POV Ares

- Você só pode estar brincando... A festa vai ser naquele salão?! – Exclamou Alice ao ler o folheto. Eu assenti sem animação nenhuma – Eu... Não tenho uma roupa para ir nesse lugar.

- Tsc. Quem liga? – Resmunguei – Acha que eu tenho um smoking ou coisa parecida? Vai sonhando.

- Mas... – Alice olhou em volta. Nós estávamos perto da piscina, quase chegando ao quarto. Algumas pessoas estavam na beira da piscina, enquanto outras estavam sentadas ás mesas conversando – Todo mundo vai estar arrumado. Se eu for com calça jeans ou coisa parecida, vai ser ridículo.

- Como se eles não fossem olhar para você de qualquer jeito. – Falei revirando os olhos – Você sabe que não tem jeito, e que vai ter que ir. Agora... Dá seu jeito.

Alice parou na minha frente impedindo-me de continuar andando. Ela cruzou os braços e olhou para mim.

- “Dá seu jeito”. Claro. Isso é fácil, não é? – Falou ela. Eu estava pronto para dizer alguma coisa, quando vi algo nada agradável. Ela notou isso, e franziu o cenho para mim – O que foi?

- Desgraçada...! – Engoli o resto da frase. Atrás de Alice, bem lá no fundo, estava Afrodite. Mas o problema não era ela estar lá, e sim estar lá acompanhada. Alice olhou para trás, mas eu puxei-a para frente novamente – Não encare!

- E o que você está fazendo? – Perguntou ela erguendo uma sobrancelha para mim. Soltei um suspiro tenso, e tive uma idéia. Tinha uma mesa logo do nosso lado. Eu sentei-me de costas para a direção onde estava Afrodite e ele, e fiz Alice sentar-se na cadeira da minha frente – Ares, quem...? Ah. Eu vi.

- Todos os homens do mundo. – Comentei, e Alice olhou para mim sem entender – De todos os homens do mundo, ela poderia pegar qualquer um. Mas não. Ela preferiu vir até aqui com ele só para jogar isso na minha cara. Ela quer que eu vá lá e arrume uma grande briga.

- E é claro que você não vai fazer isso. – Falou ela esperançosa, mas eu não estava assim tão certo. A mera presença dele já me dava ódio. Ela olhou para mim insegura, e depois olhou por cima do meu ombro – Eles... Só estão conversando.

- Ah, é? Conversando... Ok. – Repeti tentando manter a calma e a paciência. Uma briga era o que ela queria, mas eu não ia fazer aquilo. Não. De jeito nenhum. Continuei olhando para Alice, tentando ver o que eles estavam fazendo pelo seu rosto – O que mais? O que eles estão fazendo agora?

- Ares... – Ele olhou para mim como se fosse melhor eu não saber, o que me deixou com mais raiva.

- Responde. – Exigi, e Alice assentiu devagar.

- Ela... Abraçou ele. – Contou Alice. Ela continuou olhando por cima do meu ombro, e pude ver o exato momento em que ela franziu o cenho para a cena.

- O que foi?! O que foi agora?! – Quis saber.

- É sério... É melhor você esquecer... – Eu neguei com a cabeça, e ela se deu por vencida – Não faça nenhuma besteira, certo? Ela está beijando a bochecha dele.

- Continue falando. – Pedi – Vai.

- Ela está alisando o cabelo dele... – Contou Alice desviando o olhar ás vezes. Ela continuou falando um pouco, até que chegou uma hora que ela ficou muda.

- O que?! – Perguntei.

- Eles... Se beijaram. – Contou ela hesitante.

- Onde?! – Perguntei.

- Ahm... Na boca. – Contou ela parando de olhar.

- Como?! Ela que beijou ele primeiro, ou ele que...?! – Alice me interrompeu.

- Ares, isso é doente! Eles se beijaram e pronto. – Falou ela.

- Pronto nada! E doente é ela ser casada com ele! – Exclamei irritado. Eu me levantei da mesa, e comecei a andar até lá. Alice correu para a minha frente e tentou me impedir.

- Ares, pensa bem! Esfria a cabeça! Eles são casados! Você sabe muito bem que eles fazem isso...! – Eu parei de andar e ela parou também. Afrodite sentou-se no colo dele, e Hefesto fez uma cara de tédio. Quis dar um soco nele por ficar com ela mesmo não querendo bem na minha frente. Queria tanto dar um soco que... – Você sabe muito bem que ela só quer...!

Alice não terminou a frase. Sem conseguir me controlar, acabei socando-a, e ela caiu no chão bem aos meus pés. Demorei alguns segundos para me tocar do que tinha feito, mas quando vi fiquei sem saber o que dizer.

- Foi...! Por que...? Por que você ficou na minha frente?! – Exclamei me sentindo culpado mais uma vez. Alice continuou no chão, o que me preocupou. Eu me ajoelhei e fui ver se ela estava bem, mas assim que toquei em seu ombro, ela empurrou minha mão para longe debilmente e começou a se levantar devagar.

- Eu... Estou bem. – Disse ela friamente. Pude notar que ela estava sem fôlego, e que tinha ambas as mãos sobre a costela esquerda. Ela respirava pausadamente, e gemia de vez em quando.

- Foi sem querer. É só que ela...! – Minha raiva tinha voltado.

- Já disse que estou bem. – Cortou ela. Alice olhou para mim – Você realmente quer fazer isso? Ir lá e tirar satisfação com Hefesto? E depois? Você não está vendo? Ela quer que você vá lá e faça isso só para poder te dar um chute no traseiro depois. Quer fazer você sofrer, por isso está beijando ele na frente de todo mundo. Não... Não caia nessa.

Olhei para ela. Kelly podia ser bem lesada ás vezes e agir como uma pirralha infantil, mas ela sabia pensar. Estava realmente na cara que Afrodite só queria me dar um chute, e se não fosse por Alice (nunca vou admitir isso em voz alta) eu deixaria minha raiva tomar conta de mim e iria começar uma bela briga.

- Você é muito idiota. – Murmurei olhando para a costela que eu provavelmente tinha quebrado – Tinha que se meter na minha frente... Vamos. Eu te ajudo a levantar.

Ela revirou os olhos, mas aceitou a ajuda para levantar. Alice ajeitou sua postura de modo que a dor não fosse muito grande e continuou a andar em direção ao quarto. Eu abri a porta e ela entrou.

Se Afrodite achava que eu ia ficar correndo atrás dela, então achou bem errado. Queria me fazer sofrer, mas eu não ia cair no seu jogo. Estava cansado de muitas atitudes dela, e uma delas era seu jeito manipulador e egoísta.

- Ainda... Não tenho roupa para ir. – Comentou Alice sentado-se na cama.

- Quer parar de falar nisso? – Falei revirando os olhos. Eu fui até a porta do closet e o abri para ver se aquela caixa de primeiro socorros ainda estava lá, e quase levei um susto – O que é isso?!

- O que? – Perguntou Alice levantando da cama e indo até mim. Ela arregalou os olhos para o closet, tampou a boca com uma mão – Eu odeio ela.

- Bem... Problema resolvido. – Comentei sem saber o que dizer.

- Ninguém merece... – Resmungou ela entrando no closet – Olha só isso! Parece que tudo isso foi feito á mão para mim! E... Esses aqui para você.

Olhei para o canto no closet que Alice apontara. O armário estava cheio de vestidos de festa de todas as cores e tamanhos. Em uma estante tinham centenas de saltos altos diferentes, mas no canto direito do closet... Estava a coleção se smokings mais feia que eu já vi.

Alguns eram coloridos, outros listrados... Todos horríveis. Além de me infernizar, ainda queria me fazer parecer um retardado. Que lindo...

- Não vou para essa festa parecendo um palhaço de circo. – Resmunguei.

- Prefere ir como um palhaço, ou como um mendigo? – Perguntou Alice tentando não rir ao olhar para mim. Eu ainda estava com as roupas sujas de lama, e um pouco molhado. Olhei novamente para Alice e vi que ela tinha pego um dos smokings – Olha... Esse aqui não é tão ruim assim.

Até que ela tinha razão. O smoking que ela estava segurando era todo preto. A única coisa estranha nele, era que a camisa por baixo era vermelha. Ia parecer um dançarino de Jazz com ele, mas era melhor do que um palhaço de festa.

- Ok... Pode ser esse mesmo. – Resmunguei pegando-o da mão dela. Alice voltou-se para os vestidos que tinham ali, e olhou um por um.

- A maioria tem um decote em V enorme. – Comentou ela avaliando os vestidos – E os outros são curtos demais. Uhm... Tem também os justos demais.

- Ela fez o que mais? Alterou todas as sua lingerie? – Comentei rindo.

- Não vou nem responder... – Resmungou ela.

- Espera. Ela mudou mesmo?! – Exclamei olhando para Alice. Ela fez uma careta para mim, e jogou um dos saltos altos da prateleira na minha direção. Eu desviei a tempo.

Alice virou-se novamente para o armário, e analisou os sapatos. Tinha certeza de que ela estava fazendo caretas para eles.

- Não sei porque ter centenas de pares de sapatos, se eu só tenho 2 pés. – Comentou ela.

Arregalei os olhos.

- Você está brincando. – Falei surpreso.

- Ahm... Me desculpe se você é um consumidor em massa e eu te ofendi. – Disse ela fazendo um sinal de “eu me rendo” com as mãos.

- Não, idiota! É que...! Ah, esquece. – Falei virando-me e indo sentar-me na cama. Aquilo era impressionante. Eu passara a minha vida inteira falando para Afrodite aquela mesma frase!

Ela comprava sempre milhares de sapatos que nunca nem chegava a usar, e eu falava que aquilo era perda de tempo e dinheiro, porque ela só tinha dois pés. Mas ela nunca me ouvia. Ouvir a Filhinha de Hermes falar aquilo para mim foi algo surpreendedor.

Depois de alguns minutos olhando as roupas, Alice pegou um vestido (que eu nem olhei direito) e foi para o banheiro tomar um banho. Estava tão distraído com a idéia dela ter dito aquela frase, que nem notei que ela tinha me passado a perna. Era eu que estava imundo, e ela que ia tomar banho primeiro?! Malandra...

Alice tomou o banho e saiu do banheiro com um roupão grosso de aparência macia. Disse que ia trocar de roupa enquanto eu tomava meu banho, pois não queria que a cama inteira ficasse suja de lama.

- Sou eu que vou dormir nela hoje mesmo. – Comentei entrando no banheiro, mas antes de fechar a porta... – E sozinho!

Tá. Aí que fechei a porta.

Eu terminei o meu banho e vesti o smoking menos estranho do armário. Até que não tinha ficado tão ruim assim. Alice tinha um pouco de bom gosto... Opa. Não. Não tinha não. Ela só escolheu aquele por sorte, claro. Bom gosto... Até parece.

Terminei de me arrumar e abri a porta do banheiro.

- São 7 horas. Se você não estiver pronta, eu não vou...! – Fiquei mudo. Não terminei a frase, pois acabei me surpreendendo quando vi Alice.

Ela estava usando um vestido branco com um decote redondo, mas que não mostrava quase nada. O vestido era marcado logo uma mão abaixo dos busto, fazendo o resto do tecido ficar solto e largo até os joelhos.

O cabelo dela estava jogado para o lado de modo ligeiramente charmoso. Ela não parecia estar usando maquiagem, mas também nem mesmo precisava. Ela estava usando uma meia calça preta, porém seus pés ainda não calçavam um salto alto.

- Não vou demorar. – Respondeu ela revirando os olhos, e então notou que eu estava parado olhando ela – O que foi? Alguma coisa errada?

A surpresa ainda era tanta que eu demorei alguns segundos para me tocar que ela estava falando comigo.

- Não. É só que... Tente não demorar uma eternidade naquele closet, escolhendo sapatos, ok? – Falei fingindo estar impaciente. Alice engoliu essa, e revirou os olhos.

- Eu não vou demorar, ok? – Resmungou ela – Já estou indo.

Não demorou muito mesmo. Ela pegou um salto alto branco (não muito alto), e saiu comigo do quarto. Nós andamos até o salão, e pudemos ver que vários casais também estavam indo para lá.

Todas as mulheres estavam lindas, mas... Nada comparado ao jeito simples e inocente de Alice. Ela parecia extremamente delicada, e aquilo me deixou surpreso. Nunca pensei que ela pudesse ficar bonita desse jeito.

Ok... Ela estava ótima quando estava só de biquíni. Também não estava nada mal quando estava usando só a minha camisa quadriculada. Mas aquilo era diferente. Não era ela de um certo modo.

Mas naquele momento, ela estava como ela mesma. Pude notar que na parte de trás do vestido, bem na parte que ele era mais justo, tinha um laço pequeno.

- Vamos... Entrar? – Perguntou ela.

- Ahm? O que? – Perguntei piscando os olhos – Ah. Sim. Ficar parados aqui na porta é que não vamos, não é?

Nós tínhamos chegado á porta do salão. Pude ver pelas janelas altas que Poseidon estava lá dentro. Provavelmente outros Deuses também estariam, então...

- Segura o meu braço. – Falei fazendo um gancho com ele.

- Por quê? – Perguntou ela sem entender.

- Eles podem olhar. Segura. – Expliquei desviando o olhar. Ela segurou o meu braço, e nós entramos no salão. Várias pessoas estavam ocupando o espaço da pista de dança (dançando valsa), enquanto outras estavam sentadas ás mesas conversando. Aquilo me lembrava muito os bailes de mascaras da Europa. Inglaterra, França, Itália... Mas nos tempos mais antigos.

Nós descemos a escada principal e pude ver que vários homens pararam para olhar para ela. Até quando aquilo ia durar?! Que saco!

- Qual o nome dela mesmo? – Murmuravam algumas vozes.

- Não sei... Mas ela é linda. – Comentavam outras.

- Alice. Acho que é Alice. – Comentou outra.

- Ela chama atenção, hein? Não vemos uma garota assim todo dia... – Murmuravam outras.

Olhei para Alice, e vi que ela tinha notado isso, pois fitava o chão fixamente, e seu rosto estava levemente vermelho.

- Que droga... Por que eles têm que olhar para mim? – Murmurou ela.  

- Tenho mesmo que responder? – Comentei, mas ela olhou para mim sem entender. Fiquei sem graça por deixar aquele comentário escapar, mas por sorte não tive que me explicar, pois Poseidon chegou perto de nós.

- Boa noite. – Disse ele sorrindo. Ele segurava uma taça de champanhe, e a levantou para Alice – Alice.

- Boa noite. – Sorriu ela.

- Não preciso nem falar que está linda, não é? – Sorriu ele.

- Não, não precisa. – Falei olhando para ele. Lembrava-me muito bem do jeito que ele agiu quando a viu de biquíni e não queria que aquilo se repetisse – Vamos nos sentar logo.

- Ah, estamos ali. – Disse Poseidon apontando para uma mesa.

- Estamos ali? O que quer dizer com estamos ali? – Perguntei franzindo o cenho.

- Nós todos estamos ali. Olhe e veja. – Apontou ele para uma mesa mais distante. Olhei para a direção e vi o que ele queria dizer.

- São... Todos eles. – Disse Alice de olhos arregalados – Todos em uma mesa só. Nossa...

- Não são todos. – Comentei desconfortável e incomodado – São só a maioria.

- Aham. Só a maioria. – Comentou ela concordando.

- Tsc. Vamos logo... – Falei segurando sua mão e puxando-a comigo em direção á mesa com todos os Deuses que nos encontraram naquele maldito salão.