Damnares escrita por Meg_Muller


Capítulo 7
Descobertas Familiares




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O damnare suspirou passando as mãos nos longos cabelos roxos. Pensar em tudo aquilo não estava sendo nada fácil. Preferiria decidir sozinho, entraria no reino de Alzof e tiraria a princesa de lá a levando até as montanhas e fazer o que bem entendesse.

-Talvez ela não esteja nem mesmo no próprio reino. – Uma damnare loira começou e vários inclusive Lars a observavam. – Ela pode estar em qualquer lugar, e invadir sem saber nem ao menos onde está o que procuramos é irresponsabilidade.

-Está dizendo que devemos temer os humanos, Nira? – Outro damnare perguntou e o Príncipe fez questão de encarar a estrategista, pra ver o que responderia agora.

-Vamos percorrer milhas e milhas a céu aberto se não soubermos onde exatamente ela estará. – Nira respondeu com o tom afiado de sempre. – E se um damnare derramar sangue em terra humana, bem, todos sabemos o que Aodh fará com o resto.

Todos mantiveram um silêncio agonizante. A imagem de Aodh com o orgulho ferido, não era algo agradável de ver. Ninguém discutiria com um argumento como aquele. Mas ainda ficava a questão de que algo eles precisavam fazer. Já que lorde damnare também não era conhecido pela sua paciência.

-E o que você sugere? – Lars perguntou e todos olharam pra Nira, que exibiu um sorriso como se estivesse esperando que alguém perguntasse aquilo.

-Contratamos alguém pra fazer o serviço.

-E que damnare acha que vai estar disposto a fazer um serviço que o Lorde incumbiu a mim? – Lara perguntou incrédulo, se ele não era capaz de entrar sozinho, ninguém mais era.

-Não estou falando de um damnare comum. – Ela murmurou com um sorriso vitorioso. – Vamos chamar a filha da bruxa.

Alguns riram e outros balançaram a cabeça negativamente. A loira não podia estar falando sério com uma sugestão daquelas. Aodh mal gostava que alguém ainda visse aquela família banida, imagina chamá-las pra resolver um problema da raça damnare.

-Quer chamar à ruiva? – Uma damnare da roda perguntou cética. – Além de o Lorde ficar enfurecido, porque acha que ela aceitaria?

-Ligia é uma mercenária. – Nuri rebateu convicta. – É só oferecermos o suficiente.

==   

O capitão da guarda humana se mantinha sentado, tentando refletir sobre tudo incluindo os últimos acontecimentos. Sua cabeça girava e ainda assim procurava de alguma forma fazer com que tudo aquilo fizesse algum sentido.

Tinha acabado de acompanhar um jovem que ele tentou matar no inicio do dia, que também quase o matou o deixando desacordado no meio da floresta. E agora esperava o mesmo sair de uma velha cabana, onde tinha levada uma humana pra dormir. Uma humana que o próprio Capitão tinha agredido.

Aquilo estava tão errado. Tão fora de contexto, era simplesmente absurdo demais pra que fizesse algum sentido. Que tipo de damnare tinha amizade com humanos, ou melhor, que tipo de humano não sentia horror ao lado de um damnare?

Ele ignorou os pensamentos ao ver o corpo masculino esguio sair da cabana, ele o olhava seriamente. Estavam prestes a discutir melhor o “acordo”.

-Ela está bem? – Otto perguntou visivelmente preocupado. Porque diabos ele tinha atingido logo uma humana? Logo uma que era louca o suficiente pra ser amiga de um damnare.

-Está dormindo... – O dono dos olhos vermelhos respondeu se aproximando. – A mãe dela disse que não foi grave.

-Mãe... conhece a mãe dela? – O capitão perguntou apesar de parecer perguntar mais pra si do que pro outro.

-Conheço sim, ela meio que me criou também.

-É humana?

Darin arqueou a sobrancelha. Agora ele entendia o porquê de todo aquele questionário, ele provavelmente ainda achava estranho com toda a aversão que o reino dele tinha a damnares, que ele e Maia se conhecessem.

-Sim. Nem todos os humanos são estúpidos como os de Belzor e Alzof.

-Não somos estúpidos por não nos relacionarmos com monstros como...

-Humanos já tentaram me matar milhares de vezes, não sei exatamente porque nós somos os monstros. – Darin interrompeu seco. – O próprio rei de Alzof me atacou ainda quando criança.

-Rei que depois foi morto cruelmente por mãos de damnares irracionais!

-Irracionais por matarem o homem que estendeu uma espada a uma criança?!

-Você... – Otto murmurou como se algo tivesse chagado subitamente a sua mente. – Eu sabia que Darin não me era estranho...

O mestiço não respondeu. Até o momento não reconhecia Otto como uma das quatro crianças que conhecera anos atrás no castelo de Alzof. Cenas daquele dia ele sempre achou melhor ignorar na sua mente, aplicar o velho golpe da memória seletiva com as próprias lembranças.

-Mas você... era humano e... – Otto colocou as mãos na própria cabeça tentando forçar a mente a juntar as peças.

-E depois voltei a ser o que sempre fui. – Darin completou acabando com a tortura dele.

-C-como?

-Não sei. – O mestiço respondeu dando os ombros. – Do mesmo jeito que não sei por que não tenho asas, é assim, só isso que eu sei.

-Não tem nem idéia? Não foi bruxaria...

A gargalhada de Darin interrompeu o capitão, que não ficou nada satisfeito.

-É sério!

-Minha mãe... – Darin começou ainda incerto de porque estava cotando aquilo pra alguém que mal conhecia. – Não sei quem era, mas sei que era humana...

A expressão de Otto era um horror desesperado, ele que estava agachado sentou no chão com o choque. Como assim humana?

-E seu pai é um...

-Damnare obviamente. – O mestiço respondeu entediado.

-Que diabos... – O humano murmurou fraco passando as mãos nervosamente pelos cabelos.

Darin tentou pensar em algo pra ajudar na confusão do outro. Mas o que ele iria dizer? Nem ele sabia como aquilo era possível, a não ser pelo fato de que ele era a prova dessa possibilidade. Era isso. A natureza o tinha forçado a entender isso, tendo o feito nascer daquelas circunstancias.

-Não é comigo que devia se preocupar agora. – O mestiço afirmou tentando mudar o rumo dos pensamentos dele. – Lars vai atrás daquela humana, e isso pode ser a qualquer momento.

-Tem idéia do que ele quer com ela, aliás... – Otto fez uma pausa dramática pra olhar com certa desconfiança à criatura a sua frente – Porque diabos sabe disso?

-Um general damnare me contou.

-Se você tem amigos que batalham com os damnares como espera que eu confie em você?

-Não espero nada, mas é bom deixar claro que você não tem tantas opções.

-Nosso exercito é forte. Nenhum damnare invadiria um reino humano assim...

-Então corra o risco.

Otto suspirou desviando o olhar de Darin e fitando o chão. Desde quando tudo tinha ficado tão complicado? Alana corria perigo, e era muito mais do que a vida dela que estaria em risco se isso acontecesse. O acordo estaria em risco, e assim sendo todo o reino de Belzor e Alzof estaria em perigo.

-O que tem em mente? – O capitão perguntou finalmente e Darin parou pra pensar naquilo pela primeira vez. Não tinha nada em mente.

-Não sei. Me leva até o castelo e eu arranco o fígado dele eu mesmo.

-Te levar ao castelo? Como quer que eu acredite em um mestiço que há pouco tentava me matar?

Darin bufou esgotado. Aquilo de acharem que ele era o perigoso da situação, ele era a ameaça estava ficando chato demais.

-Se eu quisesse te matar você estaria morto. E o que há pra não acreditar? Eu salvei a vida daquela irritante da sua princesa. E ao que tudo indica, eu estou tentando fazer isso de novo.

-E porque se importaria com a vida dela?

-Eu não me importo. Só quero o Lars, e pronto. Estarei fora do reino humano antes que amanheça.

-Você tem sua vingança, e eu tenho Alana salva. – Otto raciocinou em voz alta. – Me parece um bom acordo.

-Humanos, levam horas pra perceber coisas simples.

-Sem ofensas, mas sua aparência não te faz parecer confiável.

Darin bufou novamente desistindo de rebater ao sentir um cheiro conhecido. Ela provavelmente tinha sentido o cheiro humano, e bom, era melhor deixar a situação bem explicada.

-Isso fica entre nós. – Darin murmurou mais baixo do que das outras vezes.

-O acordo?

O mestiço revirou os olhos.

-O que mais seria?

-Ta bom, ta bom.

-Se algum damnare perguntar, você chegou aqui sozinho e...

-Cheiro humano. – Uma voz feminina murmurou fazendo Darin se calar. – Tem muitos diferentes por aqui hoje, não acha?

-Astrid ele só está... – Darin começou enquanto a damnare saia das sombras, e Otto respirava fundo pra não perder o controle.

-Perdido? – Ela perguntou interrompendo olhando pro homem que tentava não tremer.

Os olhos vermelhos, o cabelo roxo e as asas que mesmo sem estarem abertas faziam o corpo dele estremecer. Principalmente estando sozinho em uma floresta no meio da noite.

-Foi, aí ele acabou por encontrar a cabana da Ofélia. – O mestiço afirmou convincente.

-Não sou idiota a esse nível, pirralho. – Astrid murmurou sem parar de olhar o humano. – Aliás, era ele quem estava comandando o ataque, não era? Não tem medo de aparecer por aqui depois disso?!

Ela gritou a ultima frase abrindo uma das asas e mostrando o corte enorme e profundo coberto pela gosma verde de Ofélia. Otto sentia que o coração ia sair pela boca. Como ia lutar com uma damnare naquelas situações?

-Ele já se arrependeu... – Darin interviu afastando Astrid do capitão.

-Esse arrependimento não vai curar minhas asas! Dois dias sem poder voar! Nem pra casa eu posso ir nesse estado, sou obrigada a viver nessa pocilga de lugar.

-Como se sua casa fosse um exemplo de limpeza...

-Cala a boca Darin, não são as suas asas que foram dilaceradas, certo?

-Deixa de frescura, Ast. Pelo menos você não pode voar só por alguns dias, eu nunca consegui e sobrevivo.

Astrid fez aquele olhar que Darin conhecia bem. Ás vezes ele achava que ela se incomodava mais com o fato dele não ter asas do que ele mesmo. Só tocando em algo assim pra ela finalmente parar de falar.

-Não ache que eu não sei o que quer com esse humano aqui, pirralho. – Astrid ameaçou voltando a expressão normal. – No reino deles eles não vão ter piedade de você como você tem deles aqui. E se por acaso estiver pensando em ir contra Lars sozinho, pense duas vezes.

-Não estou pesando em nada. Acabei de chegar e encontrá-lo aqui como você.

-Pode mentir o quanto quiser. – Ela rebateu dando os ombros. – Não vou mais entrar em desespero com as suas asneiras. Não é mais uma criança.

Darin pensou em rebater, mas ela saltou parando em frente à cabana de Ofélia. Não se interessaria por mais nenhuma desculpa que ele tivesse a dar. Enquanto isso Otto finalmente sentia sua voz voltar.

-Ela... – O capitão murmurou ainda fraco. – Parecia chateada...

-Não importa. – Darin rebateu tirando a atenção de Astrid. – Eu não sou mais uma criança, tomo minhas decisões sozinho.

-E porque ela ia ser contra você encontrar esse tal de Lars?

-Lembrança dele. - Darin virou de costas mostrando uma cicatriz enorme que ia do seu quadril até o pescoço.

Otto engoliu seco sem saber o que dizer. Lars parecia realmente perigoso agora.

-E porque acha que pode vencê-lo agora?

-Não sou mais uma criança.

-Ele teve coragem de fazer isso com uma...

-Teve. – Darin interrompeu sabendo o que ele queria dizer. – Imagine então o que ele vai querer fazer com a irritante.

==

A bela damnare prendeu os cabelos ruivos em um rabo de cavalo e saltou de uma das montanhas mais altas nos arredores de onde morava. Adorava aquele momento de meditação matinal.

Vários metros depois sentiu seus pés tocarem o chão, aquela sensação era magnífica. Não precisava de asas afinal. Seguiu o mais rápido que pode até a cachoeira que sempre visitava de tempos em tempos.

Estava quase alcançando seu lugar favorito quando seu olfato captou algo nada comum. Eram damnares, cinco no mínimo e vinham na mesma direção que ela a uma velocidade impressionante. Estavam voando.

Aumentou mais ainda a velocidade imaginando o que eles queriam por ali. Será que Aodh não tinha deixado bem claro que era restritamente proibido o contato com banidos? Talvez eles quisessem briga. Ela sorriu sadicamente, enfim um pouco de emoção naquelas montanhas pacíficas.

Assim que alcançou a cachoeira fitou o que esperava. Lá estavam cinco seres com asas negras enormes, parados próximos a água. Eles sabiam que ela estava lá, será que queriam conversar antes de começarem a brincadeira?

-Olá Ligia. – Uma loira murmurou enquanto ela saia de entre as arvores. A atenção de todos estava sobre ela, e eles não pareciam hostis. Droga. Parece que não era bem a confusão que ela estava esperando que aconteceria ali.

-Visitando terra de banidos... – Ela murmurou debochada olhando um por um, até parar sobre a figura arrogante de Lars. – Ora, ora. Papai sabe que você está perdido por aqui, filhote?

-Devia aprender a falar com a nobreza damnare. – Lars murmurou ríspido. – Mas não esperava muito de uma selvagem, ainda mais sendo filha de quem é.

A ruiva soltou contra Lars sendo impedida pelos quatro que ele trazia com ele, que se colocaram no meio.

-Não tem problema. – Ela murmurou provocativa. – Sou paciente e posso ir um por um.

Os damnares visitantes mostraram as garras em posição de ataque, acompanhados por Ligia que tinha sido a primeira a fazê-lo. Até que uma loira resolveu intervir.

-Não viemos aqui pra isso. – Nira praticamente gritou se aproximando de Ligia. – Temos um trabalho.

Ligia voltou à posição corporal normal, arqueando a sobrancelha.

-Um trabalho da nobreza de Umbra? – Ela perguntou no mesmo tom debochado de antes. – Aposto que o velho Aodh não tem nem idéia disso, né?

-Não importa Ligia. – Nira rebateu antes que qualquer um se pronunciasse. – Vamos pagar e queremos pra logo. Pensa em fazer ou não?

-Não que eu goste de algum de vocês. – A ruiva murmurou dando os ombros. – Mas se for pra fazer algo que Aodh não aprova, sabe como é... eu meio que não resisto.

==

 Alana acordou sentindo varias partes do seu corpo doloridas. Fechou os olhos com um suspiro tentando recapitular o dia turbulento que tinha sido o anterior. Um damnare aparentemente tinha salvado a vida dela, tinha levado-a de volta ao próprio reino por vontade própria.

Um jovem estranho de olhos vermelhos tinha a seqüestrado e a levado pra um lugar estanho com motivos ainda questionáveis, ela não sabia se ele tinha a intenção de salvá-la do que ele acreditava ser uma ameaça maior, ou sei lá. Lars. Lembrava perfeitamente do nome que ela ainda não entendia o significado ou a importância.

E eles ainda tinham uma humana como amiga, aquele era o grupo de uma raça desprezível que definitivamente fez a cabeça dela girar. Damnares era monstros que te matavam e levavam seus filhos pra serem a sobremesa do jantar. Era o que eles caçavam, era o que ela tentou aprender a matar durante toda a adolescência.

No fim eles eram o motivo de tudo. Ter treinado com Otto por todos os anos, até mesmo o motivo do casamento que ela teria com Nicholas, o ódio que nutria por eles era o que guiava sua vida a um bom tempo. E agora que ela não sabia como estavam os próprios sentimentos sobre tudo, não podia ter mais certeza sobre nada.

Tinha chegado à noite anterior ainda abalada com tudo, não tivera tido tempo pra penar. A mão e Mina caíram em prantos quando a viram, e a mãe de Nicholas lançou um olhar de revolta que arrepiou a espinha dela. Provavelmente odiava tê-la como nora, mas era a única maneira de transformar Alzof e Belzor em uma coisa só.

Nicholas e Mina tinham ficado com ela por muito tempo, até que ela resolvesse ir dormir, e em nenhum desses longos minutos com a amiga e o noivo ela tinha ousado falar sobre o que realmente tinha acontecido. Não contou sobre Darin, ou nenhum dos outros. O que iria dizer? Como iria explicar? Nem ela entendia minimamente a situação.

E Otto ainda estava por aí, provavelmente jogado na floresta. Todos iriam atrás dele hoje, sem ela é claro. Tinha ordens restritas e bem autoritárias pra não ir nem ao jardim. Tinha sorte em conseguir sair do próprio quarto depois do que tinha feito a todos.

A irresponsável e inconseqüente princesa Alana de Alzof ia ficar entre os muros do castelo até o dia do casamento, até que o elo entre os reinos estivesse selado, e as ações absurdas dela não pudessem mais causar um prejuízo astronômico a ambos os reinos humanos.

Bufou se remexendo na cama. Nada pior que se ver presa em seu próprio refúgio. Tinha voltado porque queria estar segura e confortável, do jeito que tudo estava antes. Mas nunca tinha se sentido tão intruso, como se sentia na sua própria pele no mesmo quarto que ela tinha a anos no reino de Belzor.

-Lana... – Ouviu a voz feminina soar da porta do quarto. Ela nem tinha escutado o ranger da mesma abrindo. – Posso entrar?

-Já entrou Mina. – Alana respondeu ríspida olhando pros pés da amiga dentro no quarto.

-Desculpa. Tem razão. – Mina comentou com um sorriso sem graça. – Mas tudo bem eu ficar, então?

A princesa suspirou, estava de mau-humor e tratava uma das únicas que realmente se preocupavam com ela por causa dela. Já que todos os outros provavelmente se importavam mais com o pacto.

-Não pede desculpas, me faz me sentir ainda pior por ser tão chata com você.

-Você passou por muita coisa ultimamente. – Mina murmurou se aproximando da cama solidária. – Tudo bem ficar um pouco irritada.

-Você e sua mania de sempre ser exageradamente gentil... – Alana murmurou sentando na cama enquanto Mina fazia o mesmo.

-Fiquei muito preocupada com você, imaginando o que estaria acontecendo com você perdida com tantos monstros na floresta...

-É. – A princesa murmurou pensativa. – Monstros...

-Foi muita sorte não ter encontrado nenhum enquanto fugia. – Mina murmurou sorrindo.

-Na verdade... – Alana começou ainda pensando se tocaria naquele assunto. – Eu encontrei sim, e não foi apenas um.

Mina levou as mãos á boca abafando um gritinho agudo.

-Como conseguiu fugir?

-Não consegui. Aliás, um deles me trouxe por vontade própria até a fronteira.

As mãos de Mina continuavam sobre a boca que olhava com um choque evidente a morena que pertencia á realeza.

==

Mina entrou na cozinha do castelo decidida a preparar algo pra pobre amiga. Tinha passado o dia trancafiada no próprio quarto, sem direito a sair nem pra ver ao menos o jardim. Iria enlouquecer em pouco tempo.  

Todos os servos andavam de um lugar pro outro preparando milhões de coisas pro banquete da noite. Banquete em comemoração ao resgate da princesa que nem teria o direito de participar, mas tudo bem, Mina ia preparar algo que ela gostasse e fazer o que podia pra que ela se sentisse melhor.

Atravessou a cozinha descendo até a despensa. Ainda não sabia o que faria, mas encontraria alguma fruta bem doce e faria uma bela torta. Era o mínimo que podia fazer.

Pegou uma vela acesa no início do corredor que levava aonde guardavam todas as iguarias e seguiu, chegou ao pequeno cômodo se assustando com uma figura masculina sentada no chão bem ao fundo.

-Está tudo bem? – Ela perguntou desconhecendo quem ficaria naquele breu aquele horário. Até que ele levantou o rosto para fitá-la.

Seu grito iria ecoar por todo o castelo por causa dos olhos vermelhos, se o dono dos mesmos não tivesse sido mais rápido tapando a boca da jovem.

-Não vou te machucar. – Ele murmurou tentando o tom de voz gentil enquanto a respiração dela se acalmava. – Vou tirar minha mão, mas, por favor, não grite.

Ela afirmou com a cabeça e ele tirou as mãos. Ela levantou um pouco a vela pra que pudesse fitar o rosto dele com clareza de novo. Sua respiração se acalmava pouco a pouco.

-Quem é você? – Ela perguntou com os olhos castanhos apreensivos, e curiosamente não continham medo. E sim preocupação.

-Sou Darin. – Ele se apresentou e achou melhor não sorrir, ela podia gritar de novo ao ver os caninos avantajados. – E só estou aqui porque o imbecil do Otto não conseguiu pensar em um lugar melhor.

-Oh... – Mina murmurou como se o nome lembrasse algo a ela. – Então Otto... trouxe você pra ca?

-Foi o que eu disse.

-Verdade, desculpa. – Ela murmurou gentil. – É só que eu não entendo por que.

-Alguém vai seqüestrar a princesa hoje à noite. – O mestiço explicou surpreso com o excesso de educação dela, enquanto ela levava as mãos à boca em choque. – E eu vim pra matar o maldito.

-Veio salvar a princesa? – Mina perguntou com um olhar interessante, que ele nunca tinha visto antes em direção a ele.

-Não. Vim matar quem quer seqüestrá-la, ela ser salva é só conseqüência.

-Muito obrigada. – A jovem murmurou se aproximando e envolvendo os braços no mestiço que ficou imóvel com o movimento súbito. – A coitadinha já está tão abalada, é bom alguém querendo defendê-la.

-Já disse que não quero defendê-la, só vim matar o...

-Devíamos ir pra outro lugar. – Ela interrompeu e ele nem ligou vendo que ela o tiraria daquele quartinho que fazia seu nariz arder. – O meu quarto é do lado do da princesa, seria melhor não acha?

-Qualquer lugar é melhor que aqui.

-Eu posso te levar até lá fora e do meu quarto eu te jogo um lençol. Aí você sobe. Acha que consegue?

-Se me mostrar à janela eu posso saltar até ela.

-Como?

Ele tirou a capa que cobria seu rosto revelando as orelhar pontiagudas, que a fez reparar também nos caninos.

-Oh céus você é um deles?

-Sou, mas eu não...

-Alana me contou como vocês ajudaram. – Ela murmurou abraçando-o de novo, aquilo começava a ficar desconfortável. – Obrigada de novo.

-Só me mostra a janela pro quarto.

Ela afirmou com a cabeça guiando o mestiço pra fora da despensa. Passaram pelo corredor estreito e depois passaram pela cozinha até saírem completamente na noite fria de Belzor.

-Meu quarto é...

Darin a interrompeu indicando com as mãos pra que ela parasse.

-O que foi?

-Tem... – Ele começou tentando estudar meticulosamente os odores. – Um damnare aqui.

Mina levou as mãos à boca novamente e ele nem percebeu, saltou pra onde acreditava estar o ser da raça que procurava sem pensar duas vezes. Não se preocupava em ser visto. Só queria achar o dono do cheiro que sentia. Apesar de algo deixar bem claro que infelizmente não era de Lars.

Avançou até a janela que estava aberta fitando uma cena curiosa. Uma ruiva tirava uma espécie de dardo de uma Alana desacordada. Pelo cheiro sabia que ela era uma damnare, mas onde estavam as asas? E que diabos ela estava fazendo ali no lugar de Lars?

-É só um dardo paralisante. – A ruiva murmurou sabendo que ele estava ali sem nem ao menos olhá-lo. – Ela não vai morrer, fiz só porque eu não tenho paciência pra gritos. Ainda mais agudos como os dessa aqui.

Em qualquer outra situação Darin concordaria, mas isso nem passou pela cabeça dele no momento. Entrou no quarto se aproximando mais da cena, Otto estava caído em um canto do quarto com um corte na cabeça, ele provavelmente não estava desacordado por causa do dardo.

-Quem é você? – Ele perguntou antes de atacar de forma hostil. Ela levantou o rosto revelando os estranhos olhos amarelos, que ficavam mais que instigantes em contraste com o cabelo vermelho vivo.

-Não acho que importa quem sou eu, já estou fazendo o que vocês queriam. – Ela respondeu levantando o corpo de Alana com uma das mãos. – Não preciso de ajuda, melhor voltar pro papai.

-O que eu queria? Papai? – Ele perguntou sem entender nada.

Ligia se aproximou e fitou melhor a figura masculina e principalmente, sentiu melhor os odores.

-Não acredito... – Ela murmurou divertida se aproximando mais ainda. – O Aodh tá mesmo perdendo a moral, enfiando em qualquer buraco nos últimos anos.

Ligia olhava pro jovem pasma. Qualquer uma servia pro Aodh ultimamente. Até com uma humana ele tinha fornicado, eis ali uma criatura que ela nunca esperou ver. Um filho de Aodh com uma provável humana.

-Aodh? – Darin repetiu pensando. – Foi ele que te mandou aqui?

Ligia riu debochada enquanto Darin cerrava os olhos. Estava começando a ficar irritado com nenhuma de suas perguntas sendo respondidas.

-Eu receber ordem do seu papai? – Ela perguntou com sarcasmo. – Nem que a minha vida dependesse disso.

-Meu... pai? – Ele perguntou arqueando a sobrancelha. A ruiva não respondia uma das suas perguntas e ainda fazia comentários sem cabimentos.

-Sua família é muito perturbada mesmo. Por isso que o Lars é doente daquele jeito. – Ligia refletiu trocando a princesa desacordada do braço esquerdo pro direito com facilidade. – Imagina aquele esnobe maldito ter uma aberração como você como irmão.

-Ir-mão... de que diabos você tá falando? – Darin perguntou irritado. – Aodh não é meu pai, nunca seria irmão de alguém como o Lars.

-Tsc, tsc. – A damnare debochou balançando a cabeça negativamente. – Nunca olhou seu reflexo no rio? Acha que herdou esse par de olhos vermelhos de onde? Um urso da montanha?!

Ela ria do que acreditava ter sido uma piada e ele a olhava curioso. Seus olhos? Ao que lembrava todo damnare que o encontrava sempre falavam sobre isso, e o próprio Lars o havia agredido por simplesmente ver seus olhos e... Sentiu o estômago embrulhar. Astrid. Então era por isso que todo o tinham trancado no refúgio da floresta durante anos?

-Olha eu sei que deve ter problemas paternos com um pai como Aodh. – Ligia murmurou tentando manter o tom sério. – Mas eu realmente tenho um trabalho a fazer. Tempo é dinheiro.

Darin olhou a figura feminina de olhos amarelos, assim como a de Alana nos braços da mais velha. O que faria agora? Porque estava ali, pra tramar uma vingança contra um damnare que agora podia ser seu irmão.

-Tem certeza de... – Ele começou com a voz fraca apontando os próprios olhos.

Ligia colocou a princesa no chão suspirando e se preparando pra fazer o que tivesse que ser feito.

-Eu já disse que sim, aberração. – Ela falou ríspida. – E eu tentei te fazer sair do jeito fácil, mas como eu disse antes. Não tenho muito tempo.


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Notas finais do capítulo

Oeeeeeeeeeeeeeee...

Nossa terminei esse capitulo com a sensação de que não foi bom o suficiente, eu gostei, mas não sei... aaaah, pelo menos vcs gostaram?

Bom, finalmente acabou a tensão do segredo, o próximo eu vou fazer o melhor que eu conseguir já que vai ser hiper tensooooo

E a Ligia? Aeee novaaata, ela ja tava aqui na cabecinha, só não tinha espaço pra coloca-la, ela ainda tem muito haver com a trama, bem mais do que imaginam.

E eu sei que ela contou da pior forma possível... mas vcs vão entender essa ruivinha nos próximos =)

Bom, é isso. Valeu pelo apoio amores, e espero que tenham gostado.

Revires? :D Recomendação? :D

Vamos lá, dois minutinhos pra fazer uma autora mais feliz =)



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