pelo braço. Fiz com que ela caísse no chão, o que provocou um grande susto nela.

- Ai! O que...?! Ares! – Exclamou ela olhando para mim do chão.

- Falei para não fugir de mim. – Disse estreitando os olhos para ela. Apolo piscou tentando entender o que tinha acontecido, mas quando me viu revirou os olhos.

- Ah, você tinha que aparecer logo agora?! – Perguntou ele se levantando.

- Humpf. Acredite. Eu podia ter aparecido em hora pior. – Falei olhando para Alice e depois para ele. O rosto dela ficou completamente vermelho ao entender o que eu tinha dito, e acabou se levantando – Agora que está de pé... Vamos. Temos que voltar para a festa, antes que eles descubram que vocês dois estavam juntos.

- Você nunca vai me deixar em paz, não é? – Perguntou ela cruzando os braços. Eu assenti com um sorriso forçado, e ela suspirou. Alice olhou para o Apolo – Nós nos vemos daqui a pouco.

- Pode apostar. – Sorriu ele, e depois fez uma careta para mim.

- Daqui a pouco... Humpf. Não se eu puder impedir. – Disse puxando ela para fora daquela sacada.

Nós dois descemos as escadas novamente e voltamos para a mesa. Nem todos os Deuses ainda estavam lá. Só Atena, Poseindo, Hades, Deméter e Hefesto.

- Onde está Afrodite? – Perguntei franzindo o cenho.

- Foi dançar com alguém por aí. – Respondeu Hefesto sem se importar.

- Se fosse comigo você estaria me perseguindo. – Comentei de mau humor, mas não estava me importando muito para o que Afrodite estava fazendo. Hefesto riu, e depois olhou para Alice, que se sentava logo ao meu lado.

- É por isso que gostei de você. Pode ter terminado com a audiência de um programa da TV Hefesto, mas pelo menos a minha esposa fica longe dele. – Comentou Hefesto sorrindo, mas logo depois franziu o cenho e coçou um pouco sua barba – Ainda acho que com as peças certas...

- Ela não é um robô, seu idiota. – Resmunguei.

Hefesto deu de ombros e voltou a mexer com as peças em sua mão. Alice olhou em volta e depois mexeu no cabelo. Estava um pouco bagunçado, porque eu a empurrei para trás, mas continuava bom.

Um garçom passou com champanhe, e ela pegou uma taça. Eu peguei uma também, mesmo preferindo vinho tinto. Poseidon e Atena discutiam sobre alguma coisa, mas eu não estava ouvindo.

Sem nem mesmo perceber, eu acabava sempre olhando para Alice. Ela bebia o champanhe com goles lentos, e olhava para os outros Deuses com um sorriso leve.

- Gosta de ficar aqui? – Perguntei distraído. Ela olhou para mim, mas depois assentiu dizendo que sim – Por quê? Eles são bem chatos.

- Eu não acho. Gosto deles. – Disse ela encolhendo os ombros. Alice deixou-se afundar na cadeira e continuou quieta observando a conversa deles. Não pude deixar de notar o jeito que ela sorria para a cena. Era tão estranho! Mas ao mesmo tempo, era engraçado.

- Vem. Vamos andar. – Falei levantando da mesa – Antes que Hera volte, e fique me enchendo o saco falando de casamentos.

- Ah... É... Espera... Eu... – Alice tentou continuar sentada, mas eu a puxei. Ela acabou tendo que me seguir, mesmo sem querer – Ares, para! Espera um minuto!

- O que foi?! – Perguntei virando-me para ela. Foi aí que notei algo engraçado... Alice estava mais baixa. Franzi o cenho para ela, e pude ver seus olhos procurarem em volta – Você... Tirou os sapatos?

- Eu tirei os sapatos, porque os meus pés estavam doendo. – Respondeu ela envergonhada. Ela olhou para a mesa novamente e começou a andar até lá.

- Que tipo de garota não agüenta ficar de salto alto? – Perguntei tentando não rir. Ela foi até a mesa, e colocou os sapatos novamente, ganhando um pouco mais de altura.

- O tipo de garota que tem o seu pé esmagado pelo Deus da guerra. – Respondeu ela.

- Podia ter feito pior. – Comentei. Puxei-a novamente para longe daquela mesa, e dessa vez ela não reclamou. Simplesmente se deu por vencida, e continuou andando comigo. Ela olhava em volta o tempo todo, provavelmente procurando Apolo, o que começou a me irritar – Quer parar com isso?!

- Parar com o que? – Perguntou ela sem entender.

- Apolo não vai ficar com você hoje á noite. Esqueça. – Falei. Alice revirou os olhos, e começou a andar em outra direção. Segurei-a pelo braço antes que fugisse de mim novamente – Onde pensa que vai?

- Me solta! Está me machucando. Eu só vou pegar alguma coisa no buffet! – Reclamou ela. Como o buffet era logo ali na frente, resolvi soltar seu braço e deixá-la ir.

- Escute. Se tentar fugir, eu te carrego até aqui novamente. E eu não estou nem aí se todos os caras desse salão vão parar para olhar você sobre o meu ombro. – Falei em um tom calmo e baixo. Alice estreitou os olhos para mim e assentiu. Ela virou-se e foi até a mesa do buffet. Fiquei parado observando.

POV Alice

Cheguei a mesa do buffet feliz por finalmente ter um momento para respirar longe de Ares. Olhei para a comida na mesa, e depois para as pessoas em volta, até que meus olhos encontraram Apolo. Ele estava encostado á uma pilastra. Eu sorri querendo acenar para ele, mas me detive quando uma garota parou para falar com ele.

Apolo disse algumas coisas, ela também. Apolo assentiu com a cabeça, e depois a garota o beijou. Fiquei completamente imóvel. Parecia que ela tinha acabado de afundar uma adaga no meu peito.

Desviei os olhos para a comida, mas não estava mais com fome. Virei-me e fui na direção que Ares estava antes. Uma multidão passou de um lado para o outro, e acabei perdendo ele de vista.

- Alice. – Disse a voz de Apolo. Senti suas mãos tocarem meu ombro, e me virei. Apolo sorriu para mim normalmente, como se nada tivesse acontecido. Provavelmente não tinha visto que eu o vi – Ainda bem que te achei. Vem comigo antes que ele nos veja.

Resolvi que não ia dizer nada. Talvez ele fosse me contar. Eu o segui até o segundo andar novamente. Nós paramos perto de uma das pilastras de novo, e um garçom passou com champanhe. Eu peguei uma taça e olhei para Apolo esperando.

- Ele estragou nossa diversão na melhor parte. – Comentou Apolo olhando para mim.

- Aposto que essa festa está muito divertida. – Sorri forçadamente. Apolo assentiu com um sorriso natural.

- Aham. Está sim. – Confirmou ele alisando meu rosto – Ainda mais quando fico perto de você.

- Aposto que você não tem trabalho para arrumar diversão. – Disse desviando o meu rosto quando ele foi me beijar. Apolo afastou-se de mim e franziu o cenho sem entender.

- Alice... O que houve? – Perguntou ele.

- Não houve nada. – Falei olhando para o champanhe, e então sorri para ele – Sabe o que seria legal?

- O que? – Quis saber ele com um sorriso de volta no rosto.

- Se você me dissesse o nome da sua outra... Musa. – Falei sorrindo.

- Eu... Não tenho outra musa. – Respondeu ele franzindo o cenho – June foi embora. Já não disse isso?

- Disse. Mas não disse o nome da garota que te beijou agora pouco. – Falei respirando fundo. Era para eu estar com raiva, ou ofendida. Mas... Eu só estava me sentindo muito triste. Como se acabasse de receber a notícia mais deprimente do meu dia – Então? Qual é o nome dela? Lindsey, Gabriele, Stephane...?

- Ela não... – Apolo ficou sem palavras – Eu não estava... Com ela.

- Ah não? Que pena. Teria sido uma linda cena romântica. – Disse desviando o olhar – Ela apareceu do nada, te beijou, e foi amor á primeira vista.

- Não é nada disso! Ela me beijou sim, mas eu disse que já estava com você. Aí ela foi embora. – Contou ele, mas eu neguei com a cabeça e desviei o olhar novamente. Apolo puxou meu queixo em sua direção – Alice, você não está me entendendo. Eu já disse que não vou e nem estava com ela. Só com você. Pare de pensar mal de mim.

Eu ri sem querer, e Apolo ficou sem entender.

- Você não está vendo como isso é errado? – Perguntei e ele negou sem entender – Você morreu de ciúmes porque achou que eu estava gostando do Ares, mas agora que uma garota estranha aparece para te beijar, eu tenho que esquecer isso e fingir que nada aconteceu?! Claro! Seria muito egoísmo da minha parte não querer que você saía com várias outras garotas, já que você é o Apolo. Mas não tem nada de errado em você me querer só para você.

- Não é nada disso! Eu não estava com ela, mas você...! – Eu o interrompi.

- Eu estava com você! Eu sempre estive com você, mas eu não posso esperar o mesmo, não é? – Falei saindo de perto dele. Apolo me seguiu.

- Você reclamou tanto dos meus ciúmes, mas está agindo ainda pior! – Exclamou ele. Eu me virei.

- Pior?! – Repeti olhando-o nos olhos – Você tem realmente a coragem de dizer que eu estou agindo pior que você? Eu não beijei ninguém na sua frente, e nem tive ataques de ciúmes por causa de suposições idiotas!

- Você estava com ele na minha frente! Ele te mandou segui-lo e você foi! – Exclamou Apolo se irritando – O que mais vocês dois fizeram?!

- Eu não fiz nada, mas agora me arrependo muito disso! – Exclamei com raiva.

- Se arrepende?! – Repetiu ele – Ouviu bem o que disse?! Alice, você não é dele, é minha!

- Sim! Eu ouvi, sim! E quer saber?! Queria ter feito algo para poder jogar na sua cara, que eu não sou um objeto. Eu não sou sua Alice para você poder fazer o que bem entender. Não sou nenhum tipo de troféu, e me incomoda que você continue pensando assim! – Exclamei virando-me e indo embora. Apolo segurou o meu ombro, e eu lancei todo o champanhe do copo nele – Um brinde para você. Te desejo uma boa diversão.

Apolo ficou parado, enquanto eu saí o mais rápido que pude de lá. Não queria mais ficar naquela festa de jeito nenhum. Descia as escadas, e desviei de alguns homens que tentaram me parar.

Depois de percorrer um bom caminho, acabei esbarrando em alguém.

- Você está bem? – Perguntou Ares olhando para mim.

Olhei para ele de volta, mas pude notar que eu não parecia nem um pouco bem, só pelo jeito que ele me olhou.

- Estou. Me deixa em paz. – Falei indo para longe. Ares falou alguma coisa, e podia jurar que ele estava tentando me seguir, mas eu fui mais rápida e saí daquele salão.