Fevereiro de 2010

Cinco anos se passaram desde que eu terminei a faculdade e posso dizer que muitas coisas mudaram na minha vida.

Ainda moro no mesmo apartamento para o qual me mudei depois da minha formatura, em San Francisco, mas agora, além do antigo trabalho na empresa de Auditoria, na qual fui promovido a diretor há um ano, também volto a Berkeley duas vezes por semana, agora como professor, para ministrar aulas de Teoria Geral da Administração na minha antiga faculdade.

Depois da dolorosa partida de Bella, aos poucos, e com muita ajuda de Emmett e da minha mãe, que praticamente se mudou para a minha casa nos primeiros meses do ano de 2005, fui me recuperando, reconstruindo a minha vida e reaprendendo a sorrir.

Hoje posso dizer que sou uma pessoa realizada, pois além de estar cercado pelos meus dois melhores amigos, Rosalie e Emmett, que para a minha sorte vieram a ser meus vizinhos depois que Emm foi contratado por uma grande construtora com sede aqui em San Francisco eu trabalho com o que eu gosto, tanto na empresa, como na troca de conhecimentos com os meus alunos e ainda namoro uma mulher muito legal: Camille Brandon.

Conheci a minha namorada na Universidade de Berkeley, à quatro anos atrás, quando a pedido de um antigo professor fui proferir uma palestra e ela era assistente desta turma. Depois deste primeiro dia em que discretamente trocamos telefone, nunca mais nos largamos.

Camille é uma grande companheira e como Emmett sempre diz, ela é a minha versão feminina, a única pessoa que me entende perfeitamente já que gostamos das mesmas coisas e temos as mesmas idéias.

Apesar de ser muito tímida e reservada, Camille se dá muito bem com meus amigos e eles apesar da maneira desconfiada de Rose e brincalhona de Emmett, gostam dela e são muito gratos ao que ela faz por mim, e depois que eu a conheci, nas palavras de Emmett e Rose, me tornei uma pessoa melhor e mais alegre do que na época da faculdade.

Nós namoramos à quatro anos e apesar de termos um relacionamento cheio de compreensão e carinho, ainda não nos sentimos seguros para dar um passo a mais no nosso relacionamento e nos casarmos.

Camille sempre me diz que para ela casamento tem que ser algo oficial, festejado e comunicado a toda sociedade, não apenas dividir uma casa, e como ela ainda tinha planos de terminar o seu mestrado antes de entrar em um relacionamento mais sério e assim assumir uma família, ainda  moramos cada um em seu apartamento e passamos os finais de semana juntos.

E por hora, assim está muito bom para nós.

Eu sei que Camille me faz feliz e também tenho consciência das mudanças que ocorreram em mim  desde que nos conhecemos, mas mesmo assim sinto que há algo faltando em  minha vida.

Há um pedacinho que as vezes teima em mostrar que não está no lugar.

Bella... Este era o pedacinho que falta em mim.

Mesmo sem querer, seu nome e seu rosto voltavam a minha mente para me atormentar.

Minha Bella... A garota que eu mais amei nesta vida.

A garota que me abandonou.

Desde que Bella se casou e foi para a Alemanha eu não falava com ela, mas sempre tinha noticias suas por Rosalie, que sempre que ligava para a amiga e mesmo que eu não perguntasse, me informava como ela estava.

Por Rose eu soube que ela morava em Munique com os sogros, tinha filhas gêmeas e que não parecia estar muito feliz por lá, pois o seu tom de voz era sempre triste e melancólico.

Sempre que sabia dela ficava muito pensativo... E se ela não tivesse ido embora? E se ainda estivéssemos juntos, como seria a minha vida?

Nestes momentos eu tentava bloquear a minha mente e focar que a sua vida havia mudado muito, assim como a minha e que a única coisa que eu podia desejar era que Rose estivesse errada e que ela estivesse bem e feliz.

Naquela nossa ultima noite, ela tinha escolhido Mike Newton e tinha me deixado despedaçado, mas mesmo assim eu não tinha raiva dela... Da sua escolha.

Eu não queria o seu mal.

Desde o começo do ano, Rose estava estranha... Assim que voltou das férias de final de ano no Texas, ela tinha alugado o ultimo apartamento vago do nosso edifício e o estava decorando para uma amiga da época do colégio que tinha sido transferida para San Francisco e por saber que ela morava na cidade, lhe pediu ajuda.

Junto com Emmett tentei saber mais da nossa nova vizinha, mas Rose apenas dizia que era uma velha amiga, recém separada, que trabalharia em uma multinacional e que ela tinha certeza de que a moça completaria o nosso pequeno grupo de amigos de uma forma bem divertida e nada mais.

Querendo ajudar, me propus, junto com Camille, a sair com ela para comprar o que precisasse, mas ela não aceitava nenhuma ajuda, nem mesmo a de Emmett, dizendo que nós éramos muito ocupados e ela não queria atrapalhar.

Tentamos argumentar que não atrapalharia em nada a nossa vida se ajudássemos na sua nova missão, mas ela  não aceitava a nossa interferência, fazendo tudo sozinha.

Emm tentou descobrir um pouco mais ao pegar o celular dela, mas a moça sempre ligava de número restrito e sempre que ela e Rose conversavam, a loirinha a tratava apenas de “amiga”, nunca dizendo seu verdadeiro nome.

Várias teorias malucas passaram em nossa cabeça desde Rose está querendo deixar Emmett e morar sozinha, até que ela tinha arrumado um emprego de decoradora nas horas vagas, mas nunca chegávamos a nenhuma conclusão e quando falávamos disto, ela apenas revirava os olhos, dava uma risadinha e mandava a gente parar de ser curioso.

Emmett ameaçou a namorada com uma greve de sexo se ela não contasse, eu prometi que não seria mais seu amigo, Camille tentou com jeitinho tirar alguma informação da loirinha, mas ela continuava irredutível e nada nos contava.

Com toda a dedicação de Rosalie, o apartamento estava quase todo pronto em apenas um mês e sempre que eu lhe perguntava que dia este mistério todo teria fim, ela só respondia que mais cedo do que era esperado a nossa nova amiga estaria conosco.

Era um sábado do final de fevereiro e como Camille tinha tirado o dia para preparar suas aulas da semana seguinte e corrigir alguns trabalhos dos seus alunos, e Rose, como em todo tempo livre, tinha saído desde cedo para resolver algumas coisas do apartamento da amiga, estávamos apenas eu e Emmett no meu apartamento, jogados no sofá, assistindo a reprise do futebol na TV a cabo, enquanto esperávamos as nossas namoradas darem notícias.

- Tem um bom tempo que não contamos com a companhia Rose nas manhãs de sábado, não acha Emm? – cansado de pensar na minha vida, provoquei Emm que estava muito calado e concentrado no jogo. - Tudo agora é para a amiga que vai chegar...

Já que tínhamos sido abandonados por nossas namoradas nesta manhã fria, nada melhor do que passar o tempo do que provocar meu amigão, como nos velhos tempos.

- Está com ciúmes da amiga da Rose sem nem ao menos conhecê-la? - ele se virou para mim, soltou uma gargalhada. – Você me mata de rir, cabeção!

- Estou falando sério Emm, você não fica preocupado com este mistério todo que Rosalie vem fazendo quanto a esta mulher?

- Eu não... – ele deu de ombros - Sei que a minha Rose é assim, fiel as amigas e se ela não está nos falando nada sobre a misteriosa amiga e está assim tão empenhada em ajudar, com certeza ela têm motivos.

- Mas Emm... Ela não te dá mais atenção – continuei a provocar tentando me divertir um pouco com suas reações– Agora é todo o tempo arrumando a casa da amiga e nem lembra que você existe.

- E a sua namorada que só pensa em estudar e no trabalho? – ele revidou, levantando a sobrancelha - Cadê Camille? Está mais uma vez preparando aula e te deixou aqui tão abandonado quanto eu! – riu e me deu um tapinha no braço - Pelo menos a minha Rose está fazendo uma boa ação e ajudando uma amiga, enquanto a sua só consegue pensar nela e no seu trabalho... Tenho certeza que se tiver que trocar um final de semana se divertindo conosco por uma palestra daquelas bem chatas na universidade, ela troca sem pensar duas vezes!

Emm sempre gostou de me chatear falando da mania que Camille tinha de estudar tanto ou ate mais do que eu. Ele brincava que nunca viu casal tão parecido e que eu não podia ter encontrado uma namorada melhor do que ela.

- Emm, não é bem assim...– segurei o riso por ele ter caído na minha provocação - Camille só pensa em seu futuro e o estudo é o seu futuro.

- A minha opinião sobre ela você já sabe... Camille é a sua cara metade, sua versão de saias... É tão chata e responsável quanto você nos seus piores dias, mas se você a ama, eu também a amo... – ele riu, jogando uma almofada em mim  – E  não quero mais discutir a amiga de Rose e nem a senhorita “preciso estudar” agora, porque quero me concentrar no jogo que está bom demais.

- Ok Emm... Vamos ver este jogo... Mais uma vez – me recostei nas almofadas e peguei uma cerveja  - Só mais uma coisa antes de calar a boca... – falei rindo da cara de aborrecido do grandão - Estou logo te avisando que se Rose não chegar até o começo da tarde, vamos tentar ligar para ela mais uma vez e se ela não atender, vamos sair para almoçar sem ela.

- Está bom garotinha ciumenta ... – ele brincou, imitando uma voz fininha – Se ela não chegar, ligamos para ela e se ela não atender, deixamos um recado avisando que fomos nos alimentar, pois ela bem sabe que o grandão aqui não pode passar muito da hora de comer.

Ainda esparramados no sofá e bebericando umas cervejas, assistimos a mais uma partida de futebol e quando já estava quase na hora de ligar para Rose mais uma vez, a porta tocou.

- Atende aí cara... Deve ser a Rose. – ele não tirou os olhos da televisão, parecendo hipnotizado com aqueles marmanjos correndo atrás da bola.

- Atende você... A namorada é sua – bati em seu braço, fazendo com que ele me lançasse um olhar mortal.

- A namorada é minha, mas o apartamento é seu, então quem atende é você! – o grandão me empurrou para fora do sofá, fazendo um careta.

Eu segui até a porta, resmungando alto para mostrar a Rosalie o meu descontentamento com a sua ausência nos últimos tempos.

- Já não era a tempo Rosalie Hale, já tinha dito a Emm que... – falei, mas a minha voz falhou ao ver a cena à minha frente.

No lado de uma sorridente Rosalie, estava a minha eterna garota... E de mãos dadas à ela, duas garotinhas exatamente iguais.

Então era para Bella o apartamento que Rosalie arrumou com tanto capricho?

Era ela a nossa mais nova vizinha?

Bella estava definitivamente de volta aos Estados Unidos e à minha vida?

Com tantas questões na cabeça e aqueles imensos olhos verdes me fitando intensamente, senti um arrepio passar por meu corpo.