Shiroi Tsubasa escrita por Shiroyuki


Capítulo 23
Capítulo XXIII




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/136935/chapter/23

Tadase soltou o ar lentamente, aos poucos sentindo o seu corpo inerte recuperando os movimentos. As coisas que ouvira… ainda não havia conseguido processá-las. O que isso significava?  A mente de Tadase não conseguia acompanhar aquele tipo de raciocínio, afinal, coisas como sequestros ou contrabando não faziam parte da sua realidade. E de que forma a família de Hitomi estaria ligada a isso?

O som do latido de Pudim acordou Tadase dos seus pensamentos. Ele gesticulou, desesperado, tentando fazer o cachorro parar, mas parecia impossível.

— Pudim, pare com isso… - ele sibilou, em pânico.

— Pudim? – ele ouviu a voz de Hitomi ecoar do alto – O que você está fazendo aí? Pare de latir! Que estranho…

O cachorro não pareceu escutá-la, pois ladrou com ainda mais afinco, indicando com a cabeça o local onde Tadase se escondia, como se estivesse mostrando à dona a sua visita. O loiro, desistiu de manter-se alheio, até por que, já havia invadido a casa e ouvido o que não devia mesmo. Andou lentamente por baixo da sacada, até que Hitomi fosse capaz de vê-lo.

Ela ofegou, incrédula, perdendo a força das pernas assim que ele entrou no seu campo de visão. Seria mais um daqueles devaneios que sua mente insistia em fabricar, apenas para atenuar a sua situação? Intimamente, ela desejava que não fosse.

— Yamisaki-san… - Tadase articulou fracamente, vendo Hitomi, apoiada na sacada. Ela usava um moleton azul-marinho enorme no corpo magro, e um short jeans de lavagem escura. Também estava com óculos de leitura, e os cabelos volumosos presos em um meio coque parcialmente solto para o lado. O rosto estava lívido, com a boca entreaberta e os olhos azuis focados diretamente em Tadase.

— O q-que você… - ela balbuciou, sem acreditar.

— Yamisaki-san! Eu não aguentei… eu tinha que vir falar com você… - Tadase explicou, o mais baixo que podia, para não chamar atenção.

— M-mas… que merda… - seu rosto se contorceu irritada – Você é louco? Por que veio aqui? S-se alguém te ver…

Daisuki dayo – Tadase a interrompeu, sobressaltando-a, e deixando seu rosto vermelho – Eu vim aqui por que não conseguia mais parar de pensar em você. Eu precisava saber o que tinha acontecido e… e… eu amo você… - ele disse por fim, e viu o rosto de Hitomi passar do irritado, para o pasmo, e então para o constrangido, abaixando-se, escondendo o rubor com a franja comprida.

— N-não fale essas coisas, idiota! Você não deveria estar aqui… - ela desviou o olhar, fingindo irritação.

— Mas eu já estou aqui. Agora… vamos conversar, por favor, Yamisaki-san…! Eu… eu senti muito a sua falta, você sumiu tão de repente…

— Não! Aqui não! Podem ver você! – ela censurou, gesticulando para ele – Fica… fica bem aí… - ela o fitou por alguns segundos.

— Yami… o que… o que você vai fazer!? – ele se alarmou, ao vê-la subir na sacada, com uma habilidade inata. Antes que pudesse ter uma resposta, a garota pulou lá do alto, na sua direção. Viu ela se aproximar velozmente, então seu corpo se chocou com o dela, e com a força da queda, os dois foram ao chão. – V-você é louca… - ele suspirou, incrédulo.

— Devo ser mesmo… - ela riu para si mesma, deitada sobre o peito de Tadase – A culpa é toda sua, baka! Não devia ter vindo até aqui!

— Gomenasai, Yamisaki-san… - Tadase balbuciou, acariciando o rosto dela com uma das mãos, e trazendo-o para a sua direção, enquanto fechava os olhos. Estava sentido a respiração rápida dela bater em seu rosto, há milímetros de distância dos seus lábios.

— N-não! – ela gritou, impulsionando-se para cima em um pulo. Tadase corou furiosamente, ao perceber o que esteve prestes a fazer – Você disse que queria conversar! V-vamos conversar… n-não tente nenhuma gracinha, garoto!

— Me desculpe – Tadase se levantou também, inegavelmente decepcionado.

— Me siga, e não faça barulho nenhum, ouviu bem? – ela ordenou, e Tadase assentiu. Ela o conduziu pelo lado de fora até uma porta nos fundos, que dava acesso à cozinha. Não havia ninguém ali, e as luzes estavam todas apagadas – Por aqui – sussurrou, e notando que Tadase estava perdido no escuro, segurou-o pelo pulso, meio a contragosto. Continuou a andar para frente, procurando pela porta, quando esbarrou em algo que podia ser uma cadeira ou qualquer outra coisa.

O barulho ecoou pelo cômodo vazio, e ambos prenderam a respiração, paralisados. Por sorte, ninguém pareceu ouvir, e assim, continuaram o caminho. Tadase deslizou discretamente a mão pelo pulso de Hitomi, até entrelaçar os dedos com os dela, que ofegou, mas não se opôs. Eles subiram as escadas, tomando cuidado com cada passo, e Hitomi o levou pelo corredor, até a única porta que estava com luz acesa.

Ela abriu a porta, e depois de jogar Tadase lá dentro, fechou-a sem fazer barulho, e trancou com chave. Suspirou, num misto de exaustão e alívio, e então encarou Tadase com furor, esperando que ele dissesse algo.

— Você fica bonita com óculos, Yamisaki-san… – ele disse com simplicidade, sorrindo inocentemente. Hitomi arregalou os olhos, corando até a raiz dos cabelos, e tirou os óculos mais do que imediatamente, como se o comentário de Tadase a ofendesse, quando era exatamente o contrário que ocorria.

— Diga logo, o que você quer de mim? – ela suspirou, querendo encerrar logo o assunto – Pensei que tinha sido bem clara quando disse que não queria ver mais você na minha frente.

— Então por que me deixou entrar? – Tadase rebateu, com seu rosto inocente desarmando a garota. Ela baixou os olhos, incomodada – Podia muito bem ter simplesmente me deixado lá fora, pra ser pego por um dos seguranças, ou ligar para a polícia… podia até mandar o Pudim me atacar, eu sei que ele é treinado e faria isso. Mas, ao invés disso, você não somente me deixou entrar, como também se jogou do segundo andar na minha direção… o que isso significa, Yamisaki-san?

— Significa que eu sou uma idiota – disse num resmungo – Uma fraca…. Você devia apenas ficar longe de mim, baka, é o melhor a fazer…

— É por causa das coisas que sua família faz? – Tadase indagou repentinamente, e a garota levantou os olhos, aturdida, branca feito papel, com os olhos ferozes e perdidos.

— O que você ouviu? – ela pretendia rosnar ameaçadoramente, mas soou mais como um sussurro assustado.

— O suficiente para saber que essa mansão não é algo construído honestamente. Que sua família faz algo sujo, são criminosos. E também, que você está em perigo, por causa disso! – ele disse rapidamente, lembrando-se das ameaças diretas do homem do charuto.

— Não, seu imbecil! Você que está em perigo!! Não enxerga? Se já sabe de tudo isso, o que ainda faz aqui?!? Foge logo, finge que nunca me conheceu, e vai ser bem melhor… – ela foi interrompida por um urgente e necessário abraço de Tadase, que a envolveu por inteiro, repousando a cabeça dela em seu peito.

— Eu não me importo com nada disso! – ele disse rapidamente, forçando o abraço para que Hitomi não o soltasse. Se quisesse, ela poderia muito bem empurrá-lo, tinha força suficiente. Mas era óbvio que ela não queria, e sua recusa, empurrando Tadase para trás, era meramente simbólica – Eu estou apaixonado por você, Yamisaki-san, não importa como seja sua vida, ou como trabalhe sua família. É tarde demais para pensar nisso, por que eu já te amo… então… então… Ah, eu ouvi uma conversa lá em baixo! Eles falaram coisas sobre você… você está e perigo, Yamisaki-san! - ele a abraçou com força, impedindo-a até mesmo de respirar, e continuou a falar. – Toma cuidado, por favor… Eu… eu não aguentaria te perder…

Foi então a vez de Tadase ser interrompido, por um desesperado toque vindo de Hitomi, que levantou os olhos e, circundando os braços ao redor do pescoço do garoto, tomou os lábios dele para si. Com necessidade e avidez, buscando com o contato, uma saída, uma solução. A resposta para toda a angústia que ela enfrentara nos últimos dias estava nele… e de repente, era como se o mundo estivesse completo novamente, com Tadase ao alcance de suas mãos pequenas e ágeis.

Ela se afastou bem antes do esperado, enterrando o rosto na curva do pescoço dele, aspirando cheiro incrivelmente doce que ele possuía. Sentiu as mãos gentis acariciando o topo de sua cabeça, e só então percebeu o quanto realmente sentia falta desse toque. Sim, ela também o amava. Só não sabia dizer isso.

— Pare de ser tão… tão moe – ela resmungou, com a voz embargada pelas lágrimas que ameaçavam cair a qualquer momento, e que ela segurava com todas as forças – Eu também… eu t-t-ta-também… etto… estou… por você… então não fique pensando que você é o único que sofre aqui, ouviu bem? Mas… eu não posso simplesmente ir lá e ficar com você! É perigoso! Pra nós dois! Você deve ter deduzido isso, depois de saber o que minha família faz!

— Então, como nós fazemos? – ele indagou, soltando os cabelos de Hitomi do coque improvisado, e vendo-os caírem como cascatas de noite pelas costas da garota. Gostava muito de ver os cabelos negros dela soltos. Ela se afastou, irritada pela intromissão, mas ao ver o semblante tão ingênuo e fofo do garoto, se viu incapaz de repreendê-lo.

— E-eu não sei… - ela se soltou do abraço, deixando-se cair sobre a cama, que era cercada pelo dossel lilás e azul, que estava pendurado no teto. – O que acha de… n-namorar escondido? – ela sussurrou a frase, surpreendida com a própria ousadia. Nunca havia na sua vida inteira pensado em namorados nem em qualquer coisa do tipo… mas não podia negar que a ideia de fazer isso com Tadase a agradava.

— Você quer namorar comigo? – Tadase assustou-se, corando irremediavelmente.

— Acho que quero… - ela respondeu, e era uma surpresa para ela também. Recordando agora, ela lembrava-se de ocasiões anteriores, muito antes de conhecer Tadase oficialmente. Estava sempre se surpreendendo a observar ele, quando tinha a chance. Durantes os intervalos, os discursos dos professores, na entrada ou na saída, nos festivais culturais… os olhos dela sempre o seguiam, por toda a parte. Ela não entendia porque, e também, nem queria mesmo. Sua cabeça estava sempre tão cheia de outras coisas, que esse pormenor de nada importava. Mas agora ela sabia. Já estava atraída por Tadase muito antes de sequer saber seu nome. E agora, com a chance de tê-lo só para si, sua personalidade egoísta e um pouco mimada não deixariam que fosse o contrário.

Elevando um pouco o corpo, ela içou Tadase pela mão, trazendo-o para perto. Deixou que sentasse ao seu lado, e sentiu as mãos pouco experientes dele segurando-a pela cintura, afavelmente. Tudo em Tadase era tão suave, delicado, tão amável… tão diferente do que ela estava acostumada… que ela não sabia nem como agir perto dele. Só sabia que queria estar perto dele, e isso era tudo.

Repousou a cabeça no ombro de Tadase, e pode sentir a frequência cardíaca dele elevando-se, assim como a sua, e ecoando em seu ouvido. Sorriu, abraçando o corpo diminuto, que só era maior que o seu por muito pouco, e fez com que ele deitasse para trás, das vastas almofadas que recobriam a cama.

— Yamisaki-san…

— Não me chama assim… - ela pediu, sussurrante, acariciando de leve o braço de Tadase, feliz em somente poder tocá-lo assim tão casualmente – Eu não gosto desse nome…

— Hi… Hi-hitomi… c-chan – ele murmurou, e Hitomi sentiu seu corpo reagir àquele som, muito mais do que ela supôs que faria. Já estava acostumada com o seu nome sendo chamado das mais diversas formas. Mas era a primeira vez que ouvia aquele som sendo acariciado tão gentilmente pela voz aveludada de Tadase. Como se cada sílaba estivesse sendo completamente envolvida em… amor?

— Isso… - ela tentou não parece alterada, e quanto recuperou a cor do rosto, ergue-o, repousando o queixo no peito dele – T-tadase-kun – ela se forçou a dizer, encarando-o com seus enormes olhos azuis. Era a primeira vez que chamava um garoto pelo primeiro nome – Por favor… fica comigo aqui?

— E-eu fico… - ele respondeu, corando ainda – Eu sempre vou estar aqui – disse com mais firmeza, arrancando um arquejar tímido da garota, e puxou os edredons para que cobrisse a ambos. Hitomi se aninhou em seu colo, como um filhote de gato, mas ele não deixou que ela se acomodasse muito, e logo segurou o rosto pálido, agora levemente corado, dela na sua direção, selando seus lábios novamente.

Depois disso, eles esqueceram-se do mundo ao redor. Trocaram ainda alguns beijos e carícias, e pela primeira vez da vida, Hitomi não quis ser violenta, e esqueceu o impulso inicial que conservava desde sempre, de manter todos afastados de si. Apenas apreciou a presença de Tadase, e o sentimento tão amplo e cálido que o acompanhava. Logo os dois adormeceram, aninhados um no outro, sorrindo para si mesmo, e com belos sonhos os aguardando. Hitomi não queria se preocupar com nada, e desfrutou desse pequeno momento de paz, esquecendo-se de que haveria um amanhã com que lidar. O que importava era o hoje, e hoje, Tadase estava ali, onde seus olhos pudessem vê-lo, e suas mãos o tocarem. E só podia esperar que ele ficasse ali para sempre, como prometeu.

——————————————————————————————————————————

Nagihiko tirou lentamente o braço debaixo de Rima, que ressonava tranquilamente. Tentou não despertá-la, enquanto sentava-se no futon que pertencia a ela, e no qual os dois haviam pegado no sono, enquanto conversavam, enroscados um no outro. Olhou para o lado, vendo o rosto tão inocente daquela garotinha, adormecido, sereno, imaculado… ela era tão pequena… tão vulnerável… por que alguém pensaria em força-la a fazer qualquer coisa que fosse? O que aquele imbecil do pai dela estava pensando?? Ela não estava pronta para casar, droga! Nagihiko também não estava pronto para vê-la casar. Pelo menos, com qualquer pessoa que não fosse ele!

Sentindo a irritação queimando dentro de si, Nagihiko resolveu levantar, antes que acabasse acordando Rima. E ela demorou tanto para pegar no sono… já era metade da madrugada quando ela finalmente havia conseguido adormecer. Dando um pequeno e rápido beijo nos lábios macios dela, Nagihiko ergueu-se, pensando em talvez, ir para o seu próprio futon, que estava arrumado, mas intocado logo ao lado. Mas não conseguiria dormir agora, nem se tentasse. Então resolveu andar um pouco pela varanda, e talvez assim conseguisse encontrar o sono. O dia seria longo no dia seguinte, ele precisava ser forte para amparar Rima nesse momento.

Prendendo novamente os cabelos com a fita vermelha, Nadeshiko voltou a surgir. Logo o passo, antes pesado e impaciente de Nagihiko, tornou-se suave e ritmado, quase como em uma dança, sem fazer um único ruído no assoalho de madeira.

Nadeshiko andou pela varanda, iluminada somente pela luz da lua, que ia alta no céu. Apreciou as árvores de sakura, que estavam longe de florirem, e a fonte de água que ecoava o seu tranquilo som pelo espaço escuro. O inverno já dava sinais da sua eminente aproximação, e o ar gelado que assobiou fez Nadeshiko encolher-se no fino yukata que era usado como roupa de dormir.

Será que se ela conversasse com o pai de Rima, adiantaria alguma coisa? Era evidente que não, Nagihiko nem deixou a ideia formar esperanças em sua mente. O Sr. Mashiro não estava acostumado a ser contrariado ou rebatido em qualquer uma das suas decisões, e enfrenta-lo só deixaria as coisas mais complicadas para Rima. Se ele era capaz de forçar ela a se casar sem que ela tivesse feito nada, quem sabe o que faria caso ela se colocasse abertamente contra ele?

Repentinamente, ele se lembrou de outra ocasião, em que Rima levantou uma hipótese que era bastante plausível. Durante o ataque contra a governanta, em que ela pensou que havia se tornado uma assassina, Rima sugeriu que ambos fugissem. Agora, a ideia não parecia tão distante assim. Talvez fosse até mesmo possível.

Nagihiko tinha o dinheiro do salário que ganhava como segurança, e no qual não havia mexido. Era uma quantia considerável, e poderia sustenta-los durante bastante tempo. Ir para a cidade natal dele era arriscado, mas eles poderiam ir para qualquer outro lugar, onde ninguém os conhecesse! Rima poderia continuar seus estudos em alguma escola pública, e Nagihiko arrumaria um emprego, para garantir que nada faltasse a ela. Era um ótimo plano! Ele tinha certeza de que Rima aceitaria… se não fosse pelo pai dela…

Enquanto pesava os prós e os contras do seu plano, Nadeshiko sentiu alguém se aproximando. Virou-se, parecendo graciosa e suave como sempre, embora pensasse que talvez fosse Rima, que tivesse acordado e vindo atrás dela, e nesse caso, atuações eram dispensáveis. Mas, ao virar-se, não foi a figura pequena, e provavelmente sonolenta, da sua loirinha que ele viu, e sim, o garoto magro, de cabelos escuros e óculos espessos, que o encarava com um estranho brilho nos olhos. Nadeshiko sabia que ele era alguém que podia ser classificado como “bonito” entre as garotas, isso graças às intermináveis conversas de Amu e Yaya, que era obrigado a aturar dia após dia.

— Oh, Hanada-san – Nadeshiko chamou, fingindo surpresa, e um riso gracioso.

— É Homura – ele corrigiu, sorrindo também, e se aproximando alguns passos – Mas você pode me chamar de Satoshi.

— Claro, me desculpe. Bem, eu não esperava encontrar alguém acordado, sinto muito se eu o acordei. – ela desculpou-se educadamente, desejando intimamente afogar aquele insolente quatro-olhos na fonte, que estava tão perto, e sem lamentar nem um pouco caso tivesse o acordado ou não.

— Eu já estava acordado. Estava pensando… e vi quando você passou na frente do meu quarto, com um olhar tão apreensivo, preocupado… Não pude deixar de ficar curioso em saber o que era tão importante a ponto de afligir uma dama tão graciosa quanto você…

— Não é nada, Hanada-san. Nada com que deva se preocupar. Eu apenas perdi o sono. – ela respondeu tranquilamente, odiando imediatamente o sorriso compreensivo que o garoto a lançou.

— O mesmo acontece comigo. Quem sabe não quer me acompanhar em um chá… - ele indicou o quarto – Além do mais, está frio aqui fora você pode acabar resfriada.

— Eu aceitarei sua oferta, Hanada-san… - Nadeshiko respondeu, vendo a sobrancelha do garoto tremer irritadamente cada vez que o chamava pelo nome errado. Não desejava ficar nem mesmo um único segundo perto desse garoto, porém, tinha a chance de saber quais eram os reais pensamentos dele sobre a ideia de casamento, e talvez pudesse persuadi-lo a recusar essa ideia, e com isso, salvar Rima.

Os dois adentraram o cômodo de Homura, que era exatamente igual ao que ela e Rima dividiam, mas não havia nenhum futon preparado, ao contrário, apenas uma mesa baixa, com chá fumegante servido. Satoshi pegou mais uma xícara, e serviu para Nadeshiko. Elegantemente portada em frente à mesa, ela provou do chá. Forte demais. Satoshi sentou ao lado dela, logo depois. Perto demais.

— Você é realmente muito bela, Nadeshiko-san… - Satoshi sussurrou, tamborilando os dedos na xícara dele – Me surpreende o fato de ser uma dama de companhia que trabalha para Mashiro-san. Com sua aparência e porte, não seria de se admirar que fosse uma notável filha de alguma família prestigiada…

— Não vejo nada de relevante na minha aparência – Nadeshiko replicou, tomando um gole do chá, e pensando em como fazer para entrar no assunto que lhe interessava

— Não sei do que está falando, Hanada…

— Shhh… – Satoshi a interrompeu, segurando a sua mão por cima da mesa. Nadeshiko tentou se afastar, mas ele a impediu – Você sabe do que eu estou falando sim. Senão, não teria andado na frente do meu quarto, com esse yukata, me provocando… Ah, quem iria querer aquela pirralha Mashiro, com alguém como você ao lado dela… Eu não consegui parar de pensar em você, desde que a vi pela primeira vez. Vamos lá, Nadeshiko, seja boazinha… - ele baixou a voz, e inclinou-se na direção dela.

Nadeshiko viu os lábios do garoto entreabrindo-se, enquanto seus olhos se fechavam. Ele se aproximava lentamente, colocando a mão livre na cintura dela, impedindo qualquer chance de fuga, enquanto a outra mão ainda segurava a sua sobre a mesa. Ela juntou os sinais, e, tarde demais, percebeu a intenção dele. Homura Satoshi, um quatro-olhos, herdeiro de uma fortuna, e noivo de Rima… estava tentando beijá-la!


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!