Shiroi Tsubasa escrita por Shiroyuki


Capítulo 33
Capítulo XXXIII




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Rima acordou de repente, sem saber se já era outro dia ou não. A luz que vinha da pequena janela era tênue, meio azulada. Quanto tempo ela dormira? Não sabia dizer. Ela abriu os olhos, ajeitando o kimono ao redor do corpo, e sentou-se sobre o colchonete duro, abraçando as próprias pernas. Não conseguia ver muita coisa com a pouca luz que incidia no cômodo pequeno, mas notou algo que não estava lá antes. Aproximou-se, cautelosa, e percebeu que se tratava de uma pequena bandeja, com um copo cheio de algum líquido, e um pão ao lado. Ela pegou o copo, e cheirou. Era leite. O pão estava meio duro, mas não parecia ruim também.

Rima não sentia fome, mas ver a comida a fez ficar mais esperançosa. Se estiverem a alimentando, então não tinham intenção de acabar com a vida dela, ou qualquer coisa assim. Provavelmente pediriam resgate, e então, quando soubesse onde ela estava, Nagihiko viria salvá-la. Era assim, não era? Ele era o cavaleiro que a protegia de tudo, ele viria resgatá-la, ele certamente viria. Ela sabia disso. Ele devia estar, nesse exato momento, trabalhando para descobrir onde ela estava, inclusive.

Imaginando como seria quando ele arrebentasse aquela porta de madeira, e deixaria a luz entrar mais uma vez, e então a seguraria nos braços e a levaria para longe, para onde era seguro… Rima comeu o seu pão dormido um pouquinho mais otimista.

Nagihiko adentrou a mansão, sentindo-se um lixo. Estava cansado, com pesadas olheiras abaixo dos olhos, o cabelo solto e desgrenhado, as roupas simples e masculinas. Caminhou seguramente por entre os corredores suntuosos, e foi direto para o escritório do Sr. Mashiro. Não sabia o que dizer a ele. Tinha certeza de que não haviam o contatado ainda para falar sobre o sequestro, e sendo ele quem daria a notícia, só tornaria tudo pior. Sua mãe havia feito isso de propósito, evidentemente.

Ele pediu permissão para adentrar, e quando a porta foi aberta pela atenta secretária, lá estava o homem, com seu terno alinhado, o cabelo loiro grisalho, cercado de papéis, falando ao telefone. Ele nem mesmo olhou para Nagihiko quando ele entrou, apenas o mandou sentar-se, com um sinal de mão.

Depois de alguns minutos, ele finalmente desligou o telefone, e olhou para Nagihiko. Seu rosto era sério, impassível. Mas Nagihiko não desviou o olhar. Continuou a sustenta-lo, até que o homem pigarreou, e perguntou o que ele estava fazendo ali. Nagihiko narrou, com poucas palavras, o que acontecera com Rima. Não falou sobre sua família. Apenas contou o necessário, nem mais, nem menos, sem nenhuma inflexão em sua voz. Viu a expressão do Sr. Mashiro passar de séria para incrédula, e então para furiosa, em um piscar de olhos. Antes mesmo dele conseguir terminar de falar, o homem ergueu-se, assomando-se acima de Nagihiko.

— Garoto, você tem alguma noção do que está me dizendo?? VOCÊ SABE DO QUE ESTÁ FALANDO? – ele gritou, batendo com as mãos na mesa – NÃO FOI PARA ISSO QUE EU PAGUEI VOCÊ, IMPRESTÁVEL! EU QUERIA QUE A MINHA FILHA FOSSE MANTIDA A SALVO! NEM AO MENOS ISSO VOCÊ FOI CAPAZ DE FAZER? – Ele segurou Nagihiko pelo colarinho, e o ergueu com facilidade. Mashiro era um homem grande, e o terno escondia seu porte físico muito bem. Nagihiko não reagiu. Sabia muito bem que era sua culpa, e ele merecia o que estava acontecendo agora. Até mesmo se o Sr. Mashiro resolvesse bater nele nesse momento, ele aceitaria sem relutar. Qualquer coisa que fosse dita ou feita por ele não seria pior do que a maneira que ele próprio sentia-se agora.

Nagihiko fechou os olhos, esperando por um soco que não veio. Mashiro o jogou de volta na cadeira, e voltou a sentar, secando o suor da testa com um lenço amassado na mão. Seus cabelos sempre tão arrumados para trás estavam em completa desordem, e alguns cachos raros, semelhantes aos de Rima, ameaçavam despontar. Nagihiko se sentiu ainda pior.

— Eu vou trazê-la de volta, a salvo, eu prometo. – ele afirmou, temendo que sua voz estremecesse e demonstrasse sua hesitação.

— Você já prometeu muitas coisas, garoto, e não cumpriu nenhuma. Se não sair da minha frente nesse exato instante, eu juro que mato você. Pegue tudo o que é seu, e saia daqui. Eu mandarei a secretária dar o dinheiro do seu ressarcimento. – o homem respirou pesadamente, parecendo prestes a ter um ataque cardíaco ou qualquer coisa assim – Saia agora. Eu tenho muito que resolver. – ele ignorou Nagihiko deliberadamente a partir dali, e começou a fazer ligações sem parar, obviamente começando a mexer seus pauzinhos para reaver a filha.

Dando as costas àquela sala, Nagihiko não disse mais nada. Sabia que não havia nada mais a ser dito, além de um sincero “sinto muito”, mas ele sabia que Sr. Mashiro não queria ouvir isso. Ele também não queria parecer patético a esse ponto. Era tudo sua culpa, afinal.

Ele caminhou lentamente até o quarto de Rima, e abriu a porta devagar. Ele passava a maior parte do tempo que estava em casa com ela naquele lugar. Tudo ali estava repleto de lembranças, e até mesmo o cheiro dela impregnava o cômodo. Os olhos de Nagihiko encheram-se de lágrimas, ao ponto de arderem, mas ele segurou muito bem o choro, enquanto guardava cada um dos seus pertences em uma mala. Lembrou-se de uma ocasião, não muito tempo atrás, onde Rima afirmou algo. “Uma dama tem o perfeito controle do seu canal lacrimal” ela disse, quando ele topou com o dedinho na quina da mesa de centro, e fez um escândalo sobre isso. Naquela época, ela estava apenas tirando sarro da cara dele. Nagihiko era um ator, é claro que conseguia fingir que chorava, ou algo assim. Rima também tinha essa habilidade. Mas, segurar as lágrimas de sofrimento, era mais difícil do que parecia. E tudo o que Nagihiko mais queria, era que ela não estivesse chorando agora.

— Eu vou te salvar, Rima… - ele sussurrou para si mesmo, passando a mão pelo edredom macio da cama, intocada. Aquele lugar ficava tão vazio, frio, sem ela por perto. Nagihiko nunca havia reparado no quanto toda aquela mansão era imensa, distante, gelada, até aquele momento. Talvez, por que sempre estivesse com Rima. Porém, antes dele ir morar ali, ela devia encarar aquela casa gigante e solitária sozinha, todos os dias.

E agora, ela estava sozinha de novo, em algum lugar pequeno e escuro. Com medo, com frio. E ele não sabia o que fazer. Prometeu a ela, em uma noite onde tudo parecia possível, e ele não sentia medo, que nunca mais a deixaria sozinha. E ele cumpriria essa promessa, não importava o quanto custasse. Traria Rima de volta para casa.

Depois de pegar suas coisas, Nagihiko saiu novamente, pela porta da frente. Despediu-se de todos os empregados com quem fizera amizade durante o tempo que vivera ali, e saiu pela porta da frente, carregando sua mala. Sentiu o vento bagunçando seus cabelos, e olhou para o jardim, onde muitas vezes caminhou com Rima, durante o entardecer, conversando com ela sobre qualquer assunto banal e sem importância. Ele falaria alguma coisa indecente, e ela ficaria corada e bateria nele. Ele então daria risada, roubaria um beijo, fazendo com que ela esquecesse completamente da irritação anterior. Eles poderiam caminhar por horas, ou apenas sentar embaixo de uma árvore do jardim, para ler um livro e tomar chá. Não importava que estivessem parecendo pessoas do século passado fazendo essas coisas, ainda era a maneira que eles gostavam de passar o tempo. Juntos. E Nagihiko nunca se cansou disso.

Lembrar-se disso agora fazia seu coração doer, mas também, sentia ainda mais centrado em seu objetivo de resgatar Rima. Ao chegar ao enorme portão de ferro, que se abriu automaticamente para ele, Nagihiko olhou mais uma vez para trás. Aquela era a última vez que olhava para aquela mansão, grandiosa e cheia de recordações, e ele não sentia nenhuma nostalgia, nada que o prendesse àquele lugar. Por que a única coisa que importava para ele, não estava ali mais. E ele estava disposto a tê-la de volta, custasse o que custasse.

Nagihiko não tinha mais lugar para ir, pois o contrato com seu apartamento no centro terminara meses antes, e ele não renovou. Tolamente, ele imaginou que viveria bem com Rima naquela casa durante muito tempo ainda. Como o único dinheiro que possuía era o do pagamento que recebera antes de sair da mansão, teria que pensar com cuidado para onde ir, então, era melhor esfriar a cabeça antes disso. Depois de pensar por alguns segundos, seguiu direto para o café de Ikuto.

Inesperadamente, encontrou-o fechado, mas ao olhar pela janela, percebeu que estava cheio lá dentro. Tentou abrir a porta, e estava aberta.

— Ah, finalmente! – Yaya pulou do seu banco, vindo receber Nagihiko – Nós achamos que você não ia mais aparecer, sabe? Como foi com o pai da Rima e… e… que mala é essa?

— Ele me demitiu – ele deu de ombros, e suspirou. – Melhor assim, agora posso tirar Rima de lá sem precisar me preocupar com disfarces ou qualquer coisa do tipo.

— Mas… você não pode voltar para casa, Fujisaki-kun! – Tadase lembrou – Para onde vai?

— Eu ofereceria minha casa, mas tenho quatro irmãos, é um pouco apertado lá… - Kukai sorriu sem graça.

— Meu pai nunca deixaria que eu levasse um garoto para casa, sinto muito, Nagihiko… - Amu desculpou-se rapidamente.

— Tenho certeza de que meu tio não se oporia a hospedar o filho dos Fujisaki – Hitomi sugeriu, virando-se para ele do banco alto ao lado do balcão, e Kairi, ao seu lado, assentiu veementemente.

— Você também pode vir para a minha casa, se quiser, Fujisaki-kun – Tadase sorriu, gentilmente.

— Ou para a da Yaya!!

— Ah, obrigado, minna-san… mas eu não posso aceitar… - Nagihiko estava verdadeiramente grato por toda aquela ajuda, mas não queria trazer problemas para ninguém. Se sua mãe soubesse onde estava, seria ruim. Ele não sabia do que ela era capaz, da forma como estava. Se ficasse na casa de Hitomi, então, seria ainda pior. – Eu não tenho emprego, e nenhum dinheiro… e não posso envolver nenhum de vocês com a minha família, de forma nenhuma. Minha prioridade agora é salvar a Rima, e depois eu penso no que fazer da minha vida.

— Você precisa de emprego? Não seja por isso… – Ikuto jogou uma peça de roupa na direção de Nagihiko. Ele pegou no ar. Era um avental do café. – Tadase não vai poder mais trabalhar aqui quando as aulas começarem, por causa do conselho estudantil, e a Utau vai começar a faculdade, então, irei precisar de mais alguém. Tem um quartinho aqui nos fundos, espero que sirva bem para você. – ele sorriu de canto. Nagihiko não sabia o que dizer.

— Ikuto, eu… muito obrigado! – ele não via como não aceitar aquela proposta, e realmente, era a melhor perspectiva que Nagihiko poderia querer.

— Não estou fazendo nenhum favor pra você, garoto… estou te contratando – Ikuto sorriu, e piscou um olho – Você já está acostumado a usar vestidos, não é?

— Ikuto! – Amu censurou.

— Uma vez por semana, fechado? – Nagihiko negociou, seriamente. – Com horário extra incluso, claro. – Ikuto pensou por alguns segundos.

— Certo – ele cumprimentou Nagihiko por cima do balcão, balançando brevemente as mãos, e então, voltou a sentar – Mas agora, o mais importante.

— Nós tomamos a liberdade de começar a analisar a situação, Fujisaki-kun – Tadase elucidou, puxando um mapa da região para o centro da mesa. Nagihiko se aproximou, tomando assento, e Utau serviu a ele uma xícara de café. – Segundo a Hitomi-chan, esses são os pontos onde a Mashiro-san pode estar sendo mantida – ele mostrou lugares marcados em vermelho, e Nagihiko assentiu.

— Eu poderia acrescentar mais alguns, que minha família costuma usar… - ele pegou o marcador, e fez alguns círculos em lugares diferentes – Esse armazém que fica fora da cidade… um prédio abandonado no subúrbio… um almoxarifado aqui nessa parte da cidade… um galpão no cais do porto…

— Nossa, são realmente muitos lugares! – Amu exclamou, surpresa – e a Rima está escondida em algum desses lugares horríveis… eu… eu não consigo nem pensar…

— Calma, Amu-chan… - Ikuto afagou a cabeça da rosada, tentando tranquiliza-la – Vai ficar tudo bem, certo? Nós temos muitas vantagens aqui, e não vamos sossegar até trazer Rima de volta, e em segurança. Certo?

— Certo. – Nagihiko confirmou com segurança, olhando para cada um ao seu redor nos olhos. tinha plena certeza, em seu coração, de que estava cercado pelos melhores aliados que poderia pedir, e que nada no mundo os impediria de salvar Rima. Estava cheio de motivação, e ainda mais, de gratidão, por realmente possuir aquelas pessoas ao seu redor, que estavam apoiando-o e ajudando-o sem se importar com seu passado ou com o futuro… pessoas a quem ele, podia sem sombra de dúvidas, chamar de amigos.


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Notas finais do capítulo

Desculpa a demora, mas vocês já devem até estar acostumados, não é? Rima ainda sequestrada, e Nagi ao resgate~ será?

espero pelos reviews!~ conselhos, sugestões, críticas, fiquem à vontade o/



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