Shiroi Tsubasa escrita por Shiroyuki


Capítulo 2
Capítulo II


Notas iniciais do capítulo

Nyaan, aqui está o segundo capítulo!!! o/



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Capítulo II

Ela ainda dormia profundamente, com os cabelos loiros e desalinhados para todos os lados, e uma feição serena no rosto corado. Pouco tempo depois dos primeiros raios de sol entrar pela enorme janela, atravessando a fina cortina branca, o despertador começou a tocar, o comum barulhinho chato e repetitivo ressoando por todo o quarto.

Rima acordou devagar, esfregando os olhos com as costas da mão, enquanto desligava o despertador. Olhou ao redor confusa, tentando situar tempo e espaço. Levantou da cama com dificuldade, sentindo o frio matinal arrepiar sua pele quando afastou o cobertor. De olhos fechados, ela andou alguns passos procurando com o pé os chinelos, até topar com alguma coisa grande, e cair de joelhos em outra coisa macia. Rima abriu os olhos, assustada, se acostumando aos poucos com a claridade.

Estava caída em cima de um futon, e ao seu lado estava ressonando uma garota, com os cabelos escuros jogados na cara, e a boca entreaberta. Rima pôs-se de pé rapidamente, se dando conta que a ‘coisa’ em que ela tropeçou era na verdade sua nova segurança, que por sorte não havia despertado. Rima observou por alguns instantes a figura adormecida.

Nadeshiko vestia uma camiseta larga e um calção escuro, que realçavam seu corpo magro e liso, e seus braços e pernas estavam espalhados por todos os lados, o cobertor embolado num canto fora do futon. Fazia um barulho rouco e alto, e um filete de baba escorria num canto da boca.

Rima sorriu minimamente.

— “Eu sabia! Ela não tem peitos e ronca! A senhorita dama-perfeita não é tão perfeita assim, não é...?” – pensou.

Rima foi até o banheiro, fazer a higiene pessoal e tomar um banho rápido. Saiu com o cabelo preso no alto, enrolada na toalha, para ir até o closet trocar de roupa. Estava atravessando o quarto, quando notou que Fujisaki estava acordando.

— Ah! Bom Dia, Fujisaki-san!

— B-bom-dia... – ela respondeu, bocejando. Abriu os olhos devagar, se acostumando aos poucos com a luz – Aaaaaah! O que é isso, Mashiro-sama!?  - ela virou-se imediatamente, cobrindo o rosto corado com as mãos – C-cubra-se, por favor!!!

— Não seja boba, Fujisaki!  - Rima exclamou, caminhando a passos duros até o closet.

Depois de vestir o uniforme escolar, e arrumar o cabelo com o habitual laço preto acima da franja, ela voltou ao quarto. Fujisaki já estava de pé, o futon guardado, perfeitamente vestida com o uniforme escolar também.

— Pronta para o café-da-manhã, Mashiro-sama? – sorriu docemente.

-

— Ah, então é aqui que a Mashiro-sama estuda. – exclamou Nadeshiko, com educada admiração. Rima apenas suspirou.

— Ohaaaaaaaayoo!!! Rimaa-chaaaan!!! – um grito agudo foi ouvido ao longe.  Logo uma figura pequena passou correndo, abraçando Rima, que permaneceu impassível, com força desproporcional – Kyaaa! Yaya-chan sentiu tanta falta!

— Nós nos vimos ontem – Rima respondeu apenas, se soltando dos braços de Yaya.

— Aaah! E quem é a sua amiga? – Yaya olhou curiosa para Nadeshiko, fitando-a intensamente.

— Fujisaki Nadeshiko – ela curvou-se respeitosamente – eu sou... – olhou de esguelha para Rima, que balançou a cabeça imperceptivelmente, com um olhar levemente desesperado – eu sou filha de um amigo do Mashiro-sama, e vim para a cidade para completar meus estudos. Estou hospedada na casa da Rima-chan – adicionou com um sorriso polido. Rima conteve a surpresa que perpassou pelo seu rosto, por ter ouvido uma história tão coerente e obviamente criada na mesma hora.

— Woooow! – Yaya parecia extasiada com a ideia, mesmo que não tenha entendido muito mais do que o nome da garota – Nee! Amu-chan!!! Corre aqui! – ela se virou, gritando e balançando os braços freneticamente para chamar a atenção de uma garota que estava mais atrás, num dos bancos enfileirados na beira do jardim da entrada.

A garota de cabelos róseos notou os chamados e se levantou, andando de maneira audaciosa, acompanhada por um loiro de aparência gentil.

— Olha só, Amu!!! Ela tá hospedada na casa da Rima-chan!!! Pra estudar!!! Não é legal? Ficar naquela casona enooooooooorme e tudo mais?!!!

— Legal – a garota chamada Amu disse apenas, com uma expressão que ficava entre o tédio e o desprezo – Eu sou Hinamori Amu, prazer.

—É um prazer conhecê-la, Fujisaki-san. Eu sou Hotori Tadase – o loiro disse, educadamente, com um sorriso no rosto e ares de Presidente de Conselho Estudantil – Seja bem vinda à nossa escola.

— Obrigada.

— Yaya também!!!! Eu sou Yuiki Yaya, entendeu?!

— É um nome muito fofo – Nadeshiko retribuiu os sorrisos de todos, sentindo-se muito a vontade.

— Aaah, chega disso! – Rima puxou Nadeshiko pelo braço, visivelmente irritada, até a sala de aula. Todas aquelas apresentações a faziam lembrar-se das reuniões sociais que seu pai a obrigava a ir sempre, e isso a deixava desagradavelmente enojada.

-

— Eeeeeei!!! Amu-chii!!!  - Yaya apareceu de repente na sala, na hora do almoço, saltitando por entre as mesas – Que horas Yaya-chan deve ir até o café para encontrar com a Amu-chii, heeeein?

Amu fitou Rima com expressão de culpa, e depois repreendeu Yaya com o olhar. Obviamente as duas haviam marcado de sair, mas como ela nunca tinha permissão para ir a lugar algum, elas nunca comentavam sobre isso na sua frente.

Rima sempre soube sobre isso, mas não insistia no assunto. Ela tinha consciência de suas limitações e não adiantava ficar revoltada. Era um fato consumado.

— Você não quer ir também, Rima-chan? – Nadeshiko perguntou.

— Você sabe muito bem que eu não posso – Rima respondeu, com modos contidos, os olhos fechados para conter a irritação que vazava por seus poros agora.

— Eu vou também, então você tem permissão.

— Como?

— Eu estou aqui, então você não precisa se preocupar com nada, Rima-chan – Nadeshiko sorriu de um jeito tranquilizador, e depois se aproximou da garota, para sussurrar em seu ouvido – eu vou te proteger...

— Certo – Rima baixou o olhar – eu posso... ir com vocês? – perguntou num fio de voz.

— Waaa! Claro!!! – Yaya quase saiu voando.

— Você pode mesmo, Rima-chan? Vai ser ótimo!!! – Amu sorriu, mal podendo acreditar.

— Sim, vai ser... – Rima sorriu também, ainda que muito discretamente. Ela também não podia acreditar que poderia sair com suas amigas. Era a primeira vez...!

-

O café estava parcialmente cheio, e o cheiro de chocolate impregnava o ambiente, que era do tipo compacto e aconchegante. Era o lugar favorito de Yaya e Amu, por causa dos doces e bolos, e também pelo gerente da loja, que era um jovem lindo e hipnotizante de olhar felino e nome desconhecido.

Rima olhava para todos os lados, deslumbrada como uma criancinha. Tudo era tão deliciosamente brilhante que ela sentia que podia flutuar pelo resto da vida naquele lugar. Olhou sorridente para Nadeshiko que se surpreendeu visivelmente com aquela expressão, nunca vista antes na pequena Mashiro.

Depois que todas se acomodaram em uma das mesas perto da janela, Yaya e Amu ocupavam-se em procurar o gerente, só para olhá-lo nem que fosse por alguns instantes, enquanto Rima olhava no cardápio, extremamente indecisa quanto ao que pedir. Tudo parecia tão lindo e delicioso...!

— Esse parece bom –Nadeshiko sugeriu, apontando com o dedo na papel – e é a sua cara!

Rima olhou novamente para o bolo, que tinha um pequeno panda de marzipã como decoração em cima.

— E-e-e-eu pareço um panda? – Rima perguntou, encarando Nadeshiko decididamente irritada.

— Não foi isso que eu disse – ela respondeu inabalável – mas é tão fofa quanto um!

Rima a fitou incrédula por alguns segundos. Se fosse um garoto a elogiando dessa forma, ela teria ficado escarlate, se escondido debaixo da mesa, e enfiado a cabeç em um buraco... Mas era só Nadeshiko! Ela preferia que fosse um garoto... como o gerente do café, por exemplo!

-

Depois de passarem horas conversando, comendo e paquerando o gerente anônimo, todas voltaram para suas casas. Yaya foi bem... Yaya! Pulando, correndo e gritando, chamando sempre a atenção para si, e Amu parecia que ia chorar ao se despedir da amiga, agradecendo repetidamente à Nadeshiko, de tão emocionada que estava por poder finalmente poder sair com Rima. Era tão diferente da sua fachada usual do colégio, completamente contrária! Mas Rima já estava acostumada com esse tipo de coisa, afinal ela mesma não era sempre o que aparentava.

Quando chegou em casa era quase hora do jantar, e seu pai já havia voltado para casa e saído de novo. Em nenhum momento perguntou por Rima, mas ela já esperava por isso.

Ela tomou um longo banho e se preparou para dormir, sem jantar, afinal, havia se entupido de bolo. Encontrou Nadeshiko já pronta, com a enorme camiseta de dormir e o futon arrumado no chão.

— Boa noite! – ela disse animada, pulando em cima da cama.

— Boa noite, Rima-sama!

— O que aconteceu com o “Rima-chan”? Você me chamou assim o dia inteiro!

— Ah, desculpe Rima-chan! – Nadeshiko respondeu sorrindo. “Acho que acabei me enganando” pensou. Ela imaginou que a garota que deveria proteger era alguma filhinha de papai mimada, mas Rima estava se saindo relativamente bem. Era quase agradável estar com ela, ignorando as intensas variações de humor.

— Você está dormindo? – uma voz suave e baixa sussurrou no escuro, levemente tremida, após alguns minutos.

— Não – Nadeshiko disse prontamente.

— E-eu q-queria... queria agradecer... a você – Rima murmurou, de olhos fechados, agradecendo mentalmente por estar tão escuro, assim suas bochechas enrubescidas não seriam vistas.

— Agradecer pelo que?  - Nadeshiko sentou no futon, ficando com a cabeça na altura da de Rima.

— B-bem, por tudo. Eu realmente queria sair com as minhas amigas,e se você não estivesse aqui, eu não poderia, nunca, nem se quer imaginar algo como o dia de hoje! – ela disse tudo num fôlego só, com a voz embargando na última parte. Agradeceu novamente por estar escuro, para as lágrimas que caiam livremente pelo rosto ficarem ocultas.

— Não são necessários agradecimentos, Rima-sa... chan! Esse é o meu trabalho, você sabe.

— Eu sei... mas tenho que admitir que no inicio achei que você fosse ser um incomodo. Pensei até mesmo em maneiras de você ser demitida... me desculpe... realmente me desculpe... eu fiz um mau juízo de você, antes mesmo de conhece-la...

Nadeshiko riu sonoramente, de uma maneira educada (como uma dama). Rima espantou-se com a repentina risada. O que ela havia falado de tão engraçado?

— Na verdade... eu também tive idéias ruins a seu respeito antes de conhece-la, Rima-chan! Imaginei que você fosse o tipo mimada e riquinha, que tem tudo o que quer na hora em que pede. Pensei que seria alguém impossível de se conviver.

— E... eu sou? – Rima perguntou sussurrante, com medo da resposta.

— Não! Pelo contrário! Apesar de ser um pouco irritada  - “e irritante algumas vezes” – não parece ser alguém mal-acostumada. Não é esse tipo de garota, definitivamente!

— Que bom... então... – Rima fitou o escuro, sem saber como continuar – sabe... as vezes... não! Sempre! Eu sempre me senti estranha... como se estivesse sozinha, isolada, e de fato estava – as palavras saltavam da boca de Rima, sem que ela se desse conta – eu não quero mais isso! Não quero mais estar presa! Não quero mais ser levada! Isso é muito? É mais do que eu mereço? Eu só queria... uma vida... mais... normal.. – sua voz foi sumindo à medida que ela falava, até silenciar completamente. Depois de alguns segundos de silêncio no escuro, Nadeshiko se pronunciou.

— Você não precisa mais se preocupar, Rima – Nadeshiko anunciou confiante, um pouco diferente da sua maneira habitual. Sua voz soava mais firme, e ela sorria de um jeito diferente, iluminada pela luz da lua. O cabelo solto também ajudava um pouco na mudança de atmosfera – Eu estou aqui, não estou? E eu vou sempre estar, queira você ou não! Você não está mais sozinha, Rima-chan!

RIma sentou-se subitamente na cama, esquecendo de cobrir o rosto corado ou esconder as lágrimas. As palavras de Nadeshiko ecoavam em sua mente, e ela não sabia o que pensar. Nadeshiko levantou devagar do chão, sentando-se na cama, ao lado de Rima. Envolveu seu pequeno corpo num abraço inesperado. Rima permaneceu estática por alguns segundos, mas logo deixou-se acalmar, e deitou a cabeça no colo de Nadeshiko, sentindo que uma onda inexplicável de calma e segurança atingiam-na por inteiro. Nadeshiko secou as lágrimas de Rima, enquanto acariciava os longos e desordenados cabelos.

— Promete? – Rima perguntou insegura – Promete que eu não vou mais ficar sozinha?

— Eu prometo! – Nadeshiko respondeu, com a voz confiante e firme. Não havia dúvidas nem hesitações em seu timbre.


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Notas finais do capítulo

Espeero que gostem! Comentários são indispensáveis!!!
Kisu~