Get Back escrita por Anna Peixoto, Anah


Capítulo 2
Marchin On


Notas iniciais do capítulo

Capítulo escrito por Anah Bouvier. O título do capítulo refere-se à música 'March On' do Good Charlotte; esta se encontra no CD 'Good Morning Revival'



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O dia amanhecera com o céu totalmente encoberto de nuvens, confirmando as previsões de mais chuva na terra da garoa, garoa essa que, na maioria das vezes, virava temporal.

Claire acordou com o som irritante do despertador de Ana. Apesar de cada uma ter seu próprio quarto, o volume do despertador era alto (Claire havia pedido inúmeras vezes para Ana abaixar o volume, mas não fora atendida), os quartos eram próximos e Ana demorava a acordar, só o fazia quando o despertador estava prestes a desligar.

Claire ficou observando o céu através das persianas tentando pegar no sono novamente, mas o sono parecia ter fugido ao som estridente do despertador. Além disso, Ana fazia muito barulho ao preparar o café da manhã.

Ana preparava um milk shake de iogurte enquanto cantava, muito mal, uma música qualquer que tocava na rádio, quando avistou sua amiga entrar na cozinha com a cara amarrada. Parou de cantar e desligou o liquidificador ao olhar de censura que lançou.

- Pra que acordar cedo nas férias?

- Porque acordar cedo me dá disposição.

A loira revirou os olhos, foi em direção ao escorredor de louças e pegou um copo para servir-se do milk shake. Depois de encher o copo, pegou uma torrada em cima da mesa e pôs-se a comer encostada na pia. Ana serviu-se também e quando ia dar uma mordida em sua torrada lembrou-se de Bruno. O amigo havia saído novamente na noite anterior com Philipe. Ela sabia que Philipe cuidava de Bruno, mas se preocupava assim mesmo.

- Claire, vá buscar o Bruno. Ele deve estar com uma ressaca do caramba, não estou nem um pouco animada em vê-lo.

- Deixa eles sozinhos, Ana – respondeu bebendo iogurte, olhando distraidamente para o calendário, tentando ver se não poderia achar um dia a mais para estudar - Por que você não vai lá? - reclamou Claire.

- Eu tenho que fazer uma coisa, sobe logo e veja se ele está inteiro.

A loira acabou de comer lentamente, fazendo a morena rolar os olhos novamente, pôs o copo na pia, limpou a boca e foi em direção a porta de entrada, calçando os chinelos no caminho. Pegou as chaves do apartamento superior, destrancou a porta de entrada (dormiam com a chave na fechadura) e saiu, subindo as escadas em seguida, arrastando-se. Parou em frente à porta com o número 504, pensando no por que Ana insistia tanto em ficar de olho em Bruno e abriu a porta que já estava destrancada, adentrando o local.

A sala estava mais bagunçada do que o costume. Havia roupas pelo chão e sofá, sem contar as garrafas de Ice. Por um momento Claire parou com receio do que veria se seguisse até o fim do corredor. Balançou a cabeça negativamente para espantar os pensamentos indevidos e resolveu chamar por Bruno. Foi surpreendida ao ouvi-lo responder da cozinha. Caminhou até onde vinha o maravilhoso timbre e encontrou-o tomando uma xícara de chá, sozinho, sentado junto à mesa.

- Philipe me acordou e saiu cedo – respondeu à expressão interrogativa da amiga – O que te traz tão cedo?

- Eu vim verificar se você está bem. Parece que sim, não? A coisa parece ter sido divertida ontem à noite, a sala bem que poderia ter feito o favor de esconder a... energia de vocês. - ela sorriu torto.

Bruno ficou pensativo por um tempo lembrando-se da noite anterior e deu um sorriso meio sem graça ao notar que Claire o observava com as sobrancelhas erguidas. Apesar de ter aproveitado a noite, no momento ele desfrutava de uma bela dor de cabeça. Perguntou a amiga se não tinha um comprimido para acabar com seu problema e ela assentiu prontamente.

- OK, só vou dar uma geral aqui e nós já descemos – disse ele ao entrarem na sala.

Ana pensava enquanto comia. Ela escondia algo de seus amigos, mas como contar a eles a verdade? Ela sabia que a idéia não agradaria em nada Claire. Talvez Bruno a apoiasse, mas a certeza sobre isso não era nada boa tanto quanto no dia em que havia tomado sua decisão e a pôs em prática antes que se desse a chance de voltar atrás. Não era algo agradável de fazer, mas era seu futuro que estava em jogo e isso era importante.

Revendo seus passos ‘secretos’ dos últimos dias ela revia os detalhes para certificar-se que nada faltava. Livros. Estudos. Roupas. Passagens. Como pudera esquecer-se das passagens? Engoliu o último pedaço da torrada rapidamente. Era melhor comprá-las agora antes que fosse tarde demais.

Bruno arrumou seu apartamento em poucos minutos. O local não ficou o que realmente se considera limpo ou arrumado para as cabeças mais maníacas por limpeza, mas estava tudo no lugar certo, pelo menos no lugar certo que ele encontraria mais tarde.

Ele trancou o apartamento e juntamente com Claire caminhou até a escadaria e começou a descê-la. Contou uma piada qualquer para descontrair. Os dois chegaram à porta 404 ainda rindo da piada que nem fora tão engraçada assim. Ao abrirem a porta viram Ana sentada no chão usando o notebook que eles haviam comprado, este se encontrava apoiado na mesinha de centro da sala.

Ela ficou nervosa ao vê-los e tentou fechar a página do aeroporto, mas Claire foi mais rápida que ela. Claire, às vezes, tinha o dom para ver o que outras pessoas não queriam que ela visse.

- Olhando os vôos que não pegaremos, Ana? – perguntou levantando a sobrancelha direita.

A morena não respondeu, apenas pigarreou. Um silêncio incômodo instalou-se no local. Ela não queria que seus amigos descobrissem daquela forma que ela voltaria à Curitiba. Bruno aproximou-se para ver o destino da viagem. Não precisou mais do que segundos para compreender o que acontecia.

- Você vai embora?

Palavras não foram necessárias para responder a essa pergunta, nem som algum, ou mesmo uma ação voluntária. A lágrima que corria o rosto de Ana a denunciou. Sentia-se a pior pessoa do mundo por ter enganado as duas pessoas que a apoiavam em todas suas decisões.

Claire não disse uma única palavra. Apenas ficou vermelha de raiva, com os olhos queimando, e antes que fizesse algo que se arrependeria mais tarde, dirigiu-se, a passos largos e firmes, até seu quarto, batendo a porta e trancando-a em seguida. Sentia-se traída. A amiga havia premeditado tudo. Como Ana poderia fazer aquilo? Fugir covardemente para os braços da mãe sem ao menos comunicar. Por que ela estava fazendo aquilo depois de ter dito, várias vezes no passado, que Claire era a irmã que ela não tinha, que ela e Bruno eram sua família em São Paulo? Claire não entendia e no momento não queria entender.

Bruno estava chocado com a decisão de Ana, e, mesmo achando absurdo ela abandoná-los do nada, quando ela havia sido essencial no nascimento da amizade. Preferiu ouvir os motivos dela, de acordo com seu raciocínio, ela não seria estúpida a ponto de ir embora por uma futilidade.

Ouviu-a soluçar e sentou-se ao seu lado, abraçando-a para lhe acalmar, afagando seus cabelos castanho-escuro.

- Por que você vai? – sussurrou.

- Vou prestar vestibular lá. Se eu passar, só volto para São Paulo definitivamente em cinco anos – disse baixo, parando de chorar.

Ficaram em silêncio. Foi como se ele estivesse assentindo que era importante ela ir, mesmo que nenhuma das partes quisesse se separar. A morena sempre dissera que a faculdade de odontologia no Paraná era uma das melhores do país. Seria bom para ela e, no fim, ela ainda moraria em São Paulo e tudo voltaria a ser como era agora.

Tudo que precisavam fazer no momento era falar com Claire. Ela era impulsiva às vezes, mas também era compreensiva, só necessitava de explicações.

Bruno levantou-se e puxou Ana pelo braço. Inicialmente ela não entendeu sua intenção, mas esta lhe ficou clara enquanto era guiada à porta do quarto de Claire.

- Não é melhor deixar ela se acalmar?

- Não tente adiar ainda mais a conversa.

Ana rendeu-se e bateu na porta branca a sua frente. Previsivelmente não houve uma resposta imediata. Ana sabia que teria que insistir para Claire abrir a porta, e ela o faria, não queria a amiga brava com ela, seria muito mais doloroso partir dessa forma, afinal ela voltaria antes do resultado.

Claire levantou-se da cama bufando, mas não estava mais furiosa, estava mais calma e a vermelhidão do rosto já havia passado. Destrancou a porta abrindo-a e dando as costas aos amigos, voltando à cama. Ana sentou-se na cadeira da escrivaninha da loira, ficando de frente para a mesma. Bruno sentou-se na outra ponta da cama.

Claire cruzou as pernas e começou a balançá-las em sinal de impaciência. A morena suspirou, abaixou a cabeça e começou a falar baixo, mas audível aos outros dois.

- Eu deveria ter contado a vocês que eu ia voltar para Curitiba, mas eu não conseguia, não queria que vocês ficassem chateados e acabei piorando as coisas. – fez-se silêncio por um momento – Me desculpem.

- Você sabe quem tem uma tendência a piorar as coisas quando não quer, certo? – brincou Claire depois de longos minutos que pareceram horas.

Ana ergueu a cabeça deixando os dois verem um brilho em seus olhos e um sorriso largo em seus lábios. Levantou rapidamente da cadeira giratória, escorregando quando as rodas correram para trás e deu um largo passo abraçando Claire em seguida. Claire arregalou os olhos momentaneamente por não ser acostumada com aquilo, mas retribuiu o abraço e logo Bruno envolvia as duas em seus braços.

- Boa sorte, Ana – disse Claire abraçada a amiga.

Dois dias haviam se passado e o dia da viagem chegara. Pela primeira vez naquele período de férias, a mais baixa dos três conseguira acordar todos cedo sem ouvir reclamações, apesar de ser a única que não bocejava.

- Para você também – respondeu – vocês dois, aliás – completou olhando para Bruno, parado ao lado delas com a cintura envolvida pelo braço direito de Philipe.

Ouviram a última chamada para o vôo de Ana e apressaram a despedida. A garota abraçou mais uma vez cada um dos presentes e saiu correndo carregado sua pequena mala consigo.

Não havia motivos para preocupações, não agora. E se a saudade apertasse? Ela estaria de volta em três dias mesmo.


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Notas finais do capítulo

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